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sábado, 4 de junho de 2011

Malandro é Malandro Mesmo...

Li esse texto pela primeira vez muito tempo atrás num livro da minha oitava série na escola pública onde estudei e fiquei fascinado com essa história de um malandro que procura um psicólogo para uma consulta. Abaixo segue a versão “original”do texto, uma “tradução livre” para uma linguagem mais inteligível e uma forma “cifrada” com notas contendo alguns dos significados possíveis para os termos usados.

− Aí seu doutor... Boas tardes. Sabes; no meu redondo eram quinze pras cor-de-rosa. Eu estava estreando meu branco. Pintou um paca na minha jogada dizendo que queria bater uma caixeta com a minha pessoa. Como eu não tava a fim de lero, fui perturbar numa outra situação. Antes disso apareceu o gajo da falsa mina. E detrás de seus muafos me disse que era dedo-duro. Que era assim “cos homi”e ia tingir meu branco de vermelho. O gajo manipresto puxou do fazedor de defunto e deu duas vezes na espoleta. Pá; Pá.... O degas aqui que é magano e muito vivo, saltou de lado e dei com os dois pisantes no cheirador dele. Nem bem comecemos a preliar e ele caiu moqueado ali na hora. Dei no pirulito. Peguei o borracha e fui até o final do carretel. Desci, manjei e periscopei o moquiço. Nela entrei, puxei a quatro patas e me larguei. Intimei o gravata e pedi uma minhocada vermelha, uma delas-frias e uma preta bem gelada. Ingeri o rango e sorvi os líquidos. Mas na hora da situação, o meu era nenhum. Aí inquiri de novo o bom gravata e pedi pra ele pendurar no cabide ali da frente que depois eu legalizava. O gravata não se deu por rogado. O mal-azado não achou bom e xingou. − Sou preto mas não sou gato Félix eu disse. Puxei da Solingen e abri uma longa avenida na epiderme dele. Tingi o branco de groselha e o gravata moqueou. Nisso eu fui dar de pinote e apareceu o dedo-duro que me caguetou pros xifópagos. Fui preso e comi o pão que o diabo amassou. Trago isso comigo há muito tempo seu doutor. E é por isso que eu hoje estou aqui .....

O mesmo texto em tradução livre:

− Boa tarde, Doutor. Sabe, no meu relógio eram quinze pras doze. Eu estava estreando meu terno branco, quando apareceu um homossexual dizendo que queria conversar comigo. Como eu não tava a fim de conversar, saí de perto dele. Antes disso apareceu um homem mal vestido e me disse que era informante da polícia; que era conhecido pelas autoridades e queria me matar. O homem rapidamente puxou um revolver e disparou dois tiros contra mim. Como sou muito malandro, saltei de lado e dei com os dois pés no nariz dele. Mal começamos a lutar e ele desmaiou. Fui embora, peguei um ônibus e fui até o final da linha. Desci, observei com cuidado um estabelecimento, entrei, puxei a cadeira e sentei. Chamei o garçom e pedi um espaguete ao sugo, uma cachaça e uma cerveja preta bem gelada. Comi e bebi, mas na hora de pagar vi que estava sem dinheiro. Então perguntei ao garçom se poderia pagar depois. O garçom não gostou e me xingou. Fiquei aborrecido, puxei a minha navalha, cortei o homem e ele caiu ensanguentado. Quando eu já ia fugindo apareceu o tal informante que me entregou para uma dupla de policiais militares que passava. Fui preso, sofri muito e trago isso comigo há muito tempo, doutor. E é por isso que eu hoje estou aqui .....


