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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 10)

CAPÍTULO 10
Horas depois Disco retorna com quatro bolsas cheias e encontra a moça sentada no sofá.
- Trouxe algumas coisas que vai precisar, espero que aprove - Diz tirando as coisas da sacola - Trouxe roupas, absorventes, calcinhas, meias e uma escova de dentes. Não quero que use a minha.
- Porque está fazendo isso?
Ele não responde.
- Pode ficar aqui o tempo que quiser até acertar a sua vida. E esqueça o que Adonis falou, está certo? Eu sei como ele é e acredite: estará melhor longe daquele lugar.
Ela assente com a cabeça.
- Já comeu alguma coisa?
- Não. Estava esperando você voltar.
- Então vamos lá. Estou faminto.
- Poderia me dizer o seu nome?
- Oh. Desculpe! - Fala sem jeito - Eu me esqueci. Meu nome é Charles M. Disco.
- O meu é Virginie Helena Salvattori.
- O que fazia no Palácio? - Pergunta Disco já na cozinha enquanto coloca a mesa.
A moça baixa a cabeça e enrubesce.
- Desculpe-me. Não queria constrangê-la. Creio que não seja bom falar sobre isso, não é? Tudo bem.
- Não se preocupe. Já estou a acostumada. Quem já passou o que eu passei não pode ter muitos pruridos.
- Mesmo assim eu fui muito grosseiro...
- Já disse. - Interrompe ela - Não se preocupe. Eu estava naquele lugar porque não tinha para onde ir.
- É. Você disse.
- Sou do interior do Estado, uma cidade pequena chamada Barra das Garças. Morava lá com minha família: pai, mãe e dois irmãos. É uma cidadezinha que ninguém conhece, mas era famosa por produzir fogos de artifício, muitas vezes em indústrias clandestinas de fundo de quintal. Estava estudando com afinco para entrar na faculdade e me dedicando integralmente a ser alguém na vida. Abdiquei de tudo para realizar meu sonho de trabalhar com informática.
Disco permanece calado.
- Até que um belo dia, eu havia saído à tarde para ir a padaria quando ocorreu uma explosão. Uma daquelas malditas fabriquetas clandestinas que ficava ao lado de minha casa vou pelos ares e levou com ela todo quarteirão junto. Eu estava a alguns metros e fui arremessada contra uma parede. Quando voltei a consciência estava sozinha no mundo; perdera minha família, meus documentos e minha vida. Estava num hospital aqui no Rio e os médicos disseram que tive uma concussão muito grave e que foi um milagre eu ter sobrevivido depois de quase uma semana em coma e sem nenhuma sequela.
Ela prossegue triste.
- Quando me deram alta saí pela cidade sem ter para onde ir. Sem parentes, sem amigos, sem vida, sem nada. Meio confusa, com uma dor enorme no peito, um vazio que não queria parar de doer, vaguei pela cidade sem destino. Passei vários dias ao relento e com muito medo. Foi então que uma das meninas de Adonis me encontrou dormindo num beco que existe atrás do Palácio. Ela ficou com pena e me ofereceu trabalho e moradia. Sem outra alternativa, aceitei. Que mais eu poderia fazer? Sabe como essa cidade trata quem mora na rua, não?
- Porque Adonis disse que você lhe dava prejuízo?
- Eu não era talhada para aquilo. Sabe, chego a admirar quem consegue ganhar a vida daquele jeito, mas sempre achei muito difícil de aceitar ter que viver assim. As meninas tentaram me ensinar... me deram roupas, me maquiaram, mas nunca consegui ser eu mesma e os clientes reclamavam. Adonis percebeu isto e em nome da reputação do seu estabelecimento me colocou fazendo serviços menores. Então você apareceu e ele te usou para se livrar de mim.
- Agora terá uma chance para mudar a sua vida. - Diz Disco sentando-se. - Amanhã vamos providenciar uma arrumação no quarto que foi de meu avô.
- Ele morava com você?
- Não. Eu é que morava com ele. Me criou desde os cinco anos, quando meus pais morreram num acidente de carro.
- Que pena... Eu não sabia...
- Não poderia saber. Mas isso não é mais problema. Perdi meu avô já fazem três anos. Mas ainda não tive coragem de me desfazer de suas coisas.
- Se preferir eu durmo na sala...
- Não se preocupe. Se vovô estivesse aqui ele aprovaria.
- Devia gostar muito dele...
- Tudo o que sou na vida, devo a ele... - Muda de assunto - Pode dormir sossegada. Mas não se espante se encontrar algumas armas pela casa. Elas são necessárias no tipo de serviço que faço.
Virginie arregala os olhos e Disco percebe o medo em seu rosto.
- E antes que pergunte: Não sou tira, nem detetive, nem mercenário, muito menos assassino.
- O que faz então?
- Digamos que eu ajudo as pessoas.
Ela fica em silêncio.
- E também não sou viciado em drogas, tarado ou pervertido de nenhuma espécie, por isso pode ficar tranquila e terminar de comer. Depois pegue essas coisas que eu trouxe e se acomode lá dentro da melhor maneira possível. Vou assistir um pouco de televisão. - Faz uma longa mesura com as mãos - Faça de conta que a casa é sua, milady.
A moça sorri e Disco a deixa só. Horas depois ele desliga a TV e vai para o quarto e nota a porta do outro fechada.
- Muito bom - Pensa ele - A menina entendeu o recado. Não quero que pense que vou me aproveitar dela.

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 09)

