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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Eu Não Sei Mentir Direito

Esse texto me lembrou duas coisas: a primeira é que eu, como o autor, não consigo mentir de forma convincente e é por pura preguiça também. Mentir dá um trabalho enorme e prefiro a linha do menor esforço e falar sempre a verdade para não ter que ficar me lembrando do que eu disse antes para não alimentar a bola de neve em que às vezes uma mentirinha se transforma. A segunda coisa que me lembrou é de uma música do grupo Rappa que versa sobre o tema e cuja letra e melodia seguem abaixo. Acho que eu tenho algum defeito: eu também não sei mentir direito...

Verdadeiro Preguiçoso
Por Igor Teo
Eu nunca consegui lidar muito bem com esse lance de segredos e tal, principalmente quando esses segredos vem acompanhados de mentiras. Parece quem tem algo me incomodando ou que ta escrito na minha testa. E fica difícil esconder quando se é questionado sobre o assunto, vem uma angústia aí tenho que criar uma história e por mais que eu pense em todos os detalhes sempre as pessoas fazem perguntas que eu não espero =S. E eu me embanano todo na hora de responder, fico sem graça, olho para baixo... e já era a pessoa já sabe que estou escondendo a verdade. E os olhares se cruzam e não tem como voltar atrás... já que está tudo perdido mesmo tenho que falar.

E por isso que eu conto a verdade e as vezes é por preguiça mesmo rsrs.

Ah esse lance mentir da muito trabalho. Primeiro você tem inventar a historia que seja a menos distorcida possível da verdade, prever o que fazer quando as pessoas descobrirem, relacionar as possíveis perguntas, estabelecer com as testemunhas uma única versão do fato, e conviver com aquele eterno peso na alma toda vez que olhar para a pessoa enganada (a pior parte) ou se preferir você desabafar de alguém e ficar sujeito a chantagem o resto da vida. E quando as histórias são muito bem contadas? Aí sim as pessoas ficam com uma pulga atrás da orelha, histórias muito bem contadas cheinhas de detalhes geram mais desconfiança do que desculpas esfarrapadas ;D.

A rotina já é tão corrida, nós temos que nos preocupar com tantas coisas e agregar essa função de esconder as verdades trás muito desgaste. Afinal, é bem mais fácil conta a verdade por que além da sua segurança se a outra pessoa acredita ou não problema dela. A verdade é assim pronto e acabou! Os fatos vem de forma natural na mente, você vai conseguir estabelecer relações mais confiáveis por que ninguém vai ter o pé atrás contigo.

E eu acho que sou um verdadeiro preguiçoso kkk falo a verdade por preguiça e inabilidade de mentir, mas até agora essa preguiça não me tem feito mal muito pelo contrario.

Eu recomendo sejam preguiçosos falem a verdade tenham preguiça de distorce-la! Que esse tipo de pecado Deus deve perdoar... =D
Namaste!

***

Eu Não Sei Mentir Direito
(O Rappa)

No pais do futebol
eu nunca joguei bem
Poderia ser um sintoma
mas meu jogo de cintura
se manifestou de outro jeito
É que eu não sei mentir
Eu tento, eu tento
mas muitas vezes
tudo acaba em gargalhada
Eu me entrego no olhar
gaguejo, espero pra ver se colou
é sempre fácil perceber
que eu não sei mentir
é sempre fácil perceber
que eu não sei mentir direito

Eu não sei mentir direito, não
Eu não sei mentir direito

Até que um dia uma pessoa me falou
que a minha falta de malicia
era o negativo de uma mesma foto
avesso esperto da malandragem
que se manifestava
naturalmente difícil
Que se manifestava
naturalmente dificil
Ele disse que sou confuso
mas sou claro
E é por isso que eu cheguei inteiro
até aqui
Justamente eu, justamente eu
Justamente eu que não sei mentir direito



Vídeo do Youtube


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Que os Professores Realmente Querem Dizer aos Pais

Por Ron Clark, Especial para CNN
(CNN) - Neste verão, eu conheci uma diretora que foi nomeada recentemente como a administradora do ano em seu estado. Ela era amada e adorada por todos, mas ela me disse que estava deixando a profissão.

Eu gritei: "Você não pode nos deixar", e ela respondeu incisivamente: "Olha, se eu receber uma oferta para liderar um sistema escolar de órfãos, vou me dedicar a ele, mas eu simplesmente não posso lidar mais com os pais, eles estão nos matando".

Infelizmente, esse sentimento parece estar se tornando cada mais prevalente. Hoje, novos professores permanecem em nossa profissão uma média de apenas 4,5 anos, e muitos deles listam "problemas com os pais" como uma das suas razões para jogar a toalha. A palavra está se espalhando, e quanto mais negatividade os professores recebem dos pais, mais difícil se torna recrutar o que há de melhor e mais brilhante fora das faculdades.

Então, o que podemos fazer para deter a maré? O que os professores realmente precisam que os pais entendam?

Para começar, somos educadores, não babás. Somos profissionais educados que trabalham com crianças todos os dias e frequentemente vemos o seu filho em uma luz diferente da de vocês. Se nós lhe dermos um conselho, não lute contra ele. Tome-o, e digira-o da mesma forma que você consideraria o conselho de um médico ou advogado. Eu me acostumei a alguns pais que simplesmente não querem ouvir nada negativo sobre seu filho, mas às vezes se você está disposto a aceitar um conselho de alerta do fundo do coração no começo, ele pode ajudá-lo a eliminar uma questão que poderia se tornar muito maior no futuro.

