CAPÍTULO 12
Horas depois, Disco está de volta ao seu apartamento. Deixa a pick-up na garagem e sobe. Como sempre, certifica-se que o corredor está vazio para acionar a tranca múltipla e abrir a porta.
Vai direto à sala e retira um cassete de vídeo da estante e o introduz num dos velhos aparelhos acoplados a sua moderna TV digital de 30 polegadas.
- O que está fazendo?
Virginie sai do quarto vestindo uma minúscula bermuda jeans desajeitadamente amarrada com uma tira de tecido na cintura e uma camiseta branca com uma estampa antiga dos Rolling Stones.
- Não me lembro de ter uma bermuda tão curta...
- Ah! Me desculpe! - Embaraça-se ela - É que precisava vestir algo para fazer uma limpeza e achei isso no meio de suas roupas. Estava meio velho e achei que não se importaria se eu cortasse as pernas para ficar mais confortável. Exagerei, não foi?
- Tudo bem. Ela já não cabia mais em mim a muito tempo e inteira não me ficava tão bem quanto está em você agora. Alguma novidade enquanto estive fora?
Ela volta-se e entra no quarto trazendo uma cesta de vime cheia de armas e com vários tipos de munição no fundo.
- Essas coisas estavam por toda parte. Não tem um lugar específico para guardá-las?
- Me dá isso aqui! - Diz tomando a cesta da mão dela - Acharei um local apropriado para colocá-las.
- Posso lhe perguntar uma coisa?
- Se quiser...
- Como é que um cara aparentemente calmo como você pode viver cercado por tantas armas? - Pelo pouquíssimo que te conheço, acho que elas não combinam contigo.
- Meu avô falava a mesma coisa. Acho que é carma. Desde o exército é assim.
- Vai assistir algum filme? - Pergunta ela aproximando-se.
- Não. Estou apenas pagando parte de uma dívida.
- Como assim?
- É que prometi a uns amigos meus, cópias de umas raridades que tenho aqui.
- Não tem nada mais moderno?
- Não saiu mais cópia disso. É muito antigo. Só nessas fitas.
- Eu já dei uma olhada nelas. Tem coisas aí de que nunca ouvi falar.
- Graças a elas consegui informações importantes.
- Com fitas velhas?
- Sim. E um pequeno favor do seu ex-patrão.
Virginie torce a cara.
- Não gosto de ficar devendo favores ao Adonis, mas não tive outro jeito.
- Se você diz...Tudo bem. Mas, e as fitas?
- O Sunshine é um velho amigo de meu avô que me falou sobre um cara que tinha informações quentes, mas eu tinha que ter algo para barganhar.
- E você tinha.
- Depois que coversei com o tal cara, voltei e contei ao sunshine sobre esse material raro de Wodstock. Meu avô conheceu um americano doidão que estava com uma câmera super8 na fazenda onde aconteceu o evento e filmou nada mais que cinco horas do show e dos bastidores. Esse material nunca foi levado ao ar, mas há uma cópia bem aqui – Diz ele balançando a fita no ar – Sunshine só faltou me beijar para conseguir uma cópia. Faria qualquer coisa por uma raridade dessas. Eu tinha oferecido ao cara e então ele me fez prometer uma cópia para ele também. Para o outro, ofereci as fitas e ele balançou, mas quando ofereci uma estadia no palácio do Adonis, ganhei o cara.
Virginie olha para o chão incomodada. Disco finge não ter notado e muda de assunto.
- Gosta de rock?
- Sim. Gosto do Maniac Beast ou Erline Sound.
- Não ouço esses pulsos eletrônicos que chamam de música. O que gosto é do tempo em que não existiam computadores pré-programados que tocam sozinhos.
- Eu acho muito legal!
- Se você ficar comigo tempo suficiente vou te ensinar algumas coisas...
Virginie achou melhor ficar quieta. Do contrário ele provavelmente iria continuar falando aquelas coisas de que ela não conhecia. Depois, com calma, iria ouvir os discos antigos e as velhas fitas magnéticas que se empilhavam na estante e assistiria aos vídeos para tentar entender alguma coisa do que ele gostava. Ela não concebia como aquele homem insistia em guardar aquelas coisas do passado com toda a tecnologia hi-tech de hoje em dia? Sem dúvida, Charles Disco era um homem deslocado de seu tempo.
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