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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dos Nossos Alemães (por Elaine Brito)






     Estava com vontade de colocar aqui alguma coisa sobre os acontecimentos recentes do Rio de Janeiro, mas estava sem inspiração. Foi então que eu recebi esse texto sensível de minha amiga e colega professora Elaine Brito e ela gentilmente me permitiu dividi-lo com meus leitores nesse espaço.
     Eu que sou nascido e criado no subúrbio, acompanho de perto a transformação paulatina nas favelas da cidade. Sim, favela, sou do tempo que não se falava “comunidade” como um eufemismo para se referir as áreas de onde o Estado se retraiu.
    O pequeno traficante representado no filme “Rio Babilônia” de 1982 dirigido por Neville de Almeida, que se escondia num barraco no alto do morro e guardava uma pequena quantidade de maconha para venda numa lata de leite em pó “mocozada” atrás de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida junto com um revólver .38 enferrujado que ele usava para se defender de outros viciados, tornou-se ao longo do tempo e graças a omissão dos governos, num mega empresário atacadista de drogas armado até os dentes, com dezenas de homens ao seu serviço e mesmo alguns policiais no seu bolso (vide Tropa de Elite um e dois) tal e qual um senhor feudal moderno.
     Sempre digo aos meus alunos que não existe “vácuo de poder”; em ciência política nós aprendemos isso. Sempre que uma instância de poder desaparece, outra logo em seguida toma o seu lugar. Foi assim aqui no Rio como a montagem da estrutura do tráfico (e das milícias também, por que não dizer) quando o Estado desapareceu.
     Faltava vontade política e articulação entre as instâncias que detém o legítimo monopólio da violência e que podem aplicá-la de forma organizada e coerente (na concepção de Max Weber) para devolver à população a tranquilidade há tanto tempo perdida. É excelente quando o Estado se articula pelo bem dos cidadãos e foi isso que nós vimos nesses dias. 


DOS NOSSOS ALEMÃES
 Por Elaine Brito
Depois do resgate dos mineiros no Chile, mais um episódio coloca em risco a vida de milhares de pessoas que ganham a vida com o suor do seu rosto. Mas, assim como ocorreu no Atacama, os moradores do Complexo do Alemão deram provas de sua grande capacidade de resistência.

A ocupação de um dos maiores complexos de favelas do Rio fez com que caíssem por terra não só bandidos, mas também um mito: o de que pessoas pobres são incapazes de se posicionar ideologicamente, tão preocupadas estariam com seu pão de cada dia. São várias as provas de que a luta diária pela sobrevivência não tira das pessoas sua capacidade crítica.

São comoventes, por exemplo, as imagens de pessoas estendendo toalhas brancas nas janelas. Uma foto publicada por um jornal carioca resgitra o momento em que um homem circula entre agentes do BOPE vestindo uma camiseta branca onde está escrito com letras verdes "Paz na Penha". Segundo a imprensa, um menino teria sido baleado por bandidos por ter se recusado a pegar gasolina. Moradores têm apontado o paradeiro de criminosos.

Porém, o gesto mais importante, sem dúvida, é o de pais e mães que fizeram questão de que seus filhos se entregassem à polícia. Situação muito diferente de pessoas que, com nível de instrução elevado e moradoras de bairros nobres da cidade, tentam encobrir os desvios cometidos pelos seus.

Impressionante como alguns criminosos são capazes de resistir ao poder de fogo da polícia, mas não à autoridade dos pais. Essas pessoas  mostram que autoridade não se conquista só com armas em punho, mas também com uma conduta digna, apesar das dificuldades.