Texto com a Possível significação de alguns dos termos utilizados:

− Aí seu doutor... Boas tardes. Sabes; no meu redondo eram quinze pras cor-de-rosa(1) . Eu estava estreando meu branco(2). Pintou um paca(3)na minha jogada dizendo que queria bater uma caixeta(4)com a minha pessoa. Como eu não tava a fim de lero(5), fui perturbar numa outra situação. Antes disso apareceu o gajo(7)da falsa mina(6). E detrás de seus muafos(8)me disse que era dedo-duro(9). Que era assim “cos homi”(10)e ia tingir meu branco de vermelho. O gajo manipresto(11)puxou do fazedor de defunto(12)e deu duas vezes na espoleta(13). Pá; Pá.... O degas(14)aqui que é magano(15)e muito vivo, saltei de lado e dei com os dois pisantes(16)no cheirador(17)dele. Nem bem comecemos a preliar(18)e ele caiu moqueado(19)ali na hora. Dei no pirulito(20). Peguei o borracha(21)e fui até o final do carretel(22). Desci, manjei(23)e periscopei(24)o moquiço(25). Nela entrei, puxei a quatro patas(26) e me larguei(27). Intimei o gravata(28)e pedi uma minhocada vermelha(29), uma delas-frias(30)e uma preta(31) bem gelada. Ingeri o rango(32)e sorvi os líquidos. Mas na hora da situação(33), o meu era nenhum(34). Aí inquiri de novo o bom gravata e pedi pra ele pendurar no cabide(35)ali da frente que depois eu legalizava. O gravata não se deu por rogado(36). O mal-azado(37)não achou bom e xingou. − Sou preto mas não sou gato félix(38)eu disse. Puxei da solinge(39)e abri uma longa avenida na epiderme dele. Tingi o branco de groselha(40)e o gravata moqueou. Nisso eu fui dar de pinote(41)e apareceu o dedo-duro que me caguetou pros xifópagos(42). Fui preso e comi o pão que o diabo amassou. Trago isso comigo há muito tempo seu doutor. E é por isso que eu hoje estou aqui .....

1.Alusão à bola do jogo de bilhar n.º 12, que é cor-de-rosa [ou ao entardecer por volta de 18:00 onde o céu fica rosado]
2.Traje Branco; Terno Branco.
3.Pederasta passivo.
4.Entabular conversa; Assuntar.
5.Conversa fiada.
6.Um indivíduo qualquer; Pessoa sem qualificação.
7.Menina; Garota.
8.Trapos velhos; Andrajos.
9.Alcaguete; Delator.
10.Aglutinação da expressão: Com os homens; Conhecido das pessoas que representam a Lei; Com os policiais.
11.Destro; Aquele que detém maior habilidade na mão direita.
12.Arma letal; No caso, Revólver.
13.Acionar o gatilho da arma de fogo; Atirar com arma de fogo.
14.Modo de alguém se referir à própria pessoa como matreiro; pessoa dada a gabolices; o papai; o cara; o experto.
15.Jovial; travesso; Atrevido.
16.Pés.
17.Nariz.
18.Combater; Lutar.
19.Cair seco; Desmaiar.
20.Evadir-se, fugir
21.Tomar o ônibus; Embarcar num veículo de transporte coletivo.
22.Ir até o final da linha (do ônibus).
23.Observar; iterar-se da situação.
24.Observar; Examinar minuciosamente.
25.Cabana; Casebre; Choupana.
26.Puxar a cadeira.
27.Assentar-se.
28.O Garçom.
29.Macarrão Espaguete ao molho sugo.
30.Cachaça; Aguardente.
31.Cerveja escura; Maltzbier.
32.Alimento; Comida; Refeição.
33.No contexto; No momento de pagar.
34.Estar sem dinheiro; Estar sem recursos para saldar dívida cometida.
35.Deixar no fiado; Pendurar a dívida; Venda a crédito por quem tem fé e confiança que futuramente será pago.
36.Diz-se da autoridade judicial a quem se encaminhou carta rogatória; Pedido; Solicitação.
37.Pessoa imprópria; Inadequado; Desajeitado.
38.Malandro; Mal pagador; Desonesto.
39.Marca antiga de um canivete alemão.
40.Tingir de sangue.
41.Fugir; Evadir-se.
42.Diz-se de, ou pessoas intimamente unidas por inclinação ou temperamento. No contexto policial designa-se como cosme-e-damião àqueles que fazem a ronda juntos.

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