Por Rosely Sayão
Muitos
jovens não conhecem a realidade da vida, eles cresceram achando que o mundo
gira em torno deles
Quando
os filhos atingem o chamado período da adolescência, em geral os pais sofrem.
Todo santo dia eles enfrentam problemas: saídas noturnas, horários, namoros,
estudo, entretenimentos, vestuário etc. Tudo é motivo para preocupações,
discussões, desentendimentos de todos os tipos.
É
que nessa etapa da vida os filhos precisam encontrar um novo lugar para ocupar.
E esse novo lugar é complexo porque envolve pelo menos três dimensões que são
interdependentes: a pessoal, a familiar e a social. Ou seja, os filhos também
sofrem nessa fase e não apenas pelos conflitos que têm com os pais.
Eles
sofrem porque, na busca desse novo lugar que ocuparão, precisam conquistar a
maturidade, condição necessária para a saída da adolescência. Amadurecer é a
finalidade desse período, portanto, e ninguém amadurece sem conhecer a
realidade da vida.
Hoje,
muitos adolescentes da classe média desconhecem a realidade da vida. Eles
acreditam que a realidade é o que sentem, o que querem, o que pensam que
precisam. Ignoram solenemente o outro, as interdições que são necessárias para
a vida em grupo, e desprezam as leis que nos protegem. São escravos de seus
caprichos.
Como
isso acontece? Essa história começa bem antes da adolescência. Começa com o
início da infância e a base dela é o tipo de relacionamento que muitos pais
estabelecem com seus filhos.
Outro
dia, fiquei sabendo que existe uma camiseta de tamanho pequeno, destinada a
crianças com menos de seis anos, com a seguinte frase estampada: "O
Poderoso Chefinho". E muitas mães e pais vestem seus pequenos filhos com a
tal camiseta. E, devo dizer, com o maior orgulho.
Eles
talvez não saibam, mas essa brincalhona frase é reveladora: aponta o lugar que
muitas pequenas crianças ocupam na família.
Qual
o cardápio costumeiro da família, qual o restaurante preferido do grupo, quais
os lugares a que a família costuma ir para passear, para viajar, para passar as
férias? Quem decide? Você já deve imaginar, caro leitor: os filhos. Ou melhor,
os poderosos chefinhos.
Muitos
pais, agora, têm medo de perder o amor dos filhos, por isso nem cogitam
desagradar seus pimpolhos, que são, portanto, o centro da família.
Mas
isso não faz bem para quem ainda está em processo de socialização, ou seja, de
se conhecer, de conhecer o outro e de se relacionar com grupos. Ao colocar
crianças pequenas nesse lugar, passamos algumas mensagens claras a elas. E uma
delas é a que afirma que, se elas querem, elas podem, sem maiores
consequências. E ponto final.
À
medida que os filhos crescem, muitas famílias reiteram essas mensagem nas
atitudes que tomam com eles e, dessa forma, evitam que a criança tenha contato
com a realidade.
Vou
retomar um exemplo que já citei aqui: as festas de aniversário que crianças
entre nove e doze anos, mais ou menos, frequentam. Os pais providenciam tudo o
que é necessário: do presente a ser entregue ao aniversariante à roupa que será
usada. O filho só precisa mesmo é comparecer à festa e se divertir. Isso não é
realidade, é?
É
dessa maneira que muitos chegam à adolescência: vivendo como se todo o mundo
girasse em torno deles, como se bastasse querer para viver. E eles querem
muitas coisas. O problema é que não aprenderam a considerar outras coisas além
do querer. "Eu quero. Eu posso? Eu devo?" é uma conjugação que a
maturidade produz.
Pelo
jeito, muitos de nossos jovens continuam a ocupar o lugar de "O Poderoso
Chefinho", não é verdade?
Folha
de São Paulo - 12/06/2012
Rosely
Sayão é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) –
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