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quarta-feira, 30 de março de 2011

Palavras de Adélia Prado

COM LICENÇA POÉTICA
"Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade da alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou."



"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."


CASAMENTO
"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil", "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva."



"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre"


"Dor não tem nada haver com amargura. Acho que tudo que acontece é feito pra gente aprender cada vez mais, é pra ensinar a gente a viver. Desdobrável. Cada dia mais rica de humanidade."

"As coisas tristíssimas,vão desaparecer quando soar a trombeta. Levantaremos como deuses, com a beleza das coisas que nunca pecaram, como árvores, como pedras, exatos e dignos de amor."


"Não quero faca, nem queijo. Quero a fome"

"Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito, amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba. Esmero."


EXAUSTO
"Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes."

SIMPLESMENTE AMOR
"Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele falo palavras como lanças
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele podem entalhar-me:
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste
Amor é a coisa que mais quero."


"As línguas são imperfeitas pra que os poemas existam..."


"Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama."

(Adélia Prado)

***

Adélia Prado (1936-) é uma escritora e poeta mineira. Sua obra recria com uma linguagem despojada e direta, freqüentemente lírica, a vida e as preocupações dos personagens do interior de Minas.

Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em 13 de dezembro de 1936 em Divinópolis. Aos 14 anos, já escreve seus primeiros versos. Estuda com padres franciscanos e forma-se em filosofia. Entra para o magistério em seguida mas abandona o projeto de dar aulas depois de se casar e ter cinco filhos.

No início dos anos 70, publica seus primeiros poemas em jornais de sua cidade e de Belo Horizonte. Em 1971 divide com Lázaro Barreto a autoria do livro A Lapinha de Jesus. Sua estréia individual acontece em 1976, com Bagagem, livro que chama a atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo. Em 1978 escreve O Coração Disparado, com o qual conquista o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo. Nos dois anos seguintes, dedica-se à prosa, com Solte os Cachorros (1979) e Cacos para um Vitral (1980). Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz. Em seguida, publica Componentes da Banda (1984), O Pelicano (1987) e O Homem da Mão Seca (1994).

Seus dois últimos livros, lançados em 1999, são o romance Manuscrito de Felipa e o livro de poemas Oráculos de Maio.


Um comentário:

  1. AÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!!
    Arrasou!!!!
    Bjks

    Ah, Faltou aí: "Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande."

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