CAPÍTULO 06
Três dias depois, Disco dirige-se no volante de sua pick-up ao Grajaú, numa das transversais arborizadas da Rua Pereira Nunes, chegando ao apart-hotel no meio da tarde. Vai até o balcão e interpela um homem uniformizado que está costas para ele.
- Por favor, amigo, Qual é o apartamento de Eleonora Kiriaki?
- Tem hora marcada?
- Sim. Está no nome Charles Disco.
O homem consulta a tela do computador e encontra o nome.
- Quarto 1503. Deixe-me anunciá-lo...
- Antes de subir, gostaria de falar com o gerente.
- Está falando com ele.
- Me desculpe. É muita sorte minha encontrá-lo...
- É que estamos com problemas de pessoal e quando o recepcionista sai para almoçar eu fico em seu lugar.
- Poderia me dar uns minutos de sua atenção? Sr.?
- Martinez, Eugênio Martinez.
- Estou trabalhando no caso do sequestro de Eleonora Kiriaki e gostaria de conversar um pouco com o Sr. É possível?
- Mas claro. O rapaz logo estará de volta... Se puder aguardar alguns minutos...
- Farei melhor: subirei para minha entrevista e na volta eu o procurarei.
No triplex, Disco é recebido por uma mulher baixa e magra, de cabelos pretos e curtos, face austera e olhos escuros penetrantes.
Da porta ele a segue em direção a sala de estar instalando-se em grandes sofás diante de amplas janelas envidraçadas com uma bela visão de um jardim interno.
- É um prazer recebê-lo, Sr. Disco. É muito bom saber que após todo esse tempo. ainda existe alguém que se importa com o paradeiro de madame Kiriaki.
- A polícia ainda está no caso, Srta. Eliana.
- Sei disso. - Diz desconsolada - Mas acredito que quanto mas gente tiver envolvida nas investigações, melhor será. Já faz um interminável ano e nenhuma notícia. Todos tememos o pior, mas enquanto não tivermos certeza, temos esperanças.
- O que pode me contar sobre o dia em que a levaram?
- Não muita coisa, receio. Foi tudo muito rápido. Eram dez horas da manhã, Eleonora havia levantado em seu horário habitual, nunca dormia até muito tarde, e já se preparava para sair quando bateram à porta. Através do olho mágico, divisei um empregado do hotel e abri.
- Era alguém que já conhecia?
- Não. Mas como sabe, esse prédio necessita de muitos empregados e infelizmente o rodízio é grande. Não é possível fixar rostos.
- Então abriu a porta e...
- Eles entraram como um vagalhão. De armas em punho e mascarados.
- Tinham algum líder aparente?
- Foi tudo muito rápido, mas parecia que eram atores representando um papel, tal a precisão e a tranquilidade com que agiram.
- Levaram muitas coisas de valor?
- Sim. Uma grande soma. Mas tudo o que levaram pode ser reposto. Apenas a presença de Eleonora é insubstituível. - Fala ela fazendo uma grande força para manter a fleugma.
Mais tarde, ele volta ao saguão e encontra uma outra pessoa atrás do balcão.
- Onde está o Sr. Martinez? Sou Charles Disco.
- No escritório - Responde o recepcionista - E deixou instruções para que fosse ao seu encontro. É a última porta a esquerda por aquele corredor.
Disco bate a porta no local indicado e ouve uma voz vindo de dentro.
- Pode entrar
A sala não era muito grande, mas decorada com bom gosto. Uma grande mesa de vidro com telefones coloridos, bandeirinhas do hotel e agendas, armários e carpetes num mesmo tom bege completavam o ambiente.
- Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o sequestro de sua hóspede da cobertura.
- Nem me fale nisso! - Exclama ele passando a mão na testa alta - Foi uma publicidade horrível para o Hotel. Depois disso tivemos de triplicar a segurança.
- Notou alguma coisa estranha, algo que fosse digno de nota próximo do dia em que tudo aconteceu?
- Não. Estava tudo normal. Bem...exceto pelos problemas com pessoal. Atualmente é muito difícil encontrar gente que deseje fazer carreira num mesmo emprego. Trabalham alguns meses e logo vão embora.
- Tem ideia de como os sequestradores entraram no seu hotel?
- O mais provável é que tenham entrado pela garagem do subsolo e de lá alcançado a cobertura. Aqui na recepção não vimos nada.
- Atacaram mais algum hóspede?
- Não. Felizmente.
- Há condição de falar com o pessoal que trabalhava naquela época?
- Será um pouco difícil. A maioria não está mais conosco.
-. Poderia me conseguir seus nomes? Pode ser importante.
- Vou tentar. Consultarei o arquivo de pessoal e farei cópias.
- O ideal seria dois meses antes e dois meses depois do ataque.
- Vou ver o que posso fazer. Como disse, estamos com problemas e a rotatividade dos empregados é grande...
- O que puder fazer, eu agradeço muito. - Diz levantando-se, apertando a mão do gerente.
- Quando tiver algo é só ligar... - Fala tirando um cartão de visitas do bolso e estendendo ao homem.
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