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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Porque Passamos Mal Quando Ficamos Nervosos ou Ansiosos

   Eu sou muito ansioso. Quando adolescente era mais. Ganhei desse período uma gastrite nervosa que me acompanha como um sabujo a vida toda. Leituras, estudos e muita, muita meditação me fizeram uma pessoa menos estressada, controladora e preocupada com tudo (sem essa de analista ou psicólogo porque como já disse alhures: psicólogo de pobre é Padre , Pastor ou Pai de Santo. Como nunca fui chegado a nenhum dos três...).
Qualquer fato que saía do meu controle era um parto. Coisas corriqueiras que outros tiravam de letra eu virava e revirava na minha cabeça de nerd, num movimento contínuo sempre acompanhado de sintomas físicos que por vezes me fizeram literalmente brigar comigo mesmo, questionando o porquê do meu corpo me odiar tanto.
É claro que isso transparecia e a reação das pessoas era me achar louco ou esquisito, as vezes os dois. Com o tempo consegui disfarçar melhor até chegar a esse texto do “Macaco Nu”de Desmond Morris que foi a panaceia para os meus problemas. Não resolveu, mas pelo menos eu sabia o que estava acontecendo comigo e por isso sabia melhor como lidar com as reações de meu corpo. Naturalizando os sintomas como parte de uma consciência atávica deslocada de seu tempo e lugar pude amenizar seus efeitos e em algumas vezes transcendê-la. Como está escrito em um Livro Sagrado: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Todos os grifos são meus).


“Sempre que um mamífero se torna agressivamente excitado, passa-se no seu corpo um certo número de alterações fisiológicas básicas. Todo o organismo vai se preparar para a ação, através do sistema nervoso autônomo.

Esse sistema compõe-se de dois subsistemas opostos que se contrabalançam — o simpático e o parassimpático. O primeiro é responsável pela preparação do corpo para atividades violentas, o segundo tem a função de manter e reconstituir as reservas do corpo.

O primeiro diz: ‘Está pronto para a ação, pode começar’; o segundo diz: ‘Tome cuidado, modere-se e conserve a sua força’. Em condições normais, o corpo presta atenção a ambas as vozes e mantém-se equilibrado. Mas, quando ocorre agressão violenta [ou apenas uma “ameaça” qualquer, verdadeira ou não] o organismo apenas escuta o sistema simpático.

Quando este é estimulado, aumenta a adrenalina no sangue e todo o sistema circulatório é profundamente afetado. O coração bate mais depressa e o sangue que circula na pele e nas vísceras é desviado para os músculos e para o cérebro. A pressão arterial aumenta. Acelera-se a produção de glóbulos vermelhos. O sangue coagula mais rapidamente do que em condições normais.

Além disso, interrompem-se os processos de digestão e de armazenamento dos alimentos. A salivação é inibida, assim como os movimentos do estômago, a secreção de sucos digestivos e os movimentos peristálticos dos intestinos. [a boca seca e o mal estar surgem aqui] O reto e a bexiga esvaziam-se com mais dificuldade do que normalmente. [a malfadada, desagradável e incômoda vontade de ir ao banheiro]

A reserva de hidratos de carbono é expelida do fígado, provendo o sangue de açúcar. A atividade respiratória aumenta. A respiração torna-se mais rápida e profunda. Os mecanismos reguladores da temperatura são ativados. Os cabelos põem-se em pé e há intensa sudação.

Todas essas modificações contribuem para preparar o animal para a luta. Como por magia, fazem desaparecer instantaneamente a fadiga e mobilizam grandes quantidades de energia para a luta física que se vai seguir.

O sangue é vigorosamente expelido para os locais onde é mais necessário — o cérebro, para raciocínio rápido, e os músculos, para ação violenta. O aumento de açúcar no sangue aumenta a eficiência muscular. [palidez no rosto e nas mãos]

A aceleração dos processos de coagulação permite que todo o sangue derramado se coagule mais depressa, reduzindo-se as perdas. O aumento de produção de glóbulos vermelhos no baço, associado com a aceleração da circulação sanguínea, ajuda o aparelho respiratório a aumentar o consumo de oxigênio e a eliminação de anidrido carbônico.

A ereção dos pelos expõe a pele ao ar e contribui para refrescar o corpo, tal como o aumento da sudação. Reduzem-se assim os perigos de excesso de calor devido ao aumento de atividade. [arrepios pelo corpo e suor frio]

Com todos os seus sistemas vitais ativados, o animal está pronto para se lançar ao ataque. Mas há um obstáculo. A luta sem tréguas pode conduzir a uma vitória valiosa, mas pode igualmente acarretar sérios prejuízos para o vencedor.

