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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Rodamoinhos e Águas Paradas

Por Charlotte Joko Beck
Somos bem parecidos a rodamoinhos no rio da vida. Em seu fluxo, o rio ou riacho encontra pedras, galhos ou irregularidades de leito que levam ao aparecimento espontâneo de rodamoinhos aqui e ali. A água que passa por esses pontos rapidamente os atravessa e se reintegra ao rio, podendo mais adiante entrar em outro rodamoinho e prosseguir depois. Embora por curtos períodos ela pareça distinta, um evento separado, a água do rodamoinho é apenas o próprio rio.
A estabilidade do rodamoinho é temporária. A energia do rio da vida forma as coisas vivas — o ser humano, o gato, o cachorro, as árvores e as plantas —, e, então, o que mantinha o rodamoinho no lugar sofre uma modificação e aquele torvelinho é desfeito e torna a entrar no fluxo maior. A energia que foi um certo rodamoinho se dissolve e a água prossegue, talvez para ser novamente retida e, por um momento, transformar-se em outro rodamoinho.
Preferimos, no entanto, não pensar sobre nossas vidas dessa maneira. Não queremos nos ver como uma formação temporária e simples, um rodamoinho no rio da vida. O fato é que assumimos uma forma por um certo tempo e, quando as condições são propícias, saímos de cena.
Não há nada errado em sair de cena; é uma parte natural do processo. Contudo, gostamos de pensar que esses pequenos rodamoinhos que somos não fazem parte do rio. Queremos nos ver como seres permanentes e estáveis. Toda a nossa energia é dirigida para nossas tentativas de proteger nossa suposta realidade em separado.
Para proteger essa nossa separação, criamos limites fixos e artificiais. Em consequência disso, acumulamos excesso de bagagem, coisas que deslizam para o fundo do rodamoinho e não podem fluir de novo. Assim, as coisas vão entupindo nosso rodamoinho e o processo fica confuso.
O rio precisa fluir naturalmente, sem empecilhos. Se o nosso rodamoinho particular está todo entulhado de coisas, acabamos também prejudicando o rio em si. Ele não conseguirá ir a parte nenhuma. Os rodamoinhos próximos terão menos água em virtude de nosso apego desesperado. O melhor que podemos fazer por nós e pela vida é manter a água de nosso rodamoinho fluindo e limpa para que apenas continue seu curso. Quando fica represada, criamos problemas mentais, físicos e espirituais.
A melhor maneira de servirmos outros rodamoinhos é permitindo que a água que entra no nosso tenha liberdade para escorrer através dele e ir em frente solta e rápida, para atingir qualquer outro ponto que precise ser mobilizado.
A energia da vida busca uma rápida transformação. Se conseguirmos ver a vida dessa maneira e não nos apegarmos a nada, a vida simplesmente vem e vai. Quando detritos chegam ao nosso pequeno rodamoinho, e se seu fluxo for harmônico e forte, eles ficam girando por ali durante um certo tempo e depois seguem adiante. Não é assim porém que vivemos. Como não percebemos que somos simples rodamoinhos no rio do universo, consideramo-nos entidades separadas que precisam proteger seus limites.
O próprio julgamento "Sinto-me magoado" estipula um limite ao nomear um "eu" que cobra ser protegido. Sempre que algum lixo flutua para dentro de nosso rodamoinho, fazemos de tudo para evitá-lo, para expulsá-lo, ou para, de alguma maneira, controlá-lo.
Noventa por cento da vida é gasta na tentativa de criar limites em torno do rodamoinho. Estamos constantemente na defensiva: "Ele talvez me magoe"; "Isso pode dar errado"; "Não gosto dele de jeito nenhum". Esse é um completo mau uso da nossa função vital e, mesmo assim, todos nos comportamos dessa forma, em maior ou menor escala.
As preocupações financeiras refletem nosso esforço para manter limites fixos. "E se o meu investimento fracassar? Talvez eu perca todo o meu dinheiro." Não queremos que nada ameace nosso suprimento monetário. Todos pensam que isso seria uma coisa terrível. Sendo protetores e ansiosos, apegando-nos aos nossos bens materiais, entulhamos nossas vidas.
A água que deveria estar correndo, entrando e saindo, para poder servir, torna-se estagnada. O rodamoinho que ergue um dique à sua volta e se isola do resto do rio se torna estagnado e perde sua vitalidade. A prática consiste em não se estar mais preso ao que é particular, mas em enxergá-lo como realmente é — uma parte do todo.
Apesar disso, gastamos a maior parte de nossa energia criando água parada. É isso o que acontece quando se vive no medo. O medo existe porque o rodamoinho não entende o que é, ou seja, nada além do próprio rio. Enquanto não tivermos um vislumbre dessa verdade, toda nossa energia estará indo na direção errada. Criamos muitos pontos de estagnação que geram contaminação e doenças. Esses pontos estagnados em busca de proteção dentro de diques começam a brigar uns com os outros. "Você fede. Não gosto de você." Águas estagnadas causam muitos problemas. O frescor da vida está perdido.
A prática do zen ajuda-nos a ver de que maneira criamos estagnação em nossa vida. "Será que eu fui sempre tão zangado e nunca reparei?" Assim, nossa primeira descoberta na prática é reconhecer nossa própria estagnação, criada por nossos pensamentos centrados em nós mesmos.
Os maiores problemas são criados por aquelas atitudes que não conseguimos enxergar em nós. A depressão, o medo e a raiva que não são reconhecidos criam rigidez.
Quando reconhecemos a rigidez e a estagnação, a água começa a fluir de novo, pouco a pouco. Sendo assim, a parte mais vital da prática é o desejo de ser a própria vida — que é apenas o conjunto das sensações que nos chegam — como aquilo que cria nosso rodamoinho.
Ao longo de muitos anos, treinamo-nos para fazer o oposto: criar pontos de água estagnada. Essa é a nossa falsa conquista. Desse esforço incessante nascem todos os nossos problemas e o nosso distanciamento da vida. Não sabemos como ser íntimos, como ser um fluxo de vida.
Um rodamoinho estagnado, com limites defendidos, não está próximo de nada., Prisioneiros de sonhos centrados em nós mesmos, sofremos, como dizem os votos diários de um de nossos centros de zen.
"Preso num sonho autocentrado: somente sofrimento/Apegado a pensamentos autocentrados: exatamente o sonho. A cada momento, a vida é assim: a única mestra./Ser somente este momento: o caminho da compaixão".
A prática é a lenta inversão disso. Para a maioria dos estudantes, essa inversão e trabalho para uma vida inteira. A mudança é em geral dolorosa, principalmente no início. Quando estamos habituados à rigidez e à inflexibilidade de uma vida defendida, não queremos dar permissão para que novas correntes de energia cruzem o espaço da consciência, por mais rejuvenescedoras que sejam.
A verdade é que não gostamos muito de ar fresco. Não gostamos muito de água limpa. Leva muito tempo até conseguirmos enxergar nosso sistema de defesa e manipulação da vida em nossas atividades diárias.
A prática ajuda-nos a enxergar tais manobras com mais clareza, e essas constatações sempre são desagradáveis. Ainda assim, é fundamental que vejamos o que estamos fazendo. Quanto mais tempo praticarmos, mais prontamente poderemos reconhecer nossos padrões de defesa.
O processo nunca é fácil ou indolor, porém, e aqueles que estão esperando encontrar um lugar fácil e rápido para descansar não deverão embarcar nessa viagem.
Retirado e adaptado de: Nada de especial: Vivendo Zen, de Charlotte Joko Beck, Ed. Saraiva.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tudo o que Você Tem Não é Seu!