São pais e mães que, infelizmente, têm que cortar a própria carne para manter de pé seus valores. São homens e mulheres que merecem nosso respeito por não abrirem mão do que consideram justo, mesmo que a sociedade não tenha sido muito justa com eles.

domingo, 28 de novembro de 2010

Proteção demais Desprotege III

No último post sobre isso (mesmo!) não poderia deixar de colocar a letra da música que inspirou o título dessa série. Trata-se da música "Filho Único" de Erasmo Carlos lançada no LP "Banda dos Contentes" de 1976 pela gravadora Polydor e que ficou famosa na trilha sonora da novela "Locomotivas" exibida entre primeiro de março e 12 de setembro de 1977. [Para ver os posts anteriores vai aqui e aqui]

FILHO ÚNICO
(Erasmo Carlos)
Ei, mãe, não sou mais menino
 Não é justo que também queira parir meu destino
 Você já fez a sua parte me pondo no mundo
 Que agora é meu dono, mãe
 e nos seus planos não estão você
 Proteção desprotege
 e carinho demais faz arrepender
 Ei, mãe
 Já sei de antemão
 que você fez tudo por mim e jamais quer que eu sofra
 Pois sou seu único filho (seu único)
 Mas contudo não posso fazer nada
 A barra tá pesada, mãe
 E quem tá na chuva tem que se molhar
 No início vai ser difícil
 Mas depois você vai se acostumar. 

Proteção demais Desprotege III

Continuando o assunto dos posts anteriores, agora vou colocar um texto muito antigo que circula na internet sem autor conhecido. Geralmente em um powerpoint engraçadinho com música dos anos 80 que enche de água os olhos daqueles mais sensíveis. Guardadas as devidas proporções de que sempre tendemos a ver o passado muito mais colorido do ele foi, esse texto serve para pontuar um estilo de vida que não existe mais. Não gosto de fazer apologia do passado afirmando que era melhor do que hoje e tal... Mas vou usá-lo para contrapor o que já foi colocado antes (evidentemente ele só vale para quem tem mais de trinta anos).

Nostalgia da Nossa Infância...

Pensando bem, é difícil acreditar que estejamos vivos até hoje!

Quando éramos pequenos, viajávamos de carro, sem cintos de segurança, sem ABS e sem air-bag!

Os vidros de remédio ou as garrafas de refrigerantes não tinham nenhum tipo de tampinha especial... Nem data de validade. E tinham também aquelas bolinhas de gude... Que vinham embaladas sem instrução de uso.

A gente bebia água da chuva, da torneira e nem conhecia água engarrafada! Que horror!

A gente andava de bicicleta sem usar nenhum tipo de proteção...

E passávamos nossas tardes construindo nossas pipas ou nossos carrinhos de rolimã. A gente se jogava nas ladeiras e esquecia que não tinha freios até que não déssemos de cara com a calçada ou com uma árvore... E depois de muitos acidentes de percurso, aprendíamos a resolver o problema...SOZINHOS!

Nas férias, saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo; nossos pais às vezes não sabiam exatamente onde estávamos, mas sabiam que não estávamos em perigo. Não existiam os celulares! Incrível!

A gente procurava encrenca. Quantos machucados, ossos quebrados e dentes moles dos tombos! Ninguém denunciava ninguém... Eram só acidentes de moleques: na verdade nunca encontrávamos um culpado. Você lembra destes incidentes? Janelas quebradas, jardins destruídos, as bolas que caíam no terreno do vizinho...

Existiam as brigas e, às vezes, muito pontos roxos... E mesmo que nos machucássemos e, tantas vezes, chorássemos, passava rápido; na maioria das vezes, nem mesmo nossos pais vinham a descobrir...

A gente comia muito doce, pão com muita manteiga... Mas ninguém era obeso... No máximo, um gordinho saudável... Nem se falava em colesterol... A gente dividia uma garrafa de suco, refrigerante ou até uma cerveja escondida, em três ou quatro moleques, e ninguém morreu por causa de vermes! Não existia o Playstation, nem o Nintendo...

Não tinha TV a cabo, nem videocassete, nem Computador, nem Internet. Tínhamos, simplesmente, amigos!
A gente andava de bicicleta ou à pé. Íamos à casa dos amigos, tocávamos a campainha, entrávamos e conversávamos... Sozinhos, num mundo frio e cruel... Sem nenhum controle! Como sobrevivemos? Inventávamos jogos... Com pedras, feijões ou cartas...