CAPÍTULO 09
Entram no escritório. Era um aposento vasto, com muitos sofás e divãs cobertos de almofadas, tapetes caros cobrindo o chão e variados quadros nas paredes, todos retratando passagens eróticas ou nus. Uma grande mesa de forma sinuosa coberta por estatuetas e telefones sobre pés de sólida madeira marrom escuro era de onde Adonis comandava seu império. Ele senta-se por trás dela indicando uma das confortáveis poltronas de couro marrom.
- Sente-se, Disco. Aqui poderemos conversar à vontade. Toma alguma coisa? - Pergunta casualmente - Se for o caso posso providenciar...
- Não quero nada.
- Ok. Então, em que posso ser útil?
- Vim em busca de informações.
- Se for algo que eu saiba, terei prazer em ajudar.
- Quero saber se há alguém na cidade atrás de mercadoria específica.
- Não estou entendendo, Disco.
- Está sabendo de uma série misteriosa de sequestros de mulheres na cidade, não?
- Onde você quer chegar?
- Foi só um palpite. Pela natureza dos seus negócios... Talvez soubesse algo sobre algum louco extravagante que pague alto para ter essa ou aquela mulher...
- Creio que está equivocado, Disco. Não pode pensar que me envolveria com gente desse tipo. Sou um cidadão honesto e cumpridor da lei.
- Como eu lhe disse: somente estou em busca de informações. E pensei que poderia ter ouvido algo sobre isso.
- Sinto muito, mas desconheço totalmente esse assunto. E me alegra que não esteja insinuando que estou envolvido numa coisa tão sórdida, porque se estivesse me acusando não sairia daqui vivo. - Fala friamente.
- Não estou te acusando de nada. Vim aqui como amigo.
- E é como amigo que estou te dizendo que não sei de nada. Sabe que tenho uma dívida contigo e Adonis sempre paga suas dívidas. - Diz olhando-o nos olhos - Se pudesse lhe ajudar, fique certo que ajudaria.
- Já lhe disse para não se importar com isso. Esqueça aquilo, já faz tempo demais.
- Mas eu me importo. Me importo muito.
Nesse momento entra no escritório uma jovem de aproximadamente vinte anos, usando um curtíssimo vestido de ceda cor de laranja com finas alças, de estatura mediana e cabelo chanel castanho escuro, acima dos ombros e com uma compleição física harmoniosa para sua altura. Algo na garota chama a tenção de Disco e desde que entra, não consegue mais desviar os olhos dela como se não pertencesse aquele lugar. Trazia nas mãos a correspondência diária, que entrega a Adonis, e é dispensada em seguida sem dizer uma palavra.
- Já que não pode me ajudar... - Diz Disco levantando-se - O jeito é ir embora.
- Sinto muito não poder fazer nada por você.
- Não faz mal. Se souber de algo, sabe onde me encontrar.
Eles saem e Disco mecanicamente procura a moça que entrara no escritório no amplo salão com os olhos, encontrando-a do lado oposto próxima do bar falando com o barman. Isso não passa desapercebido a Adonis, acostumado a interpretar os gostos de todo tipo de pessoa.
- Ora...Ora... Então Charles Disco, o durão, está interessado em uma das minhas meninas...
- O quê...? Eu... - Embaraça-se Disco ao ser interpelado por Adonis.
- Não precisa se explicar. - Fala ele interrompendo a tentativa de defesa de Disco e dirigindo-se a moça - Virginie, venha até aqui!
A moça ao ouvir seu nome atravessa o salão e vem ao encontro dos dois.
- Estou em débito contigo desde que pegou aquele canalha que estava matando as minhas meninas. Na época você não quis pagamento, mas agora estou em condições de quitar a minha dívida.
- Não é preciso, Adonis... - Tenta falar Disco.
A moça aproxima-se dos dois e Adonis a pega pelos ombros, vira-a de costas para ele colocando-a entre os dois.
- Tome, Ela é sua!
Disco fica sem ação.
- É sua, leve-a. Pode fazer o que quiser com ela: bater, matar, transformá-la em sua escrava, qualquer coisa... E não aceito um não como resposta.
- Mas eu não posso aceitar...
- Pode sim. Só não pode me fazer essa desfeita. Ela é minha propriedade e eu estou te dando. Pode levá-la. Ela só me dá prejuízo mesmo...
A moça permanece calada como que resignada pelo seu destino.
- Adonis sempre paga o que deve. Estamos quites!
Sem outra alternativa, Disco sai do prédio seguido pela moça em silêncio. Abre a porta da pick-up e acomoda-a no banco do carona.
- E agora? - Fala sentado com as mão no volante como se fosse para si mesmo e vira-se para a moça. - Tem algum parente ou amigo para onde possa ir?
- Não. - Responde ela sem jeito - Não tenho ninguém.
- Então não tem jeito - Fala olhando direto para frente, ligando o carro. - Vou levar você para minha casa, mas primeiro temos que arranjar algo decente para você vestir.
Ele retira o sobretudo.
- Tome. ponha isso. - Diz colocando-o sobre os ombros da moça - E em casa você vai tomar um banho para retirar esse perfume barato que te colocaram. Depois disso vamos decidir o que fazer.
Engata a primeira marcha e partem. Após rodar alguns minutos chegam em casa, no bairro da Tijuca.
Disco entra e joga a chave no sofá seguido pela moça.
 - O banheiro fica lá dentro. Tome um banho e vista uma das minhas roupas. Mais tarde compraremos algo para você.
A moça assente com a cabeça e some no corredor.
O apartamento não era muito grande. Com uma sala espaçosa e bem mobiliada, com uma grande estante, com um home theather e um computador de última geração. Dois quartos, sendo que um não estava sendo usado e uma cozinha ligada a sala por um curto corredor.
- Está com fome? - Pergunta Disco dirigindo-se a cozinha.
Ela não responde.
Ele nota ao passar pelo corredor que a moça deixara a porta do banheiro entreaberta, talvez como uma lembrança do que Adonis dissera. Abre a geladeira e retira de dentro vários pratos com produtos variados e os coloca sobre a pia. Enquanto liga o Forno de microondas molha um pedaço de cenoura em forma de palito numa pasta que estava numa das travessas e leva a boca, quando ouve a voz da moça.
- Onde posso encontrar algumas roupas?
Disco vira-se e quase engasga com a visão da moça de cabelos molhados e envolta apenas na toalha de banho.
- L-Lá dentro. - Gagueja ele - No guarda-roupa do primeiro quarto.
- Obrigada.
- Por nada. Apanhe um dos meus moletons e uma camiseta. Estão dentro das gavetas na porta à direita.
Ela entra no quarto e deixa a porta aberta.
Disco Passa para sala e de lá fala alto.
- Deixei alguma coisa para você comer na cozinha. Pode se servir. Só precisa esquentar o que quiser. Vou dar uma saída rápida. Não mexa em mais nada até eu voltar.
Virginie ouve a porta bater, enquanto abre o guarda roupa.

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 08)

CAPÍTULO 08
A próxima parada seria na mesma zona sul onde estava situado o templo principal de Jeremias Hammer, mais precisamente no Bairro do Flamengo, na Rua do Russel em frente ao Aterro do Flamengo. O local que iria visitar, não tinha nada de santo, mas pelo menos seu proprietário não enganava ninguém. Adonis Cambraia era uma espécie de mercador do prazer. Monopolizava casas de massagem, termas, motéis e tudo o mais que fosse ligado ao comércio do sexo em todas as suas formas. As autoridades desconfiavam que está envolvido também em negócios escusos e ligado ao moderno tráfico de escravos, mas como o Reverendo, nunca puderam provar nada contra ele.
Disco estaciona Diante do Palácio de Adonis, Na verdade um conjunto de cinco prédios de frente para o Aterro relativamente novos que ele comprara e reformara interligando-os, criando assim um complexo onde hoje se podia encontrar qualquer coisa em matéria de sexo e luxúria, devidamente camuflado e tendo como fachada principal uma elegante casa de espetáculos que montara no edifício central que fora um luxuoso hotel. Um boato que corre pela cidade é que Adonis tem a Prefeitura, não no bolso, mas sob os lençóis, e por isso as autoridades fazem vista grossa ao seus negócios. A verdade é que pouca gente se importava com o que se fazia na cidade desde que não fosse nas ruas. E isso Adonis Cambraia conseguiu, limpou as avenidas de travestis e prostitutas e colocou todos trabalhando para ele.
Ele entra no prédio principal, passando pelas poucas pessoas que transitavam pelo saguão, o centro nervoso da construção, aquela hora do dia o movimento estava fraco, mas em algumas horas, com o cair da noite, fervilharia de gente em busca de todo o tipo de satisfação, o local era uma verdadeira “ilha da fantasia” de concreto e aço.
Seu destino era a parte mais reservada do estabelecimento no segundo andar onde Adonis tinha seu escritório. Ficava atrás da boate que ocupava todo aquele pavimento. No salão, homens e mulheres dividiam o enorme espaço entre o bar e a pista de dança, agora vazia. Funcionários andavam para lá e para cá, organizando tudo para o expediente que iria começar.
Disco atravessa a boate e penetra num corredor que leva à área dos camarins e ao escritório, mas é barrado por um homem negro, magro e de cabelo cortado rente, ladeado por mais quatro brancos e vestindo ternos escuros.
- Aonde pensa que vai, meu chapa?
- Quero falar com Adonis.
- E quem é a sua pessoa?
- Vocês são novos aqui, não?
Ninguém responde.
- O mercado de capangas deve estar muito difícil, mesmo, estão aceitando qualquer coisa. - Comenta com ironia - Meu nome é Charles Disco.
- Então você é o Charles Disco. Está ficando famoso, cara!
- Dá pra você sair da frente?
- Eu saio da frente se você se identificar.
- Não preciso de identificação. - Fala forçando passagem - Adonis me conhece.
Os homens sacam revólveres e apontam para ele.
- Mas eu não conheço. - Torna o homem - Dizem que o Disco anda sempre bem armado, vamos ver se é verdade.
Retira a pistola do coldre sob a axila enquanto ele ergue os braços.
- Rapaz... Isso aqui é um canhão. - Diz examinando a arma. - Mas só tem isso?
Os outros riem.
- É muito pouco para o nome que tem.
- Talvez ache isso por estar procurando no lugar errado.
- Qualé, mermão! - Altera-se o homem - Tá a fim de tirar onda comigo?
Disco continua com as mãos erguidas.
- De forma alguma. Se olhar na minha mão direita vai encontra algo que talvez o satisfaça.
Ele abre um pouco os dedos e mostra uma granada de mão.
- Se olhar na minha mão esquerda, verá o pino que pertence a ela.
O homem arregala os olhos.
- E se não sair da minha frente, agora, vou enfeitar a parede com os seus culhões. Fui claro?
- C-Cuidado com isso, cara. - Gagueja o líder enquanto os demais baixam as armas e se afastam alguns passos para trás.
Nesse momento, Adonis sai de sua sala. É um homem mulato, de estatura mediana, cabelos pretos gomalinados, penteados para trás e amarrados num rabo de cavalo, ostenta um fino bigode preto e veste um terno marrom bem cortado, além de jóias e anéis discretos.
- Charles Disco! Que bons ventos o trazem, meu amigo?
- Gostaria de falar com você, pode ser? - Diz recolocando o pino na granada, guardando-a no bolso e estendendo a mão direita aberta em busca de sua arma que ainda estava em poder do segurança.
- Mas claro! Sabe que é sempre bem vindo aqui. - Fala ele aproximando-se e passando-lhe o braço em torno dos ombros amistosamente, ignorando seus homens.
Disco recoloca a pistola no coldre.
- Estava tendo problemas com a segurança?
- Nada que um pouco de educação não resolvesse.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 07)

