Por Jeff Alves
O
médium nos parecerá mais digno de ser lamentado do que encorajado se não for
cuidadoso e dirigido por algum iniciado de ordem elevada e de alta ciência
capaz de o afastar das influências nefastas que ameaçam a passividade enquanto
ele não tiver uma espiritualidade bastante desenvolvida para escapar sozinho
das influências inferiores. Só então, e somente aí, poderá ser de alguma
utilidade para suprir a insuficiência dos iniciados; mas suas explorações do
invisível pedirão sempre para serem comentadas. No seu mais alto grau de pureza
ele se tornará um profeta. Mas não devemos nos esquecer de que a profecia é um
dom absolutamente espontâneo e acidental do universo: seu exercício regular não
pode ser esperado.
Rendamos
homenagens aos médiuns espíritas reconhecendo não somente a boa fé, mas a
pureza moral e o devotamento da maioria deles. Se o amor próprio ou alguma
ambição entra às vezes nos móveis que determinam seu começo, acontece sempre
aos mais notáveis experimentar em seguida muitas fadigas, aborrecimentos e
repulsas do que encorajamento no exercício de suas faculdades.
Fora
dessas condições de alta moralidade sobre a qual acabamos de falar não podemos
ter nenhuma certeza das visões, discursos e mesmo as aparições que nos
aconteçam pela mediunidade. Sabemos muito bem que elas podem ser o produto de
simples alucinações ou expressões desses desejos insatisfeitos (elementais
Kama-manasiques) que flutuam ao redor de nós ou a manifestação de alguma pobre
alma encerrada pelo dragão do fogo na atmosfera astral. O médium pode nos dar
ainda as inspirações inconscientes de seu próprio espírito emitidas pela alma
espiritual e o órgão magnético através da palavra, da escrita ou da mímica.
Sabemos
também que os pensamentos, os desejos da mesma espécie ao se multiplicarem
ajuntam-se num corpo poderoso para formar uma personalidade forte e bem
determinada; produzem então sobre a alma astral dos nossos médiuns o quadro
realizado daquilo que, na atmosfera etérea, não passa de um potencial efêmero.
Assim é que as épocas confusas como a nossa, de vagas ansiedade públicas, de
múltiplas aspirações, podem ser fecundas em falsas profecias, expressões de
medo e de vozes variadas da alma nacional. O Evangelho nos diz que elas
precedem os tempos da alta espiritualidade. Mas que só são anunciados pelo
desejo das criaturas que os pressentem e não pela inspiração direta do
Universal divino, que nos traz com as profecias reais a benção das esperanças
supremas.
Devemos
mostrar a mesma reserva pelos acontecimentos hipnóticos e magnéticos que só tem
como fim a utilidade dos nossos semelhantes. Nesta ordem, a experiência
justificada pela ciência também pede uma prudência e um humanismo extremo; o
estado intelectual da nossa época pode apenas desculpá-la.
Quanto
à magia cerimonial e ao naturalismo podemos apenas condená-los por causa de sua
inutilidade e pelos perigos formidáveis que representam e o estado de alma que
aparentam. Mas notemos bem os limites dessa condenação; ela não atinge o
emprego de recursos mágicos (pentáculos, correspondências) pelo iniciado de
grau elevado: cooperador e mandatário da vontade divina que observa as leis
universais e no interesse universal. Sua operação é a teurgia e não a magia
cerimonial. Percebe-se nesta última denominação a operação onde a vontade humana
e a inteligência humana agem sozinhas sem o concurso divino. Trata-se da
distinção que a história fez entre Moisés e os magos do faraó, e mais
claramente ainda entre São Paulo e Simão, o Mago, quando este último lhe pede
para vender o segredo de seu poder: mago em dez de mágico, ele teria sabido que
o poder de um perfeito pode ser encontrado apenas pela santidade.
Resta-nos
lembrar que os acontecimentos de alto magnetismo atrativo produzem a leitura de
pensamentos. O automagnetismo, as faculdades espirituais de lucidez em plena
consciência, ou o êxtase durante o sono magnético especial com o conhecimento
direto. E ainda esta ação desejada sobre as forças naturais que tem na alquimia
uma de suas manifestações mais conhecidas. Todos os prodígios desta ordem supõem
um estado moral dos mais elevados e uma vontade pura, conforme já dissemos.
Todos necessitam de espiritualidade, e diremos mais ainda, de santidade, de uma
união mais íntima com o Universal e com a vontade divina. Assim vemos que a
santidade mística, sozinha, sem nenhum exercício especial, já concede na
maioria das vezes esses dons com os quais frequentemente concorre a vaidade do
mágico: a lucidez, a leitura de pensamentos, o dom de curar, a ubiquidade, o
êxtase e o conhecimento direto. O iniciado aprende a aperfeiçoá-los e nada
mais. Mas o amor místico do divino lhe dá tudo isto por acréscimo.
É
isto que nos diz o nosso caro irmão Amo quando nos recomenda o amor como meio
para uma elevação até a Unidade diretora de todas as forças do mundo! A razão
nos aparecerá claramente se nos lembrarmos da origem e do fim do universo assim
como nos mostra as belas teorias do sábio P. Leray.
Deus
nos criou para que cumpríssemos nele a espiritualização do nada. Ajudados pelo
seu socorro providencial até os confins do mundo onde a alma se agita nas
sombras confusas do destino; de posse da liberdade; vendo a luz e a unidade
para a qual todas as unidades se encaminham nos transportes do amor, teremos
apenas uma finalidade: sairmos da fatalidade e, conosco, fazer sair o mundo
etéreo que devemos levar além dos anéis do Dragão. E não temos mais do que um
meio: cumprir através da nossa vontade a vontade divina.
Se
a nossa fraqueza o permitir, a providência ajudará com os castigos e
solicitações da vida comum que se passa ao abrigo das forças astrais. Aos mais
corajosos ela oferece uma via mais rápida, mas também muito mais penosas: a
tríplice vida mística no fim do qual estão armados os cavaleiros da milícia
celeste, mestres dos poderes que este estado comporta: o manejo da força
plástica do cosmo, do astral, em vista da cooperação com o Eterno.
Mas
aos ambiciosos, aos imprudentes, aos perversos, a resposta mais doce que a
providência pode dar é o relâmpago que os arranque de suas obras ímpias antes
que tenham tido tempo de retardar ou de perder sua imortalidade.
Retirado da obra : Tratado Elementar de
Ciências Ocultas (Papus)
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