Brincávamos com pequenos monstros: lesmas, caramujos, e outros animaizinhos, mesmo se nossos pais nos dissessem para não fazer isso! Os nossos estômagos nunca se encheram de bichos estranhos! No máximo, tomamos algum tipo de xarope contra vermes e outros monstros destruidores... Um tal de óleo de rícino!

Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros e tiveram que refazer a segunda série.. Que horror! Não se mudavam as notas e ninguém passava de ano, mesmo não passando.

As professoras eram insuportáveis! Não davam moleza... Os maiores problemas na escola eram: chegar atrasado, mastigar chicletes na classe ou mandar bilhetinhos falando mal da professora... Correr demais no recreio ou matar aula só pra ficar jogando bola no campinho...

As nossas iniciativas eram nossas,mas as consequências também! Ninguém se escondia atrás do outro... Os nossos pais eram sempre do lado da Lei quando transgredíamos as regras! Se nos comportávamos mal, nossos pais nos colocavam de castigo e incrivelmente nenhum deles foi preso por isso!

Sabíamos que quando os pais diziam NÃO, era NÃO. A gente ganhava brinquedos no Natal ou no aniversário, não todas as vezes que ia ao supermercado... Nossos pais nos davam presentes por amor, nunca por culpa... Por incrível que pareça, nossas vidas não se arruinaram porque não ganhamos tudo o que gostaríamos, que queríamos...

Esta geração produziu muitos inventores, artistas, amantes do risco e ótimos solucionadores de problemas...

Nos últimos 50 anos, houve uma desmedida explosão de inovações, tendências.. Tínhamos liberdade, sucessos, algumas vezes problemas e desilusões, mas tínhamos muita responsabilidade... E não é que aprendemos a resolver tudo?...

SOZINHOS... Se você é um destes sobreviventes... PARABÉNS!!!
VOCÊ CURTIU OS ANOS MAIS FELIZES DE SUA VIDA..

Proteção demais Desprotege II

Em um estudo publicado na Revista Nature Medicine, pesquisadores da School of Medicine - University of California, em San Diego, comprovaram que o excesso de limpeza pode prejudicar crianças.

Na verdade, quem não sabe da importância da vitamina "S" (de sujeira) na vida das crianças? Engatinhar (mesmo em chão desconhecido), colocar qualquer coisa na boca, ficar mordendo todo e qualquer objeto (como o limpíssimo telefone celular da mãe)... Será que isso faz bem, e a lavagem obsessiva das mãos nos tempos de gripe suína faz mal?

O estudo mostrou que a bactérias que vivem na pele ajudam no processo de cicatrização de ferimentos. Estafilococo - um tipo de bactéria presente naturalmente na pele - inibe a inflamação excessivamente agressiva da pele após um ferimento. Ou seja, a flora bacteriana é importante para nós.

A importância do estudo não é fazer uma apologia à imundice, mas desvendar novas técnicas para melhorar a cicatrização.
Mas serve para lembrar que o exagero, para qualquer lado, nunca é benéfico para as crianças.

De acordo com outra pesquisa, publicada pelo Journal of the American Medical Association, a resistência mostrada por crianças habituadas ao convívio com animais se explica pelo contato com as endotoxinas, substâncias liberadas por bactérias presentes na saliva do bicho - e também na terra , no chão: é a folclórica vitamina ‘S’, de sujeira mesmo.

As endotoxinas seriam capazes de provocar o organismo, estimulando uma ‘tolerância’ a agentes externos. "Às vezes, há mais bactérias no celular e na gôndola do supermercado do que na boca do cão. As crianças de apartamento não tomam chuva, não conhecem lama. Alguns pais têm pavor dessas coisas, o que é um erro", diz o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Ávila Kfouri.