CAPÍTULO 07
No dia seguinte, uma notícia na primeira página do jornal, chama a atenção de Disco e um telefonema trás a confirmação de algo que já previra.
- Disco, desgraçado! - Exalta-se Matias do outro lado da linha - Já viu os jornais de hoje?
- Claro, Matias. Não precisava ser adivinho para saber que isso podia acontecer.
- Já tem alguma pista?
- Por enquanto sei tanto quanto você.
- Se souber de algo você me contata. O.k.? Estamos nessa juntos.
- Pode deixar. Assim que souber de alguma coisa eu te conto.
Disco desliga o telefone sem saber se o Delegado tinha ficado alegre ou triste pelo fato dele estar na estaca zero.
Algumas horas depois ele atravessa o aterro do flamengo a bordo de sua pick-up em direção ao bairro de Ipanema, próximo ao posto 10 na Zona Sul.
- Detesto procurar o Reverendo Hammer. - Pensa ele - Mas como foi sua filha que foi sequestrada, não tenho outra alternativa.
A Seara dos Homens Santos havia se instalado no início dos anos noventa no rastro de outras denominações que vinham como ela, trazer alento aos necessitados, só que esta especialmente, cobrava um obrigatório e extorsivo dízimo religioso que serviria para promover o reino dos céus na terra alegando que grandes bênçãos vinham com grandes ofertas.
Nesses anos tornara-se um conglomerado que se espalha por todas as partes do país e até algumas do exterior. Seu poder hoje compete em muitos lugares com o do Vaticano e seu líder auto denominado “Reverendo”, Jeremias Hammer, passou de ex-detento condenado por uma extensa gama de crimes a líder máximo de uma seita fundada por ele, monopolizando a fé de milhões de pessoas com suas promessas e seus exorcismos em massa.
Hammer representava tudo o que Disco mais detestava, vivia em meio a uma teia de ações duvidosas que alguns sabiam, mas não podiam ou não queriam provar, sob um manto de aparente filantropia. Era o contrário dos ideais pelos quais procurava lutar, mas agora tudo isso devia ser momentaneamente colocado de lado na busca por pistas do paradeiro da pequena Anna Carla.
No templo principal, informaram que o líder estava recolhido a sua residência na zona oeste tentando refazer-se do choque. Disco deixa o suntuoso prédio com sua fachada de vidro negro e escadarias de mármore da mesma cor, realçada pelas garrafais letras douradas que anunciavam a finalidade daquele lugar, e segue para o endereço obtido com um dos “auxiliadores”, como eram chamados os assistentes de Hammer.
A propriedade do Reverendo ficava num vasto terreno na zona oeste da cidade. Era um sítio numa parte bem distante da área central, com muitos quilômetros de extensão e cercado por gramados. Fora construído copiando as grandes mansões sulistas dos EUA da época da secessão. Era uma espécie de atração turística no local, dado seu aspecto extravagante.
- Parece que estou entrando em... E o vento levou! - Pensa Disco ao entrar após identificar-se na guarita ao lado imenso portão metálico da propriedade. – Deve ser alguma fixação...
À porta, um mordomo de terno escuro veio recebê-lo.
- Pois, não, senhor?
- Desejo falar com o senhor Hammer, meu nome é Charles Disco.
- Aguarde um momento, por gentileza.
O homem some no interior da casa deixando disco sozinho e retorna em alguns minutos.
- Ele está a sua espera na biblioteca, queira me seguir por favor.
Disco é conduzido a uma imensa sala onde o Reverendo o esperava de pé, tendo por trás uma estante repleta de livros, vestindo um robe de chambre grená sobre calças cinza chumbo e sandálias de couro preto. Era um homem alto de queixo quadrado e face austera, com olhos verdes brilhantes e agudos, tinha o cabelo castanho claro cortado curto em escadinha.
- Seja bem vindo, Sr. Disco. O que deseja em minha humilde casa?
- Acho que já deve imaginar... Venho em busca de informações sobre o rapto de sua filha.
- Interessado em pegar o caso?
- Digamos que já estou num caso onde as circunstâncias são coincidentes.
- Compreendo... E o que quer saber?
- Conte-me o que aconteceu ontem, com detalhes.
- Bom... Como já deve ter lido nos jornais de hoje, não há muito para contar, infelizmente. Minha filha é responsável pela formação de novos pastores e uma vez por mês, recebe caravanas de todas as partes do país e do mundo para um sadio intercâmbio entre os missionários da nossa obra divina.
- Quantas pessoas de cada vez?
- Centenas. Jéssica é a líder de uma equipe especializada na recepção desses convidados, que são encaminhados a uma cerimônia especial de batismo na piscina do templo, aos seminários sobre o Santo Ofício de pregar a Palavra de Deus, ou ainda para a ordenação de novos pastores.
- E não dá para controlar o fluxo de pessoas nessas ocasiões, estou certo.
- Isso mesmo. Nosso templo é a Casa de Deus, aberta a quantos quiserem buscar Seu conforto e Sua luz.
- Conte-me sobre o rapto de sua filha.
- Eram dez horas da manhã e o primeiro grupo do dia chegava. De repente, como se saíssem do próprio chão, surgiram homens armados que renderam a todos sem que fosse esboçada qualquer reação.
- Poderiam estar infiltrados entre as pessoas?
- Não posso dizer. A única coisa que sei é que eles levaram minha querida filha. Estou desolado.
- A polícia está no caso?
- Foi acionada imediatamente, mas ainda não tem nenhuma pista. E o Sr?
- Por enquanto estou igual a eles, apenas investigando.
- Estou disposto a ser muito generoso com quem ajudar a achar minha filha.
- Vou procurar me lembrar disso.
Disco deixa a casa de Hammer, sem disfarçar o asco que aquele homem lhe causava. Acusado de um cem número de crimes, todos arquivados por falta de provas e elevado a categoria de Emissário de Deus pelos fiéis que espoliava, ele era uma figura sombria pairando sobre a cidade. Sua tristeza parecia sincera, mas Disco não conseguia ser solidário com sua dor.

domingo, 27 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 06)

