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sábado, 4 de dezembro de 2010

A Busca do EU Superior por Alan Moore

Por Alan Moore.
 “Quando cumprimos a vontade de nosso verdadeiro Eu, nós estamos inevitavelmente cumprindo com a vontade do universo. Na magia ambas as coisas são indistinguíveis. Cada alma humana não é, de fato, UMA alma humana: é a alma do universo inteiro. E, enquanto você cumprir a vontade do universo, é impossível fazer qualquer coisa errada.

Muitos dos magos como eu entendem que a tradição mágica ocidental é uma busca do Eu com “E” maiúsculo. Esse conhecimento vem da Grande Obra, do ouro que os alquimistas buscavam, a busca da Vontade, da Alma, a coisa que temos dentro que está por trás do intelecto, do corpo e dos sonhos. Nosso dínamo interior, se preferir assim. Agora, esta é particularmente a coisa mais importante que podemos obter: o conhecimento do verdadeiro Eu.

Assim, parece haver uma quantidade assustadora de pessoas que não apenas têm urgência por ignorar seu Eu, mas que também parecem ter a urgência por obliterarem-se a si próprias. Isto é horrível, mas ao menos vocês podem entender o desejo de simplesmente desaparecer, com essa consciência, porque é muita responsabilidade realmente possuir tal coisa como uma alma, algo tão precioso.

O que acontece se a quebra? O que acontece se a perde? Não seria melhor anestesiá-la, acalmá-la, destruí-la, para não viver com a dor de lutar por ela e tentar mantê-la pura. Creio que é por isso que as pessoas mergulham no álcool, nas drogas, na televisão, em qualquer dos vícios que a cultura nos faz engolir, e pode ser vista como uma tentativa deliberada de destruir qualquer conexão entre nós e a responsabilidade de aceitar e possuir um Eu superior, e então ter que mantê-lo.

Tenho estudado a escola da história do pensamento mágico e o ponto em que começou a dar errado. No meu entender, o ponto em que começa a dar errado é com o monoteísmo. Quero dizer, se olhar a história da magia, verá suas origens nas cavernas, verá suas origens no xamanismo, no animismo, na crença de que tudo o que te rodeia, cada árvore, cada rocha, cada animal foi habitado por algum tipo de essência, um tipo de espírito com o qual talvez possamos nos comunicar. E ao centro você tinha um xamã, um visionário, que seria o responsável por canalizar as ideias úteis para a sobrevivência.

No momento em que você chega às civilizações clássicas, verá que tudo isto foi formalizado até certo grau. O xamã atuava puramente como um intermediário entre os espíritos e as pessoas. Sua posição na aldeia ou comunidade, imagino, era a de um “encanador espiritual”. Cada pessoa no grupo devia ter seu papel: A melhor pessoa durante uma caçada tornava-se o caçador, a pessoa que era melhor pra falar com os espíritos, talvez porque ele ou ela estivesse um pouco louco, um pouco separado do nosso mundo material normal, eles tornavam-se os xamãs. Eles não seriam mestres de uma arte secreta, mas sim os que simplesmente espalhariam sua informação pela comunidade, porque se acreditava que isto era últil para todo o grupo.

Quando vemos o surgimento das culturas clássicas, tudo isso se formalizou para que houvesse panteões de deuses, e cada um destes deuses tinha uma casta de sacerdotes, que até certo ponto atuariam como intermediários, que te instruiriam na adoração a estes deuses. Então, a relação entre os homens e seus deuses, que pode ser vista como a relação entre os humanos e seus “Eus” superiores, não era todavia de um modo direto.

Quando chega o cristianismo, quando chega o monoteísmo, de repente tem uma casta sacerdotal movendo-se entre o adorador e o objeto de adoração. Tem uma casta sacerdotal convertendo-se em uma espécie de gerência intermediária entre a humanidade e a divindade que está se buscando. Já não se tem mais uma relação direta com os deuses.

