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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 01)

Escrevi essa história a muito tempo. Hoje, quando me preparava para postá-la aqui me dei conta de quanto ela está datada. Mesmo assim ainda gosto dela... Seu personagem principal é uma homenagem aos durões da ficção como Dirty Harry, John Maclane e outros tantos. Um durão à brasileira numa história de mistério e um pouco de tiros e explosões: 



CHARLES DISCO E O SEQUESTRO MISTERIOSO




CAPÍTULO 01
LOCAL: O Rio de Janeiro de uma realidade alternativa em algum ponto dos anos 90.
- Querida... Tem certeza de que é por aqui?
- Cale a boca, George! Se eu dependesse de você, nunca teríamos encontrado o lugar. É claro que é aqui!
-Desculpe ...Querida...Mas... Esse bairro é tão esquisito...
- Tem razão, George, ainda mais para um covarde como você!
Sob a chuva fina, o casal avança munido de guarda-chuvas pelas calçadas estreitas das ruas aquela hora quase desertas do Centro velho da cidade entre a Praça XV de Novembro e a Rua Primeiro de Março. A sua volta, sobrados antigos com janelas em arco envidraçadas. Algumas ainda gastas pelo tempo e outras restauradas para servir como opção barata de aluguel de escritórios. As fachadas sucedem-se de ambos os lados, formando um mosaico com a cantaria e as antigas luminárias que cruzam a rua
A mulher é alta e bonita, veste um tailleur com mini saia, meia-calça brancas e sapatos de salto alto brancos. Tem cabelos louros encaracolados e bem tratados num corte moderno até os ombros, pequenos brincos brancos em forma de meia esfera e uma pequena maleta quadrangular também branca nas mão além do guarda-chuva cor-de-rosa.
O homem é magro, mas não muito. Tem cabelos castanhos curtos e anda encurvado, usa um terno tipo jaquetão cinza chumbo com botões, sapatos pretos além de um guarda-chuva também dessa cor.
- Chegamos, George, é esse o número!
- Aqui é o 528?
Estavam diante de uma entrada estreita, por onde subia uma escada de madeira quase vertical que perdia-se na escuridão.
Eles fecham os guarda-chuvas e começam a subir.
- O número da sala é 212. - Diz a mulher.
A medida que sobem, os degraus rangem, sob seus pés.
- Quantos anos deve ter esse lugar?
- Quem se importa com isso? - Fala ela - Não somos da Prefeitura para inspecionar a conservação do prédio. Quero é encontrá-lo aqui.
No topo da escada, um corredor se estende à direita e a esquerda.
- Vamos por aqui. - Diz a moça indo pela direita.
Andam alguns passos e param diante da porta 212. A mulher bate e de dentro uma voz é ouvida.
- Entre!
A sala não era muito grande. Á direita um homem alto de cerca de 30 anos estava de pé diante de uma grande janela, segurando uma caneca de porcelana branca nas mãos. Tem os cabelos pretos, compridos e encaracolados na altura dos ombros, barba mal aparada e usa uma camisa de malha  de gola polo, calça jeans e botas de alpinista.
- O que desejam? - Pergunta ele virando-se e indo sentar-se por trás de uma escrivaninha meio suja, com alguns bibelôs em cima, além de uma luminária antiquada e um telefone. Apoiando a caneca sobre o tampo.
- Procuramos por Charles Disco. - Fala a mulher.
George olha em volta como se estivesse vendo algo para ele muito estranho. Era um escritório pequeno. A escrivaninha dominava o ambiente. À direita estavam as duas janelas grandes com cortinas e no espaço entre elas um abajur de pé. Tudo com ar de antigüidade. Também do lado direito, na parede contígua a porta haviam dois sofás de um só lugar de madeira e couro. Por trás da escrivaninha, um mapa do Estado do Rio de Janeiro amarelado domina toda a parede, e sob ele um arquivo metálico de um metro e meio de altura ocupava todo espaço a exceção do canto esquerdo onde havia a porta de entrada da cozinha e da área de serviço.
- Então já encontraram.
- Estamos aqui por indicação do Delegado Cláudio Vicente Matias. Que apesar de afirmar não gostar muito do Senhor, achou que o melhor, na atual situação era procurá-lo. – Diz a mulher de forma pouco cortês.
- Sinto-me lisonjeado pela lembrança... Devo dizer que meus sentimentos com relação ao Delegado também podem ser descritos nesses termos... Porém, isso agora não vem ao caso. Quem são vocês e o que querem aqui?
- Meu nome é Sheila Monte Verde e esse é o meu noivo, George. Sou neta do renomado Juiz e Senador Oscar Monte Verde. Você deve conhecer. - Diz estendendo-lhe um cartão de visitas.
- Não. Infelizmente não conheço. - Pousa o cartão sobre a mesa depois de olhá-lo. - O que querem de mim?
