Por Chuang Tzu
O
Tao se obscurece quando os homens compreendem apenas um, dentre um par de
opostos, ou se concentram apenas num aspecto parcial do ser. E, depois, a
expressão clara perde-se no mero jogo de palavras, afirmando este aspecto, e
negando todos os outros.
Daí
a polêmica entre os Confucianos e os Moístas, cada qual negando o que o outro
afirma, e afirmando o que o outro nega. Qual a vantagem dessa polêmica, de
colocar o «Não» contra o «Sim», e o «Sim» contra o «Não»? O melhor é desistir
desse esforço inútil e procurar a verdadeira luz!
Nada
há que não possa ser contemplado do ponto de vista do «Não-Eu». E nada há que
não possa ser contemplado do ponto de vista do «Eu». Se começo por olhar
qualquer coisa do ponto de vista do «Não-Eu», não a vejo, realmente, porque é o
«Não-Eu» que vê. Se começo de onde estou, e vejo-a como eu vejo, pode suceder
então que a veja como o outro a vê.
Como
quer que isso aconteça, a vida é seguida da morte; a morte é seguida da vida. O
possível torna-se impossível; o impossível, possível. O certo torna-se errado,
e o errado, certo… O fluxo vital altera as circunstâncias e, assim, as coisas
por si mesmas alteram-se, por sua vez. Mas os polemistas continuam a afirmar e
a negar as mesmas coisas que sempre afirmaram e negaram, ignorando os novos aspectos
da realidade apresentada pela mudança de condições.
O
sábio, portanto, em vez de tentar provar este ou aquele ponto pela disputa
lógica, vê todas as coisas à luz da intuição direta. Não se prende aos limites
do «Eu», pois o ponto de vista da intuição direta é tanto o «Eu» como o
«Não-Eu». Daí ele nota que, tanto de um como de outro lado de cada argumento,
há o certo e o errado. Também vê que, no final, eles se reduzem à mesma coisa,
uma vez que estão relacionados com o pivô do Tao.
Quando
o sábio se apodera deste pivô, ele está no centro do círculo, e lá fica
enquanto o «Sim» e o «Não» perseguem-se um ao outro, em torno da
circunferência.
O
pivô do Tao passa pelo centro para onde convergem todas as afirmações e todas
as negações. Todo aquele que se apoderar do pivô, coloca-se no ponto-morto de
onde podem ser vistos todos os movimentos e oposições, em sua correta interdependência.
Por
conseguinte, ele vê as possibilidades ilimitadas, tanto do «Sim», como do
«Não». Quando abandona toda idéia de impor limites ou de tomar partidos, repousa
na intuição direta. Portanto, é como eu dissera antes: «É melhor desistir das
discussões e procurar a
verdadeira
luz!»
Chuang
Tzu foi um grande filósofo taoísta do Séc. IV a.C., o texto aqui publicado é
fruto de um grande esforço de compilação e meditação de Thomas Merton, um monge
católico do Séc. XX d.C. que estudou os textos de Chuang Tzu em várias fontes,
nenhuma delas sendo a original, mas traduções da fonte original. Finalmente,
coube a Paulo Alceu Lima traduzir a Merton, do inglês para o português,
conforme visto no livro “A Via de Chung Tzu” (Ed. Vozes, esgotado)
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