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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vive la Différence!

Hoje vou postar dois vídeos que atestam como os homens pensam. O primeiro, como foi dito nos comentários (quase sempre idiotas), não dá para assistir sem um sorriso no rosto. Mostra a ingenuidade de um menino e a rematada burrice dos homens quando o assunto é mulher. O segundo fala com humor das diferenças entre homens e mulheres consagradas em livros como "Os Homens são de Marte e as Mulheres são de Vênus", "Porque os Homens fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor" e correlatos.





segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Filosofia Urbana II

Ontem eu postei aqui um texto sem dizer como havia feito. Na verdade ele não é meu. É apenas uma compilação de partes de letras de música de uma grande banda: a "Legião Urbana" surgida em Brasília e ativa entre 1982 à 1996. Ao todo, lançaram treze álbuns, somando mais de vinte milhões de discos vendidos. A qualidade do texto final só vem atestar a genialidade de Renato Russo, líder e principal letrista, cujo falecimento interrompeu a trajetória vitoriosa do grupo. Abaixo segue de onde eu tirei os trechos (marcados com os números entre parênteses no texto) 


REFERÊNCIAS DISCOGRÁFICAS DO TEXTO "FILOSOFIA URBANA"
Música/Disco
1 - O Reggae/Legião Urbana
2 - Será/Legião Urbana
3 - Por Enquanto/Legião Urbana
4 - Soldados/Legião Urbana
5 - Baader-Meinhof Blues/Legião Urbana
6 - Teorema/Legião Urbana
7 - Petróleo do Futuro/Legiao Urbana
8 - A Dança/Legião Urbana
9 - Plantas Embaixo do Aquário/Dois
10 - Fábrica/Dois
11 - Índios/Dois
12 - Eu Sei/Que País É Este?
13 - Angra Dos Reis/Que País É Este?
14 - Há Tempos/Que País É Este?
15 - Pais E Filhos/ Que País É Este?
16 - Quando o Sol Bater na Janela do seu Quarto/As Quatro Estações
17 - Eu Era Um Lobisomem Juvenil/As Quatro Estações
18 - 1965 (Duas Tribos)/ As Quatro Estações
19 - Monte Castelo/As Quatro Estações
20 - Meninos e Meninas/As Quatro Estações
21 - L'Age D'or/Legião Urbana V
22 - Sereníssima/Legião Urbana V
23 - O Teatro dos Vampiros/Legião Urbana V
24 - A Montanha Mágica/Legião Urbana V
25 - Metal Contra as Nuvens/Legião Urbana V
26 - Um Dia Perfeito/ O Descobrimento do Brasil
27 - Só Por Hoje/O Descobrimento do Brasil
28 - A Fonte/O Descobrimento do Brasil