Confie em nós. Às vezes quando eu digo aos pais que seu filho tem sido um problema de comportamento, quase posso ver os cabelos subir em suas costas. Eles estão prontos para lutar e defender seus filhos, e isso é cansativo. Um dos meus maiores aborrecimentos é quando eu digo a u'a mãe uma coisa que seu filho fez e ela se vira, olha para ele e pergunta: "Isso é verdade?" Bem, é claro que é verdade. Eu acabei de lhe dizer. E por favor não pergunte se um colega de classe pode confirmar o que aconteceu ou se outro professor poderia estar presente. Isto só humilha professores e enfraquece a parceria entre professor e pai.

Por favor, acabe com todas as desculpas.
E se você realmente quer ajudar seus filhos a serem bem sucedidos, pare de inventar desculpas para eles. Eu estava conversando com u'a mãe e seu filho sobre suas tarefas de leitura de verão. Ele me disse que não tinha começado, e eu o fiz saber que eu estava extremamente desapontado, porque as aulas começam em duas semanas.

Sua mãe entrou na conversa e disse-me que tinha sido um verão horrível para eles por causa de questões familiares por que haviam passado em julho. Eu disse que sentia muito, mas eu não podia deixar de salientar que as tarefas foram dadas em maio. Ela rapidamente acrescentou que ela estava permitindo que seu filho tivesse algum "tempo de diversão" durante o verão antes de voltar a trabalhar em julho e que não era culpa dele o trabalho não estar completo.

Você pode sentir minha dor?

Alguns pais vão dar desculpas, independentemente da situação, e eles estão criando filhos que vão se transformar em adultos que se viram para desculpas e não criar uma forte ética de trabalho. Se você não quer que seu filho chegue aos 25 e desempregado, sentado em seu sofá comendo batatas fritas, então pare de inventar desculpas para por que eles não estão tendo sucesso. Em vez disso, se concentre em encontrar soluções.

Pais, sejam um parceiro, em vez de um advogado de acusação
E pais, saibam de uma coisa, está tudo bem para o seu filho ficar em apuros, às vezes. Forma o caráter e ensina lições de vida. Como professores, estamos atormentados por aqueles pais que estão no caminho dessas lições; nós os chamamos de pais helicóptero porque querem apanhar e salvar seu filho toda vez que algo der errado. Se dermos a uma criança um 79 em um projeto, então é isso que a criança merece. Não agende para se encontrar comigo para negociar crédito extra para um 80. É um 79, independentemente de se você acha que deveria ser um B+.

Isto pode ser difícil de aceitar, mas você não deve presumir que só porque o seu filho tira A's seguidos ele / ela está recebendo uma boa educação. A verdade é que muitas vezes são os maus professores que dão as notas mais fáceis, porque eles sabem que dando boas notas todos vão deixá-los em paz. Os pais vão dizer: "Meu filho tem um grande professor! Ele tirou A em todas as matérias este ano!" Uau.
Vamos agora. Com toda a honestidade, são geralmente os melhores professores que estÒSF(u mais baixas, porque eles estão levantando expectativas. No entanto, quando seus filhos recebem notas baixas você quer reclamar e tomar a dianteira até o gabinete do diretor.

Por favor, dê um passo para trás e dê uma boa olhada na paisagem. Antes de desafiar essas notas baixas que você sente que o professor "deu" para o seu filho, talvez você tenha que perceber que o seu filho "ganhou" estas notas e que o professor de que você está se queixando é na verdade o que está fornecendo a melhor educação.

E por favor, seja um parceiro, em vez de um advogado de acusação. Eu tive uma criança trapaceando em um teste, e seus pais ameaçaram chamar um advogado, porque eu estava chamando-o um criminoso. Eu sei que parece loucura, mas diretores de todo o país estão me dizendo que cada vez mais advogados estão acompanhando os pais para as reuniões da escola para lidar com seus filhos.

Professores pisando em ovos
Eu me sinto muito triste por administradores e professores nos dias de hoje, cujas mãos estão completamente amarradas. De muitas maneiras, nós vivemos com medo do que vai acontecer a seguir. Nós pisamos em ovos em um sistema de educação que foi por água abaixo onde falta aos professores a coragem de serem honestos e falarem o que pensam. Se eles fazem um pequeno erro, ele pode se tornar um grande desastre.

Minha mãe me disse uma criança em uma escola local escreveu em seu rosto com um marca-texto. A professora tentou limpá-lo com uma toalha, e isso deixou uma marca vermelha no lado do rosto do menino. A mãe chamou a mídia e a professora perdeu o emprego. Minha mãe, minha própria mãe, disse: "Dá pra acreditar que essa mulher fez isso?"

Eu me senti atingido no intestino. Sinceramente, eu provavelmente teria tentado tirar a marca também. Pensar que poderíamos perder nossos empregos com algo tão pequeno é assustador. Por que alguém iria querer entrar na nossa profissão? Se os nossos professores continuam a sentir-se ameaçados e com medo, você vai roubar nossas escolas dos nossos melhores educadores e algemar os nossos esforços para recrutar excelentes educadores amanhã.

Finalmente, lide com situações negativas de uma maneira profissional.
Se o seu filho disse que alguma coisa aconteceu na sala de aula que lhe diz respeito, peça para se encontrar com o professor e aborde a situação dizendo: "Eu queria que você soubesse uma coisa que meu filho disse que teve lugar na sua classe, porque eu sei que as crianças podem exagerar e que há sempre dois lados em toda história. Eu estava esperando que você pudesse lançar alguma luz para mim." Se você não está feliz com o resultado, então leve as suas preocupações ao diretor, mas acima de tudo, nunca fale negativamente de um professor na frente de seu filho. Se ele sabe que você não o respeita, ele também não vai respeitar, e isso levará a uma série de novos problemas.

