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domingo, 28 de outubro de 2012

O Perigo das Autodefinições

Por Edwin Karrer
Sempre achei intrigante a necessidade que as pessoas tem de se descreverem a partir de esquemas predefinidos. É comum ouvirmos afirmações do tipo "Como boa capricorniana, sou bem disciplinada e responsável"... "Sou explosivo, pavio curto mesmo, por que o sangue italiano fala mais alto"... e assim por diante.

Os estereótipos são crenças socialmente compartilhadas sobre características atribuídas a pessoas em função de determinados critérios, como idade, sexo, religião, etnia, signo astrológico, etc. Como atalhos cognitivos, deveriam facilitar nossa visão de mundo ao dispensar uma análise mais atenta de cada caso individual. Na prática, levam a um conhecimento distorcido da realidade, também estimulando preconceito e discriminação. Além dos potenciais danos sociais do uso de estereótipos, pode haver também a assimilação individual destas crenças pelo sujeito em relação a si mesmo, causando uma espécie de prisão psicológica.

No processo de construção de nós mesmos, vamos colecionando rótulos que tentam, mediocremente, descrever quem nós somos. Grande parte das pessoas carrega um fardo que vai abarrotando de autodefinições ao longo da vida. O fatalista "eu sou" associa-se a uma série de complementações, frequentemente autodepreciativas e limitantes, como: "eu sou desajeitada", "eu sou preguiçoso", "eu sou tímido", "eu sou antissocial", entre incontáveis possibilidades.

Parece que a necessidade de conhecer-se induz a pessoa a formar uma imagem estática de si mesma, algo estável a que se possa recorrer quando buscar intuitivamente responder ao questionamento: "quem sou eu?". Acontece que quando terminamos de nos perguntar isso, já não somos mais a mesma pessoa que éramos antes do questionamento. Nossa constituição é dinâmica e mudamos a cada instante de nossas vidas, por mais que se queira acreditar que há algo de definitivo em ser o que se é. É claro que não nos tornamos uma pessoa completamente diferente a cada instante, mas é fato que cada uma de nossas vivências nos transforma, em algum nível e com alguma intensidade.


"Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas acham repouso." (Heráclito)


Então, podemos constatar que as autodefinições são, primeiramente, imprecisas pela nossa natureza dinâmica. Mas há uma outra questão ainda mais importante, que é o impacto que nossas crenças exercem sobre nós mesmos. Além de limitar nossas potencialidades, como profecias autorrealizáveis, uma maneira distorcida de pensar pode gerar estados de insatisfação, ansiedade, depressão e outras condições estressantes.

A atitude autolimitante segue o seguinte padrão de crenças: "Eu sou assim", "Esse é o meu jeito", "Sempre fui assim", "Eu não levo jeito para isso", "Não posso evitar isso", "Não vou mudar meu jeito", etc. Há muitas variações possíveis, mas este padrão nocivo atua fortemente impedindo seu crescimento e travando as mudanças positivas necessárias para uma vida de plenitude e satisfação.


"Desde que você me rotule, está me negando." (Soren Kierkegaard)


Basicamente, as autodefinições possuem duas origens distintas. A primeira e mais ativa fonte está nos rótulos que recebemos (sobretudo nas primeiras fases da vida) de outras pessoas, especialmente das mais significativas, como familiares, professores e amigos.

A segunda fonte de autodefinições está na autorrotulação para manutenção de uma zona de conforto, visando evitar o esforço necessário para uma mudança, livrar-se de atividades desagradáveis ou justificar um desempenho ruim quando se teme fracassar. Um "eu não sou bom nisso" pode parecer libertador em um primeiro momento, mas equivale a acorrentar-se no chão ao invés de levantar voo.


"O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento." (John Kennedy)


Libertar-se dos rótulos limitantes envolve deixar o passado para trás e assumir riscos, saindo da zona de conforto. Em grande medida, nós somos o que, consciente ou inconscientemente, escolhemos ser. Assim, uma importante estratégia para lidar com este sistema de restrição pessoal inclui a tomada de consciência dos pensamentos automáticos que representam suas crenças em relação às suas capacidades pessoais e a internalização da responsabilidade sobre sua própria vida.

Comece a substituir o "eu sou" pelo "eu escolhi ser assim até este momento"; o "não sou bom nisso" pelo "eu ainda não me dediquei o suficiente para me aprimorar nisto". Faça um registro dos seus rótulos pessoais e procure contestá-los. Você verá que não terá dificuldades para derrubar a validade da maioria deles. A desconstrução de crenças equivocadas tem um imenso poder libertador.

Quem é você? Em que termos você se descreveria? Desperte sua capacidade de mudança e transforme seu potencial pessoal na realidade de uma vida mais plena. Caso não se sinta capaz de libertar-se dos seus rótulos limitantes, um suporte profissional pode ser de grande valor para promover as mudanças desejadas.

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