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domingo, 2 de janeiro de 2011

Não Minta Para Si Mesmo

"O primeiro príncipio é não enganar a si mesmo e você é a pessoa mais fácil de enganar."
(Richard P.Feynman)

Temos uma imagem idealizada de nós mesmos, que nos impede de sermos verdadeiros. Produzimos muitas ilusões a partir desta idealização. Muitas vezes, dizemos o que não sentimos de verdade. Isso ocorre porque não sentimos o que pensamos! Algumas de nossas auto-imagens não querem ser vistas! Por isso, é imprescindível reconhecer quando não estamos de fato sentindo o que gostaríamos de sentir, pois só a verdade nos auto-organiza.

É nossa auto-imagem que gera sentimentos e pensamentos em nosso íntimo. Podemos nos exercitar para identificá-la. Mas este não é um exercício fácil, pois resistimos em olhar nosso lado sombrio. No entanto, uma coisa é certa: tudo que ignoramos sobre nossa parte sombria, cresce silenciosamente e um dia será tão forte que não haverá como deter sua ação. Portanto, é a nossa auto-imagem que dita nosso destino.

O mestre do budismo tibetano Tarthang Tulku, escreve em seu livro "The Self-Image" (Ed.Crystal Mirror):
"A auto-imagem não é permanente. De fato, o sentimento em si existe, no entanto o seu poder de sustentação será totalmente perdido assim que você perder o interesse por alimentar a auto-imagem. Nesse instante, você pode ter uma experiência inteiramente diferente da que você julgou possível naquele estado anterior de dor. É tão fácil deixar a auto imagem se perpetuar, dominar toda a sua vida e criar um estado de coisas desequilibrado... Como podemos nos envolver menos com nossa auto-imagem e nos tornar flexíveis? Somos seres humanos, não animais, e não precisamos viver como se estivéssemos enjaulados ou em cativeiro. No nível atual, antes de começarmos a meditar sobre a auto-imagem, não percebemos a diferença entre nossa auto-imagem e nosso 'eu'. Não temos um portão de acesso ou ponto de partida. Mas, se pudermos reconhecer apenas alguma pequena diferença entre a nossa auto-imagem e nós mesmos, ou 'eu' ou 'si-mesmo', poderemos ver, então, qual parte é a auto-imagem".

"A auto-imagem pode representar uma espécie de fixação. Ela o apanha, e você como que a congela. Você aceita essa imagem estática, congelada, como um quadro verdadeiro e permanente de si mesmo", explica Peggy Lippit no capítulo sobre Auto-Imagem do livro "Reflexões sobre a mente" organizado por seu mestre Tarthang Tuku (Ed. Cultrix).

Para saber como nos auto-sabotamos, devemos responder a seguinte pergunta: "O que eu sei de mim mesmo que preferia não saber?". A resposta desta pergunta revelará a auto-imagem responsável por nossos comportamentos repetitivos de auto-sabotagem. Ao encontrar a auto-imagem que gera sentimentos desagradáveis, temos a oportunidade de purificá-la em vez de apenas nos sentirmos mal.

Nós nos auto-sabotamos quando saímos de nosso propósito de vida. Cada um tem um propósito na vida e quando não vibramos de acordo com a intenção desde propósito nossa vida fica cheia de obstáculos.

Há momentos em nossa vida que reconhecemos estarmos prontos para dar um novo salto: estamos dispostos a efetivar uma mudança profunda. Nos lançamos num novo empreendimento, numa nova relação afetiva, mudamos de cidade e até mesmo de apelido.

Mas, aos poucos, nos pegamos fazendo os mesmos erros de nossa "vida passada". É como se tivéssemos dado um grande salto para cair no mesmo buraco. Caímos em armadilhas criadas por nós mesmos. Nos auto-sabotamos. Isso ocorre porque apesar de querermos mudar nosso inconsciente ainda não nos permitiu mudar! É aí que está o que mais precisamos saber: nos informar para não nos auto-sabotar.

Por isso, afirme para si mesmo, com determinação, o que de agora em diante o seu inconsciente deve de fato saber. Enquanto não formos capazes de ver, de compreender, de perceber nossos desejos e atuar de modo coerente, cairemos na auto-sabotagem.

Quais são as frases que você escutou sobre o perigo da felicidade? Em nosso interior escutamos e obedecemos, sem nos dar conta, ordens de nosso inconsciente emitidas a partir de frases que escutamos inúmeras vezes quando ainda éramos crianças. Toda família tem as suas...

Por exemplo: "Não fale com estranhos" é uma clássica. Como a nossa mente foi programada a não falar com estranhos, cada vez que conhecemos uma nova pessoa nos sentimos ameaçados. Uma parte de nosso cérebro nos diz: "abra-se" e outra adverte "cuidado".

Num primeiro momento o desafio em si é encorajador, por isso nos atiramos em novas experiências e estamos dispostos a enfrentar os preconceitos. No entanto, quando surgem as primeiras dificuldades que nos fazem sentir incapazes de lidar esse novo empreendimento, reconhecemos dentro de nós, a presença desta parte inconsciente que discordava em que nos arriscássemos a mudar de atitude: "Bem que eu já sabia que falar com estranhos era perigoso".

Muitas vezes o medo da mudança é maior do que a força para mudar. Por isso, enquanto nos auto-iludirmos com soluções irreais e tivermos resistência em rever nossos erros e aprender com eles, estaremos bloqueados. Desta forma, a preguiça e o orgulho serão expressões de auto-sabotagem, isto é, de nosso medo de mudar.

Dificilmente percebemos que nos auto-sabotamos. Nos auto-iludimos quando não lidamos diretamente com nosso problema raiz. Não é fácil perceber que a traição começa em nós mesmos, pois nem nos damos conta de que estamos nos auto-sabotando!

Como disse Dostoiévski repetindo Feynman:

"O principal é não mentir para si mesmo. Quem mente para si mesmo e dá ouvidos à própria mentira chega a um ponto em que não distingue nenhuma verdade nem em si, nem nos outros e, portanto, passa a desrespeitar a si mesmo e aos demais. Sem respeitar ninguém, deixa de amar e, sem ter amor, para se ocupar e se distrair entrega-se a paixões e prazeres grosseiros e acaba na total bestialidade em seus vícios, e tudo isso movido pela contínua mentira para os outros e para si mesmo."
(Fiodór Dostoiévski - Os Irmãos Karamázov)


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