Nós sabemos que você ama seus filhos. Nós os amamos também. Nós só pedimos - e imploramos a você - que confiar em nós, nos apoie e trabalhe com o sistema, e não contra ele. Precisamos de você para ter nosso apoio, e precisamos que você nos dê o respeito que merecemos. Nos levante e faça que nos sintamos apreciados, e iremos trabalhar ainda mais para dar ao seu filho a melhor educação possível.
Esta é a promessa de um professor, de mim para você.

Nota do editor:
Ron Clark, autor de "The End of Molasses Classes: Getting Our Kids Unstuck -- 101 Extraordinary Solutions for Parents and Teachers" (O Fim da Aulas Melaço: Liberando Nossos Filhos - 101 Soluções Extraordinárias para Pais e Professores), foi nomeado "Professor Americano do Ano" pela Disney e foi o escolhido de Oprah Winfrey como seu "Homem Fenomenal". Fundou a The Ron Clark Academy, que educadores de todo o mundo visitaram para aprender.

Fonte: GOULART, Nathalia. Professores são educadores, não babás. (entrevista a Ron Clark) Veja, 09 de dezembro de 2011.
Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/pais-e-professores>. Acesso em 22 de dezembro de 2011.)
Original em inglês: "What teachers really want to tell parents" -http://edition.cnn.com/2011/09/06/living/teachers-want-to-tell-parents/index.html
Tradução: Walter Nunes Braz Júnior

domingo, 28 de outubro de 2012

O Perigo das Autodefinições

Por Edwin Karrer
Sempre achei intrigante a necessidade que as pessoas tem de se descreverem a partir de esquemas predefinidos. É comum ouvirmos afirmações do tipo "Como boa capricorniana, sou bem disciplinada e responsável"... "Sou explosivo, pavio curto mesmo, por que o sangue italiano fala mais alto"... e assim por diante.

Os estereótipos são crenças socialmente compartilhadas sobre características atribuídas a pessoas em função de determinados critérios, como idade, sexo, religião, etnia, signo astrológico, etc. Como atalhos cognitivos, deveriam facilitar nossa visão de mundo ao dispensar uma análise mais atenta de cada caso individual. Na prática, levam a um conhecimento distorcido da realidade, também estimulando preconceito e discriminação. Além dos potenciais danos sociais do uso de estereótipos, pode haver também a assimilação individual destas crenças pelo sujeito em relação a si mesmo, causando uma espécie de prisão psicológica.

No processo de construção de nós mesmos, vamos colecionando rótulos que tentam, mediocremente, descrever quem nós somos. Grande parte das pessoas carrega um fardo que vai abarrotando de autodefinições ao longo da vida. O fatalista "eu sou" associa-se a uma série de complementações, frequentemente autodepreciativas e limitantes, como: "eu sou desajeitada", "eu sou preguiçoso", "eu sou tímido", "eu sou antissocial", entre incontáveis possibilidades.

Parece que a necessidade de conhecer-se induz a pessoa a formar uma imagem estática de si mesma, algo estável a que se possa recorrer quando buscar intuitivamente responder ao questionamento: "quem sou eu?". Acontece que quando terminamos de nos perguntar isso, já não somos mais a mesma pessoa que éramos antes do questionamento. Nossa constituição é dinâmica e mudamos a cada instante de nossas vidas, por mais que se queira acreditar que há algo de definitivo em ser o que se é. É claro que não nos tornamos uma pessoa completamente diferente a cada instante, mas é fato que cada uma de nossas vivências nos transforma, em algum nível e com alguma intensidade.


"Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas acham repouso." (Heráclito)


Então, podemos constatar que as autodefinições são, primeiramente, imprecisas pela nossa natureza dinâmica. Mas há uma outra questão ainda mais importante, que é o impacto que nossas crenças exercem sobre nós mesmos. Além de limitar nossas potencialidades, como profecias autorrealizáveis, uma maneira distorcida de pensar pode gerar estados de insatisfação, ansiedade, depressão e outras condições estressantes.

A atitude autolimitante segue o seguinte padrão de crenças: "Eu sou assim", "Esse é o meu jeito", "Sempre fui assim", "Eu não levo jeito para isso", "Não posso evitar isso", "Não vou mudar meu jeito", etc. Há muitas variações possíveis, mas este padrão nocivo atua fortemente impedindo seu crescimento e travando as mudanças positivas necessárias para uma vida de plenitude e satisfação.


"Desde que você me rotule, está me negando." (Soren Kierkegaard)


Basicamente, as autodefinições possuem duas origens distintas. A primeira e mais ativa fonte está nos rótulos que recebemos (sobretudo nas primeiras fases da vida) de outras pessoas, especialmente das mais significativas, como familiares, professores e amigos.

A segunda fonte de autodefinições está na autorrotulação para manutenção de uma zona de conforto, visando evitar o esforço necessário para uma mudança, livrar-se de atividades desagradáveis ou justificar um desempenho ruim quando se teme fracassar. Um "eu não sou bom nisso" pode parecer libertador em um primeiro momento, mas equivale a acorrentar-se no chão ao invés de levantar voo.


"O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento." (John Kennedy)


Libertar-se dos rótulos limitantes envolve deixar o passado para trás e assumir riscos, saindo da zona de conforto. Em grande medida, nós somos o que, consciente ou inconscientemente, escolhemos ser. Assim, uma importante estratégia para lidar com este sistema de restrição pessoal inclui a tomada de consciência dos pensamentos automáticos que representam suas crenças em relação às suas capacidades pessoais e a internalização da responsabilidade sobre sua própria vida.

Comece a substituir o "eu sou" pelo "eu escolhi ser assim até este momento"; o "não sou bom nisso" pelo "eu ainda não me dediquei o suficiente para me aprimorar nisto". Faça um registro dos seus rótulos pessoais e procure contestá-los. Você verá que não terá dificuldades para derrubar a validade da maioria deles. A desconstrução de crenças equivocadas tem um imenso poder libertador.

