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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Pipoqueiro

Por Luiz Fernando Veríssimo
Uma figura que me impressiona é o pipoqueiro. E sempre a quarta pessoa a chegar no local da ocorrência. Nunca é primeiro porque só vai quando junta gente. Tem bolo, aparece o pipoqueiro. Não interessa a causa do ajuntamento. Desastre ou festa, o que importa é a multidão. O pipoqueiro nem olha para o acontecimento.
— O que é que está havendo?
— Sei lá. Assassinaram um presidente, caiu um edifício, tem mulher nua... Vai levar? Tá quentinha.
E claro que tinha um pipoqueiro no Calvário.
— Ele deu seu último suspiro!
— Ótimo. Olha a pipoca. Salgada e doce.
— Meu Deus, está ficando tudo escuro...
   Certo. Pacote pequeno ou grande?
— E um milagre!
— Na verdade é só milho e óleo...
Na tomada do Palácio de Inverno, o pipoqueiro vinha atrás da primeira leva.
— Este é um momento histórico para a Rússia. Nasce uma nova ordem!
— Salgada ou doce?
Nas grandes concentrações nazistas.
— Olhai. Tá quentinha.
— Silêncio, cachorro! O Fuhrer está falando!
— Por mim pode continuar falando. Olha a pipoca...
No desembarque dos aliados na Normandia, no Dia D, misteriosamente, apareceu um pipoqueiro na praia.
— Te abaixa, cretino!
— Tá quentinha.
— Seu doido! Olha o morteiro!
— Olha a pipoca!
— Os alemães estão logo ali, atrás daqueles cômoros!
— Eu sei. Já estive lá. Não vendi nada. Olha a pipoca, quem vai levar?
O pipoqueiro no Juízo Final.
— Olhaí. Vamos aproveitar que amanhã não tem mais. Quentinha!
De onde surge o pipoqueiro? Ninguém sabe. Uma vez fizeram uma experiência. Nos Estados Unidos, onde há saco e dinheiro para estas coisas.
Reuniu-se um grupo de cientistas no meio das planícieis de sal do Estado de Utah. Primeiro, 20 pessoas. Eles não deviam fazer nada, apenas uma aglomeração. De meia em meia hora chegava um helicóptero trazendo mais um pequeno grupo. Queriam descobrir o popcorn factor ou o ponto exato em que apareceria um pipoqueiro. Quando o grupo chegou a 82 pessoas, ouviu-se uma voz:
— Pipocas. Quentinhas.
Todos cercaram o pipoqueiro. Como ele chegara ali? Como soubera da reunião? Sabia por que estavam reunidos?
— E uma convenção, certo? Batizado? Comício? Olha a pipoca!
— Estamos aqui para examinar você. O fenômeno do pipoqueiro.
— Ótimo, ótimo. Vamos levar que está quentinha. Pipocas!

(Revista Domingo – Jornal do Brasil – 12/08/1970)

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