Por Dimas de Fonte
    Os Espíritas dizem que a caridade está acima de tudo; mas a maioria das pessoas acredita que caridade é dar dinheiro, esmolas, dízimos ou contribuir para a caixinha da igreja.  Na verdade o ato de dar é muito mais simples e não necessariamente passa por algo material... Se você acreditar que não tem nada para oferecer, lembre-se de que tem a si mesmo, do seu tempo, sua atenção, seu ouvido, sua presença, enfim.
   Esteja sempre presente para quem precisar de você. Não deixe sua mente vagar pela lista do supermercado enquanto alguém, qualquer um,  está na sua frente precisando de atenção. Se não a quiser dar, desculpe-se e saia de perto com jeitinho,  mas enquanto estiver ali, "esteja ali"  inteiro. Toque, olhe nos olhos e lembre-se de que as pessoas podem nunca mais lembrar o que você lhes disse, nem seguir as suas sugestões, mas sempre vão lembrar de como as tratou. Assim você estará gerando um bom Karma que poderá voltar quando mais precisar dele...
    Livros "esotéricos" como "O Segredo" e outros, ensinam que para você conseguir qualquer coisa deve desejar de uma forma especial e colocar em ação as poderosas "engrenagens espirituais" que conseguirá tudo o que quer. Isso cria um problema potencial ao pensarmos no que acontece quando e se duas mentes poderosas resolverem querer coisas opostas entre si... Cria-se um paradoxo? Vence a mente mais forte?  Sai num sorteio?
   Paulo Coelho parece solucionar esse impasse quando diz, de forma a meu ver mais sensata, que quando você  segue sua "lenda pessoal" (o seu Destino), o Universo conspira a seu favor. Isso poderia poupar equívocos e colocar o demandante no caminho certo, se descobrir qual é a missão de cada um nesse planeta  fosse simples e fácil, mas não é.  Shmuel Lemle apresenta uma forma mais segura, digamos assim, de lidar com os desejos que todos nós temos. Nos diz ele:

