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sábado, 15 de janeiro de 2011

O Caminho Zen e a Busca de Deus III

“Os pensamentos negativos nos chegam com certa regularidade e, cada vez que um deles chegar, você deve equilibrá-lo com um pensamento positivo. Se persistir em fazer isso durante alguns meses, vai perceber que os seus pensamentos negativos ficam cada vez menos frequentes.
Com o decorrer do tempo, vai admirar-se quando vir que todo o problema que havia com a pessoa em questão simplesmente se dissolveu no ar, e os sentimentos de repulsa e raiva que haviam pesado em você se transformaram em equanimidade. Essa descoberta sempre é acompanhada de um sentimento de beatitude assombroso e indescritível, pois significa que já foi eliminada uma partícula de sua carga de carma.
Duvido que a maioria das pessoas entenda exatamente a importância deste primeiro caso, pois as implicações verdadeiras disso estão além da compreensão humana. Mas isso não tem importância. Tudo que você realmente tem de saber é que agora está livre para se empenhar na tarefa seguinte.
Há uma coisa à qual você tem de resistir a todo custo enquanto estiver praticando estes exercícios e posteriormente: a tentação de confrontar seus ‘inimigos' com demonstrações sentimentais de amor.
Esse tipo de ato constitui um obstáculo para o progresso, pois são coisas motivadas por desejos e anseios humanos que, como tais, só conseguem produzir resultados negativos. Um exercício espiritual silencioso é muito mais eficiente do que 100 mil boas ações. O motivo disso é que todo ato físico produz uma reação igual e isso cria mais carma. Só a ação espiritual dissolve o carma em vez de criá-lo.
Se você quiser aproximar-se mais do divino, primeiro precisa libertar-se de sua carga de carma, começando com o carma que consegue ver e reconhecer. Depois, o restante se revelará por si.
Você pode perguntar: ‘E quanto a meu inimigo? Ele é tão responsável pela situação quanto eu. Por que não faz nada? Por que só eu tenho de agir?’ A resposta é que o ‘trabalho' de transformação espiritual sempre tem de ser feito por quem sabe. Se você recebeu a graça de ver e entender, você é a única pessoa responsável por efetuar a mudança necessária.
Um dos aspectos miraculosos deste processo de transformação, bem separado da libertação da própria pessoa, é o fato de o inimigo da pessoa também ficar livre da carga de carma, ao menos no que diz respeito à situação em questão. Quando uma pessoa consegue eliminar os próprios sentimentos de ódio e o desejo de se vingar de ofensas imaginadas, uma parte do carma do inimigo também desaparece ao mesmo tempo.
Digo ‘ofensas imaginadas’ por um bom motivo, pois na realidade não existe algo chamado ofensa. Injustiça é uma ilusão que desaparece logo que a pessoa compreende a lei do carma. Se fosse possível haver injustiça, se mesmo uma única pessoa tivesse de sofrer uma injustiça verdadeira, o universo não seria divino, seria um caos arbitrário.
No entanto, o fato de o universo ser de fato divino foi mais do que comprovado por todos os que procuraram e encontraram Deus, desde o início da história da humanidade. E esta não é a única prova: o simples fato de a raça humana ainda estar aqui, procurando, buscando e discutindo, apesar da terrível miséria e do desespero horrível em que vive a maioria das pessoas, demonstra que existe uma centelhazinha minúscula de Verdade Eterna dentro de cada um de nós, sem exceção.
Lá está ela, nós todos nascemos com ela e, independentemente dos infernos por que passamos, não pode ser destruída. Se pudesse, a humanidade teria morrido há muito tempo. Somente esta centelha do Divino, que liga tudo e todos, deu aos filhos e às filhas do Homem a força para sobreviverem e prosseguirem no meio do desespero que os cerca. Visto neste contexto, o desespero do Homem não é simplesmente desespero, é também uma parte do processo de purificação.
Se você proceder como descrevi acima, vai verificar que consegue muita coisa por conta própria, desde que persista com paciência. Tendo conseguido libertar o coração do maior obstáculo ao progresso (ou seja, das formas mais pesadas do carma, que implicam seu relacionamento com o ambiente e com as pessoas que estão a seu redor, ou de outros obstáculos que poderá descobrir no decorrer de suas meditações), pode começar a trabalhar nas suas fraquezas e defeitos.
Comece com seus defeitos maiores e mais óbvios e trabalhe neles devagar e com muita paciência, um de cada vez, seja eliminando-os completamente, seja transformando-os em propriedades positivas.
É possível efetuar todo este 'trabalho preparatório' sem o auxílio de nenhum mestre. Se você for severo e honesto consigo mesmo, a centelha divina que há em si virá em seu auxílio, capacitando-o tanto a encontrar os obstáculos de seu caminho como a eliminá-los. Cada passo bem-sucedido desta viagem para Deus vale os esforços de uma vida inteira. Esta autodisciplina é difícil, mas possível. Qualquer pessoa consegue mantê-la. (...)
Qualquer pessoa é capaz de percorrer este caminho e atingir sua meta quando chega a hora. Nem é necessário entrar para um mosteiro: basta ter vontade de se desenvolver. Se entendemos adequadamente nossas vidas, com todas as dificuldades, problemas e alegrias, essas vidas são os nossos koans, koans que recebemos para resolver por nosso carma, que é a soma total de tudo que sempre fizemos e sentimos.
Também é o significado final e absoluto do zen: nem mais, nem menos do que a vida propriamente dita. Todos os mestres do zen, antigos ou amais, sempre ensinaram que a única verdade consiste na vida e em vivê-la totalmente. (...)
A quintessência das lições de todos os iluminados é que a verdade só pode ser encontrada e percebida quando se sente a harmonia que há entre o Céu e a Terra.
Há vezes em que é preciso trabalhar nos campos com uma foice na mão, há outras em que se deve dormir e, naturalmente, há outras em que é preciso sentar e meditar.
Geralmente, as pessoas que tentam tomar de assalto as portas do Céu estabanadamente caem de novo na Terra com um choque. Se você estiver absolutamente determinado a escalar aquelas alturas e praticar para chegar ao Vácuo que o levará e perceber que tudo que existe se resume em nada, fará muito bem se começar do início.
O primeiro passo é executar a tarefa hercúlea de se purificar de todos os seus desejos e paixões, até mesmo os mais sutis, de modo a transformar-se num vazio vivo que servirá para o Céu se exprimir.
Se você procurar e sondar bem sinceramente dentro de si, nada que existe ficará oculto de você. A jornada que fará dentro de seu próprio ser vai revelar-lhe a natureza de todos os seres. Quando encontrar o nada, terá encontrado tudo.
Naturalmente é necessário muito tempo e muito esforço, mas também os maiores pianistas tiveram de começar o aprendizado praticando escalas simples e aprendendo a ler música.
A pessoa tem de começar com a parte básica e construir alicerces firmes e fundos; depois a compreensão vem por conta própria. É irrelevante querer saber quanto tempo a jornada vai durar”.
(Retirado e adaptado de “No Caminho do Satori” de Gerta Ital, Editora Siciliano)

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