CAPÍTULO 06
Três dias depois, Disco dirige-se no volante de sua pick-up ao Grajaú, numa das transversais arborizadas da Rua Pereira Nunes, chegando ao apart-hotel no meio da tarde. Vai até o balcão e interpela um homem uniformizado que está costas para ele.
- Por favor, amigo, Qual é o apartamento de Eleonora Kiriaki?
- Tem hora marcada?
- Sim. Está no nome Charles Disco.
O homem consulta a tela do computador e encontra o nome.
- Quarto 1503. Deixe-me anunciá-lo...
- Antes de subir, gostaria de falar com o gerente.
- Está falando com ele.
- Me desculpe. É muita sorte minha encontrá-lo...
- É que estamos com problemas de pessoal e quando o recepcionista sai para almoçar eu fico em seu lugar.
- Poderia me dar uns minutos de sua atenção? Sr.?
- Martinez, Eugênio Martinez.
- Estou trabalhando no caso do sequestro de Eleonora Kiriaki e gostaria de conversar um pouco com o Sr. É possível?
- Mas claro. O rapaz logo estará de volta... Se puder aguardar alguns minutos...
- Farei melhor: subirei para minha entrevista e na volta eu o procurarei.
No triplex, Disco é recebido por uma mulher baixa e magra, de cabelos pretos e curtos, face austera e olhos escuros penetrantes.
Da porta ele a segue em direção a sala de estar instalando-se em grandes sofás diante de amplas janelas envidraçadas com uma bela visão de um jardim interno.
- É um prazer recebê-lo, Sr. Disco. É muito bom saber que após todo esse tempo. ainda existe alguém que se importa com o paradeiro de madame Kiriaki.
- A polícia ainda está no caso, Srta. Eliana.
- Sei disso. - Diz desconsolada - Mas acredito que quanto mas gente tiver envolvida nas investigações, melhor será. Já faz um interminável ano e nenhuma notícia. Todos tememos o pior, mas enquanto não tivermos certeza, temos esperanças.
- O que pode me contar sobre o dia em que a levaram?
- Não muita coisa, receio. Foi tudo muito rápido. Eram dez horas da manhã, Eleonora havia levantado em seu horário habitual, nunca dormia até muito tarde, e já se preparava para sair quando bateram à porta. Através do olho mágico, divisei um empregado do hotel e abri.
- Era alguém que já conhecia?
- Não. Mas como sabe, esse prédio necessita de muitos empregados e infelizmente o rodízio é grande. Não é possível fixar rostos.
- Então abriu a porta e...
- Eles entraram como um vagalhão. De armas em punho e mascarados.
- Tinham algum líder aparente?
- Foi tudo muito rápido, mas parecia que eram atores representando um papel, tal a precisão e a tranquilidade com que agiram.
- Levaram muitas coisas de valor?
- Sim. Uma grande soma. Mas tudo o que levaram pode ser reposto. Apenas a presença de Eleonora é insubstituível. - Fala ela fazendo uma grande força para manter a fleugma.
Mais tarde, ele volta ao saguão e encontra uma outra pessoa atrás do balcão.
- Onde está o Sr. Martinez? Sou Charles Disco.
- No escritório - Responde o recepcionista - E deixou instruções para que fosse ao seu encontro. É a última porta a esquerda por aquele corredor.
Disco bate a porta no local indicado e ouve uma voz vindo de dentro.
- Pode entrar
A sala não era muito grande, mas decorada com bom gosto. Uma grande mesa de vidro com telefones coloridos, bandeirinhas do hotel e agendas, armários e carpetes num mesmo tom bege completavam o ambiente.
- Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o sequestro de sua hóspede da cobertura.
- Nem me fale nisso! - Exclama ele passando a mão na testa alta - Foi uma publicidade horrível para o Hotel. Depois disso tivemos de triplicar a segurança.
- Notou alguma coisa estranha, algo que fosse digno de nota próximo do dia em que tudo aconteceu?
- Não. Estava tudo normal. Bem...exceto pelos problemas com pessoal. Atualmente é muito difícil encontrar gente que deseje fazer carreira num mesmo emprego. Trabalham alguns meses e logo vão embora.
- Tem ideia de como os sequestradores entraram no seu hotel?
- O mais provável é que tenham entrado pela garagem do subsolo e de lá alcançado a cobertura. Aqui na recepção não vimos nada.
- Atacaram mais algum hóspede?
- Não. Felizmente.
- Há condição de falar com o pessoal que trabalhava naquela época?
- Será um pouco difícil. A maioria não está mais conosco.
-. Poderia me conseguir seus nomes? Pode ser importante.
- Vou tentar. Consultarei o arquivo de pessoal e farei cópias.
- O ideal seria dois meses antes e dois meses depois do ataque.
- Vou ver o que posso fazer. Como disse, estamos com problemas e a rotatividade dos empregados é grande...
- O que puder fazer, eu agradeço muito. - Diz levantando-se, apertando a mão do gerente.
- Quando tiver algo é só ligar... - Fala tirando um cartão de visitas do bolso e estendendo ao homem.

sábado, 26 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capitulo 05)

CAPÍTULO 05
Disco cruza a cidade e para sua moto próximo a um dos muros da imensa propriedade dos Monte Verde localizada na velha Estrada da Barra, bem próxima ao Itanhangá. Habilmente sobe no selim da motocicleta e pula alcançando o topo do alto muro. Uma rápida olhada, um salto e está de pé do lado de dentro. Avança medindo os passos por vários minutos por dentro do terreno arborizado evitando as trilhas normais até chegar a mansão imponente que dominava aquele despropósito de terras.
- Até aqui foi fácil. - Pensa ele - Achei que teria mais dificuldades para entrar.
Atravessa o bem cuidado jardim e sobe as escadas que levam a varanda colunada que ladeia toda a casa. Quando põe os pés sobre o piso de mármore de carrara Cor-de-rosa e branco cortado em lajes de um metro quadrado é surpreendido pelo engatilhar de armas. Ainda abaixado na tentativa de esconder sua presença, vê a sua frente as pernas envolvidas em uma meia calça branca e o sapato alto cor-de-rosa de Sheila Monte Verde.
- Bom dia, Senhor Disco. Seja bem vindo!
Ele endireita-se e vê a mulher diante dele, ladeada por um batalhão de homens de terno escuro fortemente armados.
- Está tudo bem, rapazes! - Fala gesticulando - Podem deixar o Senhor Disco por minha conta. Apesar da entrada pouco educada, ele está trabalhando para nós.
Os homens se retiram.
- O que tentava provar com isto?
- Queria apenas testar a sua segurança.
- Como pode ver, ela é perfeita. Estava sendo monitorado desde o modo deselegante como pulou o muro.
- Mesmo assim cheguei até aqui.
- Foram ordens minhas, não queria estragar o seu passeio. O que achou do que viu?
- Foi muita bondade sua. É tudo muito bonito, mas não foi por isso que vim até aqui. Preciso de mais informações.
- De que tipo?
- Toda que puder me ajudar a encontrar a sua sobrinha.
- Então pode começar a perguntar.
- A quanto tempo tem esse sistema de segurança?
- Meu pai sempre foi muito meticuloso nesse sentido. Sempre houve segurança nesta casa. Nós nos orgulhamos de mantermo-nos sempre atualizados nesse campo. Desde que nasci pude desfrutar de muita paz nesse lugar. Posso dizer mesmo que temos a melhor equipe de segurança do país.
- Só que infelizmente não foi suficiente...
- Mérito dos sequestradores, Não negligência nossa.
- Será que poderia dar umas voltas por aí?
- Porquê?
- Gostaria de falar com a criadagem
- Vou providenciar. - Diz virando-se e entrando na casa - Venha comigo.
Ela leva Disco até a sala de estar da mansão onde encontra uma mulher vestindo um sóbrio tailleur, de pé próximo a escada de mármore que sobe para o segundo andar. Fala algo com ela e volta para perto de Disco que admirava a suntuosidade do local.
- A governanta vai preparar as entrevistas, mas desde já adianto que isso não será de muita valia. A polícia já fez isso.
- Tenho de lembrar a senhorita mais uma vez: - Fala enquanto examina o luxo dos lustres de cristal e das obras de arte espalhadas pela casa -  Eu não sou da polícia.
Um pouco irritada, Sheila muda de assunto.
- Todos os nossos empregados estão conosco a muitos anos. São da mais absoluta confiança e recebem salários muito acima dos pagos pelo mercado.
- Não estou dizendo o contrário, mas às vezes um empregado vê mais coisas que o seu patrão. E é justamente o que eu procuro: detalhes que passaram despercebidos aos sabujos do Matias.
Disco circulou por toda parte, sempre sob os olhos atentos da governanta e dos seguranças, entrevistou todos os empregados e não conseguiu muita coisa. Os criados sabiam pouco mais do que os donos da casa. Todos tinham como dissera Sheila, mais de dez anos de trabalho ininterrupto. Apenas um caso destoava dos demais.
Há exatos oito meses, o jardineiro, que morava fora da propriedade, fora atropelado ao sair de casa e quebrara uma perna; sendo substituído por um outro indicado por uma agência de empregos de máxima confiança, com todas as referências possíveis. Trabalhou por três meses, até que o acidentado se recuperasse totalmente e retornasse em plena forma às suas atividades. Segundo Sheila e a governanta era de conduta e pontualidade irrepreensível, mas quando José, o jardineiro, retornou, não quis ser efetivado como seu ajudante e resolveu ir embora.
- Ele estava em casa quando a menina foi levada?
- Sim. Ainda trabalhava conosco. - Respondeu a governanta - A polícia o interrogou, e liberou como a todos os outros.
Quanto as armas, apesar dos presentes não saberem definir, percebeu que utilizaram submetralhadoras com alto poder de fogo, fuzis e pistolas automáticas e semi-automáticas, o que demonstrava ser coisa de profissionais. A entrevista com o avô, ainda traumatizado, com a babá e a mãe, não rendeu nada que Disco ainda não soubesse.
- Acho que está na hora de ir. - Fala descendo as escadas ao lado de Sheila. - Pode arranjar alguém para me acompanhar até o local onde deixei a minha moto? - Diz irônico - Sabe como é... De repente me confundem com algum desafeto da família e aí já viu...
- Não é necessário, senhor Disco. Já mandei trazer a sua antiguidade. Ela está na saída principal. - Aponta para a porta.
- Sua gentileza não tem tamanho.
- O que pretende fazer agora? - Pergunta enquanto Disco senta-se na moto.
- É segredo profissional. - Diz ele ligando a motocicleta - Quando tiver algo eu lhe procurarei.
Afasta-se ruidosamente levantando uma nuvem de fumaça e poeira.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 04)