domingo, 29 de agosto de 2010

Filosofia Urbana I

Por Dimas de Fonte
Ainda me lembro aos três anos de idade o meu primeiro contato com as grades, meu primeiro dia na escola, como eu senti vontade de ir embora! Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me dissessem, me pediram para ter paciência, falhei, então gritaram: Cresça e apareça!
Cresci e apareci e não vi nada, aprendi o que era certo com a pessoa errada. Nada era como eu imaginava, nem as pessoas que eu tanto amava, ninguém me perguntou se eu estava pronto, e eu fiquei completamente tento, procurando descobrir a verdade no meio das mentiras da cidade. (1)
Será que e imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?
Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação, serão noites inteiras, talvez por medo da escuridão. Ficaremos acordados imaginando uma solução pra que esse nosso egoísmo não destrua nosso coração.
Brigar pra quê, se é sem querer, quem e que vai nos proteger? Será que vamos ter que responder pelos erros a mais, eu e você? (2)
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que o "pra sempre”' sempre acaba? (3)
Agora a coragem que temos no coração, parece medo da morte, mas não era então. Quem e o inimigo? Quem e você? (4)
Já estou cheio de me sentir vazio, meu corpo é quente e estou sentindo frio. Todo mundo sabe, ninguém quer mais saber, afinal, amar ao próximo e tão démodé. (5) Não tenha medo, não preste atenção, não dê conselhos, não peça permissão. É só você quem deve decidir o que fazer pra tentar ser feliz. (6)
Ah, se eu soubesse lhe dizer qual a é sua tribo, também saberia qual e a minha.
Ah, se eu soubesse lhe dizer o que fazer pra todo mundo ficar junto, todo mundo já estava a muito tempo.(7) Nós somos tão modernos só não somos sinceros, nos escondemos mais e mais. (8)
Aceite o desafio e provoque um desempate, desarme a armadilha e desmonte o disfarce, se afaste do abismo. Pense um pouco, não ha nada de novo, você vive insatisfeito e não confia em ninguém, não acredita em nada e agora e só cansaço e falta de vontade, mas faça do bom senso a nova ordem. (9)
Deve haver algum lugar onde o mais forte não consegue escravizar quem não tem chance. De onde vem a indiferença temperada a ferro e a fogo? (10)
Quem me dera ao menos uma vez, explicar o que ninguém consegue entender: Que o que aconteceu ainda esta por vir e o futuro não e mais como era antigamente.
Quem me dera ao menos uma vez, provar que quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante e fala demais por não ter nada a dizer. Quem me dera ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante... (11)
Um dia pretendo tentar descobrir, porque e mais forte quem sabe mentir. (Não quero lembrar que eu minto também...)
Vai ver que não é nada disso, vai ver que eu já não sei quem sou, vai ver que nunca fui eu mesmo...(13)
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão, e o descompasso e o desperdício, herdeiros são agora das virtudes que perdemos.
Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter bondade e ter coragem. (14) É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há.(15)
Porque esperar, se podemos começar tudo de novo agora mesmo? A humanidade é desumana, mas ainda temos chance; o sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer. (16)
Não falo como você fala, mas vejo bem o que você me diz. Se o mundo e mesmo parecido com o que vejo, preciso acreditar no mundo do meu jeito, e você estava esperando voar, mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?
O que sinto, muitas vezes faz sentido, e outras vezes não descubro o motivo, que explica por que é que não consigo ver sentido no que sinto, o que procuro, o que desejo, e o que faz parte do meu mundo.
Todos tem suas próprias razões. Qual foi a semente que você plantou? Tudo acontece ao mesmo templo, nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo. De hoje em diante, todo dia vai ser o dia mais importante.
Por enquanto eu não sei o que você me falou, mas me fez rir e pensar porque estou preocupado por estar tão preocupado assim. (17)
Quando querem transformar dignidade em doença, quando querem transformar inteligência em traição, quando querem; transformar estupidez em recompensa, quando querem transformar esperança em maldição, é o bem contra o mal. E você de que lado esta?
Eu estou do lado do bem, com a luz e com os anjos. (18) E só o amor que conhece o que é verdade; o amor e bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece.
Estou acordado e todos dormem. (19) Quero me encontrar, mas não sei onde estou, quero procurar um lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita, tenho quase certeza que eu não sou daqui. (20)
Aprendi a esperar, mas não tenho mais certeza. Agora estou bem. Tão pouca coisa me interessa contra minha própria vontade. Sou teimoso, sincero e insisto em ter vontade própria. Se a sorte foi um dia alheia ao meu sustento, não houve harmonia entre ação e pensamento. (21)
Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que eu não quero e você vai ver o que acontece... Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade, tudo está perdido, mas existem possibilidades. (22)
Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto e destes dias tão estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos. Esse é o nosso mundo, o que e demais nunca é o bastante e a primeira vez e sempre a ultima chance, ninguém vê onde chegamos; os assassinos estão livres, nos não estamos. (23)
Sou meu próprio líder: Ando em círculos, me equilibro entre dias e noites, minha vida toda espera algo de mim. Sou uma cópia do que faço.
O que temos é o que nos resta e estamos querendo demais. Existe um descontrole que corrompe e cresce, mas estou pronto para mais uma. O que é que desvirtua e ensina? O que fizemos com nossas próprias vidas. (24)
Não sou escravo de ninguém, ninguém é senhor do meu domínio, sei o que devo defender. Reconheço o meu pesar: Quando tudo é traição, o que venho encontrar é a virtude em outras mãos, mas minha terra é a terra que é minha e sempre será minha terra, tem a lua, tem as estrelas e sempre terá. E, por honra, se existir verdade, existem os tolos e existe o ladrão e há quem se alimente do que é roubo.
É a verdade o que assombra, o descaso o que condena, a estupidez o que destrói. Eu vejo tudo o que se foi e o que não existe mais. Tenho os sentidos dormentes, o corpo quer, a alma entende. Essa é a terra de ninguém e sei que devo resistir - Eu quero a espada em minhas mãos. Não me entrego sem luta, tenho ainda coração, não aprendi a me render: que caia o inimigo então.
Tudo passa, tudo passará. E nossa historia não estará pelo avesso, assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar, e até lá vamos viver, temos muito ainda por fazer, não olhe para trás. O mundo começa agora, apenas começamos (25)
Não vou me deixar embrutecer, eu acredito nos meus ideais, podem até maltratar meu coração que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar. (26)
Hoje eu já sei que sou tudo o que preciso ser, não preciso me desculpar, nem te convencer que o mundo e radical. Não sei onde estou indo, só sei que não estou perdido, aprendi a viver um dia de cada vez. (27)
Do lado do Cipreste branco, a esquerda da entrada do inferno está a fonte do esquecimento; Vou mais além, não bebo dessa água, chego ao lago da memória que tem água pura e fresca e digo aos guardiões da entrada: Sou filho da ferra e do Céu. Dai-me de beber, que tenho uma sede sem fim. (28)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

As Desventuras de Charles Abel IV


As Desventuras de Charles Abel III

As Desventuras de Charles Abel II

A Desventuras de Charles Abel I

Há mais ou menos uma década atrás eu estava no fim da Faculdade e uma amiga, sabendo que eu era ligado a quadrinhos me convidou para elaborar uma pequena HQ que ensinasse os alunos a usar a biblioteca. Ela era chefe de um setor importante e queria popularizar o uso dos livros. Com  o inestimável auxílio de meu amigo desenhista, Rogério Basile, que cedeu alguns minutos de seu tempo para rabiscar meu roteiro de quatro páginas, mais capa eu concebi um fanzine de oito pranchas A5, que daria duas folhas de A4 dobradas ao meio frente e verso. Nada muito caro para não onerar demais minha amiga. O produto tinha que ser BBB: Bom bonito e barato. E assim foi feito. Entretanto não foi aproveitado. A alegação era de que não havia verbas nem para cópias comuns e o projeto foi esquecido. Por isso coloco agora aqui para a apreciação de vocês.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pequena Fábula sobre Deus e o Mundo Para Crianças