O inimigo não só estimula a agressão, mas também o medo. A agressão empurra o animal para a frente, o medo o faz recuar. Produz-se uma situação de intenso conflito interior.

Tipicamente, um animal excitado para a luta não se atira de cabeça para o ataque. Começa por ameaçar que vai atacar. O conflito interior o sustem, já preparado para o combate, mas ainda não completamente pronto para começar.

Nessa altura, é sem dúvida melhor que a atitude do animal seja suficientemente impressionante para intimidar o inimigo e esse se ponha em fuga. A vitória pode ser obtida sem derramamento de sangue.

Se a espécie é capaz de resolver as disputas sem grande prejuízo para os seus membros, não há dúvida de que se beneficia tremendamente do processo.

Em todas as formas superiores de vida animal se tem verificado uma forte tendência nesse sentido — o sentido do combate ritualizado. A ameaça e a contra-ameaça foram substituindo em grande parte o combate físico propriamente dito.

Claro que ainda existem de vez em quando lutas sangrentas, mas apenas como último recurso, quando as atitudes e contra-atitudes agressivas não chegam para resolver uma disputa.

A intensidade dos sinais que exteriorizam as alterações fisiológicas atrás referidas indica ao inimigo a intensidade da violência com que o animal agressivo se prepara para a ação.[mesmo que o inimigo esteja apenas em sua cabeça...]

Embora isso funcione muito bem quanto ao comportamento, cria, no entanto, um problema fisiológico. O maquinismo do corpo preparou-se para produzir uma grande quantidade de trabalho. Mas o esforço antecipado não se materializa. Como é que o sistema nervoso autônomo vai resolver a situação? Colocou todas as suas tropas na frente de batalha, prontas para intervir, mas a simples presença foi bastante para vencer a guerra. Que irá agora acontecer?

Se a estimulação maciça do sistema nervoso simpático fosse naturalmente seguida de combate físico, todos os preparativos produzidos no organismo seriam utilizados. A energia seria gasta e o sistema parassimpático restabeleceria a calma fisiológica. Mas, no estado de conflito entre agressão e medo, tudo se interrompe.

Daí resulta que o sistema nervoso autônomo oscila para diante e para trás. À medida que se desenrolam os momentos de ameaça e de contra-ameaça, podem ocorrer lampejos de atividade parassimpática intercalados com sintomas simpáticos.

A secura da boca pode originar salivação excessiva. A contração dos intestinos pode desandar e deixar escapar uma defecação inesperada. A urina, tão fortemente retida na bexiga, pode de súbito jorrar em torrente. A remoção de sangue da pele pode inverter-se de repente e a palidez extrema dar lugar a intenso rubor. A respiração rápida e profunda pode interromper-se dramaticamente, originando arfadas e suspiros. [Já passou por algum desses?]

Todos esses sinais são tentativas desesperadas do sistema parassimpático de contrabalançar a extravagância aparente do simpático. Em circunstâncias normais, não apareceriam simultaneamente essas intensas reações opostas.

Mas, no caso extremo de ameaças agressivas, tudo se descontrola temporariamente. (Assim se explica que, em certos casos extremos de choque, possa haver desmaios ou síncopes. Nesses casos, o sangue que fora impelido para o cérebro é tão violentamente removido, que origina uma perda súbita de consciência.)” [Ou seja: você apaga. Mas esse é um sintoma extremo que não costuma acontecer em 99,9999999 dos casos.] 

De resto,  felizmente na maioria das vezes em que tivermos que conviver com uma situação de estresse com certeza sobreviveremos a ela, mais sábios é verdade, embora nem sempre com nossa reputação incólume.



Retirado de; "O Macaco Nu" (no original, The Naked Ape). o título de um livro de Desmond Morris publicado em 1967 que descreve a espécie humana através de uma perspectiva etologista, ou seja, como a que é geralmente adoptada à descrição do comportamento das outras espécies animais. É uma obra de referência, abriu novos caminhos de investigação e discussão, nomeadamente os da etologia humana. (Editora Circulo do Livro S/A – 1967)

4 comentários:

  1. acho o mesmo sou tbm anciosa fico nervosa e passo mal

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Acontece comigo frequentemente! Seu texto é muito bom, altamente esclarecedor, obrigado!

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  4. Obrigada pelo esclarecimento.
    Aconteceu comigo esses vários sintomas e me assustei.
    Agora estou mais calma.

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