“Quando uma pessoa exercita os músculos levantando pesos, primeiro eles se contraem, encolhem, para só depois crescerem e se expandirem.
A lição espiritual que se tira disso é que, para obter um determinado resultado, você precisa fazer o oposto.
Quando quer receber, precisa antes compartilhar.
Quando quer ser amado, primeiro precisa oferecer amor aos outros.
Quando quer ganhar mais, precisa antes doar dinheiro.
É tudo ao contrário.
Pense em algo que você deseja na vida.
Escolha uma única coisa.
Mude seu comportamento e aja de forma oposta ao que faria para obter o que quer.
Uma coisa só pode ser realmente sua quando você está desapegado e disposto a abrir mão dela se não estiver destinada a ser sua.
Não tenha medo de perder.
Se for para ser seu, ninguém pode tirar de você”.
(Shmuel Lemle, Coluna Cabala, Jornal Extra, 25/01/2011.)

É isso. Aquilo que você colocar no mundo volta para você. Pensando nisso, lembrei de três aforismos que aprendi tempos atrás e procurei trazer para minha vida como uma espécie de balizamento comportamental. Repeti tanto elas para minhas colegas na época da faculdade que ficaram sendo conhecidas como as "Três Máximas de Dimas":

1- Aquilo que é seu será seu; mesmo se jogar pela janela voltará para você e não se perderá. É a confirmação do seu Destino, do seu Caminho.

2-  Deus te dá o que você precisa, mas nem sempre o que você precisa é aquilo que você quer...

3-  Nunca deseje nada por que um dia você pode conseguir. Ao desejar algo você porá forças em ação que desconhecerão as suas mudanças de ideia ou de humor ao longo do tempo. (Neil Gaiman, um grande escritor, escreveu certa vez que “o preço por ter o que se quer, é ter aquilo que um dia se quis”)

Para terminar o post de uma forma leve, vejam essa música de uma banda brasileira formada em 1998 chamada “Lampirônicos” (abreviação de lampiões eletrônicos) que mistura pop, rock e baião, formada em Salvador. Conheci a música por acaso, ela era a última faixa de um CD  promocional oferecido por uma rede mundial de fast food anos atrás que eu ganhei de um irmão. Eles chegaram a aparecer em uma entrevista no Programa do Jô Soares, mas a música fez pouco sucesso, entretanto, ela vale muito pela mensagem que passa... Eis a letra  e um  vídeo para mostrar como é a melodia:

Pop Zen
(Alexandre Leão / Manuca Almeida / Lalado)

Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guarda
Não lhe pertence nem nunca lhe pertencerá
Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guarda
Pertence ao tempo que tudo transformará
Só é seu aquilo que você dá
Só é seu aquilo que você dá
Tudo aquilo que você não percebeu
Tudo que não quis olhar
É como o tempo que você deixou passar
Tudo aquilo que você escondeu
Tudo que não quis mostrar
Deixe que o tempo com tempo vai revelar
Só é seu aquilo que você dá
Só é seu aquilo que você dá
E o beijo que você deu é seu, é seu, é seu mesmo
E o beijo que você deu é seu, é seu, é seu mesmo



sábado, 29 de janeiro de 2011

Os Gladiadores Romanos II

Os Principais Tipos de Gladiadores

TRÁCIO
Havia pelo menos seis tipos de gladiadores comuns e outros dois a cavalo. Os trácios eram os únicos a lutar com a sica, uma espada curva originária da Trácia (região entre a atual fronteira da Grécia com a Turquia), era um pouco mais leve e longa que outras espadas da época, possibilitando cortes rápidos. Como usavam um escudo pequeno, eles tinham também chapas de metal para proteger as pernas. O capacete com plumas era outra marca registrada



SECUTOR
Treinado para encarar o retiarius, era um "tanque de guerra" bem protegido. Tinha um grande escudo retangular e capacete mais liso (para não prender na rede do retiarius) e com pequenos buracos para os olhos (para evitar as pontas do tridente). Sua arma era uma espada. A clássica espada romana era o gládio e não era muito longa - tinha cerca de 70 cm. Ideal para luta a média distância, era uma arma tanto de corte como de perfuração


DIMACHAERI
Há poucos registros sobre este tipo de gladiador - os historiadores não sabem ao certo nem quem ele enfrentava nas arenas. Mas, pelo fato de usar só duas espadas, alguns especialistas acreditam que o dimachaeri era um dos gladiadores mais bem treinados