Quem é você? Em que termos você se descreveria? Desperte sua capacidade de mudança e transforme seu potencial pessoal na realidade de uma vida mais plena. Caso não se sinta capaz de libertar-se dos seus rótulos limitantes, um suporte profissional pode ser de grande valor para promover as mudanças desejadas.

sábado, 27 de outubro de 2012

A culpa é deles(as)!

 Por Emerson Luiz
É do cara que não chega no horário, é do emprego que está longe, é da vida que não é fácil. É do Mundo “de provas e expiações”, é do Carma, é do Sistema Capitalista (ou Comunista, dependendo de onde você encarnara). É da Hora que não passa, é do Tempo que corre sem se importar comigo (ou contigo). É dos pássaros que não cantam o tanto quanto deveriam, ou que cantam demais. É dos dias cinzentos ou chuvosos, é dos dias ensolarados demais, é do complexo hormonal, é da notícia triste de todos os dias. É da miséria alheia, do negativismo alheio, dos problemas alheios, da alienação, também, alheia. É da Política, é dos Políticos, é dos Corruptos, é dos Poderosos.

É do trem que se atrasa, do ônibus que não chega e, quando chega, chega lotado (assim como o trem). É do outro, sempre é do outro: Da má educação, da impaciência, da falta de atenção, do egoísmo, da imoralidade, da promiscuidade, da gula, da ganância… Do outro. Todos são culpados, mas ninguém tem a culpa. Afinal, mesmo que eu cometa as mais profundas atrocidades ou machuque profundamente aqueles que eu mais amo, ainda assim, a culpa será de alguém, ou alguma coisa, que não eu.

Pois, caso eu assumisse que sou responsável por mim mesmo, muita coisa teria que mudar e, talvez, minha culpa não coubesse mais em um copo de cerveja, num maço de cigarro, num pacote de salgadinho ou numa barra de chocolate. Caso eu viesse a entender que todo direito compreende um dever e que ter uma alma é muita responsabilidade, talvez e somente talvez, quando começassem a reclamar perto de mim eu diria algo positivo, ou quando alguém próximo jogasse um pedaço de papel no chão, eu faria alguma coisa (quem sabe pegar o papel e jogar no cesto?).

Caso eu viesse a entender a Sabedoria milenar que diz “Vós sois deuses” ou então “Podeis fazer o que faço e muito mais”, ou até mesmo a que diz “Todo homem e toda mulher é uma estrela”, eu teria que me assumir de uma vez por todas. Mas pra que ser um deus? Ou pra que ser uma estrela? Pra que fazer mais? Deuses precisam viver e deixar legados, exemplos, marcos e inspirações; Homens só precisam existir, é muito mais fácil. Estrelas tem que gerar seu próprio calor, tem que emanar Luz aos outros e aprenderem à conhecer as trevas que coexistem ao seu redor; É muito mais simples refletir a Luz alheia e, claro, reclamar quando ela estiver intensa demais ou amena demais, afinal, a culpa é dela. Fazer mais não é preciso, porque existir já é cansativo, imagina viver?

Para terminar, eu prefiro ser normal, pois a normalidade é inquestionável, seguir roteiros é muito mais simples. Os loucos? Eu tenho medo deles, eles questionam o que vivem e sempre querem fazer de suas vidas alguma coisa brilhante, divertida, querem escrever suas próprias histórias: Por isso são loucos e por isso o Mundo está essa porcaria, a culpa é deles… Eu poderia até querer ser um, mas a preguiça e a covardia que estão lá na primeira página do Roteiro simplesmente não deixam. A culpa é delas.

Texto publicado originalmente na coluna Espiritismo Sob a Luz do Universal, no blog Autoconhecimento & Liberdade

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Oração da Gratidão


Creio em Deus, o Grande arquiteto do Universo, em seu duplo aspecto de Pai e Mãe, e na Força Crística – o Amor Divino implantado no âmago de toda a humanidade.

Creio na Igreja Universal, que é invisível, e no Espírito Santo – O Divino Fogo Espiritual de Purificação e de Amor.

Creio, antes de unir-me ao espírito Universal, e compreender a ação da Lei Espiritual, que deve morrer em mim o ser inferior e que, emergindo o Ser Superior, devo nascer novamente. Creio, esclarecido pela grande Luz de Deus, latente em mim, que eu mesmo julgarei as minhas faltas e sofrerei a minha pena.

Creio no Deus de Amor, Pai-Mãe de toda a humanidade, na comunhão e trabalho conjunto dos Anjos e das almas redimidas.

Creio em minha Unidade com todos os reinos da natureza e na santidade de toda vida. Creio que pelo esforço contínuo chega-se ao Eterno e que, pela união com os Pais Divinos, os desejos e a infelicidade desaparecem.

Creio que se quiser a libertação dos renascimentos, devo cumprir a Lei, compreender a natureza do Fogo Celestial e alcançar a Sabedoria Oculta.

Esforçar-me-ei, com a ajuda de Deus, em ver o bem em tudo, em me abster de tudo aquilo que conduz ao efêmero, à vaidade, a impureza e ao apego ao poder terrestre.

Esforçar-me-ei em estar ao lado dos aflitos, em dar conselhos sinceros e impessoais a todos os que procuram a minha ajuda, e em dirigir pensamentos de paz aos que lutam e aos que sofrem.

Farei diariamente algum trabalho para Deus e obedecerei as leis da hospitalidade. Tentarei cumprir minhas tarefas cotidianas de bom grado, tão preparado quanto as circunstâncias me permitam.