Na opinião da médica Ana Paula Castro, especialista da Unidade de Alergia e Imunologia do Hospital das Clínicas, o estilo de vida urbano das famílias modernas está diretamente relacionado ao aumento das alergias. "Não se trata só do excesso de limpeza. A urbanização está ligada ao sedentarismo, à obesidade precoce. E o tecido gorduroso produz substâncias inflamatórias que estimulam as alergias", diz ela.

Curiosamente, o aumento dos casos de alergias tem acompanhado a profusão de esterilizadores e anti-bactericidas no mercado. Segundo a Organização Mundial de Saúde, nos últimos 30 anos a porcentagem da população acometida por rinite alérgica passou de 15% para 25% e as ocorrências de dermatite cresceram de 5% para 12%. "Fatores ambientais são importantes, mas a genética também conta. Já ao nascer, o tipo de parto e a formação da flora intestinal ajudam a definir a propensão do bebê a ter alergias", ressalta Ana.

Apesar de concordar que o sistema imunológico precisa ser provocado para aprender a responder de forma favorável, Kfouri recomenda cautela ao relacionar alergias com padrões de limpeza. "O assunto é controverso. A exposição a certos antígenos estimula a tolerância imunológica e acredita-se que os efeitos a longo prazo sejam positivos, mas não se pode generalizar. Deve-se buscar o perfil imunológico de cada um para perceber, com bom senso, o que pode ser positivo para ela."

* O sistema imunológico é a defesa do corpo contra agressões externas. Ele começa a se formar na gestação, quando os anticorpos da mãe são transmitidos via placenta. Depois, o leite materno passa a ser a fonte principal de anticorpos, seguido pelas vacinas. O ritmo de trabalho das mães modernas, atrelado à diminuição do tempo de amamentação, pode influenciar o desenvolvimento do sistema imunológico do bebê.

* Sujar-se pode até fazer bem, mas limpar-se depois deve ser a regra. Normas básicas de higiene, como lavar as mãos após brincar com animais, escovar os dentes e banhar-se todos os dias devem ser respeitadas. A chupeta que cai no chão de casa não precisa ser esterilizada. Lavá-la com água é suficiente. Vale ressaltar que o abuso de produtos químicos na limpeza da casa pode ser tão nocivo quanto os antígenos domésticos, como o ácaro. [Veja mais sobre o assunto aqui]

Retirado de:

Proteção demais Desprotege I

Vivemos em uma época de justificada paranoia com os riscos e com a segurança. Visando reduzir determinados riscos, muitas pessoas são capazes de submeterem-se a situações inenarráveis: portas cheias de trancas de fechaduras, revistas em portas de banco, etc. No entanto, o excesso de precaução para reduzir algum risco pode se voltar contra nós mesmos: aumentando o risco geral.

É o que propõe a chamada teoria da homeostase do risco. A ideia básica, que foi apresentada pelo psicólogo canadense Gerald Wilde consiste de que nosso cérebro tem tendência a compensar riscos inferiores em uma área assumindo riscos maiores em outra.

O exemplo paradigmático deste fenômeno foi exemplificado por uma frota de táxis da cidade de Munique, que foi equipada com sistemas de freios antitravamento (ABS). O lógico é pensar que, ao introduzir este avanço técnico que permite uma freada mais segura em superfícies escorregadias, o índice de acidentes destes táxis reduziria em relação aos táxis que não estavam equipados com o efeito ABS. Mas foi bem o contrário.

Dotar alguns carros com ABS não surtiu absolutamente nenhum efeito no número de acidentes que sofriam; de fato, fez com que se transformassem em motoristas notavelmente piores. Conduziam mais rápido. Faziam curvas mais fechadas. Eram menos cuidadosos ao mudar de pista. Freavam com mais brusquidão. Mostravam maior tendência a aproximar-se do veículo que tivessem a frente. Não se integravam tão bem no trânsito e também estavam implicados em mais números de acidentes. Como diriam os economistas, consumiram a redução de riscos em vez de poupá-la.

