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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

É você que Constrói sua Própria Realidade

Por Fabio Bracht, do Papo de Homem.
A sua crença de que algo ou alguém é de uma certa forma muitas vezes é justamente o que acaba fazendo com que aquele algo ou alguém seja daquela forma.

Talvez você já tenha percebido essa dinâmica em ação na sua vida. Saiba que ela tem um nome: self-fulfilling prophecy. Em português, profecia autorrealizada. O termo foi cunhado apenas em 1950, pelo sociólogo Robert Merton, mas a dinâmica já vinha sendo observada e, por consequência, usada em obras de ficção desde muitos séculos atrás.

“Tá vendo?!”
Exemplo 1: Colega novo de trabalho. Por algum comentário ou atitude aleatória, começa a ser taxado de cuzão. Alguém comenta: “Nossa, você viu tal coisa que o Fulano fez? Muito cuzão, cara. Muito cuzão.” Todos começam a se relacionar com o cara novo a partir dessa perspectiva. A dinâmica foi sutilmente instalada, e a maioria das interações passam a ocorrer num palco em que esse é o personagem que o Fulano representa.

Em algum momento, Fulano faz alguma coisa realmente cuzona – como qualquer pessoa faz às vezes, já que todos temos essa capacidade. “Falei que ele era cuzão! Tá vendo?!”

Exemplo 2: Casal de namorados. Felizes, até que um dia ele encontra uma suposta evidência de que ela possa estar tendo um caso com outro. Dentre as várias atitudes que ele poderia ter, começa a pensar que ela possa mesmo ser uma traidora. Ações dela que antes passavam despercebidas agora, sob essa nova dinâmica, parecem golpes e confirmações da suspeita. Ela percebe que algo está errado. O relacionamento entra em crise. Ela se torna mais aberta a conhecer alguém melhor.

Algum tempo depois, ela termina com o namorado. Diz que conheceu alguém com quem simplesmente se sente melhor. “Falei que ela estava me traindo! Tá vendo?!”

O livro You Are Not So Smart dedica o capítulo 42 inteiro às profecias autorrealizadas. O autor David McRaney explica que as pessoas tendem a agir conforme as “etiquetas” que colocamos nelas. Em um experimento feito em 1978, professores foram informados que alguns de seus alunos possivelmente seriam superdotados, de acordo com resultados de testes de QI que haviam feito. Mentira. Os alunos não fizeram nenhum teste e eram normais. Mas as suas notas começaram a melhorar.

Apenas por acreditarem que os alunos poderiam ser superdotados, os professores passaram a agir com eles dentro de um outro prisma, esperando o melhor e acreditando nos seus resultados. Por sua vez, isso motivou os alunos.

Levando essa lógica para o lado negativo:
Pessoas zoadas na escola podem passar a acreditar que são “dignas” daquele tratamento.

Caras que sofrem dois ou três fracassos em conquistar mulheres podem passar a acreditar que não são capazes de conquistar ninguém, parando de tentar.

Mulheres que sofrem duas ou três traições podem passar a acreditar que nenhum homem presta e agir com ciúmes e possessividade em qualquer relacionamento, efetivamente ajudando a causando suas próprias futuras traições.

Um aluno de música com dificuldades em afinar o seu instrumento “de ouvido” pode começar a achar que, se não consegue nem isso, muito menos será capaz de aprender teoria musical ou composição.

Um solteiro que tenta fazer um arroz básico e queima a comida pode se convencer de que é “um desastre” na cozinha e acabar nunca tentando um prato mais elaborado.

Um último exemplo, dessa vez autobiográfico.
Há alguns meses, em uma atitude que não consigo descrever com outro termo a não ser “burrada”, dei o pontapé inicial em uma dívida que cresceu relativamente rápido e me tirou o sono por muito tempo. Arrasado por dentro por ter me permitido chegar a tal ponto graças ao que eu entendia como pura burrice, eu me convenci de que não sabia lidar com finanças. Parecia real para mim. E assim foi.

Meses depois, busquei ajuda de algumas pessoas, e algo fascinante aconteceu: elas me trataram não como o idiota que havia se permitido entrar em dívidas por um motivo facilmente evitável, mas sim como uma pessoa inteligente que cometeu um erro mas tinha total capacidade de sair dessa situação tão fácil como havia entrado. Parecia real para elas. E assim foi.

As respostas que recebemos dependem das perguntas que fazemos.

A realidade é menos definitiva do que parece. É plástica, moldável e diferente para cada um de nós. As coisas que você vê ao seu redor só estão aí, do jeito que estão, porque você está aí para percebê-las do jeito particular que você as percebe.

O aqui e o agora que você tem são frutos do seu olhar específico, que poderia ser outro, das suas crenças, que poderiam ser outras, do seu estado mental, que poderia ser outro. A vida pode ser inteiramente diferente para duas pessoas que estão exatamente no mesmo lugar, ao mesmo tempo, vendo e ouvindo e sentindo e cheirando e tocando as mesmas coisas.

O processo de construção da realidade é como se estivéssemos em uma caixa completamente preta, sem nenhuma luz, sem enxergar nada, e para saber como são as coisas, precisamos perguntar. “De que cor?” “É azul!” “Está frio?” “Não!” “Eu sou amado?” “Sim!” E assim você vai construindo o seu mundo, de acordo com as perguntas que faz.

E quem responde essas perguntas quando elas são feitas pelas pessoas próximas? Nós mesmos. Nós temos meios de influenciar alterações na realidade dos outros – assim como eles têm de fazer isso na nossa. A mágica é estar ciente desse processo.

O valor de um elogio
“É impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é.” (Gabriel García Márquez)

Somos atraídos por amantes, cartomantes e qualquer um que tenha uma visão positiva sobre nós. Não apenas por vaidade, mas (principalmente?) porque deles recebemos influências firmes, e geralmente positivas. Gostamos de ouvir que somos lindos, que temos talento, que somos dedicados, que somos carinhosos, que fodemos bem, porque assim nos achamos mais lindos, desenvolvemos nossos talentos, nos dedicamos mais, agimos mais vezes com carinho e fodemos melhor.

Sendo assim, é importante ter em mente que nós também ajudamos, da mesma forma e o tempo todo, a moldar os outros a partir da nossa percepção deles.

Um amigo meu insiste que “mina de balada não vira namorada”. O que ele ainda não se deu conta é que a mulher que está ali, se permitindo rebolar até o chão e dar gritinhos histéricos “cazamiga”, enchendo a cara de tequila, é a mesma menina de bem que é, já foi ou ainda vai ser o grande amor da vida de algum cara igual a mim e você e ao meu amigo. Ela só é uma “mina de balada” (tradução na realidade dele: descartável depois dos primeiros beijos) se assim for construída.

A realidade do outro é tão plástica quanto a nossa, e podemos nos relacionar diretamente com o que há de melhor nele. Assim, realçamos e trazemos à tona essas qualidades, à frente de qualquer outra coisa.



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