Lembrar-me-ei de que sou o templo de Deus Vivo. Procurá-lo-ei interiormente, sabendo que no mais íntimo nasce o Radiante, o Senhor do passado e do futuro, o Senhor do infinito que, no entanto é sempre o mais próximo.

Esforçar-me-ei para que a minha mente não seja perturbada pelos assuntos do mundo, em não ser dominado por paixões e egoísmo. Em ser paciente no sofrimento, alimentando o contentamento e a gratidão.

Lembrar-me-ei que todas as épocas foram nutridas pela Majestade de Deus – a Essência Crística que impregna tudo – e que todas as raças foram chamadas a ouvir a voz de Deus, cada uma sob o aspecto e forma que mais lhe eram propícios.

Assim, com esses esclarecimentos, estarei em harmonia com tudo e poderei reverenciar a Deus, em qualquer tempo e lugar, sob qualquer aspecto que O encontrar. Amém.

I-Em-Hotep

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Forjado no Fogo

Fernando teve uma juventude cheia de excessos, decidiu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos, trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas apesar de toda a sua dedicação nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário; seus problemas e dívidas se acumulavam cada vez mais.

Uma bela tarde, um amigo que o visitava - e que se compadecia de sua situação difícil - comentou:

- É realmente muito estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas, apesar de toda sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.

Fernando, que era ferreiro, não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Mas então disse:

- Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espada. Você sabe como é feito? Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor superior a 50°, até que ela fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico vários golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo ela é mergulhada num balde de água fria, e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é suficiente.

Fernando deu uma longa pausa e continuou:

- Às vezes, o aço chega até minhas mãos e não consegue agüentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria termina por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada de minha ferraria.

Então Fernando concluiu:

- Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceito as marteladas que a vida me dá, e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é que Deus, não desista até que eu consiga me tornar o que o Senhor espera de mim.

E nós, será que estamos sendo como o aço, sendo temperados, para nos tornarmos melhores e úteis???

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Pietá





A Pieta (em português Piedade) de Michelangelo é talvez a Pietá mais conhecida e uma das mais famosas esculturas feitas pelo artista. Representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria. A fita que atravessa o peito da Virgem Maria traz a assinatura do autor, única que se conhece: MICHAEL ANGELUS. BONAROTUS. FLORENT. FACIEBA(T), ou seja, «Miguel Angelo Buonarotus de Florença fez.»



Fica na basílica de São Pedro, na primeira capela da alameda do lado direito. Desde que a estátua foi atacada em 1972, está protegida por um vidro a prova de bala. Tem 174 centímetros por 195 centímetros e é feita em mármore.

Em 21 de setembro de 1498 o cardeal francês Jean Bilhères de Lagraulas encomendou a Miguel Ângelo uma imagem da Virgem para a Capela dos Reis de França, para a antiga basílica de São Pedro.

Juntando capacidades criadoras geniais a uma técnica perfeita, o artista toscano criou então a sua mais acabada e famosa escultura: a Pietá. O tema vem da Europa do Norte, a dor de Maria sobre o corpo morto do filho, mas Michelangelo abandonou o realismo cruel típico do gênero em favor de uma visão idealizada.

Iniciara-se como artista ainda durante o Quatrocento, em Florença, onde trabalhou para os Médicis, mas a Pietá foi a sua primeira grande obra escultórica. Trata-se de um trabalho de admirável perfeição, organizado segundo um esquema em forma de pirâmide, um formato muito utilizado pelos pintores e escultores renascentistas.

Nesta obra delicada o artista encontrou a solução ideal para um problema que preocupara os escultores do Primeiro Renascimento: a colocação do Corpo de Jesus Cristo morto no regaço de Maria. Para isso alterou deliberadamente as proporções: o Cristo é menor que a Virgem, que é para dar a impressão de não esmagar a Mãe e mostrar que é seu Filho, para não “sair” do esquema triangular.

A Virgem Maria foi representada muito jovem e com uma nobre resignação: a expressão dolorosa do rosto é idealizada, contrastando com a angústia que tradicionalmente os artistas lhe imprimiam. Torna-se assim evidente a influência do “pathos” dos clássicos gregos. E o autor imaginou a juventude de Maria, objeções que erguem contra ele seus críticos, como sua expressão de sua pureza incorruptível.

A escultura foi esculpida para que os contempladores tivessem pena do Cristo sobre os braços da mãe. (...) "Obviamente, o ser humano tem dó do que é menor, pequeno, indefeso... Michelangelo sabia disso e tinha conhecimento em anatomia, pois a tíbia - osso localizado abaixo do joelho e considerado o segundo maior do corpo humano - de Maria é bem maior que a do Cristo", disse o pesquisador médico-doutor e professor aposentado Armando Bezerra de Natal – Rio Grande do Norte. Ainda segundo ele através de um osso, é possível estimar a estatura de uma pessoa e, pela tíbia, a virgem Maria de Michelangelo teria em torno de 2,1 metros.

O requinte e esmero da modelação e o tratamento da superfície do mármore, polido como um marfim, deram-lhe a reputação de uma das mais belas esculturas de todos os tempos. Importante como o autor conseguiu harmonizar a figura horizontal do Cristo, estendido sobre os joelhos da mãe, como que inserido entre suas amplas vestes, com a figura « vertical» de Maria.

Michelangelo tinha 23 anos. Em função da pouca idade, muitos não acreditaram que fosse o autor. Assim, por isso teria inscrito o nome na faixa que atravessa o peito de Maria.