"Quando uma criança me faz uma aquelas perguntas metafísicas fundamentais que vem à cabeça de todas as crianças: 'De onde veio o mundo?' 'Por que razão Deus fez o mundo?' 'Onde estava eu antes de nascer?'  'Onde vão as pessoas quando morrem?'  Vez após vez, tenho verificado que as crianças parecem ficar satisfeitas com uma história muito simples e antiga, que é mais ou menos assim: 
Nunca houve um tempo em que o mundo começou, pois o mundo dá voltas e voltas, como um círculo, e o círculo não tem ponto algum de especial onde começa. Olhe para o seu relógio, que  diz o tempo; o ponteiro também dá voltas e voltas, da mesma forma como o mundo se repete sempre, dando voltas e voltas. Mas, tal como o ponteiro sobe até o meio-dia e, depois, desce às seis horas, também há dia e há noite, também há o sono e o despertar, viver e morrer, verão e inverno. Não é possível ter uma destas coisas sem ter, também a outra – pois não seria possível saber o que é preto se o preto não tivesse sido visto ao lado do branco, ou o que é branco se este não tivesse sido visto ao lado do preto.
Dá mesma forma, há períodos em que o mundo existe e momentos em que ele não existe, pois se o mundo continuasse sempre dando voltas, sem nunca descansar, ficaria horrivelmente cansado. Assim, vai e vem. Por vezes, podemos vê-lo e, outras, não. Mas, como ele não se cansa de si mesmo, volta sempre, depois de desaparecer. É como a nossa respiração: o ar entra e sai, entra e sai – E quando procuramos parar de respirar, sentimo-nos mal. É também, como o jogo de esconde-esconde, pois é sempre divertido encontrar novas formas de nos escondermos e de procurarmos alguém que não se esconde sempre no mesmo lugar.
Deus também gosta de brincar de esconde-esconde, mas como não há coisa alguma fora de Deus, ele só pode brincar consigo mesmo. Contudo, ele passa por cima dessa dificuldade, fingindo que não é ele mesmo. Essa é a maneira que ele tem de se esconder de si próprio. Finge que é você e eu e todas as pessoas do mundo, todos os animais, todas as plantas, todas as rochas, todas as estrelas. Desta forma, tem estranhas e maravilhosas aventuras, algumas delas terríveis e assustadoras. Mas estas são apenas como pesadelos, pois desaparecem quando ele acorda.
Agora, quando Deus brinca de se esconder e finge que é você ou eu, esconde-se tão bem que demora muito tempo a lembrar-se de onde e como se escondeu. Mas essa é a parte mais divertida – trata-se exatamente do que queria fazer. Não quer encontrar-se demasiado depressa, já que isso estragaria o jogo. É por isso que é tão difícil, para você e para mim, descobrirmos que somos Deus disfarçado, fingindo que não é ele. Mas quando a brincadeira já durou muito, todos nós acordamos, paramos de fingir e recordamos que somos todos um só ser – o Deus que é tudo aquilo que existe e que vive para sempre e sempre.
É claro, você tem de recordar que Deus não tem o aspecto de uma pessoa. As pessoas têm pele e tem quase sempre alguma coisa por fora de sua pele. Se não tivessem, não saberíamos qual é a diferença que existe entre o que está dentro e fora de nossos corpos. Mas Deus não tem pele ou forma, pois não há coisa alguma fora dele. (Com uma criança suficientemente inteligente, costumo ilustrar isto com uma fita de Möbius – um anel de fita de papel torcida de tal maneira que fica com apenas um lado e uma borda.) O interior e o exterior de Deus são iguais. E, apesar de estar falando de Deus como “ele” e não “ela”, Deus não é um homem ou uma mulher. Também não posso dizer que é uma “coisa”, já que, geralmente usamos uma palavra para algo que não tem vida.
Deus é o ser do mundo, mas você não pode ver Deus, pela mesma razão que não deixa você, sem um espelho, ver seus próprios olhos; da mesma forma, também, como você não pode morder seus próprios dentes ou olhar dentro de sua cabeça. Seu ser está escondido muito inteligentemente porque é Deus escondendo-se.
Você poderá perguntar porque razão é que Deus, por vezes, se esconde na forma de pessoas horríveis ou finge ser pessoas que sofrem doenças graves e grandes dores. Pense, primeiramente, que ele só está fazendo isso a si próprio, não a outra pessoa. Recorde, também , que em quase todas as histórias  de que você gosta tem de haver gente ruim e gente boa, pois a emoção da história é descobrir como é que a gente boa vai levar a melhor sobre a gente ruim. O mesmo acontece quando jogamos cartas. No começo do jogo, misturamos todo o baralho e as cartas ficam numa imensa desordem, que é como as coisas ruins do mundo, mas a intenção do jogo é voltar a ordenar as cartas e acabar com essa desordem, e aquele que o fizer melhor será o vencedor. Depois, voltamos a embaralhar as cartas e jogamos uma vez mais – e é isso que sucede com o mundo".
(Alan Watts – Tabu: O que o Impede de Saber Quem Você É )

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o Amor Verdadeiro

“Se amas alguém, deixa-o em liberdade.
Se ele voltar, foi porque precisou.
Se não voltar foi porque precisou.”
(Escrito anônimo num muro em Buenos Aires)

