A
criminalidade em Nova Iorque reduziu de forma espetacular entre a década dos 80
(quando os Warriors dominavam as ruas) e o final de século XX, quando se
converteu em uma das megaurbes mais seguras do continente americano. Um dos
motivos alegados para explicar a mudança de tendência é a chamada "teoria
das janelas quebradas", aplicada pelo prefeito Rudolph Giuliani durante os
anos 90 (política de tolerância zero com os delinquentes).
Segundo
esta teoria, as pessoas são mais propensas a se comportar de um modo
incivilizado quando o meio está degradado: edifícios sujos, vidros quebrados,
paredes pichadas... Giuliani decidiu lutar com ferocidade nessa frente: ordenou
que cada vagão que chegasse as garagens cheios de rabiscos fosse limpo
instantaneamente e devolvido à rede. Depois de meses de duro pulso, os
grafiteiros acabaram desmoralizados e os trens voltaram a circular impolutos
pelo Subway, tal e qual relata Malcolm Gladwell em seu livro "The Tipping
point".
Receoso
da hipótese dos vidros quebrados, o sociólogo holandês Kees Keizer decidiu
realizar um experimento na vida real, concretamente na cidade de Groningen, tão
prolixa e cívica quanto o resto do país. Para isso deixou folhetos
publicitários em todas as bicicletas de um estacionamento próximo de um supermercado
e tomou nota de quantos dos ciclistas jogariam o papel no chão ao retirar sua
bike: uns 20%. A seguir, procedeu a "degradar" o estacionamento,
enchendo as paredes de pinturas e pichações e voltou a efetuar o experimento.
Nesta ocasião, a percentagem de pessoas que atiraram o papel ao chão cresceu
absurdamente ate aos 50%.
Triker
realizou vários experimentos mais da mesma índole e em todos obteve resultados
parecidos: deixou um folheto bem a vista na boca de uma caixa de correio e,
dependendo de se este estava limpo ou sujo, ou rodeado de lixo, o comportamento
das pessoas variava…, salvo o 20% de conduta irrepreensível e o do outro 20,
sempre disposto a subverter a norma.
Que
conclusão podemos tirar destes experimentos? Somos bons ou maus? Não dá para
falar de percentagens precisas, mas sim esclarecedoras. Em torno de 20% das
pessoas demonstra desde muito cedo uma tendência à compaixão e a ajuda,
enquanto, no outro extremo, encontram-se o bando de sem-vergonhas, desleais e
inclusive predadores perigosos, ou seja, grandessíssimos fdp os quais não
costumam passar de 4%, percentagem que se eleva até 20 % quando se trata de
condutas mais suaves -como as descritas no exemplo anterior-.
E
o resto? O 60% que está no meio se move em função do marco normativo
predominante. Em outras palavras, a maioria silenciosa age segundo sopra o
vento: se o meio tende à colaboração, será mais cooperativo; se impera a
repressão, moderará sua tendência a delinquir, a sujar ou a mentir; se acontece
a baderna, igualmente se juntará a maioria e pode fazer coisas que ele mesmo se
sentirá envergonhado posteriormente.
Os
resultados obtidos pelo experimento holandês são coerentes com os ensaios
realizados por Stanley Milgram em 1963, mundialmente famosos graças ao filme O
experimento. Neles pediam aos voluntários que aplicassem choques em outros
indivíduos (que simulavam os ataques). Naquele caso, 15% abandonou a
experiência, preferindo desafiar a autoridade do cientista a perverter seus
próprios princípios morais. No entanto, um preocupante 65% seguiu adiante com
as eletrocussões, apesar dos eloquentes sinais de dor de suas vítimas.
Bons,
maus ou indolentes, o verdadeiro é que a cada vez somos um pouco mais empáticos
e um pouco menos violentos, como mostra o manifesto do ótimo ensaio realizado
pelo neurocientista Steven Pinker -"The Better Angels of Our Nature: Why
Violence Has Declined"-. As mortes violentas e agressões não fazem mais do
que diminuir em todo mundo desde a antiguidade até nossos dias.
Evidentemente
que o estudo de Steven fala da tendência à baixa em todas as formas de
violência em um contexto histórico, pois se fosse em um contexto pontual e
local, com um pequeno experimento em qualquer cidade do país, indicaria níveis
contrários, já que a coisa toda está correndo solta. Os policiais prendem, vai
lá a justiça e solta mediante pagamento de fiança. A institucionalização do
suborno pago direto ao estado, a própria criação do estatuto do ladrão: pelo
direito de roubar e matar gente inocente!
Tem
saída? Lógico que sim! Acabar com esta vexatória lei 12.403 e fazer o que fez
Rudolph Giuliani: tolerância zero com a bandidagem. O problema é que parece que
não existe muita vontade política de nossas autoridades, que mais parecem pares
do que algozes dos delinquentes.
0 comentários:
Postar um comentário