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sábado, 22 de setembro de 2012

Sem-Teto por 4 Dias


Não sei por que alguma coisa nisso me incomoda... um Budismo engajado ligado a uma transnacional religiosa...? A explicação é plausível e tem seus alicerces nas prática budistas de enfraquecimento do Ego pela mendicãncia, mas salvo erro é, organizada por uma entidade chamada Zen Peacemakers fundada por Ben Glassman de 73 anos, criador de uma  padaria que "foi criada para dar empregos a uma população de sem-teto e usuários de drogas que hoje, fornece para alguns dos melhores restaurantes e hotéis de Nova York" e "é um negócio que fatura hoje US$ 7 milhões por ano" segundo reportagem na Folha de São Paulo:
 (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1154714-nunca-estamos-no-controle-diz-mestre-zen-criador-do-retiro-de-rua.shtml). 
Os participantes são em sua maioria de classe média alta ou alta que realmente teriam uma experiência importante de se colocar no papel do "invisíveis" que habitam a periferia do seu mundo todos os dias, ao mesmo tempo que teriam que arrecadar R$ 400,00 destinados a caridade... Um Caminho de Santiago entre mendigos? ou um Spa com os sem-teto? Pode ser que essa experiência enriqueça aqueles que vivem um dia a dia abastado e sem privações, mas viver nas ruas por si só não faz de ninguém Iluminado, se fosse assim a cidade estaria cheia de Budas...

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Por Alessandra Kormann
 Feriado de Sete de Setembro. Sol, céu azul, mais de 30°C. Dois milhões de carros deixam a capital. Um grupo de 23 pessoas, entre empresários, estudantes e profissionais liberais, começa outra viagem, bem diferente. O destino deles é o centro de São Paulo, em cujas ruas vão morar por quatro dias e três noites, dividindo o espaço com os sem-teto da região.

"Já viajei muito, já estive no Japão, na Índia, no Nepal, mas esse é o lugar mais longe para onde já fui", afirma a artista plástica Leonor Fridman, 49, horas antes de o retiro de rua começar.

Criado pelo mestre budista Bernie Glassman, fundador da ordem Zen Peacemakers (leia à pág.6), o evento acontece há 17 anos em cidades como Nova York, Boston, Denver, Paris e Zurique. No ano passado, foi realizado o primeiro da América Latina, em São Paulo, onde é organizado pela Comunidade Zen Budista do Brasil.

De acordo com o mestre Genro Gauntt, um dos coordenadores, o propósito é "despertar para a inteireza e a unidade da vida". Numa livre tentativa de tradução, a ideia é perceber que todos estão conectados, que um depende do outro no mundo.

"Não é um passeio. É uma experiência de estar na rua, olhando os invisíveis", diz a designer Adriana Muniz Retamal, 40, que saiu de Uberlândia para fazer o retiro. "Espero com isso ter uma compreensão maior da realidade. É mais seguro nos fecharmos em casa e no trabalho, sem contato com esse lado mais punk da vida."

A preparação começa meses antes, com a primeira lição prática de humildade: pedir doações para passagens e hospedagem dos mestres que coordenarão o retiro. Cada participante deve arrecadar R$ 400, que não podem vir de recursos pessoais. O que sobra vai para os sem-teto.

Não é permitido levar quase nada nesse exercício: só a roupa do corpo, em camadas que podem ser retiradas ou sobrepostas; remédios de uso contínuo, se for o caso; capa de chuva; uma garrafa de água, para reabastecer onde for possível; uma mochila; e o bilhete de metrô para a volta. Nada de celular ou escova de dente. Para se misturar mais facilmente aos sem-teto, os participantes são orientados a ficar dias sem lavar o cabelo e sem se barbear.

"Como sou vegetariana e faço uma dieta com micronutrientes, eu tinha colocado na mochila uvas-passas, castanhas-do-pará e damascos, com medo de ter hipoglicemia. Enquadrei esses alimentos na categoria de remédio (é permitido levar). Também tinha álcool em gel", conta Leonor. "Mas aí me dei conta de que eu iria ficar muito confortável, então tirei tudo."

