Por Edwin Karrer
Sempre
achei intrigante a necessidade que as pessoas tem de se descreverem a partir de
esquemas predefinidos. É comum ouvirmos afirmações do tipo "Como boa
capricorniana, sou bem disciplinada e responsável"... "Sou explosivo,
pavio curto mesmo, por que o sangue italiano fala mais alto"... e assim
por diante.
Os
estereótipos são crenças socialmente compartilhadas sobre características
atribuídas a pessoas em função de determinados critérios, como idade, sexo,
religião, etnia, signo astrológico, etc. Como atalhos cognitivos, deveriam
facilitar nossa visão de mundo ao dispensar uma análise mais atenta de cada
caso individual. Na prática, levam a um conhecimento distorcido da realidade,
também estimulando preconceito e discriminação. Além dos potenciais danos sociais
do uso de estereótipos, pode haver também a assimilação individual destas
crenças pelo sujeito em relação a si mesmo, causando uma espécie de prisão
psicológica.
No
processo de construção de nós mesmos, vamos colecionando rótulos que tentam,
mediocremente, descrever quem nós somos. Grande parte das pessoas carrega um
fardo que vai abarrotando de autodefinições ao longo da vida. O fatalista
"eu sou" associa-se a uma série de complementações, frequentemente
autodepreciativas e limitantes, como: "eu sou desajeitada", "eu
sou preguiçoso", "eu sou tímido", "eu sou
antissocial", entre incontáveis possibilidades.
Parece
que a necessidade de conhecer-se induz a pessoa a formar uma imagem estática de
si mesma, algo estável a que se possa recorrer quando buscar intuitivamente
responder ao questionamento: "quem sou eu?". Acontece que quando
terminamos de nos perguntar isso, já não somos mais a mesma pessoa que éramos
antes do questionamento. Nossa constituição é dinâmica e mudamos a cada
instante de nossas vidas, por mais que se queira acreditar que há algo de
definitivo em ser o que se é. É claro que não nos tornamos uma pessoa
completamente diferente a cada instante, mas é fato que cada uma de nossas
vivências nos transforma, em algum nível e com alguma intensidade.
"Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e
nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois
outras águas e ainda outras sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas
acham repouso." (Heráclito)
Então,
podemos constatar que as autodefinições são, primeiramente, imprecisas pela
nossa natureza dinâmica. Mas há uma outra questão ainda mais importante, que é
o impacto que nossas crenças exercem sobre nós mesmos. Além de limitar nossas
potencialidades, como profecias autorrealizáveis, uma maneira distorcida de
pensar pode gerar estados de insatisfação, ansiedade, depressão e outras
condições estressantes.
A
atitude autolimitante segue o seguinte padrão de crenças: "Eu sou
assim", "Esse é o meu jeito", "Sempre fui assim",
"Eu não levo jeito para isso", "Não posso evitar isso",
"Não vou mudar meu jeito", etc. Há muitas variações possíveis, mas
este padrão nocivo atua fortemente impedindo seu crescimento e travando as
mudanças positivas necessárias para uma vida de plenitude e satisfação.
"Desde que você me rotule, está me
negando." (Soren
Kierkegaard)
Basicamente,
as autodefinições possuem duas origens distintas. A primeira e mais ativa fonte
está nos rótulos que recebemos (sobretudo nas primeiras fases da vida) de
outras pessoas, especialmente das mais significativas, como familiares,
professores e amigos.
A
segunda fonte de autodefinições está na autorrotulação para manutenção de uma
zona de conforto, visando evitar o esforço necessário para uma mudança,
livrar-se de atividades desagradáveis ou justificar um desempenho ruim quando
se teme fracassar. Um "eu não sou bom nisso" pode parecer libertador
em um primeiro momento, mas equivale a acorrentar-se no chão ao invés de
levantar voo.
"O conformismo é o carcereiro da liberdade e o
inimigo do crescimento." (John
Kennedy)
Libertar-se
dos rótulos limitantes envolve deixar o passado para trás e assumir riscos,
saindo da zona de conforto. Em grande medida, nós somos o que, consciente ou inconscientemente,
escolhemos ser. Assim, uma importante estratégia para lidar com este sistema de
restrição pessoal inclui a tomada de consciência dos pensamentos automáticos
que representam suas crenças em relação às suas capacidades pessoais e a internalização
da responsabilidade sobre sua própria vida.
Comece
a substituir o "eu sou" pelo "eu escolhi ser assim até este
momento"; o "não sou bom nisso" pelo "eu ainda não me
dediquei o suficiente para me aprimorar nisto". Faça um registro dos seus
rótulos pessoais e procure contestá-los. Você verá que não terá dificuldades
para derrubar a validade da maioria deles. A desconstrução de crenças
equivocadas tem um imenso poder libertador.
Quem
é você? Em que termos você se descreveria? Desperte sua capacidade de mudança e
transforme seu potencial pessoal na realidade de uma vida mais plena. Caso não
se sinta capaz de libertar-se dos seus rótulos limitantes, um suporte
profissional pode ser de grande valor para promover as mudanças desejadas.
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