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sábado, 22 de janeiro de 2011

Partir ou não Partir? Amyr Klink e as Escolhas da Vida

“O bem-estar não depende do conforto, da tranquilidade ou de situações favoráveis, mas simples e unicamente da sensação de ir em frente”.
(Amyr Klink)

O Relato de Amyr Klink em seu livro “Cem dias de Céu e Mar” apresenta uma série de “coincidências” que coloca em check (em inglês mesmo com com duplo sentido proposital - que me perdoem os enxadristas...) qualquer um que não acredita no conceito Junguiano de sincronicidade, que são eventos significativos sem um nexo causal aparente, mas com alguma ligação subjetiva com o sujeito que presencia. Depois de ler não é possível deixar de pelo menos especular a existência de algum Plano-Mestre em ação...
A série de fatos apresentados na obra aparece como um livro de pontos, à semelhança da carta náutica usada pelo navegador para marcar seu avanço pelo Oceano Atlântico, só que em vez de levá-lo ao seu fim, levou-o ao começo da jornada final: sua partida das costas da África para atravessar o mar num minúsculo barco a remo rumo as praias do Brasil.
Tomada em seu todo e guardadas as devidas proporções, a aventura de Klink parece também refletir muito algumas situações que por vezes pessoas, que não tem tanto espírito aventureiro, enfrentam durante a vida.
Começa sempre pelo surgimento de uma vontade, um querer realizar alguma coisa, qualquer coisa... Quantos de nós não abortamos uma intenção antes mesmo de partir. Parafraseando o Bardo: Partir ou não partir, eis a questão!
Esse também foi um dos dilemas de Amyr Klink. Seguindo o raciocínio exposto no livro, o passo seguinte ao de se decidir o que se quer seria um planejamento meticuloso que inclui ouvir a opinião de outros, dando-se o peso certo a cada uma e assumindo os riscos pelas suas decisões sem culpar ninguém pelos possíveis equívocos.
Como disse Sun Tzu, na Arte da Guerra: “Os hábeis guerreiros (...) agem de forma que vencem a batalha depois de terem criado as condições apropriadas. Eles preveem todas as eventualidades. Conhecem a situação do inimigo, conhecem-lhes as forças, e não ignoram o que podem fazer e até onde podem ir. A vitória é uma decorrência natural desse saber”.
Partir verdadeiramente para a realização é o “Magnun Opus” que na verdade seria apenas a aplicação daquilo que durante tanto tempo fora gestado pacientemente.  Fernando Pessoa disse: ‎"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Eis como Amyr Klink define esse momento crucial em sua aventura:

“O vento ensurdecedor, o mar difícil, roupas encharcadas, muito frio e alguns estragos. Pela frente, uma eternidade até o Brasil. Para trás, uma costa inóspita, desolada e perigosamente próxima. Sabia melhor que ninguém avaliar as dificuldades que eu teria daquele momento em diante. Estava saindo na pior época do ano, final de outono, e teria pela frente um inverno inteiro no mar.

A fria e difícil corrente de Benguela, meu caminho obrigatório até as proximidades da ilha de Santa Helena, é particularmente perigosa no mês de junho. Planejei partir no verão, quando as águas do Atlântico Sul são mais clementes, e estabeleci uma data-limite para a partida, além da qual eu deveria reconsiderar seriamente a decisão de me fazer ao mar. Essa data era o final do mês de maio, e já estava queimada. Uma colossal avalanche de problemas contribuiu para isso. Mas, se tomei essa decisão, não foi sem avaliar os riscos. Eu havia trabalhado nesse projeto durante mais de dois anos, sem jamais fazer uma única concessão que lhe comprometesse a segurança. Tinha um barco e um equipamento como sempre sonhei — perfeitos. Estava preparado para o pior, e por um período tão longo no mar seria impossível, cedo ou tarde, evitar o pior. Então, por que não partir?

Finalmente, meu caminho dependeria do meu esforço e dedicação, de decisões minhas e não de terceiros, e eu me sentia suficientemente capaz de solucionar todos os problemas que surgissem, de encontrar saídas para os apuros em que porventura me metesse.

Se estava com medo? Mais que a espuma das ondas, estava branco, completamente branco de medo. Mas, ao me encontrar afinal só, só e independente, senti uma súbita calma. Era preciso começar a trabalhar rápido, deixar a África para trás, e era exatamente o que eu estava fazendo. Era preciso vencer o medo; e o grande medo, meu maior medo na viagem, eu venci ali, naquele mesmo instante, em meio à desordem dos elementos e à bagunça daquela situação. Era o medo de nunca partir. Sem dúvida, este foi o maior risco que corri: não partir.

Não estava obstinado de maneira cega pela ideia da travessia, como poderia parecer — estava simplesmente encantado. Trabalhei nela com os pés no chão, e, se em algum momento, por razões de segurança, tivesse que voltar atrás e recomeçar, não teria a menor hesitação. Confiava por completo no meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras. Mas não poder pelo menos tentar teria sido muito triste. Não pretendia desafiar o Atlântico — a natureza é infinitamente mais forte do que o homem —, mas sim conhecer seus segredos, de um lado ao outro. Para isso era preciso conviver com os caprichos do mar e deles saber tirar proveito. E eu sabia como.

Pelo simples fato de estar ali onde estava, debatendo-me entre os remos, xingando as ondas e maldizendo a sorte, me sentia profundamente aliviado. Feliz por ter partido.”


[Atualizado em 14/11/2011]
Entrevista de Amyr Klink no quadro do Fantástico "O que vi da vida" em 13/11/2011.






Vi primeiro em: http://www.sedentario.org/internet/amyr-klink-o-que-e-ser-rico-48989

2 comentários:

  1. Sempre tenho medo quando parto, enquanto caminho, quando chego. Mas me cago de medo mesmo é de nunca partir... Sem dúvida esse é nosso maior risco: Não partir...
    Amo você, cabeça de abóbora!

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  2. Olá pessoal!

    Andei pesquisando sobre o Amyr Klink, e encontrei um programa que ele apresenta no Canal Futura que fala sobre utilização de energia. Tem dicas e vários fatos históricos. Os episódios são disponibilizados no Youtube. Abaixo deixo o link para vocês conferir.

    http://www.youtube.com/user/grupocpflenergia

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