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domingo, 26 de junho de 2011

Não Aguento

Por Artur Xexéu
Eu não aguento mais pessoas que começam qualquer frase com a expressão “Na verdade...” Nem aquelas que respondem qualquer pergunta dizendo “Com certeza!”. Nem mesmo as que, antes de terminar um pensamento, acrescentam um “enfim” ao discurso.

Não aguento aqueles que, diante do caos em qualquer aeroporto, comentam “Imagina como vai ser em 2014”. Ou gente que, em qualquer engarrafamento de trânsito, suspira: “Imagina como vai ser em 2014.” Ou os moradores do Rio que, diante de um bueiro entupido, preveem: “Imagina como vai ser em 2014”.

Eu não aguento mais atrizes de novela que analisam seus personagens dizendo “Foi um presente do Gilberto” (ou do Maneco, ou do Aguinaldo, ou da Maria Adelaide). Ou aquelas que, tentando definir o parceiro ideal, afirmam que “humor é fundamental”. Não aguento as que nunca protagonizam a novela das oito, mas fingem que não se importam porque “é muito melhor fazer a vilã”. Ou ainda as que celebram a profissão de atriz porque, assim, podem “viver muitas vidas”.

Não aguento participantes da “Dança dos famosos” que dizem que a disputa provou sua “capacidade de superação”. Nem jogadores de futebol que, após a vitória de seu time, valorizam sua “capacidade de superação”. Muito menos modelos que após uma ida e volta na passarela do Fashion Rio sentem-se aliviadas por sua “capacidade de superação”.

Eu não aguento mais comentaristas de moda na televisão analisando o “look” dos desfiles. Nem a supervalorização dos seriados da TV americana. E atores do palco agradecendo “aos deuses do teatro”.

Eu não aguento mais prefeitos e governadores justificando atrasos nas obras porque  “o edital está em fase de finalização”. Eu não aguento políticos do PT pedindo que a oposição “não politize” o escândalo mais recente do partido. Nem os ministros do Governo chamando a presidente Dilma de “presidenta”.

Eu não aguento mais ninguém dizendo que as redes sociais são “uma poderosa ferramenta de comunicação”. Não aguento filmes em 3D. Nem gente que se acha na obrigação de comprar o iPhone 6, quando lê o anúncio do lançamento para breve do iPhone 5.

Não aguento mais médicos diagnosticando como “virose” tudo que eles não sabem bem o que é. Nem pesquisas científicas amaldiçoando o ovo e seus efeitos no colesterol, anos depois de o ovo ter sido abençoado por pesquisas científicas porque, afinal, o ovo tem bom colesterol, apesar de, anos antes, outras pesquisas já terem amaldiçoado o ovo etc etc etc.

Eu não aguento mais a Regina Casé bancando a simpática. Nem a comoção nacional em torno do fim do Exalta Samba. Muito menos algum artista jovem que recebe prêmio, gritando na boca de cena “Valeu, galera!”. Eu não aguento mais o Luan Santana.
Coluna da Revista O Globo - 19/06/2011)


***
Essa é uma reflexão psico-neurótica e altamente politicamente incorreta, mas ele está coberto de razão e eu concordo em gênero número e grau com a maioria das coisas que ele diz e mais... poderia acrescentar algumas outras que não foram citadas. 

3 comentários:

  1. Dimas, fabuloso. Este artigo sintetiza o sentimento coletivo dos sensatos. Está cada vez mais dificil sair na rua, ligar a tv, ler o jornal e dialogar de maneira saudável e construtiva. Concordo que muita coisa ficou faltando, poderia sugerir também algumas;se vc quiser, podemos complementar este texto.

    Antes de mais nada , um recado do coração: Sensatos, morram em combate!

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  2. Acho que pela primeira vez na vida, vou concordar com o Arthur Xexéo, mas ele está coberto pela, refastelado da e escarrapachado na razão: chega dessa monotonia de frases feitas por idiotas e repetidas por imbecis. Falando em monotonia, vá ler a minha postagem de hoje, ok?
    Abração!

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  3. Amei, cabeça!!!
    Realmente, este rapaz aí de cima tem razão. "Está cada vez mais dificil sair na rua, ligar a tv, ler o jornal e dialogar de maneira saudável e construtiva."
    Bjs

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