Seguidores

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 02)


CAPÍTULO 02
É noite de sábado na Zona Sul e a roda prateada de uma motocicleta Harley Davison de garfo dianteiro longo modelo 1969, encosta na calçada a poucos metros de uma praça mal iluminada numa área barra pesada na periferia do Centro Antigo próximo ao bairro da Glória e da Lapa.
- Acho que nem os homens da Seara dos Homens Santos se atreveria a sair a esta hora da noite. - Pensa Disco desligando a moto. - Mas, enfim... há um trabalho a ser feito. É incrível como os cidadãos tornaram-se prisioneiros de suas próprias casas nesses tempos. Os que não são achacados tolamente pelo Reverendo Hammer e seus iguais, cederam a cidade aos delinqüentes de todos os tipos que perambulam por aí tentando conseguir algum dinheiro fácil.
Disco observa adiante, no centro da praça, um grupo de punks que fazem algazarra num gramado ao redor de uma fogueira, numa orgia de todos os tipos.
- Há notícias de viciados contaminando inocentes com o vírus da AIDS através de seringas cheias de seu próprio sangue e eu fui contratado para acabar com isso. A AIDS hoje em dia não é mais do que uma doença sexualmente transmissível entre tantas, mas seu tratamento longo e trabalhoso. A atitude irresponsável desses idiotas pode resultar em uma nova epidemia. Eu tenho duas maneiras de resolver esse problema, uma fácil e uma difícil... A difícil vou tentar agora.
Ele deixa a moto e caminha em direção ao grupo. Usa um longo sobretudo jeans sobre suas roupas e luvas com dedos curtos próprias para dirigir.
- Boa Noite! - Diz ao aproximar-se.
- Qualé, cara? - Pergunta um punk com cabelo cortado em corte moicano que estava com o rosto mergulhado nos seios de uma mulher com longos cabelos pretos eriçados e vestindo calças e um colete aberto de couro preto.
- Estou aqui para conversar com vocês.
- Tu é tira? - Pergunta outro punk, vestindo-se com roupas rasgadas e com um garrote de borracha no braço pronto para se aplicar com a droga contida numa seringa que estava em sua outra mão
- Não. Sou apenas um cidadão interessado.
- “Cidadão interessado” é? - Debocha um outro punk - Tu tá é a fim de um pico.
- Se for isso - Diz o primeiro - É melhor “sartá” fora que a gente não fornece bagulho. Temos apenas para o nosso consumo.
- É isso aí! - Gritam vários deles.
- Eu vim aqui porque recebi informações de que alguém desse grupo está usando seu próprio sangue para contaminar outras pessoas.
Faz-se um silêncio mortal.
Da parte mais afastada da praça, um homem corpulento aproxima-se abrindo caminho por entre os demais, aparentando ser o líder. Usa também um corte moicano e uma mosca sob o lábio inferior, colete de couro aberto, calças e botas pretas, além de piercerings espalhados pelo rosto, e nos mamilos.
- Escuta aqui, ô meu! - Desafia - Quem você pensa que é?
Disco fica em silêncio e ele se entusiasma.
- Chega aqui com esse cabelinho, essa roupa de hippie fora de moda e pensa que é o maioral! Te manca “mermão”!
- Escuta aqui vocês, panacas! - Reage Disco - Pouco me importa que fim vocês vão levar! Se querem se drogar, se droguem! Se querem morrer, morram! Mas deixem quem não tem nada a ver com isso longe das merdas que fazem com suas vidas!
Os punks erguem-se da grama e começam  cercar Disco.
- Acho melhor o garotão se mandar! - Diz o líder - Teu papo de “paz e amor” não tá colando!
- É isso aí, “Shirley”! - Grita um mais exaltado - Vamo dar um pau no otário!
- Tá vendo, malandro! - Fala Shirley, o líder. - Te manda antes que eles resolvam dar a você o tratamento especial.
Um dos punks sai das sombras com um porrete, outro com uma corrente pendendo das mãos e outro ainda trazendo uma seringa cheia de um líquido espesso e vermelho.
- Olha bem para isso aqui, cara! - Diz o homem com a seringa. -  Essa é a seiva das árvores contaminadas que nascem na selva da cidade. O sangue maldito que corre em nossas veias.
Disco permanece impassível e värios punks gritam incentivando o homem.
- É isso aí!
- Valeu poeta!
- Falou bonito agora!
- Te manda, cara! - Diz Shirley - Ou quando terminarmos contigo nem tua mãe vai te reconhecer!
- Isso mesmo! - Diz o poeta - E depois deixaremos a nossa marca e o tornaremos mais um irmão de sangue. O sangue podre que é a nossa herança para o mundo!
Depois dessas palavras, Disco afasta-se lentamente, mas sem dar-lhes as costas, voltando para a moto. Quando sentem que ele vai embora os punks se acalmam e suas atenções voltam-se para o centro da praça.
- Aparece cada tipo! - Comenta um.
- Tudo uns bundão. - Comenta outro.
- Cê deu duro mesmo nele, Shirley!
- Que nada! - Debocha ele - Esses babacas se borram à toa.

0 comentários:

Postar um comentário