Por Dimas de Fonte
Gosto muito de cinema, embora ultimamente não tenha mais tantas produções que me façam ter coragem para realizar o que para mim é um verdadeiro e sério ritual: sair de casa pra ir ver um filme na sala escura. Ele envolve conseguir companhia, o que é difícil para alguns tipos de filme de que gosto, mesmo estando namorando (lembro que vi a estreia das Tartarugas Ninjas numa sala repleta de crianças do jardim de infância com suas babás e mães que me olhavam como se eu fosse um E.T.). Envolve encontrar um cinema legal (tenho saudade dos cinemas de rua... agora nos shopings vendemos a amplidão das grandes salas pela segurança gelada de um local apertado com hora marcada), com um horário compatível com minha necessidade de deslocamento (na verdade isso é um sinônimo de “morar longe” ou “morar mal”).
Antes eu podia sair de casa a qualquer hora apenas com a intenção de ir ao cinema sem ter nem um título em mente, chegar em um lugar que tivesse vários, escolher um, pagar a entrada, entrar, sentar, esperar a sessão terminar e ver o filme todo de novo ou somente até o ponto em que eu peguei quando entrei e mais: se o filme fosse bom, ver duas, três vezes sem precisar de uma nova entrada
Hoje não se pode mais fazer isso. Da última vez que eu tentei foi num cinema de rua que hoje está fechado. Cheguei quinze minutos atrasado e tive que negociar com o supervisor da conservação (lanterninhas não existem mais) e ficar no banheiro do cinema durante o intervalo para a limpeza da sala, para depois voltar e assistir até o ponto em que eu entrei. Isso sob o olhar atento do rapaz para ver se eu ia “dar uma volta” nele e assistir o filme todo de novo.
Entrar a qualquer momento era excelente para se namorar. Quantas vezes vi o mesmo filme pelo menos duas vezes: a primeira incompleta devido aos amassos (ainda existe isso?) durante a sessão e a segunda para valer. Alguns filmes só ganharam sentido para mim pela montagem dos vários pedaços das várias sessões. Existe um que até hoje eu não sei como é a história. Chama-se “O Sol da Meia Noite” com Mikhail Baryshnikov e Gregory Hines. Só sei que é um filme de dança que misturava balé e sapateado. Lembro que escolhi por que era ruim e daria para namorar mais na última sessão do cinema, na última fila embaixo do projetor.
Outra coisa indispensável no meu ritual é comer. Não que eu seja um entusiasta da comida, quem me conhece bem, sabe o quanto eu tenho vocação para faquir. Desde a mais tenra idade comer para mim sempre foi mais uma obrigação do que prazer. Hoje consigo me livrar dessa vocação para frugalidade buscando companhias para o almoço, a janta, o lanche... Não gosto de comer sozinho. E gosto de sair com gente que tem prazer em comer. Me sinto bem vendo minha irmã se refestelando com um bom prato em que mistura sashimi, spaghetti à bolonhesa e bobó de camarão com o mesmo gosto.
Quando vou ao cinema tenho que mastigar alguma coisa. Não gosto de pipoca. Pipoca é salgada, dá sede, que pede água ou refrigerante, que pede idas ao banheiro, que interrompem o filme. Não. Isso não. Filmes de cinema são para serem vistos do início ao fim. A menos que esteja em casa e aí a comodidade do “pause” do controle remoto suspende a emoção até a volta do pipi (perdi o final do capítulo III do “Senhor dos Anéis” por que segurei até o último minuto o chamado da natureza. Só que foram mais de três horas de filme, aí já viu... não há bexiga que resista. Só fui ver como terminava depois no DVD).
E por que pipoca de cinema tem que ser tão cara? Acho um absurdo cobrar o que eles cobram por óleo, sal e milho estourado. Ah! Mas não é sal, é Aji No Moto! Isso deve explicar a inflação dos refrigerantes e dos doces também. Alguns cinemas são tão caros (triplex, quadriplex, 3D, Dolby Surround...) que acho que vai voltar o tempo do meu pai em que se ia de terno e gravata para o cinema só para valorizar o que se pagou pela entrada que o funcionário rasga na sua cara.
Assim, eu passo num local qualquer FORA do cinema e compro snacks e guloseimas para degustar durante a sessão. Atualmente quando vou ao cinema num shoping, eu compro somente chocolates. Não sou muito fã de chocolate puro (na caixinha sou fã dos bomboms de banana, crocante e coco – nessa ordem), mas descobri um quiosque que vende uns pequenininhos de vários tipos: com licor, com whisky, com castanha, ao leite, com hortelã, com passas... É lá que eu faço a festa. É um quiosque “sef-service”. A atendente te dá um saquinho e você vai colocando o que quer, ela pesa, você paga e pronto. Eu pego um punhado de cada variedade (devem ser umas 10 diferentes) e coloco no mesmo saquinho misturando tudo. Depois no escurinho é só ir tirando de uma por uma e se surpreendendo com os diferentes gostos.
Seguindo o ritual, de posse dos doces eu compro o ingresso e como mamãe me ensinou, passo na toalete, depois bebo um pouco de água e estou pronto para a sessão. Bem se vê que não é por qualquer coisa que vou ao cinema. O filme (ou a companhia) tem que merecer. Por essas e outras é que tenho centenas de dvds (e ainda alguns VHS que não consigo jogar fora...) Quando não tenho paciência para exercitar essas manias pessoais (quem não as tem, pois não?) espero sair o título em DVD e assistir os filmes no sacrossanto recesso do meu lar.
O meu prato vira uma lama, bicho!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Agora, você não mencionou aquele dia fatídico que você me levou ao cinema quando eu tinha mais ou menos uns sete anos para ver "risco total" e me deixou esperando na porta do banheiro igual ao dois de paus enquanto você assistia a continuação filme...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Amo você!
Bjks