“O amor verdadeiro, o amor amadurecido é união sob condição de preservar a integridade própria, a própria individualidade.
O amor é uma força ativa no homem; uma força que irrompe pelas paredes que separam o homem de seus semelhantes, que o une aos outros;
O amor leva o homem a superar o sentimento de isolamento e de separação, permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo, reter sua integridade.
No amor ocorre o paradoxo de que dois seres sejam um e contudo permaneçam dois.
Mas que dá uma pessoa a outra?
Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida.
Isto não quer necessariamente dizer que sacrifique sua vida por outrem, mas que lhe dê aquilo que em si tem de vivo;
Dê-lhe de sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza – de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si.
Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento de vitalidade.
Não dá afim de receber; dar é, em si mesmo, requintada alegria.
Mas ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa à vida da outra pessoa, e isso que é levado à vida, reflete-se de volta ao doador;
Ao dar verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno.
Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida.
Além do elemento de doação, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar sempre certos elementos básicos comuns a todas as formas de amor. São eles: cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento.
O amor é preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos.
O cuidado e a preocupação implica outro aspecto do amor: o da responsabilidade.
A responsabilidade, porém, em seu verdadeiro sentido, é ato voluntário; é a resposta que damos as necessidades, expressas ou não expressas de outro ser humano.
Ser “responsável” significa ter de “responder”, estar pronto para isso.
A responsabilidade poderia facilmente corromper-se em dominação e possessividade se não houvesse um terceiro elemento do amor, o respeito.
Respeito não é medo e temor; denota, de acordo com a raiz da palavra (respicere=olhar para), a capacidade de ver uma pessoa tal como é, ter conhecimento de sua individualidade singular.
Respeito significa a preocupação de que a outra pessoa cresça e se desenvolva como é, implica a ausência de exploração.
Respeito, assim, é querer que a pessoa amada cresça e se desenvolva por si mesma, por seus próprios modos e não para o fim de servir-me.
Se amo a outra pessoa sinto-me um com ela, ou ele, mas com ela tal como é, não como eu necessito, como um objeto de meu uso.
É claro que o respeito só é possível se eu mesmo alcancei a independência. Se eu puder levantar-me e caminhar sem precisar de muletas, sem ter que dominar e explorar qualquer outro.
O respeito só existe na base da liberdade. O amor é filho da liberdade, nunca da dominação.
Respeitar uma pessoa não é possível, entretanto, sem conhecê-la.
Cuidado e responsabilidade seriam cegos se não fossem guiados pelo conhecimento.
O conhecimento seria vazio se não fosse motivado pela preocupação.
Há muitas camadas de conhecimento; o conhecimento que é um aspecto do amor é aquele que não fica na periferia, mas penetra até o âmago do outro.
O único meio de conhecimento completo está no amor, esse ato que transcende o pensamento, transcende as palavras. é o mergulho ousado na experiência da união.
Contudo, o conhecimento pelo pensamento, que é o conhecimento psicológico torna-se condição necessária para o pleno conhecimento no ato do amor.
Preciso conhecer-me e a outra pessoa, objetivamente, a fim de poder ver a sua realidade, ou melhor de superar as ilusões, o retrato irracionalmente desfigurado que tenho dela. Só se conhecer objetivamente um ser humano poderei conhecê-lo em sua essência última no ato de amor.”
(Erich Fromm – A Arte de Amar)

“Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Mas quem compreende, também ama, observa, vê...
Quanto mais conhecimento estiver inerente numa coisa,
tanto maior o amor...
Aquele que acha que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo,
como as cerejas,
nada sabe a respeito das uvas.”
(Paracelso)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Carta Sobre a Felicidade de Epicuro a Meneceu

Epicuro foi um filósofo grego, nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C., e morreu em 271 a.C. em Atenas. Às vezes é acusado (injustamente) de fundador das ideias hedonistas atualmente tão em moda, onde vemos uma busca desenfreada por uma "felicidade" ancorada em prazeres efêmeros e nos "Paraísos Artificiais" para os quais Baudelaire já havia nos chamado a atenção lá no final do século XIX. Nada mais falso. É só ler as palavras abaixo para ver como Epicuro foi um Grande Mestre e como sua doutrina se aproxima de coisas do Taoismo e do Budismo no tocante a  maneira ideal de se viver a vida com plenitude, responsabilidade e consciência, três artigos tão em falta em nosso mundo hoje. 
No mais não há muito o que dizer... apenas repetir o a sugestão que está no final:  "Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes".



CARTA SOBRE A FELICIDADE (A MENECEU)

Epicuro envia sua saudações a Meneceu.
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se a filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.
Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.
Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a tua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.
Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.
Acostuma-te a ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo da imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.
Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido ainda que breve.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.
Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai dessa vida? Pois se é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeiras não admitem.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a espera-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.
Consideremos também que, entre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há alguns que são necessários e outros que são apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início de uma vida feliz.com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando eles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um male, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que se originam as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prud6encia, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.
Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto a nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?
Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.
Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.
Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.
 Tradução baseada na edição de Arrighetti. Epicuro. Opere. Torino, 1973.

domingo, 22 de agosto de 2010

Qual é o Tipo das suas Amizades?

A visão de Aristóteles é que há três tipos distintos de relacionamentos. Mais de um tipo pode ser encontrado no mesmo, mas isso nos ajuda a entender as variadas naturezas de relacionamentos quando fazemos a distinção.