RETIARIUS
Era o tipo mais ágil e veloz, mas também o mais indefeso, pois tinha pouca proteção - nem sequer usava capacete. Encarava gladiadores "pesados"como o secutor, usando só uma rede com pesos nas bordas, como uma rede de pesca que funcionava tanto para manter o adversário a distância, como para imobilizá-lo ao ser lançada sobre ele, e um tridente que era uma arma que intimidava e tinha o alcance de uma lança. As três pontas do tridente serviam ainda para desarmar o adversário - a lâmina da espada do rival ficava presa entre elas. Para finalizar a luta, contava ainda com uma adaga que possuía corte nos dois lados da lâmina e uma ponta extremamente afiada. Assim como o gládio, a adaga  fazia parte do arsenal carregado pelos legionários romanos



MURMILLO
Tinha o apelido de "homem-peixe" por usar um capacete com o desenho de um peixe na lateral. As armas e proteções eram similares às do secutor, podendo variar o escudo. As lutas entre trácios, murmillos e retiarius eram consideradas os verdadeiros clássicos das arenas


HOPLOMACHUS
Homenageava os guerreiros das falanges gregas, por isso portava uma lança, que podia ser usada junto com uma adaga ou com uma espada. Tinha boas proteções para o corpo, como o secutor, mas precisava se virar apenas com um pequeno escudo circular



ANDABATI
A cavalo, os andabatis se enfrentavam com um capacete com o visor tampado. É isso mesmo, um combate às cegas, sem escudo e portando apenas uma espada! Eles não eram do mesmo nível dos outros gladiadores e serviam mais como um "alívio cômico" durante os jogos



EQUITES
Gladiadores montados bem mais sérios que os andabati, combatiam entre si com uma lança e um escudo circular médio. A hasta, era a mais longa, havia ainda o pilum (um tipo de dardo para arremesso). O equites era o único gladiador que usava o pilum. Em alguns duelos, trocavam a lança por uma espada. Os equites podiam lutar em pares ou em grupos, atuando como uma cavalaria








SKISSOR [Atualização 23/12/2011]

Talvez o mais misterioso de todos os tipos de gladiadores. Sobre ele, sabemos apenas de alguns recursos. Sua principal característica era usar essa arma de aparência estranha no combate de gladiadores no Império Romano de onde vem seu. O Skissor era utilizada encaixada no antebraço; tinha cerca de 45 cm e era feito de aço sólido e a cavidade metálica da base tornava mais fácil os contra-ataques rápidos e de curta distância.








GLADIADORAS
Pode acreditar: no Império Romano rolava também combates entre mulheres. Aliás, esses duelos eram eventos especiais na programação dos jogos. Alguns pesquisadores acreditam que, para "animar a torcida", as gladiadoras não usavam capacetes e lutavam com pelo menos um seio aparecendo.












sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os Gladiadores Romanos I





“Ave Casear morituri te salutant”
“Salve César os que vão morrer te saúdam”
(Frase pronunciada pelos gladiadores antes da luta).



por Danilo Cezar Cabral

O Gladiador era um lutador escravo treinado na Roma Antiga. O nome "Gladiador" provém da espada curta usada por este lutador, o gladius (gládio). Eles se enfrentavam para entreter o público, e o duelo só terminava quando um deles morria, ficava desarmado ou ferido sem poder combater.

Nesse momento do combate é que era determinado por quem presidia aos jogos, se o derrotado morria ou não, frequentemente influenciado pela reação dos espectadores do duelo. Alguns dizem que bastava levantar o polegar para salvar o lutador, outros dizem que era a mão fechada que deveria ser erguida.

Entretanto alguns estudos relatam que nem sempre o objetivo era a morte de um dos gladiadores, haja vista, que isso geraria ônus para o Estado romano. Argumenta-se que o principal objetivo era o entretenimento da plateia. Faziam parte da política do "pão e circo" (panis et circencis).

Pouco comum era que um romano de alta posição social, mas arruinado, se relacionasse como gladiador a fim de garantir a própria defesa, ainda que de maneira arriscada. Ser proprietário de gladiadores e alugá-los era uma atividade comercial perfeitamente legal.


As primeiras lutas conhecidas aconteceram em Roma em 286 a.C., no começo da Primeira Guerra Púnica. Porém o esporte teve início com os Etruscos.

Durante cerca de sete séculos, as lutas dos gladiadores, entre si (ordinarii) ou contra animais ferozes, o que era menos valorizado e prestigioso para os lutadores, foram os espetáculos preferidos dos romanos.

O Coliseu era o principal palco dessas lutas, em Roma, e suas ruínas ainda se constituem numa atração turística da cidade. Lutas tinham algumas regras e até juiz acompanhando os combatentes

Poupar a vida de um gladiador era decisão do patrocinador da luta. Mas a torcida influenciava. Ao gritar missa, ela pedia que a vida do perdedor fosse poupada; ao berrar jugula, queria ver a execução com um golpe certeiro na jugular!

