Por Luiz Fernando Veríssimo
Crônica. (Do lat. chronica. Ver também fr. cronique. Não confundir com fr. Monique, que tem o mesmo sufixo mas outras intenções). S. f. 1. Narrativa histórica em ordem cronológica. (Ex.: "Aí o Clemenceau pegou e disse...") 2. Genealogia de família nobre. (Ex.: "Rubião, o Bastardo, bisneto de Visimum, o Chato, neto de Bis, o Bom, filho de Bas, o Tardo, e pai de Helenito, o Estranho...") 3. Seção de revista ou jornal (Ex.: crônica policial, crônica social ou crônica geral. A crônica policial, de acordo com a clássica receita jornalística, responde às perguntas: Quem fez o quê com quem, quando, onde, com quê, por que e houve muito sangue? A crônica social é muito parecida com a crônica policial. Responde às perguntas: Quem fez o quê, quando, onde, com quem e como estava vestida? A diferença é que enquanto a crônica policial mostra o retrato da vítima a crônica social geralmente mostra o retrato da mulher da vítima gastando o seu dinheiro. A crônica geral é classificada de acordo com: a) tamanho; b) assunto; c) estilo; d) qualidade. Com referência ao tamanho as crônicas se dividem em: a) curtas; b) médias; c) compridas; d) intermináveis. Exemplo de uma crônica curta: "Está chovendo, estou chateado, ganho pouco, não tenho assunto. Vocês são todos uns cocôs. A vida não tem sentido. Como se não bastasse isto, perdi meu leva-tudo. Vou para casa." (crônica do colunista Ismar Paludo num jornal de Teresina, há alguns anos. É a menor crônica conhecida. Ismar deixou o resto do espaço em branco e na saída ainda chutou o editor. Foi despedido na calçada. No dia seguinte voltou para reclamar seu Fundo de Garantia e foi jogado na rotativa do jornal. Sobreviveu, mas até hoje tem uma lista de aprovados em Moral e Cívica impressa no corpo). Exemplo de crônica comprida: "No princípio Deus criou o céu e a terra..." (esta é só a primeira frase. O resto da crônica, que vem até 1976, ocuparia muito espaço). A crônica geral se divide em: a) opinativa; b) digressiva. A crônica geral opinativa diz que pão é pão e queijo é queijo, põe as cartas na mesa e abre o peito. A crônica geral digressiva não se nega a dar sua opinião mas primeiro pede que limpem a mesa do pão, do queijo e das cartas e que, por favor, ponham a camisa! A crônica opinativa gosta de tudo às claras, de botar os pingos nos is e de dar nome aos bois. Tem os pés no chão e a cabeça no lugar. Já a crônica digressiva gosta de pingos na cabeça, de dar nome aos pés, dos bois no seu lugar e de is no escuro. A crônica opinativa sabe o que pensa e diz o que quer. A crônica digressiva pensa que sabe, mas não diz porque pode dar galho. Com respeito ao estilo, a crônica pode ser:
Opinativa. Descrita acima. Pão, pão; queijo, queijo.
Opinativa. Descrita acima. Pão, pão; queijo, queijo.
Metafórica. Bolo, bolo; geléia, geléia.
Irônica. Migalha, migalha; buraco do queijo, buraco do queijo.
Snob. Baguette, baguette; gruyère, gruyère.
Lírica. Pãezinhos, pãezinhos e ah! uma redolência de queijos.
Erótica. Mão, mão; beijo, beijo.
Política. Pão, pão; caro, caro.
Reivindicadora. Pão! Pão! Queijo! Queijo!
Gastronômica. Pão, queijo, tomate, presunto, rosbife, alface, maionese, queijo, pão.
Retórica. Pão, sim, e mais pão. Um queijo, dois...
Argumentativa. Que espécie de pão? E por que queijo e não, por exemplo, salame? Tudo já está decidido ou o homem rege o seu próprio destino? E que tipo de queijo?
Mística. Pão do espírito, pão do espírito; e uns queijinhos.
Mística. Pão do espírito, pão do espírito; e uns queijinhos.
Surrealista. Cão, cão; pejo, pejo.
Quanto à qualidade, a crônica se divide em: a) crônica; b) croniqueta; c) cronicão; d) cronicaço. Crônica é qualquer crônica, ou uma crônica qualquer. Croniqueta não é o nome científico da crônica curta, como pode parecer. É uma crônica inconsequente, geralmente sobre coisa nenhuma, escrita com desinteresse para ser lida com pouco caso e cara de nojo. Se muita gente recorta crônicas do jornal para guardar, muitos recortam, cuidadosamente, a croniqueta para atirar no chão e pular em cima, gritando argkght! Cronicão é a crônica grande, substanciosa, com parágrafos gordos, algo em que você pode meter os dentes. Daquelas com mais de 17 proparoxítonas e vários advérbios de modo. Cronicão tem até ponto e vírgula e citação do Montaigne. Mas isto não quer dizer que seja uma grande crônica. Grande crônica é o cronicaço. O cronicaço é consagrador. Seu autor sai na rua e deixa um rastro de cochichos. "É ele, é ele!" Responde a todos os elogios com um meio sorriso e um "Não foi nada..." (Aí descobrem que ele copiou uma crônica do Paulo Mendes Campos de 10 anos atrás e ele precisa fugir da cidade.) 4. Biografia escandalosa de uma pessoa. (Ex.: "Ao nascer, causou um rebuliço na maternidade ao devolver o tapa que lhe deu o médico. Foi chofer de caminhão, lavador de prato, magarefe, camelô e cirurgião-dentista, até que a família o convenceu a voltar para o jardim-de-infância. Introdutor do jogo de strip-víspora no seu grupo de amiguinhos. Na escola, foi sempre o primeiro da turma: o primeiro a fumar, o primeiro a escrever palavrão no quadro negro, o primeiro a colar, o primeiro a ir para a rua. Seu primeiro encontro com o sexo foi aos 12 anos e o segundo foi na noite seguinte. A experiência o modificou para sempre. O sexo, não ele. Casou-se por amor ao dinheiro dela, em regime de comunhão de Mercedes-Benz. Costumava jogar na Bolsa até que apreenderam o baralho e as fichas. Notabilizou-se no pôquer pelo uso criativo do quinto ás. Preso quando tentava vender o metrô para um grande grupo de turistas mineiros, acabou expulso da prisão por corrupção. Vendeu o cérebro à Ciência para o estudo da mente criminosa e quis cobrar adiantado. Desquitou-se sete vezes, sempre cobrando pensão alimentar, embora só tivesse casado duas. Certa vez...")
curti me ajudou un tanto, un tantinho ,um tantão e um pão com queijinho rsrrsrsrrs!!!
ResponderExcluirPerfeito... Pesquisei e encontrei. Ótimo!
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