Em [uma] obra, sua Ética, Aristóteles oferece uma análise da amizade (...). Ele distingue três tipos de amizade; uma que se baseia em benefício ou utilidade, outra em prazer ou divertimento, e outra que reflete o compromisso e respeito mútuos oriundos do bem virtuoso. Os relacionamentos entre membros da família costumam refletir pelo menos uma dessas bases para a amizade, se não as três. Ninguém negará que os membros de uma família podem ser muito insensíveis, difíceis de engolir, intratáveis em suas interações. Os amigos também, às vezes. Mas, para viver e manter um laço de família — mesmo de uma família extensa —, as pessoas envolvidas precisam ter o dom de perdoar ou relevar e superar atitudes e ações contrárias que, de outro modo, podem quebrar a unidade e alienar os membros da família. Nenhuma família é perfeita, assim como nenhuma amizade.

Primeiro, o nível mais baixo de amizade é o que Aristóteles chama de amizade de utilidade. E um relacionamento em que ambas as partes se beneficiam uma da outra e relacionam-se por causa desse benefício. Pense em nossos colegas de trabalho, membros de uma banda, ou participantes de um time. (...) Cada participante se beneficia de um modo prático do relacionamento. Sua utilidade contínua e mútua é o que mantém a amizade de utilidade viva entre duas ou mais pessoas.

Uma segunda e talvez superior forma de amizade é o que Aristóteles chama de amizade de prazer. Esse é um relacionamento baseado não em utilidade mútua para algum projeto ou atividade, mas em prazer mútuo. Os amigos por prazer gostam de estar juntos. Eles apreciam a companhia um do outro. Divertem-se juntos. Esse tipo de amizade dura enquanto durar o prazer. Sem dúvida, os amigos por prazer também podem desfrutar outros benefícios mútuos dessa associação e os amigos por utilidade também podem gostar da interação mútua.

Essas categorias não devem ser exclusivas. Mesmo assim, nós podemos categorizar qualquer amizade de nível dual nos termos de sua natureza mais fundamental, como em: "Bem, eles se dão bem e parecem gostar da companhia um do outro, mas são basicamente parceiros (...)". Ou, "Claro, eles trabalham juntos; mas quando se aposentarem continuarão tocando música juntos, fumando charuto e freqüentando a casa um do outro — eles são amigos mesmo".

Em outras palavras, um relacionamento pode conter elementos tanto de utilidade quanto de prazer; contudo, uma dessas categorias pode ser mais fundamental que a outra em um caso determinado.

Aristóteles afirmava existir uma terceira e mais nobre forma de amizade, uma "amizade perfeita" ou uma "amizade completa"; ou ainda uma "amizade de virtude". Esse é o relacionamento admirável que pode existir apenas entre pessoas realmente virtuosas, comprometidas com o que é a bom, comprometidas uma com a outra, e que sejam em algum sentido mais ou menos iguais.

Para Aristóteles, uma medida de igualdade é importante para qualquer espécie de amizade, pois ele acreditava que, se um relacionamento se toma desequilibrado e unilateral demais, provavelmente acaba. Mas é possível interpretar as categorias aristotélicas de amizade valorizando a amizade ainda mais, à medida que ascendemos a formas superiores dela. É essa forma superior de relacionamento — a amizade completa — que, nos relatos do historiador da Antiguidade Diógenes Laércio, Aristóteles caracterizava como "uma alma em dois corpos".

De acordo com Aristóteles, um amigo completo deseja o bem a seu amigo "por ele mesmo" — isto é, só pelo bem do amigo, e não por interesses egoístas ou atrás de benefícios residuais. Uma amizade perfeita é "centrada no outro", por parte de ambos. Cada um quer se doar ao outro e ver o amigo prosperar. A amizade completa envolve benefício, prazer e bondade; e Aristóteles acreditava que ela perdura enquanto existir a bondade dos amigos. E como, na visão de Aristóteles, a verdadeira bondade é um traço perene em qualquer ser humano, ele acreditava também que as amizades perfeitas são, na verdade, permanentes. Ele também reconhecia, contudo, que tais amizades são raras, uma vez que também são raros os indivíduos verdadeiramente bons.

(Encontrei esse texto  faz muito tempo e não sei de quem é a autoria. Tem algo similar 
Se alguém souber de quem é, coloque nos comentários que eu corrigirei o post) 