Pouca gente sabe, mas havia uma espécie de juiz, que entrava em ação quando um gladiador estava dominado. O tal "juiz" ouvia do patrocinador dos jogos e da torcida o veredicto final: se o lutador derrotado devia ser morto ou poupado

A luta acabava quando um gladiador morria durante o combate. Mas, às vezes, o perdedor era dominado pelo rival ainda com vida. Nessas horas, o gesto de rendição era levantar um dos braços com o dedo indicador para cima. Quando isso rolava, o juiz era acionado.



Retirado e adaptado de: http://mundoestranho.abril.com.br/historia/quais-eram-principais-tipos-gladiador-467955.shtml e http://pt.wikipedia.org/wiki/Gladiador

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Cabeça Pesada e o Ventre Leve (O Ying/Yang)

Por Al Chung-liang Huang
“Nessa cultura [ocidental], estamos tão voltados para os processos mentais que nos afastamos de outros aspectos da nossa vida. (...) Esta divisão entre pensar e realizar é clara; é preciso muito tempo para encontrar o equilíbrio yin/yang. O símbolo yin/yang é o entrosamento, a união-dissolução do movimento dentro de um círculo. 

As energias semelhantes, e ao mesmo tempo contrastantes, movem-se juntas. Dentro da área em negro notamos um ponto branco, e na área branca em forma de peixe, um ponto negro. A ideia básica de um círculo assim dividido tem como finalidade demonstrar que a união abrange a polaridade e o contraste.


A única maneira de atingirmos o verdadeiro equilíbrio, sem perdermos a sensação de centralidade proporcionada pelo circulo, consiste em pensar em termos de energias opostas movendo-se em harmonia, união, em interligação. 
Num certo sentido, a imagem sugere realmente o acasalamento de um peixe branco e um peixe negro, uma interação fluente, uma consumação entre duas forças, macho e fêmea, mente e corpo, mal e bem.


É um estilo de vida muito importante. Os orientais identificam-se mais com esta concepção do que nós ocidentais, cuja tendência é a identificação com uma das forças e a rejeição do elemento contrastante.



Se nos identificamos somente com um dos lados da dualidade, rompemos o equilíbrio. T'ai chi [Chuan - a Dança/Arte Marcial] pode nos ajudar a perceber o desequilíbrio e recuperar o centro, restabelecendo o fluxo entre os dois pólos.


Portanto, não se detenham nos cantos, pois um círculo não tem cantos. Se pensarem dessa maneira, estarão mais abertos, sem aquela sensação de serem obrigados a alcançar alguma coisa.


Certa vez alguém disse que a diferença entre o oriental e o ocidental é a seguinte: o homem oriental tem a cabeça vazia e muito leve, concentrando o peso no ventre e sentindo-se bastante seguro.

O ocidental tem o ventre leve e a cabeça muito pesada, e, em consequência disso, tomba com facilidade. Na sociedade ocidental, tanto se acumula na cabeça, tanto se fala e pensa sobre as coisas, que podemos analisar tudo até a última partícula, e no entanto, tudo continua tão distante de nós, burlando a nossa compreensão.

Possuímos tantos dispositivos mecânicos que realizam nosso trabalho por nós que o corpo perde a sua importância. Para recuperar o equilíbrio, temos que dar ênfase ao corpo e trabalharmos juntos com a união corpo-mente.

Algumas pessoas se dão conta de que seus corpos necessitam de mais atividades, então dedicam-se a correr, nadar, ao futebol e dizem: ‘Bem, já fiz a minha quota de exercícios’. Mas continua a separação entre a ‘hora do corpo’ e a ‘hora da mente’, semelhante à separação entre trabalho e lazer que a maioria das pessoas experimenta.

Trabalhamos bastante para poder tirar férias, ir a um lugar aprazível para nos divertir Isto provoca uma separação em nossa vida. O trabalho não deveria ser uma obrigação. O lazer não deveria ser uma caça ao divertimento. Trabalho e lazer podem se integrar.


Atividades não-verbais constituem uma forma importante de recuperar o equilíbrio e encontrar unidade na vida. Quando paramos de falar surge a chance de nos abrirmos e nos tornarmos mais receptivos ao que ocorre no corpo e à nossa volta.

O T'ai chi Chuan é uma das diversas maneiras de ajudar a disciplinar o corpo e encontrar uma vazão para a tensão interna. T'ai chi pode ser um modo de permitir que o corpo nos ensine e oriente na resolução dos conflitos cotidianos.

Como professor de dança, assim como de t'ai chi, considero a parte mais difícil justamente o processo de desaprendizagem pelo qual temos que passar.