CAPÍTULO 04
É manhã de segunda-feira e Charles Disco está em Copacabana numa das ruas transversais que dão acesso a avenida Atlântica e cruza a rua, indo na direção das escadas de mármore da delegacia 54. O prédio é antigo e foi reformado na década de 90 para abrigar a Delegacia Central onde estava o Departamento Antissequestros da zona sul. Tem estilo misto e mastros com bandeiras da cidade e do estado exatamente sobre as duas colunas que ladeiam a entrada.
Aquela hora, a sala do delegado-chefe Cláudio Vicente Matias estava calma. Tudo naquele dia estava normal. Era uma sala ampla com uma mesa escura no centro, cujo tampo luzidio refletia as lâmpadas fluorescentes do teto. Sobre ela, três telefones, um vermelho e dois beges, um porta retrato duplo com fotos de família e a plaqueta triangular com seu nome escrito em bronze sobre ébano.
Matias era um homem grande, moreno, de cabeça quadrada e cabelo crespo, com um fino e bem tratado bigode. Estava sentado a mesa, segurando uma caneca de café com ambas as mãos, realçando o ventre gordo ao qual faltavam alguns exercícios.
Alguém bate na porta.
- Pode entrar! - Ordena ele.
O delegado Fecha a cara quando reconhece a visita.
- O que quer aqui?
Disco nunca deixava de se impressionar com a mania de limpeza de Matias. Havia um arquivo metálico à direita e um pequeno armário preto à esquerda, onde mantinha seus processos, sobre ele, uma cafeteira elétrica e alguns copos. A porta do banheiro ficava também à direita.
- Vim conversar com você.
- Acho que não temos nada para conversar. - Diz secamente.
- Sabe, Matias... Eu adoro vir aqui. Esse seu escritório parece saído de um comercial de produtos de limpeza.
- É delegado Matias, senhor Disco. Diga logo o que o trouxe aqui. Não tenho tempo a perder com você.
- Não imagina? - Pergunta ironicamente - Quero informações sobre o rapto de Anna Carla Monte Verde.
- Então aceitou o caso?
- Sim. E obrigado por me indicar.
- Bah! - Desdenha ele - Só queria me ver livre daquela gente chata. Ficavam o tempo todo no meu pé.
- A coisa está tão feia assim?
- Estamos fazendo o melhor que podemos. Não precisamos de ninguém para nos encher o saco. E isso vale para você também!
- Não se altere, Matias. Que tal me contar o que já descobriu?
- Quer dizer que o grande detetive agora recorre aos profissionais?
- Eu não sou detetive, Matias!
- Muito bem, “grande aventureiro”, vou dizer-lhe o que sabemos, até porquê não é segredo para ninguém: A menina foi raptada por um bando muito bem treinado, que sabiam exatamente como agir e quem levar. Interrogamos todos na casa e não descobrimos nenhuma pista. Só o que sabemos é que esse não foi o seu primeiro ataque.
- Como assim?
- Há exatos seis meses antes do seqüestro da garota, um grupo que corresponde a mesma descrição desses, atacou a cobertura de Eleonora Kiriaki no décimo quinto andar de seu prédio no Grajaú em pleno dia e a levaram junto com a maioria dos objetos de valor sem que ninguém notasse nada de anormal.
- Qual a idade dessa Eleonora?
- Sessenta e cinco anos.
-. Tinha alguma ligação com a família Monte Verde?
- Nós checamos isso. Freqüentavam as mesmas festas e encontros sociais, nada mais, como uma centena de socialites da cidade. Nenhum padrão aparente já que no caso da menina dos Monte Verde nada foi levado.
- Ambas são mulheres, ricas e raptadas num espaço de seis meses sem resgate. Isso me parece um padrão.
- Que quer dizer o quê?
- Me faz pensar porque não teriam feito contato... Será que não terminaram seu trabalho e voltaram a atacar de novo por esses dias?
- Ataques de seis em seis meses? - Debocha o Delegado.
- Daria tempo para estudarem uma outra possível vítima.
- É óbvio demais.
- Os árabes tem um ditado muito interessante... Ele diz que se uma coisa acontece da mesma forma duas vezes, com toda certeza acontecerá uma terceira. Às vezes, meu caro Matias, é nas coisas óbvias que se escondem as respostas para os maiores enigmas. - Fala Disco saindo da sala.
- É Delegado Matias, Sherlock de araque! - Esbraveja enquanto a porta se fecha atrás de Disco.

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 03)