sábado, 21 de agosto de 2010

As Três Perguntas do Imperador

Um rei somente poderia continuar a reinar satisfeito sem o risco de cometer alguma falha, se conseguisse a resposta para as seguintes perguntas: Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa? Quais pessoas mais importantes com quem trabalhar? E qual a coisa mais importante a ser feita?
O imperador publicou uma declaração, dizendo dar um alto prêmio àquele que fosse capaz de responder às perguntas. Inúmeras pessoas se dirigiram ao palácio oferecendo diferentes respostas. Como nenhuma das respostas satisfez ao imperador, nenhum prêmio foi concedido.
Após refletir por várias noites, o imperador decidiu sair à procura de um eremita que vivia na montanha, e que diziam ser um homem iluminado. Sabia-se que ele jamais deixara a montanha e não recebia ricos nem poderosos, apenas os pobres. Ainda assim, o imperador decidiu ir ao seu encontro para fazer-lhe as três perguntas. Disfarçado de camponês, o imperador ordenou aos seus criados que esperassem ao pé da montanha enquanto ele subia sozinho.
Ao chegar ao lugar em que vivia o eremita, o imperador viu-o lavrando a terra da horta em frente à sua pequena cabana. Ao avistar o forasteiro, o eremita acenou-lhe com a cabeça, continuando a capinar. O trabalho era bastante duro para um homem daquela idade, e toda vez que enterrava a enxada na terra para revolvê-la, um profundo suspiro acompanhava seu movimento. Acercando-se dele, o imperador falou:
- Vim até aqui para pedir a sua ajuda. Quero que me responda três perguntas: Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa? Quais pessoas mais importantes com quem trabalhar? E qual a coisa mais importante a ser feita?
O eremita ouviu-o atentamente, mas não respondeu. Deu uma palmadinha amistosa no ombro do forasteiro e continuou seu trabalho. O imperador então disse:
- Você deve estar cansado, deixe-me dar uma mão ao seu trabalho.
Agradecendo, o eremita passou-lhe a enxada e sentou-se no chão para descansar. Depois de ter cavado dois canteiros, o imperador parou e voltando-se para o eremita, repetiu suas três perguntas. Ao invés de responder, o eremita levantou-se e apontando para a enxada disse:
- Porque não descansa agora? Eu posso retomar o meu trabalho de novo.
Mas o imperador não lhe passou a enxada e continuou a cavar. Assim se passaram as horas até que o sol começou a se esconder atrás da montanha. O imperador colocou a enxada de lado e falou ao eremita:
- Eu vim aqui para ver se você era capaz de responder minhas três perguntas. Mas se não puder respondê-las, por favor, me diga, para assim eu voltar para casa.
Levantando a cabeça, o eremita perguntou:
- Está ouvindo os passos de alguém correndo ali adiante?
O imperador voltou a cabeça e, de repente, a frente de ambos, surgiu um homem com longa barba branca. Ofegante, o homem tentava cobrir com as mãos o sangue que escorria do ferimento no estômago, avançando em direção ao imperador, antes de tombar ao chão, inconsciente. Abrindo a camisa do homem, o imperador e o eremita viram que ele havia recebido um corte profundo. O imperador limpou a ferida, usando sua própria camisa para atá-la, mas o sangue empapou-a inteira depois de poucos minutos. O imperador então enxaguou a camisa, enfaixando a ferida pela segunda vez, assim continuando até parar de sangrar. Ao recobrar os sentidos, o homem pediu água. O imperador foi até o rio e trouxe-lhe uma cumbuca de água fresca. Nesse meio tempo a noite já havia descido e o frio se fazia sentir. O eremita ajudou o imperador a carregar o homem até a cabana onde o deitaram sobre a cama. O homem fechou os olhos e adormeceu. Esgotado por ter passado o dia escalando a montanha e capinando a terra, o imperador encostou-se contra a porta de entrada e adormeceu. Quando despertou, o dia já estava claro. Por um momento, não se lembrava onde estava e para que tinha ido até ali. Esfregou os olhos e viu o homem ferido que, deitado, também olhava confuso ao redor. Ao ver o imperador, o homem fixou-o, murmurando com voz fraca:
- Perdoe-me, por favor.
- O que você fez para que eu o perdoasse? Respondeu o imperador.
- Vossa Majestade não me conhece mas eu o conheço. Eu era seu inimigo declarado e tinha jurado me vingar por meu irmão ter sido morto na guerra e por minhas propriedades terem sido confiscadas. Quando soube que V. M. vinha sozinho at;é aqui, resolvi surpreende-lo no seu caminho de volta, e mata-lo. Como não consegui vê-lo após ficar escondido por horas a fio, decidi sair a sua procura. Mas ao invés de encontrar V. M., dei com seus criados que me reconheceram e me feriram. Felizmente consegui escapar e correr até aqui. Seu eu não o tivesse encontrado, estaria certamente morto agora. Eu tencionava mata-lo e V. M. salvou minha vida. Não tenho palavras para expressar o quanto estou envergonhado e agradecido. Se eu conseguir me recuperar, juro ser seu servo pelo resto de minha vida e o mesmo ordenarei aos meus filhos e netos. Por favor, dê-me o seu perdão.
O imperador sentiu uma extraordinária satisfação por ver que havia se reconciliado com um ex-inimigo, tão facilmente. Não só lhe perdoou como também prometeu devolver-lhe todas as propriedades e mandar seu próprio médico e criados tratarem-no até que se recuperasse totalmente. Depois de ordenar aos criados que acompanhassem o homem até seu lar, o imperador voltou a ver o eremita. Queria antes de retornar ao palácio, repetir suas três perguntas, uma última vez. Encontrou o eremita agachado, semeando a terra que haviam preparado no dia anterior. Este, após ouvir novamente as perguntas do imperador, disse:
- Mas suas perguntas já foram respondidas.
- Como assim? – indagou o imperador intrigado.
- Ontem, se V. M. não se tivesse compadecido de mim e me ajudado a cavar a terra, teria sido assassinado por aquele homem ao voltar para casa. Portanto, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve cavando os canteiros, a pessoa mais importante fui eu, e a coisa mais importante a fazer foi me ajudar. Mais tarde, quando o homem ferido apareceu, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve tratando de seu ferimento, pois sem o seu socorro ele teria morrido e V. M. teria perdido a chance de reconciliar-se com ele. Da mesma forma, ele foi a pessoa mais importante, e a coisa mais importante foi cuidar de seu ferimento. Lembre-se de que só existe um tempo importante e esse tempo é o agora. O presente é o único tempo sobre o qual temos domínio. A pessoa mais importante é aquela que está à sua frente. E a coisa mais importante é fazer essa pessoa feliz.
(Leon Tolstoi - Tirado do livro Para Viver em Paz: o Milagre da Mente Alerta de Thich Nhât Hanh – Ed. Vozes)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Arte de Viver de Epicteto

SAIBA DISTINGUIR ENTRE O QUE VOCÊ PODE CONTROLAR E O QUE NÃO PODE
A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle e outras não estão. Só depois de aceitar esta regra fundamental e aprender a distinguir entre o que podemos e o que não podemos controlar é que a tranquilidade interior e a eficácia exterior tornam-se possíveis.

