Uma das lembranças mais antigas e significativas que eu tenho dos tempos de escola primária foi quando a professora, Dona Solange, deu para a turma um texto para ler numa daquelas clássicas folhas escritas em tinta azul e cheirando a álcool que saía dos jurássicos mimeógrafos que eram usados nas escolas do meu tempo. Devia ser uma versão antiga desse que está aqui embaixo. Esse texto me marcou muito por que, olhando retrospectivamente, foi o primeiro contato que eu tive com um pensamento que iria nortear e moldar minha personalidade ao longo dos anos. Uma ideia que abracei no Taoismo (minha filosofia pessoal) e no Zen-Budismo (uma fusão do taoismo com o budismo que floresceu na China e no Japão) que gosto muito de estudar; e que versa sobre a atenção que devemos ter nos detalhes da vida e de tentar, na medida do possível, ficar consciente do aqui e agora onde estão as sementes de tudo. Na primeira leitura daquele texto tive medo de que minha vida fosse como a daquele homem descrito e isso ficou gravado fundo no meu ser. Redescobri essa versão na Internet e queria partilhar com vocês, na esperança de que, após lê-la, não olhem para baixo e se deem conta que sua fivela está amarela...
Longe de ser uma pedra comum, o famoso amuleto possuía, diziam, propriedades mágicas fabulosas. Entre tantas, teria o dom de transformar qualquer metal em ouro, bastando tocá-lo com a referida pedra, para transformá-lo no mais valioso dos metais.
Tal expectativa norteou toda sua vida daí para frente, muniu-se de um cinto com fivela de ferro e com ele percorreu toda Índia. Pelos caminhos que andava, recolhia pedras de todos os tipos e tamanhos e tocava com cada uma delas a fivela do cinto, com a expectativa ansiosa de transformá-la em ouro.
Após longos anos, havia percorrido milhares de quilômetros, tendo tido oportunidade tocar milhares de pedras em seu cinto, sem qualquer resultado. Sentia-se cansado, seu rosto vincado pela desesperança, pela longa e infrutífera jornada que no tempo, transformara-se num ritual automático e destituído de qualquer sentido afora pegar as pedras, tocá-las na fivela de seu cinto e abandoná-las no caminho. Não desistia, seguia em seu caminho solitário, persistia em seu sonho.
Certo dia, após uma caminhada de várias horas, parou à sombra de uma árvore para descansar. Sua cabeça inclinou-se para frente e seus olhos pousaram instintivamente no cinto, na fivela. Imediatamente levantou-se num salto e invadido por imenso espanto, confirmou que afixado ao seu cinto de couro pendia uma fivela de OURO.
Em algum recanto do longo caminho trilhado, suas mãos haviam recolhido a ambicionada pedra. Sem se dar conta, havia com ela tocado a fivela de ferro que imediatamente se transformou em ouro.
Na fria rotina tantas vezes repetida, seus gestos tinham perdido o sentido da observação dos atos que realizara, não percebera a transformação ocorrida, prosseguiu sua marcha, devolvendo num ponto da caminhada, ao pó da estrada, a preciosa jóia que encontrara.
De seus olhos brotaram copiosas lagrima até o sol sumir no horizonte. Dormiu um sonho agitado até os albores do amanhecer. Levantou-se, limpou com as mãos o pó das calças e caminhou no sentido inverso que tinha feito até então. Do pequeno alforge, retirou uma fivela de ferro, trocando-a pela que de ouro no cinto havia.
Retomou sua marcha disposto a percorrer toda Índia, se preciso fosse, tocando cada pedra que recordava haver encontrado na nova fivela, disposto a não desperdiçar como muitos de nós, Pedras Filosofais que encontramos em nossas vidas.
0 comentários:
Postar um comentário