CAPÍTULO 03
Disco abre um dos alforjes pendurados na lateral de sua moto e retira de lá dois objetos. Do outro lado retira uma espingarda de dois canos e vira-se para a praça.
O tempo estava quente e uma brisa fresca balança as árvores.
Disco coloca uma das granadas no bolso externo do sobretudo, a espingarda sob o braço direito e dá uns passos em direção da praça. Com o indicador da mão direita puxa o pino da granada em sua mão e lança-a no meio dos punks. A explosão apanha-os em cheio, arremessando corpos para todos os lados. Segundos depois os punks jaziam espalhados por toda a praça.
Disco avança lentamente. O silêncio que se faz só é quebrado por seus passos no asfalto e depois sobre a grama e pelos débeis gemidos dos punks que ainda estavam conscientes. Ele dirigiu-se mais uma vez ao líder que estava caído a poucos metros de onde falara com ele pela última vez com a cara enterrada na grama.
Ele abaixa-se segura os cabelos de Shirley pela nuca levantando seu rosto sujo de terra e apontando os dois canos da arma para seu nariz. O homem geme e balbucia algo, abrindo os olhos e deparando-se com as duas bocas negras da espingarda.
- Sabe o que é isso, Shirley?
O homem arregala os olhos.
- É uma cano duplo calibre 12 feita especialmente para mim.
O homem estremece.
- Eu poderia estourar sua cabeça como um melão podre. Você tem sorte de eu ser bonzinho e só ter usado uma granada de concussão contra vocês, porque senão, a essa hora a polícia teria de juntar os pedaços da sua gente com uma pá de lixo.
O punk sua frio.
- Não quero desperdiçar munição com gente da sua laia, ela é muito cara. Quero apenas que parem de envenenar pessoas inocentes!
Em volta mais alguns voltam a consciência.
- E mais uma coisa: Se eu souber que mais alguém foi contaminado e um de vocês estava no mesmo quarteirão que ela , preparem-se, porque o primeiro a ser eliminado será você. E se continuarem... Para cada doente que aparecer, vou pegar dois de cada vez, até que não reste nenhum. Até que toda a sua corja tenha desaparecido completamente da cidade. Você me entendeu?
Shirley assente com a cabeça.
- E para que não pense que estou brincando, vou deixar em você uma pequena marca da minha palavra. - Disco puxa para trás os dois cães da espingarda e o homem entra em pânico.
- Tudo bem, cara! Tudo bem! - Protesta o punk - Já entendi o recado!
- Ótimo. Porque não quero que tentem nenhuma gracinha. Se cruzarem o meu caminho novamente...
Disco larga o punk e afasta-se, sempre de frente para a praça. Monta na moto e some na noite.
- É como vovô sempre me dizia: com educação e gentileza se consegue tudo. - Pensa ele.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 02)


CAPÍTULO 02
É noite de sábado na Zona Sul e a roda prateada de uma motocicleta Harley Davison de garfo dianteiro longo modelo 1969, encosta na calçada a poucos metros de uma praça mal iluminada numa área barra pesada na periferia do Centro Antigo próximo ao bairro da Glória e da Lapa.
- Acho que nem os homens da Seara dos Homens Santos se atreveria a sair a esta hora da noite. - Pensa Disco desligando a moto. - Mas, enfim... há um trabalho a ser feito. É incrível como os cidadãos tornaram-se prisioneiros de suas próprias casas nesses tempos. Os que não são achacados tolamente pelo Reverendo Hammer e seus iguais, cederam a cidade aos delinqüentes de todos os tipos que perambulam por aí tentando conseguir algum dinheiro fácil.
Disco observa adiante, no centro da praça, um grupo de punks que fazem algazarra num gramado ao redor de uma fogueira, numa orgia de todos os tipos.
- Há notícias de viciados contaminando inocentes com o vírus da AIDS através de seringas cheias de seu próprio sangue e eu fui contratado para acabar com isso. A AIDS hoje em dia não é mais do que uma doença sexualmente transmissível entre tantas, mas seu tratamento longo e trabalhoso. A atitude irresponsável desses idiotas pode resultar em uma nova epidemia. Eu tenho duas maneiras de resolver esse problema, uma fácil e uma difícil... A difícil vou tentar agora.
Ele deixa a moto e caminha em direção ao grupo. Usa um longo sobretudo jeans sobre suas roupas e luvas com dedos curtos próprias para dirigir.
- Boa Noite! - Diz ao aproximar-se.
- Qualé, cara? - Pergunta um punk com cabelo cortado em corte moicano que estava com o rosto mergulhado nos seios de uma mulher com longos cabelos pretos eriçados e vestindo calças e um colete aberto de couro preto.
- Estou aqui para conversar com vocês.
- Tu é tira? - Pergunta outro punk, vestindo-se com roupas rasgadas e com um garrote de borracha no braço pronto para se aplicar com a droga contida numa seringa que estava em sua outra mão
- Não. Sou apenas um cidadão interessado.
- “Cidadão interessado” é? - Debocha um outro punk - Tu tá é a fim de um pico.
- Se for isso - Diz o primeiro - É melhor “sartá” fora que a gente não fornece bagulho. Temos apenas para o nosso consumo.
- É isso aí! - Gritam vários deles.
- Eu vim aqui porque recebi informações de que alguém desse grupo está usando seu próprio sangue para contaminar outras pessoas.
Faz-se um silêncio mortal.
Da parte mais afastada da praça, um homem corpulento aproxima-se abrindo caminho por entre os demais, aparentando ser o líder. Usa também um corte moicano e uma mosca sob o lábio inferior, colete de couro aberto, calças e botas pretas, além de piercerings espalhados pelo rosto, e nos mamilos.
- Escuta aqui, ô meu! - Desafia - Quem você pensa que é?
Disco fica em silêncio e ele se entusiasma.
- Chega aqui com esse cabelinho, essa roupa de hippie fora de moda e pensa que é o maioral! Te manca “mermão”!
- Escuta aqui vocês, panacas! - Reage Disco - Pouco me importa que fim vocês vão levar! Se querem se drogar, se droguem! Se querem morrer, morram! Mas deixem quem não tem nada a ver com isso longe das merdas que fazem com suas vidas!
Os punks erguem-se da grama e começam  cercar Disco.
- Acho melhor o garotão se mandar! - Diz o líder - Teu papo de “paz e amor” não tá colando!
- É isso aí, “Shirley”! - Grita um mais exaltado - Vamo dar um pau no otário!
- Tá vendo, malandro! - Fala Shirley, o líder. - Te manda antes que eles resolvam dar a você o tratamento especial.
Um dos punks sai das sombras com um porrete, outro com uma corrente pendendo das mãos e outro ainda trazendo uma seringa cheia de um líquido espesso e vermelho.
- Olha bem para isso aqui, cara! - Diz o homem com a seringa. -  Essa é a seiva das árvores contaminadas que nascem na selva da cidade. O sangue maldito que corre em nossas veias.
Disco permanece impassível e värios punks gritam incentivando o homem.
- É isso aí!
- Valeu poeta!
- Falou bonito agora!
- Te manda, cara! - Diz Shirley - Ou quando terminarmos contigo nem tua mãe vai te reconhecer!
- Isso mesmo! - Diz o poeta - E depois deixaremos a nossa marca e o tornaremos mais um irmão de sangue. O sangue podre que é a nossa herança para o mundo!
Depois dessas palavras, Disco afasta-se lentamente, mas sem dar-lhes as costas, voltando para a moto. Quando sentem que ele vai embora os punks se acalmam e suas atenções voltam-se para o centro da praça.
- Aparece cada tipo! - Comenta um.
- Tudo uns bundão. - Comenta outro.
- Cê deu duro mesmo nele, Shirley!
- Que nada! - Debocha ele - Esses babacas se borram à toa.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Charles Disco e o Sequestro Misterioso (Capítulo 01)

Escrevi essa história a muito tempo. Hoje, quando me preparava para postá-la aqui me dei conta de quanto ela está datada. Mesmo assim ainda gosto dela... Seu personagem principal é uma homenagem aos durões da ficção como Dirty Harry, John Maclane e outros tantos. Um durão à brasileira numa história de mistério e um pouco de tiros e explosões: 