Sob nosso controle estão as nossas opiniões, aspirações, desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta porque estão sujeitas à nossa influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando i se trata do conteúdo e da natureza de nossa vida interior.

Fora de nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se tiramos a sorte grande e enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que estas coisas são externas e, portanto, não dependem de nós. Tentar controlar ou mudar o que não podemos só resulta em aflição e angústia.

Lembre-se: as coisas sob nosso poder estão naturalmente à nossa disposição, livres de qualquer restrição ou impedimento. As que não estão, porém, são frágeis, sujeitas a dependência ou determinadas pelos caprichos ou ações dos outros. Lembre-se também do seguinte: se você achar que tem domínio total sobre coisas que estão naturalmente fora de seu controle, ou se tentar assumir as questões de outros como se fossem suas, sua busca será distorcida e você se tornará uma pessoa frustrada, ansiosa e com tendência para criticar os outros.
(...)
Mantenha sua atenção inteiramente concentrada no que de fato lhe compete e tenha bem em mente que aquilo que pertence aos outros é problema deles e não seu. Se agir assim, estará imune a coações e ninguém o poderá reprimir. Será verdadeiramente livre e eficiente em suas ações, pois seus esforços estarão canalizados para boas atividades e não tolamente desperdiçados em críticas ou confrontos com outras pessoas.

Tendo conhecimento e dando atenção ao que de fato lhe compete, não será obrigado a realizar qualquer coisa contra sua vontade. Os outros não poderão feri-lo, você não fará inimigos ou será prejudicado.

Se o seu objetivo é viver de acordo com estes princípios, lembre-se de que não será fácil: você deverá abrir mão inteiramente de algumas coisas e adiar momentaneamente outras. E possível que até mesmo precise privar-se de riquezas e poder se quiser atingir a felicidade e a liberdade.
(Epicteto – A arte de viver)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Os Poderes do Sal Grosso

O sal grosso é considerado um potente purificador de ambientes. Povos distintos usam o sal para combater o mau-olhado e deixar a casa a salvo de energias nefastas.

O sal é um cristal e por isso emite ondas eletromagnéticas que podem ser medidas pelos radiestesistas. Ele tem o mesmo cumprimento de onda da cor violeta, capaz de neutralizar os campos eletromagnéticos negativos.
Visto do microscópio o sal bruto revela que é um cristal, formado por pequenos quadrados ou cubos achatados.

As energias densas costumam se concentrar nos cantos da casa. Por isso, colocar um copo de água com sal grosso ou sal de cozinha equilibra essas forças e deixa a casa mais leve.

Para uma sala média onde não circula muita gente, um copo de água com sal em dois cantos é suficiente. Em dois ou três dias já se percebe a diferença. Quando formam-se bolhas é hora de renovar a salmoura.

A solução de água e sal também é capaz de puxar os íons positivos, isto é, as partículas de energia elétrica da atmosfera, e reequilibrar a energia dos ambientes. Principalmente em locais fechados, escuros ou mesmo antes de uma tempestade, esses íons têm efeito intensificador e podem provocar tensão e irritação.

A prática simples de purificação com água e sal deve ser feita à menor sensação de que o ambiente está carregado, depois de brigas ou à noite no quarto, para que o sono não seja perturbado.

Banho de sal grosso e o antigo escalda-pés (mergulhar os pés em salmoura bem quente) têm o poder de neutralizar a eletricidade do corpo. Para quem mora longe da praia é um ótimo jeito de relaxar e renovar as energias.

Já foi considerado o ouro branco (salmoura para conservar alimentos). Os povos foram desenvolvendo técnicas de usar o sal, como as abaixo descritas:

Uma pitada de sal sobre os ombros afasta a inveja. Para espantar o mau-olhado ou evitar visitas indesejáveis, caboclos e caipiras costumam colocar uma fileira de sal na soleira da porta ou um copo de salmoura do lado esquerdo da entrada. A mistura de sal com água ou álcool absorve tudo de ruim que está no ar, ajuda a purificar e impede que a inveja, o mau-olhado e outros sentimentos inferiores entrem na casa.'

Depois de uma festa, lavar todos os copos e pratos com sal grosso para neutralizar a energia dos convidados, purificando a louça para o uso diário.

Tomar banho de água salgada com bicarbonato de sódio descarrega as energias ruins e é relaxante. O único cuidado é não molhar a cabeça,pois é aí que mora o nosso espírito e ele não deve ser neutralizado.

Na tradição africana, quando alguém se muda, as primeiras coisas a entrar na casa são: um copo de água e outro com sal. Usam sal marinho seco, num pires branco atrás da porta para puxar a energia negativa de quem entra. Também tomam banho com água salgada com ervas para renovar a energia interna e a vontade de viver.

No Japão, o sal é considerado poderoso purificador. Os japoneses mais tradicionais jogam sal todos os dias na soleira das portas e sempre que uma visita mal vinda vai embora. Símbolo de lealdade na luta de sumô. Os campeões jogam sal no ringue para que a luta transcorra com lealdade.

