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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Machado de Assis e Woody Allen

Por Edson Gomes
Muitas pessoas torcem o nariz, quando falam de Machado de Assis (1839-1908). Outras dizem que o ama, mas nunca leu um livro dele todo, só para se sentir mais culto. Detalhe, o Machado era o autor que escrevia o mais coloquial possível na época dele.

Ele não era o fino da escrita, que hoje enchemos a boca para falar. Ele escrevia para o povo leitor de seu tempo e não para intelectuais.

Ele se preocupava muito com os leitores. Quem já leu os livros dele, sabe do que eu estou falando. Diversas vezes ele mandava recados aos leitores sobre um fato, que achava necessário explicação. A informação para ele era primordial e o sutil humor, também fazia parte do jeito carioca da época.

Então, se você quer gostar realmente de Machado de Assis, comece por Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Se não me falhe a memória, fazendo um trocadilho com o título do livro, este romance é a obra mais antiga da Literatura Fantástica já escrita no Brasil. Como eu disse, não tenho certeza.

Por que eu digo, que a história do defunto é a mais interessante, ao meu ver? A escrita está na primeira pessoa e com isso, existe uma aproximação muito grande do personagem com o leitor. Tem horas, que eu acho que o próprio Machado de Assis aparece algumas vezes nas declarações do personagem. Como se as memórias fossem as dele, invés de ser de Brás Cubas.

Eu hoje escrevo Literatura Fantástica, graças a este romance que li três vezes. Eu não fui o único a gostar dele, pergunte a Woody Allen, que deu a declaração no The Guardian:

"Chegou pelo correio um dia. Algum desconhecido no Brasil me mandou e escreveu: 'Você vai gostar disso'. Como o livro era pequeno, eu li. Se ele fosse grosso, eu o teria descartado", disse Allen.

"Eu fiquei chocado com o quão charmoso e interessante [o livro] era. Eu não conseguia acreditar que ele [Machado de Assis] viveu há tanto tempo. Você pensaria que ele escreveu o livro ontem. É tão moderno e interessante. Me chamou atenção da mesma forma que 'O Apanhador no Campo de Centeio'. Era um assunto que eu gostava e era tratado de forma bem-humorada, cheio de originalidade e sem sentimentalismo."

Imagine o choque, que os leitores do século XIX tiveram, quando deram de cara com a abertura de livro, que começava assim:

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

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