CHARLES DISCO E O SEQUESTRO MISTERIOSO




CAPÍTULO 01
LOCAL: O Rio de Janeiro de uma realidade alternativa em algum ponto dos anos 90.
- Querida... Tem certeza de que é por aqui?
- Cale a boca, George! Se eu dependesse de você, nunca teríamos encontrado o lugar. É claro que é aqui!
-Desculpe ...Querida...Mas... Esse bairro é tão esquisito...
- Tem razão, George, ainda mais para um covarde como você!
Sob a chuva fina, o casal avança munido de guarda-chuvas pelas calçadas estreitas das ruas aquela hora quase desertas do Centro velho da cidade entre a Praça XV de Novembro e a Rua Primeiro de Março. A sua volta, sobrados antigos com janelas em arco envidraçadas. Algumas ainda gastas pelo tempo e outras restauradas para servir como opção barata de aluguel de escritórios. As fachadas sucedem-se de ambos os lados, formando um mosaico com a cantaria e as antigas luminárias que cruzam a rua
A mulher é alta e bonita, veste um tailleur com mini saia, meia-calça brancas e sapatos de salto alto brancos. Tem cabelos louros encaracolados e bem tratados num corte moderno até os ombros, pequenos brincos brancos em forma de meia esfera e uma pequena maleta quadrangular também branca nas mão além do guarda-chuva cor-de-rosa.
O homem é magro, mas não muito. Tem cabelos castanhos curtos e anda encurvado, usa um terno tipo jaquetão cinza chumbo com botões, sapatos pretos além de um guarda-chuva também dessa cor.
- Chegamos, George, é esse o número!
- Aqui é o 528?
Estavam diante de uma entrada estreita, por onde subia uma escada de madeira quase vertical que perdia-se na escuridão.
Eles fecham os guarda-chuvas e começam a subir.
- O número da sala é 212. - Diz a mulher.
A medida que sobem, os degraus rangem, sob seus pés.
- Quantos anos deve ter esse lugar?
- Quem se importa com isso? - Fala ela - Não somos da Prefeitura para inspecionar a conservação do prédio. Quero é encontrá-lo aqui.
No topo da escada, um corredor se estende à direita e a esquerda.
- Vamos por aqui. - Diz a moça indo pela direita.
Andam alguns passos e param diante da porta 212. A mulher bate e de dentro uma voz é ouvida.
- Entre!
A sala não era muito grande. Á direita um homem alto de cerca de 30 anos estava de pé diante de uma grande janela, segurando uma caneca de porcelana branca nas mãos. Tem os cabelos pretos, compridos e encaracolados na altura dos ombros, barba mal aparada e usa uma camisa de malha  de gola polo, calça jeans e botas de alpinista.
- O que desejam? - Pergunta ele virando-se e indo sentar-se por trás de uma escrivaninha meio suja, com alguns bibelôs em cima, além de uma luminária antiquada e um telefone. Apoiando a caneca sobre o tampo.
- Procuramos por Charles Disco. - Fala a mulher.
George olha em volta como se estivesse vendo algo para ele muito estranho. Era um escritório pequeno. A escrivaninha dominava o ambiente. À direita estavam as duas janelas grandes com cortinas e no espaço entre elas um abajur de pé. Tudo com ar de antigüidade. Também do lado direito, na parede contígua a porta haviam dois sofás de um só lugar de madeira e couro. Por trás da escrivaninha, um mapa do Estado do Rio de Janeiro amarelado domina toda a parede, e sob ele um arquivo metálico de um metro e meio de altura ocupava todo espaço a exceção do canto esquerdo onde havia a porta de entrada da cozinha e da área de serviço.
- Então já encontraram.
- Estamos aqui por indicação do Delegado Cláudio Vicente Matias. Que apesar de afirmar não gostar muito do Senhor, achou que o melhor, na atual situação era procurá-lo. – Diz a mulher de forma pouco cortês.
- Sinto-me lisonjeado pela lembrança... Devo dizer que meus sentimentos com relação ao Delegado também podem ser descritos nesses termos... Porém, isso agora não vem ao caso. Quem são vocês e o que querem aqui?
- Meu nome é Sheila Monte Verde e esse é o meu noivo, George. Sou neta do renomado Juiz e Senador Oscar Monte Verde. Você deve conhecer. - Diz estendendo-lhe um cartão de visitas.
- Não. Infelizmente não conheço. - Pousa o cartão sobre a mesa depois de olhá-lo. - O que querem de mim?
- Precisamos dos seus serviço para encontrar minha sobrinha, Anna Carla Monte Verde - Diz a moça retirando uma foto da bolsa e estendendo-a a Disco. - Ela foi seqüestrada de dentro da nossa propriedade.
Disco olha a foto de uma menina loura e bochechuda de aproximadamente três anos de idade.
- Procuraram a polícia imediatamente?
- No mesmo dia, mas de nada adiantou. Ela simplesmente sumiu no ar. As investigações estenderam-se por longo tempo sem qualquer pista. Os policiais disseram para esperarmos o pedido de resgate para poderem fazer mais alguma coisa.
- Quanto tempo faz que levaram a menina?
- Seis meses.
- E nesse tempo não houve nenhum contato?
- Não.
-É bastante tempo. - Diz como que para si mesmo.
O casal permanece calado.
- Muito bem. Eu aceito o caso. Mas devo avisar que meu preço é bastante alto.
- Dinheiro não é problema. Ache a menina e diga o seu preço.
- Viva ou morta?
A mulher estremece por instantes, mas logo retoma sua pose habitual.
- Viva ou morta.
- Então vamos começar: Diga tudo o que sabe sobre o seqüestro incluindo o nome de todas as pessoas envolvidas. - Diz apanhando um bloco de notas em cima da mesa - Segunda-feira eu iniciarei a busca.
- Como assim, segunda-feira? - Altera-se a mulher - Porque não amanhã? - Indigna-se - Não trabalha nos fins de semana?
- Sim. Mas caso não saibam, não são meus únicos clientes. Há outras pessoas que necessitam dos meus serviços com tanta urgência quanto vocês.
Ela cala-se visivelmente contrariada.
- E quero lembrá-la, que não lhe prometi nada. Depois de tanto tempo eu nem mesmo poderia. Preciso de carta branca para trabalhar e sem pressões. Concorda?
- Mas, nós...
- Não se preocupe, senhorita... Somente cobrarei se encontrar a menina. Em caso contrário estará melhor do que está agora.
- Muito bem, senhor Disco, na verdade o senhor é nossa última esperança de encontrar Aninha. Quando puder começar a procurá-la, faça isso.
- Alegro-me que entenda a minha posição. Agora continue a contar o que aconteceu no dia em questão.
A mulher começa a explicar o acontecido, observada pelo noivo sempre em silêncio.
- Naquele dia, além da criadagem, estavam em casa, o meu avô Oscar, Hilda, minha irmã, a menina e a babá.
- Quanto mede a propriedade?
- Cerca de três hectares. Alem da casa principal, temos pomares, campos de golfe, tênis, futebol, etc.
- É possível entrar na casa sem ser visto?
- Não. Toda propriedade é constantemente vigiada 24 horas por dia.
- Sabe se houve algo especial, estranho ou fora do comum nesse dia por mais simples e banal que seja?
- Nada. Nada mesmo.
- Como se passou a coisa toda?
- Segundo as pessoas que estavam presentes, eles surgiram como se tivessem surgido do nada. Mataram todos os que ofereceram resistência e sumiram tão rápido quanto apareceram, levando a menina com eles. Vovô levou uma coronhada e foi socorrido pela babá e minha irmã levou um soco ao tentar proteger a garota.
- Levaram algo mais?
- Não. Só a menina.
- Onde vocês estavam nesse momento?
- Eu estava no escritório. Naquele dia trabalhei até as seis da noite.- Fala George.
- Porque está perguntando isso? - Pergunta indignada - Por acaso está insinuando que temos algo a ver com o rapto de minha sobrinha?
- Estou apenas colhendo dados.
- Pois muito bem... Eu estava num shoping center na Barra da Tijuca.
- Tem alguém que confirme isso?
- Como assim? - Explode ela- Está duvidando da minha palavra? Nem a polícia me tratou com tamanha infâmia!
- Acontece que eu não sou da polícia. Tenho meus próprios métodos. - Dá uma pausa para que ela se acalme. - Creio que isto é tudo, por enquanto.
- Quando devemos procurá-lo?
- Não me procurem. Quando tiver alguma coisa eu os procurarei
- Muito bem, senhor Disco, foi um prazer. Só espero não ter perdido o meu tempo - Diz estendendo a mão para que Disco a beije.
- Eu também, senhorita, espero não estar perdendo o meu. - Fala apertando-lhe a mão. - Acredito que em breve nos veremos novamente.
- Foi um prazer, senhor Disco. - Fala George. apertando a mão dele.
- Eles descem as escadas e chegam a rua.
- Você viu, George?
- O que, Sheila?
- Que homem grosso e arrogante...Não viu como ele me tratou?
- Não, Sheila.
- Como não! - Diz furiosa - Onde está com a cabeça, George? - Fala como que para si mesma. - Não sei por que eu vim aqui. Isso foi um erro desde o começo.
Os dois caminham pelas ruas ainda molhadas pela chuva que não tardaria voltar a cair.
(Continua)


