Por Flávio Gikovate
Só
existe auto-estima quando uma pessoa vive de acordo com suas idéias, sem
ofender o código de valores que ela construiu ao longo da vida. Uma pessoa para
quem a honestidade é fundamental poderá ficar rica se aceitar suborno, mas sua
auto-estima cairá, inevitavelmente. Não é possível alguém gostar de si mesmo,
ter um bom juízo de si, se estiver agindo em desacordo com seus princípios.
Os
valores de cada pessoa, assim como os de cada sociedade, variam muito e
dependem fundamentalmente do ambiente em que ela cresceu. Nos primeiros anos de
vida, incorporamos essas normas com o objetivo de agradar aos adultos que nos
são importantes. Aprendemos seus valores e os adotamos porque este é o caminho
para sermos amados por eles. Os adultos usam essa necessidade das crianças de
serem protegidas e acariciadas como instrumento para educá-las, ou seja,
transmitir à nova geração as normas daquela comunidade.
Mas
isso é apenas o princípio do processo. A partir de um certo ponto do nosso
desenvolvimento, passamos a contestar os valores que nos foram impostos pela
educação. Isto pode ser feito de um modo bastante estabanado e grosseiro,
negando, apenas por negar, tudo o que nos ensinaram (e são muitos os
adolescentes que agem assim).
Entretanto,
também podemos reavaliar nossos princípios de um modo mais sofisticado,
comparando-os com outros pontos de vista ou submetendo-os a uma experimentação
na vida prática. Se fomos educados, por exemplo, a não transigir, tornando-nos
pessoas rígidas e prepotentes, isso pode nos trazer muitos inimigos e afastar
as pessoas de quem gostamos. A prática da vida nesse caso poderá nos ensinar a
ter mais "jogo de cintura", ou seja, a afrouxar um pouco mais os
nossos critérios quanto à liberdade e aos direitos de cada pessoa.
Sempre
que mudarmos nossos valores devemos conseguir mudar também nossa conduta. O
objetivo disso é fazer com que possamos viver de acordo com nossas idéias,
condição indispensável para uma auto-estima positiva. Mas outra condição se
impõe para uma boa auto-estima: levar uma vida produtiva, em constante
evolução.
Se
uma pessoa gosta de cozinhar, ela tenderá a se dedicar a essa atividade. Será
capaz de avaliar seus avanços por meio da reação das pessoas que provam sua
comida e não adianta negarmos: somos dependentes das reações dos que nos cercam
e nos são queridos. Os elogios reforçarão suas convicções de que está indo pelo
caminho certo, enquanto as críticas indicarão a necessidade de correção de
rota.
Com
o passar do tempo e o crescer da experiência, ela saberá avaliar a qualidade de
sua comida por si mesma, tornando-se menos dependente do julgamento dos outros.
Sua auto-avaliação vai se tornando mais importante que a dos outros. Sua
auto-estima vai se cristalizando em um patamar alto, sólido e independente do
ambiente.
Mas
é importante ressaltar que esta imagem positiva de si mesmo não pode ser
construída do nada. Não adianta a pessoa se olhar todos os dias no espelho e
dizer: "Eu sou uma pessoa legal, mereço as coisas boas da vida, eu me
amo". Agir assim é acreditar que se pode enganar a si mesmo com discursos
bonitos e falsos. Precisamos agir sempre de acordo com as nossas convicções,
levar uma vida produtiva e nos aprimorar naquilo que fazemos.
Não
importa qual seja a atividade, precisamos nos relacionar com o nosso meio e
receber dele sinais positivos de que nossa ação é boa e que está em permanente
evolução. Se uma pessoa não faz nada, não se dedica a nenhum tipo de atividade,
não terá a menor chance de ter uma boa auto-estima. Ela não se testa para saber
qual é o seu valor, e a dúvida puxa para baixo a auto-avaliação. E de nada
adianta colocar uma máscara e sair por aí com ares de quem "se ama e muito".
Isso não engana ninguém!
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