Por Igor Teo
Podemos refletir sobre a verdade como sendo algo individual e
dependente da experiência pessoal. Não podemos ter certeza
absoluta sobre nada (“não sabemos, só podemos conjeturar”, disse Karl Popper) e
como a verdade é relativa (embora isso não exclui a existência do erro).
À
primeira vista, esta perspectiva pode ser alvo de crítica quanto ao
individualismo: um mundo em que cada pessoa vive voltada para si mesma, vivendo
apenas em função de seus próprios preconceitos. Mas sabemos que não é assim que
acontece na prática, pois por mais subjetivo que sejam nossos conceitos,
compartilhamos uma realidade funcional.
Todo
ser, como parte do Universo, está relacionado com o resto do mundo, e,
portanto, não é capaz de viver apenas em si mesmo. Se fossemos criaturas
isoladas em si mesmas seria impossível que você, leitor, estivesse acompanhando
esse raciocínio. Apesar de possuirmos valores diferentes, compartilhamos
significados, sentidos e conhecimentos. Para isso utilizamos a linguagem.
A
linguagem se estrutura a partir de símbolos compartilhados. Quando uso
palavras, conjugo verbos, vocês são capazes de entender, pois compartilham, na
maioria das vezes, dos mesmos significados.
Nem
sempre ocorre como desejamos, pois muitas vezes uma palavra que possui um
sentido para alguns, pode possuir um sentido oposto para outros. Um poeta
poderia se sentir lisonjeado se lhe falassem que ele possui um toque anarquista
em seus ideais, se for esta uma característica que ele preze. Dentro de um
regimento militar, um anarquista não seria bem recebido.
A
linguagem permite que indivíduos possam ter conhecimento não apenas de suas
próprias verdades, mas participar da definição de verdade construída por
outrem. O diálogo entre diferentes formas de encarar a realidade fazem com que
cada perspectiva seja afetada de alguma forma, e mesmo que ao final não
encontrem um sentido comum, tornam-se mais sofisticadas.
Muito
se questiona qual o sentido da vida e por qual razão vivemos. Durante a
história da humanidade muitos filósofos, pensadores, religiosos e atualmente
cientistas, tentaram responder esta pergunta. A realidade é que não há nenhuma
evidência provando que a vida tenha algum sentido universal ou que haja um
propósito definitivo para tudo isso.
O que cada um desses filósofos, pensadores, religiosos e cientistas fizeram foram compartilhar as suas próprias perspectivas quanto ao sentido da vida.
Pensemos
em uma cadeira. Qual o sentido da existência da cadeira? Alguém logo
responderia: “para que alguém sentar nela”. Sim, mas também ela pode ser usada
como um degrau quando queremos alcançar algo no alto. Ou mesmo uma arma quando
alguém se envolve em uma briga.
Esse simples exemplo visa apenas demonstrar como os objetos do mundo não tem sentido em si mesmos. O Universo, assim como os objetos que existem nele, simplesmente é o que é. Somos nós que criamos relações entre os objetos e damos algum significado para eles.
E o mesmo acontece com a nossa própria vida. Como diz o personagem Rorschach de Watchmen, graphic novel escrita por Alan Moore: “Vivemos nossas vidas por não termos nada melhor para fazer. Inventamos uma razão depois.”
“Mas
se a vida é ausente de sentido, por que não suicidar-se?”, questionariam-se
muitos. Em primeiro lugar, o suicídio seria uma atitude covarde diante do
abismo da ausência de sentido. Como resposta, eu costumo citar o Übermensch, o
além-do-homem, proposto por Nietzsche. O além-do-homem é o homem que se tornou
capaz de olhar para o abismo e não tremer diante dele. O além-do-homem superou
o niilismo (a ausência de sentido), pois ele cria seu próprio sentido de
existir (ou descobre a sua Verdadeira Vontade?).
E
como ficam as religiões, os messias e as ideologias que norteiam a vida de
bilhões de pessoas? Bem, os messias também podem ser considerados Übermenschen:
pessoas extraordinárias que buscaram construir seu próprio conhecimento ao
invés de aceitar simplesmente a ordem imposta, e uma vez que descobriram modos
de vida saudáveis, compartilharam seu próprio “sentido da vida” com os demais
através da linguagem. O problema é quando se constrói uma casca de
fundamentalismo em torno dessas idéias, criando verdadeiros dogmas que
atrapalham mais do que ajudam quando esses ensinamentos são descontextualizados
e repetidos em forma de mandamentos universais.
É
muitas vezes impossível discutir esses assuntos em determinados locais e/ou com
determinadas pessoas, pois parte-se do pressuposto de que a fé deve ser
respeitada independente do contexto. Há de se perceber, no entanto, que isto se
trata de uma barreira que se coloca para proteção daquelas crenças individuais
ou coletivas contra uma possível refutação diante de contradições claras.
A má estruturação religiosa, circunscrita a dogmas, acaba por não satisfazer um dos motivos mais importantes da religião existir: a formação adequada da moral. Atualmente a moral pode ser ensinada por bases filosóficas, independente de religiosidade.
Ainda assim muitas religiões possuem preceitos dignos e grandes lições de vida em seu lado esotérico. No entanto, há aqueles que se prendem aos aspectos exteriores, isto é, o lado exotérico, e as conseqüências são péssimas para a humanidade.
Retirado e adaptado de:
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