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Onde está Kibentrup? (Parte 05 de 05)

- Aqui! – Diz uma voz vinda de uma porta lateral.
A camareira entra logo após um homem gordo de cabelos pretos, vestindo um uniforme do hotel e algemado.
- O que significa isso, Maria?
- O certo é agente Maria Carmem. – Diz estendendo uma carteira de couro preto com o emblema das Armas da República – Agente da Policia Federal.
- Quem é esse homem? – Pergunta o gerente.
- Não está reconhecendo, Martinez? – Pergunta a moça.
O gerente chega mais perto e sob a peruca preta reconhece o prisioneiro:
- Mas é o Barão! – Fala espantado – Para quê tudo isso?!
- É melhor ir se explicando, moça! – Diz Gonçalo.
- Vocês passam o dia todo procurando o homem, e quando eu acho ainda tenho que dar explicação?
- Tem que reconhecer que é um tanto estranho... Fala Martinez desconfiado e percebendo a mudança no tom da moça.
- Tem razão – Concorda ela – é um tanto estranho.
- Como conseguiu encontrá-lo?
Nesse instante, Silvino Alvarenga termina de fechar o seu baú e tenta sair de fininho.
- Por causa dos sapatos do Sr. Alvarenga!
Os olhos de todos voltam-se para ele , que empalidece e começa suar frio.
- E antes que tente qualquer coisa aconselho-o a ficar quietinho que é para não piorar a sua situação. Detestaria Ter que adicionar resistência a prisão em sua ficha que já é considerável.
- Dá pra alguém me explicar o que está acontecendo aqui? – Fala Fred – Não estou entendendo nada. O homem some, a gente revira o hotel todo e a camareira encontra o cara fantasiado não se sabe onde...
- Pode nos dizer porque o Barão está algemado? – Pergunta Martinez.
- Por causa disto! – Diz a moça mostrando um saquinho de veludo preto – São diamantes que tentava levar com ele enquanto escapulia pelo único lugar que não estava sendo vigiado: a saída dos empregados.
- Diamantes! – Espanta-se Gonçalo.
- Isso mesmo o Barão Kibbentrup e o Sr. Silvino Alvarenga são na verdade, contrabandistas de jóias, que usavam esse hotel como ponto de encontro.
- O meu hotel... Usado como ponto de contrabando? – Fala Martinez levando a mão à testa suada.
- Recebemos informações na Central de que estavam ocorrendo atividades ilícitas aqui e me deram a missão de descobrir o que era e como era. Aproveitei a vaga de camareira para me infiltrar e colher indícios.
- O meu hotel... – Balbucia Martinez desolado – Ponto de contrabando...
- Não precisa se preocupar... Sei que ninguém aqui tem nada a ver com isso. O Barão deve Ter escolhido seu hotel por acaso da primeira vez, e como é um homem de hábitos rígidos, o utilizou até o ano passado.
- Como “até o ano passado”? – Pergunta Fred – Ele está aqui, não está?
- Acredito que essa confusão toda significa que ele resolveu tirar alguma vantagem após todos esses anos em que serviu fielmente seus chefes. Estou errada?
A pergunta é dirigida ao Barão, que fica calado.
Com a ajuda de Silvino que era o seu contato, ele deve Ter elaborado um plano para desaparecer com as jóias e depois dividi-las com ele. Assegurando assim uma aposentadoria bastante tranqüila para os dois.
- Tudo bem... O homem não presta e tudo isso... Mas como ele saiu daquele quarto comigo e Gonçalo sentados na porta o tempo todo?
- Ele não saiu.
- O quê? – exclamam todos ao mesmo tempo.
- Isso mesmo.
- Então onde estava?
- O gerente disse que no ano passado ocorreu um vazamento no quarto  que o Barão costumava ocupar, não foi?
- Realmente.
- E como resolveram esse problema?
- Isolamos o cano, porque não havia meios de consertá-lo sem demolir metade da parede. Fizemos uma outra instalação por fora e colocamos uma divisória para disfarçar imitando a parede para esconder o serviço. Ficou um trabalho perfeito.
- Quando entrei no quarto a primeira vez com vocês dois, notei a poeira mexida no pé de uma das paredes, como se ela tivesse sido arrastada. Depois fiquei sabendo da história do conserto e constatei antes de fecharem o quarto, que o espaço era suficiente para escondê-lo. O Barão é um homem muito meticuloso e deve ter notado a mudança no ambiente, utilizando-a no plano que arquitetou para fugir com as jóias.
- E como saiu de lá?
- Preparrei a torneirra parra estourrar ao ser aberta e quando foram consertarr, saí pela porta da frente. – Fala o Barão pela primeira vez.
- Foi o que pensei quando vi o que tinha acontecido. Estava começando a juntar as coisas.
- Tudo bem... Ele saiu. E foi para onde? – Pergunta Gonçalo.
- Há um quarto que está vazio a vários dias, não é?
- Exato um homem fez a reserva e sumiu. – Diz o gerente.
- Deve ter sido a mando do Barão. Quando saiu do 505 ele dirigiu-se para lá.
- Mas nós revistamos o 606! – Fala Fred.
- Aí é que entra nosso amigo Silvino Alvarenga. – Diz Maria – Depois do escândalo que fez com vocês, deve Ter alertado o Barão, que desceu um andar enquanto revistavam um quarto vazio.
- Incrível! – Diz Gonçalo.
- Mas é verdade, não é Barão?
- Sim. – Concorda ele secamente.
- Seus movimentos foram facilitados devido a pouca quantidade de hóspedes dessa época no Hotel . Bem ... Até aí eu já sabia alguma coisa, mas tinha de ver até onde eles iriam e descobrir o porquê de tudo isso. Dentro da maleta do Silvino vi duas coisas que me chamaram a atenção: um monóculo de ourives, algo estranho se usado por um marchand, e um uniforme do hotel dobrado no meio das roupas sobre a cama. Resolvi então esperar para ver o que acontecia e quando o vi descendo para ir embora, tive um palpite e telefonei para o Sr. Martinez, sabendo que ele o seguraria o tempo suficiente para que eu encontrasse e prendesse o Barão.
- Mas o que isso tem a ver com os sapatos dele? – Pergunta Fred apontando para o marchand.
- No quarto ele estava usando sapatos tão surrados quanto o terno e depois no saguão eram novos e brilhantes.
- E daí? – Pergunta Gonçalo.
- Olhem nos pés do Barão. Não achariam estranho um funcionário de hotel calçando sapatos de cromo alemão? Quando eu percebi isso todo o plano ficou claro.
- O que pretende fazer agora? – Pergunta Martinez.
- Vou levá-los para uma Delegacia da Polícia Federal. Lá serão autuados e dirão para quem trabalhavam. E, Sr. Martinez, se não quer mais propaganda negativa, para o seu estabelecimento, sugiro que libere seus hóspedes e enterre o assunto.
- Vou fazer isso!
- Vamos embora também. – Diz Gonçalo – Não há mais nada o que fazer aqui. Ainda bem que ele pagou adiantado. – Suspira ele como que para si mesmo, enquanto Maria leva embora seus prisioneiros com a ajuda da polícia.
- Depois dessa história toda. – Diz Fred – O que eu quero mesmo é encher a cara.
- Meu caro amigo... – Resigna-se o gerente - Essa foi a melhor coisa que eu ouvi hoje. Venham comigo até o bar do hotel que a primeira rodada é por conta da casa.
- Vamos nessa, chefe?
- Mas é claro, Fred, dessa vez tenho que concordar com você...
O trio dirige-se ao bar, após Gonçalo liberar o restante de seus homens. E em poucas horas e muitos copos depois todos já esqueceram do estranho caso do sumiço do Barão Von Kibbentrup.