Naturalmente, a homeostase dos riscos não acontece em todos os casos. Há medidas de segurança que sim resultam altamente efetivas, como o cinto de segurança, por exemplo. Mas produz-se com mais frequência da que cremos, até ao ponto de sabermos que o maior número de acidentes e mortes com transeuntes acontece nas passagens de pedestre: o transeunte compensa o meio "seguro" da passagem dando menos atenção ao trânsito.

Por que, segundo um estudo, a introdução de tampas a prova de crianças nos frascos de medicamentos provocou um aumento substancial de intoxicações infantis com resultado de morte? Porque os adultos tornaram-se menos cuidadosos à hora de deixar os frascos fora do alcance das crianças.

A homeostase dos riscos também funciona ao contrário: quando o risco aumenta, é possível que se produzam menos acidentes. Porquê? Simplesmente porque quando a pessoa sabe que está sujeita a um grande risco, ela tende a ser mais cuidadosa e assim se mantém até que o senso comum acostume-se com aquele perigo como se fosse algo habitual.

Gerarld Wilde, em frente a esse fenômeno, propõe uma irônica medida: que os países verdadeiramente interessados em incrementar sua segurança viário se proponham fazer esta mudança de maneira padrão.

sábado, 27 de novembro de 2010

O Professor Possível








Uma das coisas a que eu mais resisto na gestão desse blog é postar sobre o ofício de professor. Minha profissão está em crise. Muitos colegas estão largando o magistério ou mesmo repensando seriamente em largar as salas de aula e vender picolé na praia. As reclamações são muitas.
Entretanto (e me colocando também no rol dos descontentes) em noventa por cento das vezes não passa disso: reclamações. Como não vejo ninguém apresentar nem a curto, nem a longo prazo, algo que possa mudar o estado da educação no país, uma vez que nossa sociedade em geral não valoriza o estudo, acho chato e massante repetir toda hora o quanto tudo vai mal, como se fosse Lippi Har-Har a hiena sorumbática de um desenho animado antigo da Hanna Barbera. Assim, evito.
Meu grande amigo Professor Luiz Carlos Rodrigues (a quem devo também a dica do artigo que segue) sempre me diz: “Em seu trabalho espere muito do seu aluno, mas aceite o pouco que ele tem para te oferecer” e é o que eu procuro fazer.
Parafraseando a justificativa do Senhor Spock para o Capitão Kirk num episódio antigo de Star Trek ("The City on the edge of forever/A Cidade a beira da eternidade - essa é só para os nerds que leem o blog) não dá para fazer um tricorder com pedra polida e barro fofo (se não sabe do que estou falando vai no Google). Isso já dá o tom e a minha posição final em relação ao artigo que postarei hoje: NÃO EXISTE o professor ideal, existem apenas os professores possíveis.


SERÁ QUE EXISTE PROFESSOR(A) IDEAL?
Pouco serve idealizar educadores. Porém é possível apontar qualidades de gente de verdade, que faz um bom trabalho em condições reais
Luís C. de Menezes
Visitando escolas, encontro casos de excelência no trabalho coletivo de professores, assim como de atuações individuais excepcionais. No entanto, ao dar destaque a eles, tenho sido questionado por alguns leitores sobre eventuais idealizações de minha parte. Segundo eles, os personagens de meus exemplos provavelmente não teriam o mesmo desempenho se encarassem condições adversas, como violência, indisciplina e problemas de infraestrutura ou de ordem material.

Em respeito a essa preocupação, reitero que não falo de professores notáveis, com superpoderes e capazes de qualquer proeza, em qualquer situação. É preferível valorizar o trabalho de profissionais que fazem o possível nas circunstâncias que enfrentam, com os recursos de que dispõem.

Idealizações são artificiais, como as imagens tão comuns em propagandas de carro de luxo, que mostram ao volante um jovem atlético, sorridente e ousado, mesmo quando se sabe que a maioria dos proprietários é mais velha, séria e cautelosa. A intenção é facilitar a venda, associando esse virtual comprador ao produto.