Retirado e adaptado de:

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Medida de Todas as Coisas

Por Rafael Arrais
Desde que a pitonisa do templo de Apolo afirmou que Sócrates era o homem mais sábio da Grécia, ele se dedicou a procurar saber quem era realmente sábio, e quem se julgava sábio, mas não era. A suspeita de Sócrates era simples: ele mesmo não se julgava sábio, portanto se os deuses afirmavam que o era, a única explicação era a de que a sua parca sabedoria advinha do fato de reconhecer a própria ignorância. O mundo era muito vasto, e o grande sábio da Grécia era sábio exatamente por perceber que ainda havia muito por ser descoberto – não era possível julgar-se coisa alguma no ramo da sabedoria, ou pelo menos não no sentido de estarmos numa posição superior aos demais.

Era uma época privilegiada da civilização Grega, por todo o lado surgiam grandes pensadores e, como não poderia deixar de ser, diversas teorias diferentes que tentavam explicar o mundo. Talvez o pensamento mais revolucionário da época – para o bem ou para o mal – tenha sido o sofismo. Até o surgimento dos sofistas, a educação grega (paideia) não fazia distinções entre religião e cultura – estava profundamente enraizada na religiosidade. Mas eis que surge o sofismo, e com ela uma nova forma de se pensar a educação: não mais um conceito de formação moral, enraizado nos valores absolutos transmitidos pelos deuses, mas um método de conhecimento do mundo, de organização dos diversos “saberes”, relativo em seus valores morais, assim como cada grupo de homens e, em última instância, cada indivíduo, traz consigo a sua própria visão de mundo – sua própria moral, independente dos deuses.

Sócrates se dedicou a demolir os argumentos de cada sofista que passou por seu caminho em Atenas. Perante sua sabedoria enraizada em campos elevados, seus argumentos eram como bodes mancos incapazes de subir as encostas de uma colina… Ante a máxima de Protágoras, um dos grandes dentre a escola sofística – o homem é a medida de todas as coisas –, Sócrates sai-se com uma outra máxima, que segundo muitos lhe é amplamente superior – a medida de todas as coisas é Deus.

É muito fácil, hoje em dia, interpretar tais afirmações de forma superficial, e fora de seu contexto. Pode-se, dessa forma, até mesmo imaginar que Protágoras e os sofistas eram prepotentes e ateístas, enquanto que Sócrates era o grande sábio temente a Deus… Porém, ambos, tanto Sócrates quanto Protágoras, foram acusados de ateísmo. A diferença é que Protágoras fugiu para a Sicília, impondo-se um auto-exílio, enquanto que Sócrates preferiu aceitar a punição máxima da morte por ingestão de veneno, embora tenha lhe sido ofertada a opção do exílio…

Não se discute que Sócrates foi um homem muito mais sábio, nobre, e relevante para a história da cultura ocidental, do que Protágoras – ele obviamente o foi. Porém, não se deve julgar todos os sofistas apenas por aquilo que se mostra deles nos livros de Platão. Em realidade, aqueles não eram sofistas na real acepção de seu lema (humanistas em essência), do contrário seriam grandes amigos de Sócrates, e não aqueles que ele caça em meio às ruas de Atenas, ansioso por demonstrar-lhes os equívocos de suas “suposições do grande saber”.

Com o sofismo surgiram os primeiros pedagogos e os primeiros advogados de que se tem notícia na história. Tratavam-se de homens que dedicavam a vida a estudar o conjunto dos conhecimentos e saberes, e então vendiam seus ensinamentos aos homens abastados, particularmente aqueles que se interessavam pela oratória ou pela política. Ora, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos, mais consta que sobrevivia do auxílio de seus discípulos. Pode-se então imaginar Sócrates como um “mendigo sábio”, e os sofistas como enganadores e quem sabe até ladrões… Mas em realidade todos tiveram seu devido papel na história.

É sabido que Sócrates não confiava muito na “sabedoria escrita”. Acreditava que os discursos escritos não tinham como defender a si próprios da argumentação alheia, eram demasiadamente estáticos e, portanto, impróprios para uma reflexão aprofundada do Cosmos. Ora, é claro que Sócrates tinha razão, mas o problema é que o mundo vinha já crescendo, e os conhecimentos humanos com ele; Também se fazia necessária à devida “catalogação” dos saberes, a organização dos processos de ensino, enfim, o surgimento da pedagogia.

Se hoje existem mestrados, doutorados e áreas de especialização nas mais diversas disciplinas, não se enganem: também devemos isso aos sofistas, e bem mais do que a Sócrates. Entretanto, a questão parece estar em não abandonar a sabedoria, em não esquecer da espiritualidade, nos afogando em meio à pura racionalidade dos sistemas de conhecimento humanos. No fundo, Sócrates também tinha razão numa coisa: existem coisas que os livros jamais poderão nos ensinar.

Sim, o homem pode mesmo ser a medida de todas as coisas, mas tão somente no sentido de que é o homem quem interpreta todas as coisas, e é através dele que elas são efetivamente medidas. Mas sabemos que no mundo existem muitas e muitas coisas que estão além da medida, que não se equacionam, e que tampouco puderam nalgum dia serem medidas. Coisas como o amor, a ética e a poesia parecem pertencer a um outro reino, muito no alto das montanhas, além de nossa capacidade de catalogação – eis as coisas que residem no mundo das idéias, na terra da essência e não da transitoriedade. As coisas medidas por Deus.

O homem, porém, está no mundo, vive no mundo, lida com o mundo. Se ele consegue perceber a essência divina das coisas, da mesma forma parece conseguir organizar o próprio conhecimento dessa percepção, e medir o infinito por sua própria medida – humana!

