Por muito pouco o capitão genovês Cristóbal Colón, que passou para a História Universal como Cristóvão Colombo (1451-1506), teria sido o primeiro homem branco a tomar contato com os maias. No verão de 1502, por ocasião da sua quarta viagem de descobrimentos, ele velejava ao largo da costa hondurenha quando, inesperadamente, avistou um barco comercial indígena. Apesar de os marinheiros espanhóis terem reparado nas vestes coloridas da tripulação do barco índio, Colombo não se deu ao trabalho de abordá-lo para uma eventual inspeção, mas continuou na sua rota, em direção ao leste, nas águas do Caribe por ele desconhecidas. Naquela ocasião os maias conseguiram escapar de ser descobertos.
Nove anos mais tarde, em 1511, eles sofreram sua descoberta, quando, em missão diplomática, o capitão Pedro de Valdívia velejou do Panamá para Santo Domingo. Por ordem de El Rey, o capitão estava encarregado de entregar ao governador de Santo Domingo um relatório secreto, informando-o das intrigas urdidas pelo Panamá, junto com um presente para o rei, de 20 mil ducados de ouro.
Valdívia velejou a bordo de uma caravela, do tipo que provou ser de grande utilidade nas viagens de descobertas, devido a sua quilha, bordo baixo e castelo alto. Na altura da Jamaica a caravela naufragou, batendo contra um recife de coral. Valdívia estava entre os vinte homens que lograram escapar a bordo de um barco salva-vidas do tamanho de uma casca de noz. Sem suprimentos nem água, com a vela rasgada, o remo quebrado, os náufragos foram levados pelas ondas para a costa oriental da península de Iucatã. Oito homens morreram; seus cadáveres foram jogados no mar para os tubarões; apenas doze esqueletos humanos atingiram a praia. O bispo Diego de Landa conta o que aconteceu com eles:
"Essa pobre gente caiu nas mãos de um cacique malvado, que sacrificou aos deuses Valdívia e mais quatro de seus homens e ofereceu suas carnes, em banquete, ao povo. Aguilar e Guerrero (um sacerdote e um marinheiro), bem como cinco ou seis outros, ficaram prisioneiros do cacique para engordar. Conseguiram fugir e foram até um outro cacique, bem mais humano e inimigo do primeiro; este os fez seus escravos e lhes dispensou bons tratos. No entanto, logo mais os homens faleceram, com exceção de Gerónimo de Aguilar e Gonzalo Guerrero. Aguilar foi um bom cristão, possuía um breviário e, assim, não se esquecia dos dias santificados..."
Gerónimo de Aguilar, o sacerdote, e Gonzalo Guerrero, o marinheiro, moravam com os maias na costa oriental de Iucatã, nas proximidades da cidade de Tulum, com suas fortalezas e palácios; eles aprenderam a falar o idioma maia, granjearam a confiança dos seus anfitriões e chegaram a servir ao soberano local como assessores.
O sacerdote e o marinheiro conviveram com os maias durante oito anos até que, na primavera de 1519, Hernando Cortês (1485-1547), o conquistador do México, aportou com dez navios na ilha de Cozumel. Logo à sua chegada, Cortês foi informado pelos índios, que o acolheram de maneira muito amável, da presença de dois espanhóis barbudos que ali viviam como prisioneiros. De imediato, Cortês, sempre alerta, planejou uma expedição militar para libertar seus conterrâneos, da qual acabou por desistir, porque seus capitães a acharam arriscada demais em águas desconhecidas, cheias de recifes e atóis.
Assim sendo, Cortês contentou-se com o envio de uma mensagem em espanhol ao soberano da ilha pedindo a libertação dos seus conterrâneos; simultaneamente mandou uma carta a cada um dos prisioneiros convidando-os a reunirem-se com sua tropa. Para tal atitude Cortês não foi motivado, em absoluto, por amor ao próximo, mas sim pelo fato de reconhecer o quanto seriam importantes para suas conquistas dois espanhóis conhecedores do idioma maia, dos costumes e da vida daquele povo a essa altura totalmente desconhecido.
Um indígena nobre assumiu o papel de mediador entre-gando as respectivas mensagens e levando presentes sem valor, tais como contas de vidro, para comprar a liberdade dos cativos.O sacerdote Gerónimo de Aguilar atendeu ao chamado e passou a servir Cortês como intérprete e informante de grande valor.
Naquela época o marinheiro Gonzalo Guerrero já não era mais escravo havia muito. Entrementes, mudara-se para Chetumal, cidade vizinha de Tulum, onde teve boa acolhida por parte do soberano local e até casou-se com a filha deste, uma princesa legítima.
Gonzalo leu o convite de Cortês e recusou-o veementemente, pois já estava perfeitamente entrosado na mentalidade maia e sabia muito bem qual seria a sorte dos seus novos amigos assim que os espanhóis começassem a espalhar o terror sob o sinal da cruz. Por conseguinte, Gonzalo respondeu a Cortês:
"Sou casado, tenho três filhos, fui nomeado cacique-de-guerra. Meu rosto está tatuado, meus lábios são perfurados, uso brincos. O que falariam os espanhóis ao ver-me entre eles nessas condições...".
Gonzalo Guerrero tornou-se o inimigo mais feroz dos espanhóis. Conclamou os maias para a resistência aos invasores e, desesperado, procurou esclarecê-los a respeito dos verdadeiros propósitos e intenções dos conquistadores brancos. Ao longo de 17 anos, Gonzalo lutou contra seus conterrâneos; ele foi o primeiro guerrilheiro da América Central. Somente em 1536 os espanhóis mataram, no oeste de Honduras, um homem branco, barbudo, engajado na luta dos maias. O branco estava nu, tatuado, usava brincos e joias indígenas; era Gonzalo Guerrero.
Retirado de “O Dia em que os Deuses Chegaram: 11 de Agosto de 3.114 a.C.” de Erich Von Däniken.
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