A Educação, porém, não deve estar a serviço dos valores do mercado, e sim da sociedade. Logo, as qualidades que destacam professores nada têm de publicitárias. Eu as encontro em educadores que gosto de ver no comando das salas de aula brasileiras. Vejamos quais são, em minha opinião, essas características:

- Lucidez para não esperar alunos ideais, que já cheguem motivados, atentos e com os pré-requisitos desejados. Esses professores trabalham com os que de fato recebem e, na medida de suas possibilidades, enfrentam os desafios que se apresentam. Por isso, quase nunca se decepcionam ou se frustram.

- Respeito próprio para não aceitarem condições impróprias de trabalho, nem se limitarem a reclamar delas. Ao contrário, buscam transformá-las por saberem que um ambiente mais satisfatório para eles será também mais efetivo para o aprendizado de seus alunos.

- Comprometimento com a formação dos estudantes de modo que, além de ministrarem suas disciplinas, também se articulem com colegas e coordenadores em torno de ações educativas conjuntas. Sem isso, não se efetivaria o projeto pedagógico da escola.

- Consciência do próprio valor e da importância dos conhecimentos e das competências que promovem. Por isso, esses profissionais não se acomodam com o que já sabem, mas buscam aperfeiçoamento didático e cultural permanente. A partir dessa atitude, de recusa à passividade, esses docentes também rejeitam gestões pedagógicas burocráticas.

- Solidariedade para quem necessita de mais atenção, como alunos e colegas de trabalho em situação difícil.

- Coragem para intervir quando é' preciso tomar decisões complicadas, como mediar conflitos, mostrando que a atitude justa não é de indiferença ou neutralidade.


Professores que mesclam, em parte ou integralmente, essas qualidades realmente existem e constituem uma referência de conduta importante nas escolas em que trabalham. Por isso, as instituições que os recebem são privilegiadas. Esses profissionais não são geniais ou perfeitos, mas nunca paro de aprender com eles. Também não me canso de citá-los em conversas informais e palestras.

Mas não é necessário, e nem sequer possível, reunir todos eles em um único tipo ideal. Além disso, minha seleção é muito variada e inclui gente expansiva e tímida, jovem e madura, comunicativa e reservada, simples ou descolada.

Você sabe que não se fazem estátuas de educadores assim, mas eles podem ser encontrados ensinando em qualquer escola, na sua, inclusive. E, quem sabe, usando seus sapatos.

Luis Carlos de Menezes é Físico e Educador da Universidade de São Paulo (USP). Fonte: Extraída na íntegra da Revista Nova Escola - Edição 234 / Agosto 2010.

A Ciência se Aproximando da Magia II

A maioria das tradições antigas afirmam que o mundo começou na água e que se não foi assim, ela estava lá nos primórdios da criação. Agora os cientistas parecem ter descoberto que os mitos de criação não estão tão errados assim... (claro, guardadas as devidas proporções de que plasma não é água, mas acho você entendeu onde eu quero chegar...)    

Universo era líquido logo depois do Big Bang
Redação do Site Inovação Tecnológica - 24/11/2010
Universo líquido
Logo depois do Big Bang, nos primeiros instantes de sua existência, o Universo primordial não era apenas muito quente e denso, mas também tinha a consistência de um líquido.

Os mini Big Bangs, reproduções em escala reduzida daquilo que deve ter acontecido quando nosso Universo foi criado, foram gerados quando íons de chumbo começaram a colidir depois de acelerados nos 27 km do anel do Grande Colisor de Hádrons.

A análise das primeiras colisões foi divulgada em dois artigos científicos divulgados preliminarmente, ainda não avaliados para publicação em periódicos revisados - embora os artigos sejam assinados por quase mil cientistas.

Plasma de quarks-glúons
O experimento ALICE, um dos quatro grandes detectores do LHC, desenvolvido especialmente para estudar os mini Big Bangs, detectou cerca de 18.000 partículas depois de cada colisão entre os íons de chumbo.