Existem, portanto, essas duas lentes para se enxergar o Cosmos: uma lente que enxerga os sentidos e essências e outra lente capaz de observar os mecanismos e conhecimentos. Para muitos seres a vida sem a primeira lente pode ser insuportável e cinzenta; Mas há ainda outros que parecem ignorar a falta desta primeira lente por completo, e se dedicar apenas a uma imensa “catalogação” das cores do Cosmos. Seja como for, embora a segunda lente se faça até mesmo mais necessária quando consideramos uma vida em sociedades de conhecimento, o ideal me parece ser podermos contar com ambas. Contar com o humanismo dos sofistas e a espiritualidade dos sábios – ver tudo o que há para ver na imensidão infinita. E medir…

terça-feira, 16 de outubro de 2012

As Forças Invisíveis V

Por Jeff Alves
O médium nos parecerá mais digno de ser lamentado do que encorajado se não for cuidadoso e dirigido por algum iniciado de ordem elevada e de alta ciência capaz de o afastar das influências nefastas que ameaçam a passividade enquanto ele não tiver uma espiritualidade bastante desenvolvida para escapar sozinho das influências inferiores. Só então, e somente aí, poderá ser de alguma utilidade para suprir a insuficiência dos iniciados; mas suas explorações do invisível pedirão sempre para serem comentadas. No seu mais alto grau de pureza ele se tornará um profeta. Mas não devemos nos esquecer de que a profecia é um dom absolutamente espontâneo e acidental do universo: seu exercício regular não pode ser esperado.

Rendamos homenagens aos médiuns espíritas reconhecendo não somente a boa fé, mas a pureza moral e o devotamento da maioria deles. Se o amor próprio ou alguma ambição entra às vezes nos móveis que determinam seu começo, acontece sempre aos mais notáveis experimentar em seguida muitas fadigas, aborrecimentos e repulsas do que encorajamento no exercício de suas faculdades.

Fora dessas condições de alta moralidade sobre a qual acabamos de falar não podemos ter nenhuma certeza das visões, discursos e mesmo as aparições que nos aconteçam pela mediunidade. Sabemos muito bem que elas podem ser o produto de simples alucinações ou expressões desses desejos insatisfeitos (elementais Kama-manasiques) que flutuam ao redor de nós ou a manifestação de alguma pobre alma encerrada pelo dragão do fogo na atmosfera astral. O médium pode nos dar ainda as inspirações inconscientes de seu próprio espírito emitidas pela alma espiritual e o órgão magnético através da palavra, da escrita ou da mímica.

Sabemos também que os pensamentos, os desejos da mesma espécie ao se multiplicarem ajuntam-se num corpo poderoso para formar uma personalidade forte e bem determinada; produzem então sobre a alma astral dos nossos médiuns o quadro realizado daquilo que, na atmosfera etérea, não passa de um potencial efêmero. Assim é que as épocas confusas como a nossa, de vagas ansiedade públicas, de múltiplas aspirações, podem ser fecundas em falsas profecias, expressões de medo e de vozes variadas da alma nacional. O Evangelho nos diz que elas precedem os tempos da alta espiritualidade. Mas que só são anunciados pelo desejo das criaturas que os pressentem e não pela inspiração direta do Universal divino, que nos traz com as profecias reais a benção das esperanças supremas.

Devemos mostrar a mesma reserva pelos acontecimentos hipnóticos e magnéticos que só tem como fim a utilidade dos nossos semelhantes. Nesta ordem, a experiência justificada pela ciência também pede uma prudência e um humanismo extremo; o estado intelectual da nossa época pode apenas desculpá-la.

Quanto à magia cerimonial e ao naturalismo podemos apenas condená-los por causa de sua inutilidade e pelos perigos formidáveis que representam e o estado de alma que aparentam. Mas notemos bem os limites dessa condenação; ela não atinge o emprego de recursos mágicos (pentáculos, correspondências) pelo iniciado de grau elevado: cooperador e mandatário da vontade divina que observa as leis universais e no interesse universal. Sua operação é a teurgia e não a magia cerimonial. Percebe-se nesta última denominação a operação onde a vontade humana e a inteligência humana agem sozinhas sem o concurso divino. Trata-se da distinção que a história fez entre Moisés e os magos do faraó, e mais claramente ainda entre São Paulo e Simão, o Mago, quando este último lhe pede para vender o segredo de seu poder: mago em dez de mágico, ele teria sabido que o poder de um perfeito pode ser encontrado apenas pela santidade.

Resta-nos lembrar que os acontecimentos de alto magnetismo atrativo produzem a leitura de pensamentos. O automagnetismo, as faculdades espirituais de lucidez em plena consciência, ou o êxtase durante o sono magnético especial com o conhecimento direto. E ainda esta ação desejada sobre as forças naturais que tem na alquimia uma de suas manifestações mais conhecidas. Todos os prodígios desta ordem supõem um estado moral dos mais elevados e uma vontade pura, conforme já dissemos. Todos necessitam de espiritualidade, e diremos mais ainda, de santidade, de uma união mais íntima com o Universal e com a vontade divina. Assim vemos que a santidade mística, sozinha, sem nenhum exercício especial, já concede na maioria das vezes esses dons com os quais frequentemente concorre a vaidade do mágico: a lucidez, a leitura de pensamentos, o dom de curar, a ubiquidade, o êxtase e o conhecimento direto. O iniciado aprende a aperfeiçoá-los e nada mais. Mas o amor místico do divino lhe dá tudo isto por acréscimo.

É isto que nos diz o nosso caro irmão Amo quando nos recomenda o amor como meio para uma elevação até a Unidade diretora de todas as forças do mundo! A razão nos aparecerá claramente se nos lembrarmos da origem e do fim do universo assim como nos mostra as belas teorias do sábio P. Leray.

Deus nos criou para que cumpríssemos nele a espiritualização do nada. Ajudados pelo seu socorro providencial até os confins do mundo onde a alma se agita nas sombras confusas do destino; de posse da liberdade; vendo a luz e a unidade para a qual todas as unidades se encaminham nos transportes do amor, teremos apenas uma finalidade: sairmos da fatalidade e, conosco, fazer sair o mundo etéreo que devemos levar além dos anéis do Dragão. E não temos mais do que um meio: cumprir através da nossa vontade a vontade divina.