Existe uma bela estória sobre um professor que vai visitar um mestre zen:

‘Olá, sou o doutor fulano de tal, sou isso e aquilo. Gostaria que me ensinasse algo de zen-budismo’. O mestre responde: ‘Gostaria de sentar-se?’ ‘Sim’. ‘Gostaria de tomar um pouco de chá?’ ‘Sim’. Ele serve o chá e continua entornando mesmo depois de encher a xícara, até que finalmente o professor exclama. ‘O chá está derramando todo’. Diz o mestre: ‘Exatamente. Você veio aqui com a xícara cheia. A sua xícara já está transbordando, então como posso eu acrescentar alguma coisa? Você já está transbordando de tanto conhecimento. Se não vier para cá vazio e aberto, não poderei lhe dar nada’.

Precisamos justamente deste tipo de inocência, de ignorância, ao aprender e ao lidar com as coisas do cotidiano. (...) Temos que oscilar entre a palavra e a experiência”.

[Atualizado em 01/08/2011]




Na busca pelo céu mais escuro no planeta Terra, astrônomos produziram esta imagem composta do céu dos dois hemisférios opostos, delineado por um tênue “S” lembrando o Taijitu que ilustra o conceito de Yin Yang. Apreciar mais outra poesia do real, na continuação.


A imagem começa com a iniciativa de Stéphane Guisard  de tentar capturar o céu mais escuro. Inspirado pelo trabalho de Guisard, Tunç Tezel capturou a contraparte do hemisfério norte, em La Palma, nas Ilhas Canárias, completando a metade oposta do céu, e de todo o Universo, que envolve todo o planeta.

A beleza de compreender esta imagem é compreender que a linha do gegenschein lembrando o Taijitu realmente separa todo o Universo em metades complementares “acima” e “abaixo” (ou vice-versa) do plano que nosso planeta delineia ao orbitar nossa estrela. São Yin e Yang reais, não só representando, como de fato sendo tudo aquilo que existe.

E o mais bacana? Tudo isso se delineia sobre nossas cabeças a todo o momento, não apenas de noite, como de dia. Só não podemos vê-lo por causa da luz do Sol, ou à noite pela luz lunar, da própria Via Láctea ou de nossas cidades. Na melhor tradição taoísta, apenas o céu mais escuro permite ver este brilho.



***

[Atualizado em 11/09/2011]

Através de um amigo conheci essas imagens de Athanasius Kircher,  um jesuíta, matemático, físico, alquimista e inventor alemão nascido em Geisa, uma cidade pequena no banco do norte da Rônia Superior, Buchônia, famoso por sua versatilidade de conhecimentos e particularmente sua habilidade para o conhecimento das ciências naturais. Mais taoista impossível!












Texto principal retirado e adaptado de: Expansão e Recolhimento: a Essência do T’ai Chi de Al Chung-liang Huang, Ed. Summus Editorial.
Imagens retiradas da internet: www.google.com.br

Texto das atualizações retirados de: 
http://www.sedentario.org/colunas/duvida-razoavel/o-tao-zodiacal-45770#more-45770 e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Athanasius_Kircher







quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amor Sem Possessividade

“Se amas alguém, deixa-o em liberdade. Se ele voltar, foi porque precisou. Se não voltar foi porque precisou.”
(Escrito anônimo num muro em Buenos Aires)

Por Zulma Reyo
“É difícil, em nossa existência tridimensional, conceber o amor sem possessividade. Amo a imagem do amor como uma mão aberta onde o amado pode chegar e partir como um pássaro... livre!  Nessa liberdade está o verdadeiro amor e o verdadeiro respeito.

Nessa liberdade está a dignidade e a plenitude de cada momento vivido intensamente. O amor não é um conjunto de regras ou uma maneira de aprender a manipular, atrair ou controlar. O amor não é uma técnica para melhorar o desempenho sexual ou uma justificativa para a culpa, para a condenação ou para a indulgência.

O amor não é um cenário auto-gratificante que justifique a necessidade ou o medo da solidão, que fomente a dependência e a exploração. O amor não é desculpa para possessividade, exclusividade e separação. Não é um encontro psicológico, um processo analítico ou um laboratório biológico. Finalmente, o verdadeiro amor não é escapista.

O amor é um processo despertador da consciência; um modo de aprender a cooperação e o respeito pela individualidade. O amor é uma maneira de aprender a despertar mais amor, uma experiência válida baseada na igualdade da diferença e no propósito superior.

O amor alinha-se com a lei superior: benção, compartilhamento e expansão O amor reflete o verdadeiro compromisso com a Vida e com os Seres através de um compromisso iluminado, consciente com o Eu. O amor é uma arena psico-espiritual pragmática.