Os cálculos indicam que os choques estão gerando temperaturas de até 10 milhões de graus. A essas temperaturas, os cientistas calculam que a matéria normal derreta-se em uma espécie de "sopa" primordial, conhecida como plasma de quarks-glúons.

Os primeiros resultados das colisões de chumbo já descartaram uma série de modelos da física teórica, inclusive aqueles que previam que o plasma de quarks-glúons criado nesses níveis de energia deveria se comportar como um gás.

Embora pesquisas anteriores, feitas no acelerador RHIC, nos Estados Unidos, em energias mais baixas, indicassem que as bolas de fogo produzidas em colisões de núcleos atômicos se comportassem como um líquido, muitos físicos ainda esperavam que o plasma de quarks-glúons se comportasse como um gás nas energias muito mais elevadas do LHC.

Mas não foi isso o que aconteceu. "Estes primeiros resultados parecem sugerir que o Universo teria-se comportado como um líquido super-quente imediatamente após o Big Bang," diz o Dr. David Evans, coordenador do experimento ALICE.

Viscosidade do plasma
Outros pesquisadores, contudo, sugerem maior cautela. Peter Jacobs, outro membro da equipe, afirma que é muito cedo para traduzir as medições em uma afirmação taxativa sobre a viscosidade do plasma de quarks-glúons formado nas colisões do LHC.

"Nossa medição do fluxo elíptico é final, mas serão necessárias muitas discussões com os teóricos antes que saibamos o que esses resultados significam em termos de viscosidade," diz Jacobs.

O detector ALICE foi especialmente projetado para estudar as condições do Universo primordial, logo depois do Big Bang.
A equipe também descobriu que, nessas colisões frontais de núcleos atômicos, produz-se mais partículas sub-atômicas do que alguns modelos teóricos previam.

A bola de fogo resultante da colisão dura apenas um período muito curto de tempo, mas quando a "sopa" esfria, os pesquisadores são capazes de ver milhares de partículas saindo.

É o caminho dessas partículas que é visto nas imagens. Analisando esses "detritos", os cientistas tiram conclusões sobre o comportamento da própria sopa.

Detectores do LHC
Embora a referência seja sempre feita ao LHC, que é o acelerador como um todo, suas peças principais são os sensores que detectam os resultados dos impactos das partículas que colidem.

São quatro aparelhos: ALICE (A Large Ion Collider Experiment), LHCb (LHC Beauty), ATLAS (A Toroidal LHC Apparatus) e CMS (Compact Muon Solenoid).


Bibliografia:
Elliptic flow of charged particles in Pb-Pb collisions at 2.76 TeV
The ALICE Collaboration
17 Nov 2010
http://xxx.lanl.gov/abs/1011.3914

Charged-particle multiplicity density at mid-rapidity in central Pb-Pb collisions at sqrt(sNN) = 2.76 TeV
The ALICE Collaboration
19 Nov 2010
http://xxx.lanl.gov/abs/1011.3916



A Ciência se Aproximando da Magia I

Por Shmuel Lemle
Einstein disse:

"A natureza nos mostra apenas a cauda do leão. Mas não tenho dúvidas de que o leão pertence a ela, embora não possa se revelar de uma vez só, devido a seu enorme tamanho".

A cauda do leão, segundo Einstein, é o universo que percebemos. E o leão é a teoria unificada que os cientistas procuram com o intuito de explicar tudo. A ciência moderna chegou a apresentar a teoria das supercordas.

Segundo esta teoria, o universo é formado por cordas minúsculas que vibram. Como as cordas de um instrumento, como um violino, onde diferentes vibrações produzem diferentes notas e sons, no caso das supercordas surgem diferentes vibrações que produzem diferentes partículas como quarks, elétrons, prótons e neutrinos.