- Precisamos dos seus serviço para encontrar minha sobrinha, Anna Carla Monte Verde - Diz a moça retirando uma foto da bolsa e estendendo-a a Disco. - Ela foi seqüestrada de dentro da nossa propriedade.
Disco olha a foto de uma menina loura e bochechuda de aproximadamente três anos de idade.
- Procuraram a polícia imediatamente?
- No mesmo dia, mas de nada adiantou. Ela simplesmente sumiu no ar. As investigações estenderam-se por longo tempo sem qualquer pista. Os policiais disseram para esperarmos o pedido de resgate para poderem fazer mais alguma coisa.
- Quanto tempo faz que levaram a menina?
- Seis meses.
- E nesse tempo não houve nenhum contato?
- Não.
-É bastante tempo. - Diz como que para si mesmo.
O casal permanece calado.
- Muito bem. Eu aceito o caso. Mas devo avisar que meu preço é bastante alto.
- Dinheiro não é problema. Ache a menina e diga o seu preço.
- Viva ou morta?
A mulher estremece por instantes, mas logo retoma sua pose habitual.
- Viva ou morta.
- Então vamos começar: Diga tudo o que sabe sobre o seqüestro incluindo o nome de todas as pessoas envolvidas. - Diz apanhando um bloco de notas em cima da mesa - Segunda-feira eu iniciarei a busca.
- Como assim, segunda-feira? - Altera-se a mulher - Porque não amanhã? - Indigna-se - Não trabalha nos fins de semana?
- Sim. Mas caso não saibam, não são meus únicos clientes. Há outras pessoas que necessitam dos meus serviços com tanta urgência quanto vocês.
Ela cala-se visivelmente contrariada.
- E quero lembrá-la, que não lhe prometi nada. Depois de tanto tempo eu nem mesmo poderia. Preciso de carta branca para trabalhar e sem pressões. Concorda?
- Mas, nós...
- Não se preocupe, senhorita... Somente cobrarei se encontrar a menina. Em caso contrário estará melhor do que está agora.
- Muito bem, senhor Disco, na verdade o senhor é nossa última esperança de encontrar Aninha. Quando puder começar a procurá-la, faça isso.
- Alegro-me que entenda a minha posição. Agora continue a contar o que aconteceu no dia em questão.
A mulher começa a explicar o acontecido, observada pelo noivo sempre em silêncio.
- Naquele dia, além da criadagem, estavam em casa, o meu avô Oscar, Hilda, minha irmã, a menina e a babá.
- Quanto mede a propriedade?
- Cerca de três hectares. Alem da casa principal, temos pomares, campos de golfe, tênis, futebol, etc.
- É possível entrar na casa sem ser visto?
- Não. Toda propriedade é constantemente vigiada 24 horas por dia.
- Sabe se houve algo especial, estranho ou fora do comum nesse dia por mais simples e banal que seja?
- Nada. Nada mesmo.
- Como se passou a coisa toda?
- Segundo as pessoas que estavam presentes, eles surgiram como se tivessem surgido do nada. Mataram todos os que ofereceram resistência e sumiram tão rápido quanto apareceram, levando a menina com eles. Vovô levou uma coronhada e foi socorrido pela babá e minha irmã levou um soco ao tentar proteger a garota.
- Levaram algo mais?
- Não. Só a menina.
- Onde vocês estavam nesse momento?
- Eu estava no escritório. Naquele dia trabalhei até as seis da noite.- Fala George.
- Porque está perguntando isso? - Pergunta indignada - Por acaso está insinuando que temos algo a ver com o rapto de minha sobrinha?
- Estou apenas colhendo dados.
- Pois muito bem... Eu estava num shoping center na Barra da Tijuca.
- Tem alguém que confirme isso?
- Como assim? - Explode ela- Está duvidando da minha palavra? Nem a polícia me tratou com tamanha infâmia!
- Acontece que eu não sou da polícia. Tenho meus próprios métodos. - Dá uma pausa para que ela se acalme. - Creio que isto é tudo, por enquanto.
- Quando devemos procurá-lo?
- Não me procurem. Quando tiver alguma coisa eu os procurarei
- Muito bem, senhor Disco, foi um prazer. Só espero não ter perdido o meu tempo - Diz estendendo a mão para que Disco a beije.
- Eu também, senhorita, espero não estar perdendo o meu. - Fala apertando-lhe a mão. - Acredito que em breve nos veremos novamente.
- Foi um prazer, senhor Disco. - Fala George. apertando a mão dele.
- Eles descem as escadas e chegam a rua.
- Você viu, George?
- O que, Sheila?
- Que homem grosso e arrogante...Não viu como ele me tratou?
- Não, Sheila.
- Como não! - Diz furiosa - Onde está com a cabeça, George? - Fala como que para si mesma. - Não sei por que eu vim aqui. Isso foi um erro desde o começo.
Os dois caminham pelas ruas ainda molhadas pela chuva que não tardaria voltar a cair.
(Continua)


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