Se a nossa fraqueza o permitir, a providência ajudará com os castigos e solicitações da vida comum que se passa ao abrigo das forças astrais. Aos mais corajosos ela oferece uma via mais rápida, mas também muito mais penosas: a tríplice vida mística no fim do qual estão armados os cavaleiros da milícia celeste, mestres dos poderes que este estado comporta: o manejo da força plástica do cosmo, do astral, em vista da cooperação com o Eterno.

Mas aos ambiciosos, aos imprudentes, aos perversos, a resposta mais doce que a providência pode dar é o relâmpago que os arranque de suas obras ímpias antes que tenham tido tempo de retardar ou de perder sua imortalidade.
  
 Retirado da obra : Tratado Elementar de Ciências Ocultas (Papus)
  

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sobre Esquisotéricos e Espiritualistas de Facebook


Quando a Espiritualidade Prejudica

Por Frank
Como qualquer experiência na vida, o despertar da espiritualidade pode ocorrer de forma natural, ou ser provocado por algum motivo que se fez necessário para que o mesmo ocorresse sem a busca do próprio indivíduo por isso. Em ambos os casos, deve-se tomar cuidado com o objetivo e com os rumos da nossa espiritualidade.

Estudar é mister, e discernimento é obrigatório.

Muitos tomam esse caminho pela vaidade do saber ou em busca de algum tesouro paranormal que os tornará detentores do manto da sabedoria, ou do elmo do despertar das faculdades sobrenaturais,repassando para o mundo espiritual, assim, um dos piores vícios do mundo: essa caçada desenfreada de algumas pessoas em busca de tornar-se superior aos demais.

Vemos isso, facilmente, quando observamos alguns estudantes espiritualistas tentando aprender, em qualquer curso ou palestra, todas as técnicas possíveis de ativação de chacras*, com o único objetivo de despertar a kundalini**, ou abrir a clarividência, ou mesmo despertar outras faculdades, mediúnicas ou anímicas, que eles insistem em conseguir, mesmo não tendo o menor preparo para suportar as consequências das mesmas.

Pouco se fala sobre isso nos meios espiritualistas, mas há por aí milhares de pessoas descontroladas, que perderam o foco de suas vidas, abandonaram família, empregos, estabilidade, justamente por não saberem lidar com as repercussões energéticas provocadas por práticas criadas em cursos mirabolantes, palestrantes ocasionais e workshops vagabundos,desses muitos que, volta e meia, chovem pela cidade.

Nesses casos, a nossa busca pela espiritualidade nos prejudica, por não sabermos discernir quais são os lugares que tratam a espiritualidade de forma sadia.

Sim, há trabalhadores da espiritualidade, homens e mulheres, que estudaram durante anos,que se tornaram praticantes e não teóricos de um assunto que, se mal conduzido, pode levar as pessoas para um caminho sem retorno, para o desastre.

E também há os vigaristas da espiritualidade, oportunistas que visam apenas o dinheiro, e não o que entra no coração, e que enxergam, na curiosidade exagerada que a massa possui em saber o que ocorre além da morte, a ocasião perfeita para se darem bem, mesmo sabendo que muitas pessoas podem pagar com a vida esse desejo de conseguir, hoje, o que só pode ser obtido amanhã (por evolução e esforço).

Diferentemente de outros caminhos, a espiritualidade exige uma consciência madura e serena, e muita paciência, pois é o caminho do não-mestre, da ausência de uma religião condutora.

Ou seja, uma independência voluntária, num processo demorado de transformação da ovelha em seu próprio pastor.

Para ser o pastor do seu próprio caminho, é necessário muito estudo, não apenas do caminho que trilhamos, mas principalmente da forma correta de caminhar. E, isso se tiver condições de trilhar alguma senda, e se houver preparo físico, mental e espiritual para uma jornada tão transformadora.

Essa peregrinação é para todos, mas nem todo mundo está preparado para percorrê-la.

Não basta aprender sobre viagem astral***, ocultismo ou bioenergia. Todo estudante espiritualista deve se questionar sobre as suas intenções com esses estudos, antes de se aprofundar na matéria.

E, ao iniciar as práticas, deve-se levar em conta que as repercussões dessas práticas irão variar de pessoa para pessoa. Afinal, cada um de nós possui um ritmo mental e físico, tanto para o aprendizado, quanto para os resultados de qualquer coisa que iniciamos em nossa jornada.

A espiritualidade não é brincadeira de curioso, ela é um caminho sem volta para o despertar da alma no corpo. Por isso, é preciso muito preparo, é preciso muita meditação para saber se pretendemos seguir esse caminho apenas para satisfazer mais um capricho da nossa mente, que sempre busca sentido em tudo, ou se estamos caminhando balizados pelo nosso coração, que sempre buscará um aprimoramento da nossa visão em relação àquilo que só estava escondido para nos dar motivo para aprender a procurar.

São Paulo, 02 de fevereiro de 2010.

Notas do Texto:
* Chacras – do sânscrito – centros de força do corpo energético; vórtices energéticos.

** Kundalini - do sânscrito - significa literalmente "enroscada". Esse nome deve-se ao seu movimento ondulatório que lembra o movimento de uma serpente. Daí a expressão esotérica "fogo serpentino". Ela também é chamada pelos iogues de "Shakti" - do sânscrito - a força divina aninhada na base da coluna.

*** Viagem astral - experiência fora do corpo; projeção astral; projeção da consciência; desprendimento espiritual; emancipação da alma; saída astral.


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