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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Cabeça Pesada e o Ventre Leve (O Ying/Yang)

Por Al Chung-liang Huang
“Nessa cultura [ocidental], estamos tão voltados para os processos mentais que nos afastamos de outros aspectos da nossa vida. (...) Esta divisão entre pensar e realizar é clara; é preciso muito tempo para encontrar o equilíbrio yin/yang. O símbolo yin/yang é o entrosamento, a união-dissolução do movimento dentro de um círculo. 

As energias semelhantes, e ao mesmo tempo contrastantes, movem-se juntas. Dentro da área em negro notamos um ponto branco, e na área branca em forma de peixe, um ponto negro. A ideia básica de um círculo assim dividido tem como finalidade demonstrar que a união abrange a polaridade e o contraste.


A única maneira de atingirmos o verdadeiro equilíbrio, sem perdermos a sensação de centralidade proporcionada pelo circulo, consiste em pensar em termos de energias opostas movendo-se em harmonia, união, em interligação. 
Num certo sentido, a imagem sugere realmente o acasalamento de um peixe branco e um peixe negro, uma interação fluente, uma consumação entre duas forças, macho e fêmea, mente e corpo, mal e bem.


É um estilo de vida muito importante. Os orientais identificam-se mais com esta concepção do que nós ocidentais, cuja tendência é a identificação com uma das forças e a rejeição do elemento contrastante.



Se nos identificamos somente com um dos lados da dualidade, rompemos o equilíbrio. T'ai chi [Chuan - a Dança/Arte Marcial] pode nos ajudar a perceber o desequilíbrio e recuperar o centro, restabelecendo o fluxo entre os dois pólos.


Portanto, não se detenham nos cantos, pois um círculo não tem cantos. Se pensarem dessa maneira, estarão mais abertos, sem aquela sensação de serem obrigados a alcançar alguma coisa.


Certa vez alguém disse que a diferença entre o oriental e o ocidental é a seguinte: o homem oriental tem a cabeça vazia e muito leve, concentrando o peso no ventre e sentindo-se bastante seguro.

O ocidental tem o ventre leve e a cabeça muito pesada, e, em consequência disso, tomba com facilidade. Na sociedade ocidental, tanto se acumula na cabeça, tanto se fala e pensa sobre as coisas, que podemos analisar tudo até a última partícula, e no entanto, tudo continua tão distante de nós, burlando a nossa compreensão.

Possuímos tantos dispositivos mecânicos que realizam nosso trabalho por nós que o corpo perde a sua importância. Para recuperar o equilíbrio, temos que dar ênfase ao corpo e trabalharmos juntos com a união corpo-mente.

Algumas pessoas se dão conta de que seus corpos necessitam de mais atividades, então dedicam-se a correr, nadar, ao futebol e dizem: ‘Bem, já fiz a minha quota de exercícios’. Mas continua a separação entre a ‘hora do corpo’ e a ‘hora da mente’, semelhante à separação entre trabalho e lazer que a maioria das pessoas experimenta.

Trabalhamos bastante para poder tirar férias, ir a um lugar aprazível para nos divertir Isto provoca uma separação em nossa vida. O trabalho não deveria ser uma obrigação. O lazer não deveria ser uma caça ao divertimento. Trabalho e lazer podem se integrar.


Atividades não-verbais constituem uma forma importante de recuperar o equilíbrio e encontrar unidade na vida. Quando paramos de falar surge a chance de nos abrirmos e nos tornarmos mais receptivos ao que ocorre no corpo e à nossa volta.

O T'ai chi Chuan é uma das diversas maneiras de ajudar a disciplinar o corpo e encontrar uma vazão para a tensão interna. T'ai chi pode ser um modo de permitir que o corpo nos ensine e oriente na resolução dos conflitos cotidianos.

Como professor de dança, assim como de t'ai chi, considero a parte mais difícil justamente o processo de desaprendizagem pelo qual temos que passar.

Existe uma bela estória sobre um professor que vai visitar um mestre zen:

‘Olá, sou o doutor fulano de tal, sou isso e aquilo. Gostaria que me ensinasse algo de zen-budismo’. O mestre responde: ‘Gostaria de sentar-se?’ ‘Sim’. ‘Gostaria de tomar um pouco de chá?’ ‘Sim’. Ele serve o chá e continua entornando mesmo depois de encher a xícara, até que finalmente o professor exclama. ‘O chá está derramando todo’. Diz o mestre: ‘Exatamente. Você veio aqui com a xícara cheia. A sua xícara já está transbordando, então como posso eu acrescentar alguma coisa? Você já está transbordando de tanto conhecimento. Se não vier para cá vazio e aberto, não poderei lhe dar nada’.

Precisamos justamente deste tipo de inocência, de ignorância, ao aprender e ao lidar com as coisas do cotidiano. (...) Temos que oscilar entre a palavra e a experiência”.

[Atualizado em 01/08/2011]




Na busca pelo céu mais escuro no planeta Terra, astrônomos produziram esta imagem composta do céu dos dois hemisférios opostos, delineado por um tênue “S” lembrando o Taijitu que ilustra o conceito de Yin Yang. Apreciar mais outra poesia do real, na continuação.


A imagem começa com a iniciativa de Stéphane Guisard  de tentar capturar o céu mais escuro. Inspirado pelo trabalho de Guisard, Tunç Tezel capturou a contraparte do hemisfério norte, em La Palma, nas Ilhas Canárias, completando a metade oposta do céu, e de todo o Universo, que envolve todo o planeta.

A beleza de compreender esta imagem é compreender que a linha do gegenschein lembrando o Taijitu realmente separa todo o Universo em metades complementares “acima” e “abaixo” (ou vice-versa) do plano que nosso planeta delineia ao orbitar nossa estrela. São Yin e Yang reais, não só representando, como de fato sendo tudo aquilo que existe.

E o mais bacana? Tudo isso se delineia sobre nossas cabeças a todo o momento, não apenas de noite, como de dia. Só não podemos vê-lo por causa da luz do Sol, ou à noite pela luz lunar, da própria Via Láctea ou de nossas cidades. Na melhor tradição taoísta, apenas o céu mais escuro permite ver este brilho.



***

[Atualizado em 11/09/2011]

Através de um amigo conheci essas imagens de Athanasius Kircher,  um jesuíta, matemático, físico, alquimista e inventor alemão nascido em Geisa, uma cidade pequena no banco do norte da Rônia Superior, Buchônia, famoso por sua versatilidade de conhecimentos e particularmente sua habilidade para o conhecimento das ciências naturais. Mais taoista impossível!












Texto principal retirado e adaptado de: Expansão e Recolhimento: a Essência do T’ai Chi de Al Chung-liang Huang, Ed. Summus Editorial.
Imagens retiradas da internet: www.google.com.br

Texto das atualizações retirados de: 
http://www.sedentario.org/colunas/duvida-razoavel/o-tao-zodiacal-45770#more-45770 e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Athanasius_Kircher







Um comentário:

  1. Nunca na minha vida vi um símbolo me deixar tão encafifado que nem o yin/yang, é simplesmente fantástico as emoções e sensações despertadas por este símbolo.

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