Os sacerdotes não têm necessariamente uma relação com Deus. Eles só têm um livro que fala sobre gente que viveu há muito tempo atrás que teve relação direta com a divindade. E assim está bom: Não é preciso ter visões milagrosas, não é preciso ter deuses falando contigo. Na verdade, se você tem algo disto, provavelmente está louco. No mundo moderno, essas coisas não acontecem; as únicas pessoas as quais se permite falar com os deuses, e de um modo unilateral, são os sacerdotes.

E o monoteísmo é, pra mim, uma grande simplificação. Eu quero dizer, a Cabala tem uma grande variedade de deuses, mas acima da escala, da Árvore da Vida, há uma esfera que é o Deus Absoluto, a Mônada. Algo que é indivisível, você sabe. E todos os outros deuses, e, de fato, tudo mais no universo é um tipo de emanação daquele Deus. E isto está bem. Mas, quando você sugere que lá está somente esse único Deus, a uma altura inalcançável acima da humanidade, e que não há nada no meio, você está limitando e simplificando o assunto.

Eu tendo a pensar o paganismo como um tipo de alfabeto, de linguagem. É como se todos os deuses fossem letras dessa linguagem. Elas expressam nuances, sombras de uma espécie de significado ou certa sutileza de idéias, enquanto o monoteísmo é só uma vogal, onde tudo está reduzido a uma simples nota, que quem a emite nem sequer a entende”.

QUEM É ALAN MOORE
Nasceu em 18 de Novembro de 1953 (57 anos) em Northampton, Inglaterra. 
Área(s) de atuação: escritor, romancista, contista, roteirista, músico, cartunista
Trabalhos de destaque: Watchmen, V de Vingança, Do Inferno, A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, Monstro do Pântano, Miracleman, a Balada de Halo Jones, Batman: A Piada Mortal, Tom Strong, Supremo.
    
Uma simples busca na Internet vai, sem dúvida, evidenciar que as afirmações elogiosas sobre a contribuição do britânico Alan Moore para o avanço das histórias em quadrinhos são provavelmente incontáveis. O mesmo acontece na literatura especializada da área, em que ele já foi objeto de várias obras monográficas e ocupa lugar de destaque em muitos dicionários e enciclopédias. 


    Lance Parkin, por exemplo, autor de um livro exclusivamente dedicado a Moore, simplesmente considera, sem temer ser acusado de exagero - o que, aliás, é um fato -, que o autor inglês é "o melhor escritor de quadrinhos que já existiu". Já Gary Spencer Millidge, no prefácio que elaborou para o livro Alan Moore: Portrait of an Extraordinary Gentleman, é um pouco mais comedido e se refere ao seu compatriota como "provavelmente o mais respeitado e influente escritor na história dos quadrinhos". E por aí vai, numa variedade de panegíricos que às vezes não parecem reconhecer qualquer limite lógico. 

    Polêmicas à parte e evitando colocar Moore num pedestal em que muitos outros grandes produtores de histórias em quadrinhos também mereceriam estar, é fora de questão que o chamado "Bruxo de Northampton" constitui provavelmente um dos mais brilhantes escritores a se dedicarem às histórias em quadrinhos nos últimos 40 anos. Junto com Frank Miller, Neil Gaiman e alguns outros, ele foi o grande responsável pela gradual mudança de status das histórias em quadrinhos no final do século 20, que aos poucos, num processo ainda longe de seu término, deixaram de ser encaradas como produtos exclusivamente voltados para o público infanto-juvenil e passaram a ser entendidas como também direcionadas para os adultos, iniciando sua comercialização em livrarias, pontos de venda onde antes raramente conseguiam entrar.     
    Mais que isso, devido a suas características pessoais e profissionais, Alan Moore se tornou um ícone na área, sendo praticamente endeusado por leitores e colegas de profissão. Nesse sentido, não seria exagero dizer que literalmente todos os seus trabalhos são hoje recebidos com quase religiosa admiração, transformando-se em indiscutível sucesso.  


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