Os relacionamentos são a arena do amor, a ponte entre a luxúria e a compaixão. Eles estimulam, equilibram e nutrem. Pergunte a si mesmo:

Quão bem eu vejo o outro?

Quão profundamente eu me encontro com o outro?

Quanto revelo de mim mesmo ao outro?

Se seu relacionamento é de amizade e se apresenta como um encontro de forças complementares, paralelas ou opostas; se seu relacionamento é apaixonadamente sexual e emocional; se seu relacionamento promove crescimento, expansividade, alegria e compartilhamento; se inclui o aprendizado de lições kármicas, tais como perdão, empatia, abnegação, criatividade e autenticidade... nossa busca nos relacionamentos é de identidade, de poder e daquela fusão que leva à co-criação e ao compartilhamento de uma visão.

Não há relacionamento sem uma visão comum. Nessa visão comum há a dança de forças vibrando tanto interna quanto externamente, interagindo e misturando-se. Na amizade, que é a forma mais pura e mais elevada de amor, há sempre igualdade. Ha um dar incondicional, não uma compra ou troca de amor; há a aceitação do outro e não uma exigência para que seja diferente.

Para que os relacionamentos existam como uma força consciente e dinâmica, é preciso haver um reconhecimento de fronteiras. Precisamos saber quando estamos separados e quando estamos juntos. Precisamos refinar nosso discernimento, de modo a incluir as tênues linhas existentes entre a realidade pessoal subjetiva e a objetiva.

Precisamos reconhecer e fornecer um espaço sagrado para o indivíduo e um espaço para o relacionamento, o bem do casal não deve nunca sobrepujar o bem do indivíduo num relacionamento, precisamos constantemente reformular o compromisso inicial. Cada momento deve ser vivido em sua totalidade como se fosse o último.

Cada encontro deve ser como o primeiro, nunca considerando o outro como algo certo. Precisamos aprender a estar próximos sem absorver o outro. Cada participante no relacionamento é um líder, completo e autônomo, equivalendo-se em honestidade. Quando não há mais alegria ou liberdade, precisamos ter a coragem de seguir separados.

A liberdade é um valor mais elevado que o amor. Quando começamos a notar que a rotina ou a monotonia se estabeleceu, ou que estamos repetindo padrões emocionais de rejeição e traição, o relacionamento não nos serve mais. É preciso ter a coragem de arriscar tudo e cair fora. Se houver amor, a outra parte será enormemente beneficiada pela mudança. A pessoa sentirá os efeitos sem quaisquer grandes discussões ou complicações emocionais posteriores, que são desmoralizantes e indignas.

Há várias maneiras de efetuar essa mudança, e qualquer uma delas é apropriada. O elemento importante é sua atitude: a sua motivação e a maneira pela qual realiza a mudança. Você pode partir fisicamente. Pode retrair emocionalmente sua energia ou pode dirigi-la para qualquer outra coisa. Ou pode usar a fórmula alquímica para purificar as energias da situação e manifestar a harmonia que busca, de acordo com a realização do plano divino para cada uma de suas vidas”.

Retirado e adaptado de: “Alquimia Interior” de Zulma Reyo, Ed. Grround.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Felicidade na Infelicidade

“Seguir as boas intenções em nome da bondade... não é garantia alguma. Não se sabe se foram as ‘boas intenções mais a estupidez’ ou as ‘más intenções mais a inteligência’ que trouxeram mais mal ao mundo”.
(Dietrich Dörner, The Logic of Failure)

“Em geral, o compromisso religioso e a prece são benéficos. Quem é religiosamente atuante e costuma rezar tem duas vezes mais probabilidades de se considerar ‘muito feliz’ do que quem tem um nível inferior de compromisso espiritual. As pesquisas revelam uma correlação positiva entre saúde, física e mental, e compromisso religioso, que geralmente envolve a prece.
Por que quem reza é geralmente mais feliz do que quem não reza?
Pesquisadores descobriram quatro traços que caracterizam pessoas felizes.
Primeiro: elas se gostam: têm alta auto-estima.
Segundo: as pessoas felizes geralmente têm senso de autocontrole — sobre a vida, as situações, a saúde e assim por diante.
Terceiro: são otimistas.
Quarto: são geralmente voltadas para fora e não focalizadas em si mesmas.
A prece, como favorece todos esses traços, torna a felicidade mais provável. Mas isso não significa que podemos ‘conseguir’ a felicidade rezando por ela.
Muitas tradições espirituais, na verdade, diminuem a importância de ser feliz, como no seguinte relato da tradição zen:
Um dia foi anunciado pelo Mestre Joshu que o jovem monge Kyogen tinha atingido o estado de iluminação. Impressionados pela notícia, seus companheiros foram falar com ele.