É interessante notar que, segundo a teoria científica, o universo é composto por dez dimensões, exatamente como afirmava o antigo livro de Cabala, o "Livro da criação":

"Dez sefirot (dimensões) do nada: sua medida é dez que não tem fim. Dez sefirot do nada: dez e não nove, dez e não onze".
Retirado da coluna "Cabala" da revista Diversão do Jornal Extra (sim, jornal Extra também é cultura!)


Para saber o que é sefirot:


Sephiroth (cujo singular é Sephira) são as dez emanações de Ain Soph na cabala. Segundo a cabala, Ain Soph é um princípio que permanece não manifestado e é incompreensível à inteligência humana. Deste princípio emanam os Sephiroth em sucessão. Esta sucessão de emanações forma a árvore da vida.

Os Sephiroth emanados são, na sequência:



Há ainda um décimo primeiro Sephira, chamado Daath, que representa o abismo, o caos, e normalmente não é representado na árvore da vida, sendo um considerado um portal para as qliphoth, as sephiroth adversas.

Na árvore da vida os Sephiroth estão alinhados em três pilares conectados entre si por meio de vinte e duas ligações. Também se dispõem em três camadas triangulares e sucessivas, cada uma delas associada a um mundo (Atziluth, o Mundo das Emanações; Beriah, o Mundo das Criações; e Yetzirah, o Mundo das Formações), mais Malkuth na base (correspondendo a Asiyah, o Mundo das Ações).
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Sephira"

Eu não gosto de arte pós-Moderna

Eu não gosto de arte pós-Moderna. Ponto. Algumas são interessantes e tal... Mas algumas cheiram a rematada picaretagem, culminando que hoje qualquer oportunista com bons contatos (e um bom amigo que escreva uma crítica favorável) consegue ser chamado de "artista". Na imagem abaixo publicada na revista Domingo do JB no já distante ano de 1978, Luiz Fernando Veríssimo parece dizer o contrário. Pela minha interpretação (e aqui não estou querendo "psicologizar"o trabalho do mestre, estou apenas mostrando como eu vi/vejo o desenho) parece ser uma explicação para uma parcela da arte que se faz atualmente. De minha parte espero que seja assim mesmo e minha implicância com bambus pintados de azul e varais de embalagens de salgadinho sejam apenas a rabugice de um jovem senhor que não entende nada de arte.






sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Fanatismo e o Fim da Biblioteca de Alexandria

          
Depois da morte de Maomé, iniciou-se o período dos Califas Perfeitos -chamados assim porque eram familiares  ou amigos íntimos do profeta-. Estes primeiros califas eram quatro: Abu-Bakr, Omar, Otmán e Ali. O segundo deles, Omar, conquistou e islamizou a Síria, Pérsia, Palestina e Egito. No ano 644 tomou a Alexandria, na qual se encontrava a Grande Biblioteca de Ptolomeu (1) composta por milhares de lendários papiros. Ante aquele tesouro e sobre o que fazer com ele, Omar, com uma lógica pateticamente religiosa, disse:

"Não existe mais que um livro verdadeiro: o Alcorão. Se os livros dessa biblioteca contêm coisas opostas ao Alcorão, são ímpios e há que queimá-los; e se dizem o mesmo que o Alcorão, são supérfluos e há que queimá-los também."

Segundo contam as crônicas antigas, estes livros serviram para manter acesas as caldeiras dos banheiros públicos durante seis meses. De modo que devemos ter muito cuidado com a lógica ou, melhor dizendo, com o uso da lógica para justificar nossos atos.

Nota 1 - Diferente do que ainda contam alguns livros de história, a Biblioteca de Alexandria teve segmentos destruídos em diversas ocasiões: a primeira causada acidentalmente por Julio César na caça a Pompeu, a segunda teria acontecido na guerra com Zenobia na época do imperador Aureliano, a terceira foi causada pelo bispo Teófilo que decidiu atacar todos os templos pagãos no reinado de Teodósio e finalmente a expansão islâmica que acabou com o pouco que restava.