Use esse poderoso aliado! É barato, fácil de encontrar e pode te ajudar em momentos de dificuldade energética e esgotamento.

Fonte: Revista Bons Fluídos - Casa Claúdia Especial - Mar/Abr/1999. (Retirado de: http://www.ercytarot.com.br/curiosidades_texto.php)


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Significado de Termos Populares III

Mais cultura inútil... Esses verbetes eu tirei de: http://www.diariodeumjuiz.com/?p=1747 e de: http://br.oocities.com/becobeleco/expressoes.htm. Quando tiver acrescentado algo estará em itálico e/ou com designação da devida fonte.

Não prega prego sem estopa
Significa não agir em favor de alguém a não ser para receber algo em troca ou ter alguma vantagem. Vem do costume de usar pedaços de estopa para proteger os dedos de uma eventual martelada, especialmente quando o prego é pequeno e a superfície dura. A estopa, devidamente enrolada em várias camadas, seria posta sobre a mão com o fim de protegê-la e evitar que a mesma viesse a ser atingida por uma eventual martelada. Outra explicação é que seria uma corruptela do termo “não prega prego sem escopo“, ou seja, sem objetivo, sem finalidade.

Tá com bicho carpinteiro
Ex. Esse menino tá com o bicho carpinteiro! O certo é bicho no corpo inteiro, tipo aqueles filmes onde as baratas e coisas do gênero ficam subindo nas pernas da mocinha e ela não para de gritar e se mexer…

Dar uma pala ou dar uma palinha
Adquiriu uma nova forma: transformou-se em “dar uma palhinha“. Pala é um enfeite de vestido feminino, uma dobra perto da gola, ou aquela parte do boné, também chamada aba. É um ornamento e em sentido figurado situa-se como uma coisa secundária. Daí a expressão “dar uma pala“, ou seja, resumir, adiantar o assunto, dar apenas uma pista do que se vai dizer. Por extensão, chegou-se a “dar uma palinha“, que significa ser ainda mais sucinto.

O que é de gosto arregala os olhos ou o que é de gosto arregala o peito
O certo é “o que de gosto regala os olhos” ou “o que é de gosto é regalo ao peito” que significa se o que você faz te deixa feliz, então ninguém tem nada a ver com isso.

Chegar de mãos abanando:
Há muito tempo era comum exigir que os imigrantes chegassem nas terras para trabalhar com suas próprias ferramentas. Se viessem de mãos vazias, era sinal que não estavam dispostos a trabalhar. Portanto chegar de mãos abanando é chegar de mãos vazias.

Lágrimas de crocodilo:
Refere-se ao choro fingido. O crocodilo, ao ingerir alimentos, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim ele chora enquanto devora a vítima.

Memória de elefante:
O elefante lembra de tudo que aprende. Diz-se que as pessoas que recordam de tudo tem memória de elefante.

Encrenca:
Expressão originária dos prostíbulos do RJ que é o português fonético alemão “eine kanke” e significa “uma doente” que era usado para qualificar as prostitutas portadoras de doença venérea.

Borra-Botas
Significa medroso. Perdedor. No popular... bunda-mole. A origem é antiga, do tempo que os homens usavam aquelas calças pra dentro das botas. Os medrosos teriam tanto medo que se lhes escorreriam as fezes pelas pernas e acabariam dentro das botas.

Chifre como Sinônimo de Traição
A origem mais antiga está ligada à lenda do minotauro, besta mitológica meio homem meio touro, nascida da união adúltera da Rainha de Creta, Parsifae e um touro, traindo o Rei Minosse, seu marido. A partir dai o Rei passou a ser saudado com os cornos feitos com a mão. A expressão para marido traído em grego é "kerata potein", mais ou menos portador de chifres. Os romanos a adotaram e traduziram para "cornutus" e ela sobrevive até os dias de hoje. A palavra corno vem do latim "curnus", que significa chifre, e teve sua origem na idade média. Em algumas regiões da Europa, quando o marido flagrava sua esposa em adultério, tinha a obrigação moral de lavar sua honra com sangue. Caso isso não fosse feito, os habitantes lhe colocavam na cabeça uma espécie de chapéu com dois enormes chifres e o mesmo era empurrado pelas ruas, sendo motivo de gozação para todos.
Outra origem vem do Código Filipino, ou Ordenações Filipinas, editado em 1603, a pedido do rei Felipe II, que vigorou no Brasil desde a sua criação até a Independência, rezava explicitamente que o marido que flagrasse a esposa em adultério cujo adúltero não fosse nobre, o marido "ofendido" deveria matar o seu desafeto. Caso dispensasse essa prerrogativa de matar, deveria usar em público algo semelhante a um chapéu ornado com dois chifres para que todos o reconhecessem como um homem que não “honrou” a sua condição de homem. Quando o adúltero fosse nobre, o marido traído nada poderia fazer. O Código Filipino era apenas uma reformulação do Código Manuelino que vigorou em Portugal e no Brasil de 1513 a 1569, porém, praticamente manteve a mesma estrutura das Ordenações Manuelinas, sofrendo vários acréscimos - a questão do adultério foi mantida. (de: http://intervox.nce.ufrj.br/~sivaldo/chifre.htm)




Leia mais sobre o significado de termos populares em:
http://abcimaginario.blogspot.com/2010/08/curiosidade-significado-de-termos.html
http://abcimaginario.blogspot.com/2010/08/significado-de-termos-populares-ii.html