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terça-feira, 28 de junho de 2011

Os Três Irmãos


Durante todo o tempo do antigo primário e do ginásio eu tinha um hábito com relação às aulas de português. Antes de começar o ano letivo, logo que minha mãe comprava os livros (não tinha essa de o Governo dar livros...) eu lia todos os textos. O texto de hoje eu não li pela primeira vez num livro da escola, foi num antigo livrinho de português que eu ganhei (e tenho até hoje) com escritos curtos de autores famosos. Acho que é uma daquelas histórias formadoras de caráter. Pelo menos para mim, assim foi. Espero que possa lhes inspirar alguma coisa também... Com qual dos três você se identifica?


***


Por Viriato Correia
Os três irmãos Hajaz, Jacó e Abul saíram um dia da casa paterna em procura do Reino Feliz, que se dizia ficar muito longe, muito para além dos vaiados e penedias natais.
Andaram longamente pelo deserto, durante meses e, um dia, inesperadamente, eis que deparam com um imenso penedo inacessível, que lhes fechava por inteiro o caminho.
Pararam os três. O remédio ali era voltar. Mas, não ficava bem aos três homens, todos moços, recuar de um intento em que tanto se empenharam.
— Que dizes, Jacó? perguntou Abul.
— Acho que nosso pai se envergonharia de nós, se lhe entrássemos em casa, mostrando que não procuramos vencer um obstáculo.
— A tua opinião, Hajaz?
— Nós mesmos nos devemos sentir envergonhados se tivermos que recuar.
— É a minha opinião. Eu prefiro morrer aqui, junto deste penedo áspero, a ter que voltar as costas.
Eram três gênios inteiramente diversos, esses três irmãos.
Hajaz era vivo, alegre, sinuoso, olhar agudo, voz risonha e uma centelha amável nos olhos.
Jacó, mais concentrado, mais silencioso, olhos pacientes e voz resignada.
Abul, o mais forte de todos, fala rude, gestos tempestuosos e maneiras agressivas.
Quando alguém se opunha a Hajaz, ele, em vez de zangar-se, sorria; em vez de agredir, acalmava o adversário.
Jacó calava-se, meditando, e esperava paciente mente que a hostilidade passasse.
Abul, esse rompia em gestos selvagens, em gritos e berros fragorosos.
Diante daquele penedo que lhes fechava o caminho ao Reino Feliz, os três puseram-se a pensar longamente.
— Que devemos fazer? - Perguntou Abul, em fúria.
Falou Hajaz:
— Eu acho que devemos caminhar contornando este penedo, a ver se encontramos uma brecha, uma saída qualquer.
Falou Jacó:
— Eu penso que devemos conseguir um meio de galgar, de subir o penedo.
Berrou Abul:
— Vocês estão loucos! Sou de parecer que devemos pôr o penedo abaixo.
— Levaríamos toda a vida e não conseguiríamos! - Exclamou Hajaz.
— Seria um trabalho inútil para o qual não temos forças, observou Jacó.
— Vocês são fracos e eu não sou, rugiu Abul. Os fortes vencem pela força. Sempre ouvi dizer que as dificuldades se põem abaixo.
Falou Jacó:
— Eu penso que as dificuldades deve a gente vencê-las pacientemente.
Falou Hajaz:
— Sou de parecer que a gente deve contornar as dificuldades.
— Façam vocês o que quiserem. Vou empregar os meus braços, a minha força, para derrubar o penedo.
Separam-se.
Hajaz começou a percorrer a base da montanha de pedra, contornando o flanco que lhe ficava à frente, olhar muito agudo, a ver se encontrava uma fenda, uma brecha, uma passagem.
Jacó entrou na floresta e começou calmamente a derrubar árvores, a tecer cordas, a fim de construir uma longa escada que lhe permitisse transpor o penedo.
E Abul? Esse suava, noite e dia, de músculos entesados, cavando, cavando, na fúria de deslocar e derrubar a montanha formidável.
O primeiro a chegar ao Reino Feliz foi Hajaz. O segundo foi Jacó. Abul ainda lá não chegou. Está martelando, martelando, penosamente o penedo inabalável.
Hajaz é a habilidade, a inteligência, que sempre contorna os obstáculos. Jacó é a tenacidade paciente, Abul, a teimosia, que se julga com forças de abalar montanhas.
A inteligência vence imediatamente. A paciência custa, mas acaba vencendo. A teimosia não vence nunca.

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