O grupo não tem um roteiro predefinido, só algumas práticas diárias de meditação e rodas de conselho em que todos trocam experiências.

O lugar para dormir é a rua propriamente dita. Nada de albergues, para não tirar o lugar dos mendigos "reais".

A alimentação deve vir de doações (em dinheiro ou espécie) ou ser obtida nos projetos públicos e de organizações sociais e religiosas que atendem a população de rua.
A empresária Mônica Toledo Silva, que não revela a idade ("Ainda não me desapeguei do medo de envelhecer"), diz estar ansiosa.

"Parece que estou indo a um reality show, desses em que a pessoa fica um tempo no mato ou numa ilha comendo lesmas. Sendo sincera, o que me moveu não foi a espiritualidade, mas sim a curiosidade, a aventura de viver na rua. Tinha até um casamento para ir em Ibiza no feriado, mas nem pensei em desistir."

Durante o retiro, o marido de Mônica, o médico Jorge Ethel Filho, 64, andava pelas ruas do centro na esperança de encontrá-la -em vão. "Estou preocupado se eles vão achar banheiro, como vão se arranjar. Mas vai ser uma experiência e tanto para ela."

O grupo dormiu as três noites no centro antigo de São Paulo, ao relento, sobre papelão. Todos bem juntos, para fugir do frio.

Alguns sem-teto resistiram à nova companhia. "Nos chamaram de 'playboys de papelão'", disse a designer Adriana Muniz. Outro xingou: "Vocês são um bando de fracassados, mais fracassados do que nós", contou ela. Mas, segundo essa participante, surgiram também muitos solidários: "Foram luzes no nosso caminho. Um dos que nos chamou de 'playboys' acabou nos levando comida".

Na volta da experiência, vários participantes relataram que alguns moradores de rua cederam ao grupo zen a própria comida e os melhores lugares para dormir.
"Nunca me senti tão protegida, tão livre. A rua é abundante, nada faltou. Todos os meus medos ruíram. Comi muito bem, frutas, saladas. Nunca me imaginei comendo sob um viaduto; um dia provei ali o feijão mais delicioso da vida. Numa noite, um morador de rua nos trouxe salada fresquinha, paçoquinhas, sanduíches", conta Leonor.

"Senti muito forte a interdependência de todas as coisas. Tenho gratidão por ter tido o privilégio de estar ali e não em uma praia ou qualquer resort do mundo."
A empresária Mônica teve sensação parecida. "Quando eu estava lá, não era mais um reality show, não era mais uma aventura. Era estar igual a todo o resto, sem pena, sem culpa. Com a força da sangha [grupo], despertei uma parte de mim que não enxerga 'eu e os outros', mas sim o todo."

Para Duda Groisman, 42, que há três anos era vice-presidente de multinacional e largou tudo para tocar projetos sociais, o retiro serviu para confirmar o acerto da sua escolha: "Hoje ninguém compra o meu tempo por dinheiro nenhum. É preciso respeitar o tempo em que as coisas acontecem, e o presente é sempre o melhor lugar em que eu posso estar".

O músico Léo Rodrigues, 28, concorda. "Moradores de rua nos dão a presença: você fala, eles escutam com atenção, olham no olho. Na rua, é preciso pensar em uma coisa de cada vez, onde achar comida, papelão para dormir etc. É algo que a sociedade não costuma dar, estamos sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo. É muito libertador viver o presente."

A dificuldade para dormir que ele teve foi aprendizado, diz. "O chão é frio, duro. Não tinha nada para usar de travesseiro. Acordei torto. A noite ficou muito mais longa. Mas, por mais longa que fosse, uma hora amanhecia. Isso deu mais paz para esperar. Não importa o tamanho do desespero, uma hora acaba."

O próximo retiro de rua está previsto para 7/9/2013.
Informações: zendobrasil@gmail.com ou pelos http://zendobrasil.org.br e www.monjacoen.com.br.


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