‘Soubemos que você está iluminado. È verdade?’, perguntaram seus colegas.
‘É’, respondeu Kyogen.
‘Conte para nós como se sente’, pediu um amigo.
‘Infeliz como sempre’, respondeu o iluminado Kyogen.

Por que os mestres espirituais advertem contra o desejo fanático de ser feliz?
Por que tantas vezes ficamos melancólicos quando menos esperamos, até mesmo quando as coisas estão indo bem?
Por que os pensamentos infelizes parecem levar a melhor com tanta facilidade?
Essas perguntas foram feitas por todas as religiões e nunca faltaram respostas. As respostas a esses enigmas influenciam nossa maneira de rezar (...), de nossas preces terem ou não resultados negativos.
Cabe perguntar se temos algum tipo de predileção biológica pela negatividade. Mihaly Csikszentmihalyi, professor e antigo chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago, explica em seu livro admirável, The Evolving Self, por que a mente parece tender sempre à infelicidade.
Ele sugere que talvez sejamos programados para a negatividade. Pode ser que uma tendência pessimista tenha sido incrustada em nossos pensamentos durante o longo curso da evolução. Segundo a teoria da evolução, os traços e comportamentos que favorecem a sobrevivência e a reprodução de um organismo são biologicamente integrados e perpetuados nas gerações seguintes.
È a infelicidade, e não a felicidade propõe Csikszentmihalyi, que favorece a sobrevivência num ambiente hostil. Se enfatizamos as possibilidades negativas, nós nos tornamos mais alertas e mais equilibrados para reagir aos perigos que podem surgir a qualquer momento. ‘Enfatizando as possibilidades desagradáveis’, diz Csikszentmihalyi, ‘estaremos mais preparados para o inesperado’.
Se essa hipótese estiver correta, a mente se acostumou, ao longo da história da espécie, a se voltar para os pensamentos negativos, assim como a agulha de uma bússola aponta para o norte.
A ligação possível entre nossa biologia e nosso fascínio pelo lado negativo da vida levanta questões interessantes sobre religião. Uma das características das visões religiosas ocidentais é seu foco na depravação inata dos seres humanos e na necessidade de redenção ou salvação.
Será que o fascínio religioso coletivo pelo lado escuro da natureza humana pode ser uma sequela de nosso remoto passado biológico?
Será que achamos a imagem da depravação intrínseca mais atraente do que o divino interior porque temos uma predisposição inerente à infelicidade?
Será que somos destinados, pelo DNA, a ter mais fascínio pela fraqueza do que pela glória?(...)
Se a capacidade de focalizar as possibilidades negativas e de ser infeliz nos deu uma vantagem para sobreviver ao longo da história evolutiva, então a infelicidade é uma amiga e aliada que merece respeito e gratidão. Se não fosse essa tendência intrínseca a tristeza, talvez não estivéssemos aqui para lamentar o fato de nem sempre estarmos em êxtase.
Em vez de tentar afastar com orações a melancolia, quando estivermos no fundo do poço devemos considerar a possibilidade de agradecer por isso, lembrando que ao longo dos éons a infelicidade abriu caminho para a felicidade.
Dessa perspectiva, vemos que tristeza e alegria, como luz e sombra, são na verdade parceiras. E uma perspectiva que ajuda a suportar a tristeza e impede que caiamos naquele círculo vicioso patético e negativo: ficar infeliz por não se sentir feliz.
Se percebêssemos o valor da infelicidade na vida — não apenas na vida individual, mas na história da espécie — talvez fôssemos mais equilibrados, mais estáveis, mais fortes. Precisaríamos menos de Valium.(...)
A infelicidade pode ter um papel positivo na vida, mas isso não quer dizer que mais é sempre melhor. A melancolia excessiva pode se transformar em depressão, que domina e destrói. Mas também podemos ter carência de infelicidade. A vida precisa opor resistência. Sem isso, é difícil aumentar a força e a estamina no plano mental e no plano físico.
Não é fácil, mas é preciso olhar de frente o sofrimento e a infelicidade e resistir à tendência reflexa de rezar ao menor indício de desconforto. É preciso refletir sobre o valor da infelicidade, que pode enriquecer a vida.
É preciso ponderar sobre os momentos de sofrimento e deixar que o significado dessas experiências se revele a seu tempo. Quem percebe que está usando a prece Para ser feliz deve parar e avaliar as consequências potenciais desse tipo de prece.
Acima de tudo, devemos resistir à tendência de confundir progresso espiritual e psicológico com bem-estar constante, tendo cuidado para não acuarmos a nós mesmos de fracasso espiritual por não ficarmos em êxtase o tempo todo.”

Retirado e adaptado de: Cuidado com o que você pede em suas orações... Você pode ser atendido! De Larry Dossey. Ed. Cultrix.