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domingo, 18 de março de 2012

A Democracia Precisa de Pessoas Ignorantes Para Funcionar Corretamente


Por Luisão CS
Um das crenças mais estendidas em torno da democracia, inclusive entre pessoas com um conhecimento médio ou mínimo sobre o assunto, é que este sistema político funciona muito melhor se for integrado por pessoas interessadas em seu meio social e conhecedoras de certos temas importantes de sua vida política imediata. No entanto, um estudo realizado por um pesquisador de Princeton  poderia jogar por terra esta ideia. Iain Couzin assegura o contrário, que sem grandes multidões de pessoas francamente ignorantes, a democracia simplesmente colapsaria.

Couzin é pesquisador adscrito ao Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Princeton e seus interesses acadêmicos centram-se nos padrões biológicos de grande escala que resultam das ações e interações dos componente individuais de um sistema. Ele estuda os padrões de auto-organização de sistemas biológicos de amplo alcance como exércitos de formigas, cardumes, rebanhos, nuvens de insetos e multidões humanas.

No caso do estudo em questão, Couzin e sua equipe chegaram à conclusão de que na democracia, desde seu ponto de vista, segue este mecanismo: no interior de uma sociedade deve existir um número limitado, mas suficiente de pessoas que saibam tudo sobre certos temas e que, em consequência, ajam como líderes para o resto, maioria esta que se desintegra quando surgem numerosos pontos de vista que designam diferentes direções. Daí que Couzin fale de uma espécie de ponto médio da ignorância, um setor imprescindível de pessoas que impeça a derrocada do sistema em uma anarquia caótica de minorias ou na imposição de uma destas para todas as demais. A inclinação pelo popularesco -fundamentalmente nascida da ignorância ou do desinteresse- é assim a base de uma democracia saudável.

O mais curioso é que Couzin obteve estes resultados estudando o comportamento dos peixes, especificamente o das carpas douradas (Notemigonus crysoleucas) que têm um gosto natural pela cor amarela. Os pesquisadores juntaram um monte destes animais e treinaram-nos pára que a maioria deles se voltasse contra seu instinto e nadasse para um alvo azul, enquanto o resto conservou sua preferência pelo amarelo (com um alvo de dita cor que podiam seguir).

Quando os cientistas juntaram estes dois grupos, o menos numeroso de peixes pró-amarelo foi capaz de dominar os pró-azuis, fazendo-os nadar para o alvo amarelo durante 80% do tempo que durou o teste. Isto, ao que parece, porque o instinto natural os tornou bem mais fortes para influir em seus colegas. No entanto, quando acrescentavam um peixe que não tinha recebido condicionamento prévio, então a preeminência do pró-amarelo decaía e, a princípio, a maioria pró-azul passava a controlar toda a população. Couzin explica:

- "Agregar esses indivíduos mudou dramaticamente a tomada de decisões do grupo. Estes inibiram a minoria e apoiaram o comportamento da maioria, o que permitiu por sua vez que a maioria ganhasse presença e que sua perspectiva dominasse. Foi aí que pensamos, 'Bem, isto é muito interessante mesmo', porque normalmente a gente não pensa que acrescentar indivíduos desinformados aos processos de tomada de decisão possa acarretar esse tipo de efeito democratizante".

Mas este fenômeno parece ter um limite: segundo Couzin se existem 20 indivíduos desinformados e somente um ou dois com opiniões contundentes, então há muito "barulho" e todo o processo fica paralisado.

E conquanto, durante boa parte do século XX, transladar observações da natureza ao plano social -algo mais ou menos comum um século dantes- foi algo desestimado pelos cientistas sociais da época. Talvez as conclusões deste estudo poderiam servir como base, ainda que com reservas, para perguntar pelos fundamentos reais da democracia, como forma de descobrirmos se são procedentes os ideais teóricos tão repetidos ou se é coisa apenas de um Couzin.
Fonte: Miller McCune.

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