Seguidores

terça-feira, 16 de outubro de 2012

As Forças Invisíveis V

Por Jeff Alves
O médium nos parecerá mais digno de ser lamentado do que encorajado se não for cuidadoso e dirigido por algum iniciado de ordem elevada e de alta ciência capaz de o afastar das influências nefastas que ameaçam a passividade enquanto ele não tiver uma espiritualidade bastante desenvolvida para escapar sozinho das influências inferiores. Só então, e somente aí, poderá ser de alguma utilidade para suprir a insuficiência dos iniciados; mas suas explorações do invisível pedirão sempre para serem comentadas. No seu mais alto grau de pureza ele se tornará um profeta. Mas não devemos nos esquecer de que a profecia é um dom absolutamente espontâneo e acidental do universo: seu exercício regular não pode ser esperado.

Rendamos homenagens aos médiuns espíritas reconhecendo não somente a boa fé, mas a pureza moral e o devotamento da maioria deles. Se o amor próprio ou alguma ambição entra às vezes nos móveis que determinam seu começo, acontece sempre aos mais notáveis experimentar em seguida muitas fadigas, aborrecimentos e repulsas do que encorajamento no exercício de suas faculdades.

Fora dessas condições de alta moralidade sobre a qual acabamos de falar não podemos ter nenhuma certeza das visões, discursos e mesmo as aparições que nos aconteçam pela mediunidade. Sabemos muito bem que elas podem ser o produto de simples alucinações ou expressões desses desejos insatisfeitos (elementais Kama-manasiques) que flutuam ao redor de nós ou a manifestação de alguma pobre alma encerrada pelo dragão do fogo na atmosfera astral. O médium pode nos dar ainda as inspirações inconscientes de seu próprio espírito emitidas pela alma espiritual e o órgão magnético através da palavra, da escrita ou da mímica.

Sabemos também que os pensamentos, os desejos da mesma espécie ao se multiplicarem ajuntam-se num corpo poderoso para formar uma personalidade forte e bem determinada; produzem então sobre a alma astral dos nossos médiuns o quadro realizado daquilo que, na atmosfera etérea, não passa de um potencial efêmero. Assim é que as épocas confusas como a nossa, de vagas ansiedade públicas, de múltiplas aspirações, podem ser fecundas em falsas profecias, expressões de medo e de vozes variadas da alma nacional. O Evangelho nos diz que elas precedem os tempos da alta espiritualidade. Mas que só são anunciados pelo desejo das criaturas que os pressentem e não pela inspiração direta do Universal divino, que nos traz com as profecias reais a benção das esperanças supremas.

Devemos mostrar a mesma reserva pelos acontecimentos hipnóticos e magnéticos que só tem como fim a utilidade dos nossos semelhantes. Nesta ordem, a experiência justificada pela ciência também pede uma prudência e um humanismo extremo; o estado intelectual da nossa época pode apenas desculpá-la.

Quanto à magia cerimonial e ao naturalismo podemos apenas condená-los por causa de sua inutilidade e pelos perigos formidáveis que representam e o estado de alma que aparentam. Mas notemos bem os limites dessa condenação; ela não atinge o emprego de recursos mágicos (pentáculos, correspondências) pelo iniciado de grau elevado: cooperador e mandatário da vontade divina que observa as leis universais e no interesse universal. Sua operação é a teurgia e não a magia cerimonial. Percebe-se nesta última denominação a operação onde a vontade humana e a inteligência humana agem sozinhas sem o concurso divino. Trata-se da distinção que a história fez entre Moisés e os magos do faraó, e mais claramente ainda entre São Paulo e Simão, o Mago, quando este último lhe pede para vender o segredo de seu poder: mago em dez de mágico, ele teria sabido que o poder de um perfeito pode ser encontrado apenas pela santidade.

Resta-nos lembrar que os acontecimentos de alto magnetismo atrativo produzem a leitura de pensamentos. O automagnetismo, as faculdades espirituais de lucidez em plena consciência, ou o êxtase durante o sono magnético especial com o conhecimento direto. E ainda esta ação desejada sobre as forças naturais que tem na alquimia uma de suas manifestações mais conhecidas. Todos os prodígios desta ordem supõem um estado moral dos mais elevados e uma vontade pura, conforme já dissemos. Todos necessitam de espiritualidade, e diremos mais ainda, de santidade, de uma união mais íntima com o Universal e com a vontade divina. Assim vemos que a santidade mística, sozinha, sem nenhum exercício especial, já concede na maioria das vezes esses dons com os quais frequentemente concorre a vaidade do mágico: a lucidez, a leitura de pensamentos, o dom de curar, a ubiquidade, o êxtase e o conhecimento direto. O iniciado aprende a aperfeiçoá-los e nada mais. Mas o amor místico do divino lhe dá tudo isto por acréscimo.

É isto que nos diz o nosso caro irmão Amo quando nos recomenda o amor como meio para uma elevação até a Unidade diretora de todas as forças do mundo! A razão nos aparecerá claramente se nos lembrarmos da origem e do fim do universo assim como nos mostra as belas teorias do sábio P. Leray.

Deus nos criou para que cumpríssemos nele a espiritualização do nada. Ajudados pelo seu socorro providencial até os confins do mundo onde a alma se agita nas sombras confusas do destino; de posse da liberdade; vendo a luz e a unidade para a qual todas as unidades se encaminham nos transportes do amor, teremos apenas uma finalidade: sairmos da fatalidade e, conosco, fazer sair o mundo etéreo que devemos levar além dos anéis do Dragão. E não temos mais do que um meio: cumprir através da nossa vontade a vontade divina.

Se a nossa fraqueza o permitir, a providência ajudará com os castigos e solicitações da vida comum que se passa ao abrigo das forças astrais. Aos mais corajosos ela oferece uma via mais rápida, mas também muito mais penosas: a tríplice vida mística no fim do qual estão armados os cavaleiros da milícia celeste, mestres dos poderes que este estado comporta: o manejo da força plástica do cosmo, do astral, em vista da cooperação com o Eterno.

Mas aos ambiciosos, aos imprudentes, aos perversos, a resposta mais doce que a providência pode dar é o relâmpago que os arranque de suas obras ímpias antes que tenham tido tempo de retardar ou de perder sua imortalidade.
  
 Retirado da obra : Tratado Elementar de Ciências Ocultas (Papus)
  

0 comentários:

Postar um comentário