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terça-feira, 29 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 07)

CAPÍTULO 07
No dia seguinte, uma notícia na primeira página do jornal, chama a atenção de Disco e um telefonema trás a confirmação de algo que já previra.
- Disco, desgraçado! - Exalta-se Matias do outro lado da linha - Já viu os jornais de hoje?
- Claro, Matias. Não precisava ser adivinho para saber que isso podia acontecer.
- Já tem alguma pista?
- Por enquanto sei tanto quanto você.
- Se souber de algo você me contata. O.k.? Estamos nessa juntos.
- Pode deixar. Assim que souber de alguma coisa eu te conto.
Disco desliga o telefone sem saber se o Delegado tinha ficado alegre ou triste pelo fato dele estar na estaca zero.
Algumas horas depois ele atravessa o aterro do flamengo a bordo de sua pick-up em direção ao bairro de Ipanema, próximo ao posto 10 na Zona Sul.
- Detesto procurar o Reverendo Hammer. - Pensa ele - Mas como foi sua filha que foi sequestrada, não tenho outra alternativa.
A Seara dos Homens Santos havia se instalado no início dos anos noventa no rastro de outras denominações que vinham como ela, trazer alento aos necessitados, só que esta especialmente, cobrava um obrigatório e extorsivo dízimo religioso que serviria para promover o reino dos céus na terra alegando que grandes bênçãos vinham com grandes ofertas.
Nesses anos tornara-se um conglomerado que se espalha por todas as partes do país e até algumas do exterior. Seu poder hoje compete em muitos lugares com o do Vaticano e seu líder auto denominado “Reverendo”, Jeremias Hammer, passou de ex-detento condenado por uma extensa gama de crimes a líder máximo de uma seita fundada por ele, monopolizando a fé de milhões de pessoas com suas promessas e seus exorcismos em massa.
Hammer representava tudo o que Disco mais detestava, vivia em meio a uma teia de ações duvidosas que alguns sabiam, mas não podiam ou não queriam provar, sob um manto de aparente filantropia. Era o contrário dos ideais pelos quais procurava lutar, mas agora tudo isso devia ser momentaneamente colocado de lado na busca por pistas do paradeiro da pequena Anna Carla.
No templo principal, informaram que o líder estava recolhido a sua residência na zona oeste tentando refazer-se do choque. Disco deixa o suntuoso prédio com sua fachada de vidro negro e escadarias de mármore da mesma cor, realçada pelas garrafais letras douradas que anunciavam a finalidade daquele lugar, e segue para o endereço obtido com um dos “auxiliadores”, como eram chamados os assistentes de Hammer.
A propriedade do Reverendo ficava num vasto terreno na zona oeste da cidade. Era um sítio numa parte bem distante da área central, com muitos quilômetros de extensão e cercado por gramados. Fora construído copiando as grandes mansões sulistas dos EUA da época da secessão. Era uma espécie de atração turística no local, dado seu aspecto extravagante.
- Parece que estou entrando em... E o vento levou! - Pensa Disco ao entrar após identificar-se na guarita ao lado imenso portão metálico da propriedade. – Deve ser alguma fixação...
À porta, um mordomo de terno escuro veio recebê-lo.
- Pois, não, senhor?
- Desejo falar com o senhor Hammer, meu nome é Charles Disco.
- Aguarde um momento, por gentileza.
O homem some no interior da casa deixando disco sozinho e retorna em alguns minutos.
- Ele está a sua espera na biblioteca, queira me seguir por favor.
Disco é conduzido a uma imensa sala onde o Reverendo o esperava de pé, tendo por trás uma estante repleta de livros, vestindo um robe de chambre grená sobre calças cinza chumbo e sandálias de couro preto. Era um homem alto de queixo quadrado e face austera, com olhos verdes brilhantes e agudos, tinha o cabelo castanho claro cortado curto em escadinha.
- Seja bem vindo, Sr. Disco. O que deseja em minha humilde casa?
- Acho que já deve imaginar... Venho em busca de informações sobre o rapto de sua filha.
- Interessado em pegar o caso?
- Digamos que já estou num caso onde as circunstâncias são coincidentes.
- Compreendo... E o que quer saber?
- Conte-me o que aconteceu ontem, com detalhes.
- Bom... Como já deve ter lido nos jornais de hoje, não há muito para contar, infelizmente. Minha filha é responsável pela formação de novos pastores e uma vez por mês, recebe caravanas de todas as partes do país e do mundo para um sadio intercâmbio entre os missionários da nossa obra divina.
- Quantas pessoas de cada vez?
- Centenas. Jéssica é a líder de uma equipe especializada na recepção desses convidados, que são encaminhados a uma cerimônia especial de batismo na piscina do templo, aos seminários sobre o Santo Ofício de pregar a Palavra de Deus, ou ainda para a ordenação de novos pastores.
- E não dá para controlar o fluxo de pessoas nessas ocasiões, estou certo.
- Isso mesmo. Nosso templo é a Casa de Deus, aberta a quantos quiserem buscar Seu conforto e Sua luz.
- Conte-me sobre o rapto de sua filha.
- Eram dez horas da manhã e o primeiro grupo do dia chegava. De repente, como se saíssem do próprio chão, surgiram homens armados que renderam a todos sem que fosse esboçada qualquer reação.
- Poderiam estar infiltrados entre as pessoas?
- Não posso dizer. A única coisa que sei é que eles levaram minha querida filha. Estou desolado.
- A polícia está no caso?
- Foi acionada imediatamente, mas ainda não tem nenhuma pista. E o Sr?
- Por enquanto estou igual a eles, apenas investigando.
- Estou disposto a ser muito generoso com quem ajudar a achar minha filha.
- Vou procurar me lembrar disso.
Disco deixa a casa de Hammer, sem disfarçar o asco que aquele homem lhe causava. Acusado de um cem número de crimes, todos arquivados por falta de provas e elevado a categoria de Emissário de Deus pelos fiéis que espoliava, ele era uma figura sombria pairando sobre a cidade. Sua tristeza parecia sincera, mas Disco não conseguia ser solidário com sua dor.

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