Por Marcelo Deldebbio
No
livro “Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de Um Preto-Velho” – W. W. da
Matta e Silva, há um relato de Pai Ernesto de Moçambique sobre a diferença
entre a mediunidade da “mesa kardecista” e a mediunidade de Umbanda :
“Pergunta
: Existe alguma diferença entre a mediunidade da mesa kardecista e a
mediunidade de Umbanda?
Resposta
: “Sim! A mediunidade no chamado espiritismo de mesa é acentuadamente mental,
as comunicações são quase telepáticas, predominantemente inspirativas, isto e’,
os espíritos atuam mais sobre a mente dos médiuns, pois a atividade do
espiritismo se processa mais no plano mental. Espiritismo de mesa não tem a
missão de atuar no baixo astral contra os elementos de magia negra, como
acontece com a Umbanda. Ele é quase exclusivamente doutrinário, mostrando aos
homens o caminho a ser seguido a fim de se elevarem verticalmente a Deus. Sua
doutrina fundamenta-se principalmente na reencarnação e na Lei da Causa e do
Efeito. Abre a porta, mostra o caminho iluminado e aconselha o homem a
percorre-lo a fim de alcançar a sua libertação dos renascimentos dolorosos em
mundos de sofrimentos, como é o nosso atualmente, candidatando-se à vivência em
mundos melhores. Em virtude disso, a defesa do médium kardecista reside quase
exclusivamente na sua conduta moral e elevação dos sentimentos, portanto os
espíritos da mesa kardecista, após cumprirem suas tarefas benfeitoras, devem
atender outras obrigações inadiáveis.
É
da tradição espirita kardecista que os espíritos manifestem-se pelo pensamento,
cabendo aos médiuns transmitirem as idéia com o seu próprio vocabulário e não
as configurações dos espíritos comunicantes.
Em
face do habitual cerceamento mediúnico junto às mesas kardecistas, os espíritos
tem de se limitar ao intercâmbio mais mental e menos fenomênico, isto é, mais
idéias e menos personalidade. Qualquer coação ou advertência contraria no
exercício da mediunidade reduz-lhe a passividade mediúnica e desperta a
condição anímica. Por esta razão há muito animismo na corrente kardecista.
A
faculdade mediúnica do médium ou cavalo de Umbanda é muito diferente da do
médium kardecista, considerando-se que um dos principais trabalhos da Umbanda é
atuar no baixo astral, submundo das energias degradantes e fonte primaria da vida.
Os
médiuns de Umbanda lidam com toda a sorte de tropeços, ciladas, mistificações,
magias e demandas contra espíritos sumamente poderosos e cruéis, que manipulam
as forcas ocultas negativas com sabedoria. Em conseqüência o seu
desenvolvimento obedece a uma técnica especifica diferente da dos médiuns
kardecistas. Para se resguardar das vibrações e ataques das chamadas falanges
negras, ele tem de valer-se dos elementos da natureza, como seja: banhos de
ervas, perfumes, defumações, oferendas nos diversos reinos da natureza, fonte
original dos Orixás ,Guias e Protetores, como meios de defesa e limpeza da aura
física e psíquica, para poder estar em condições de desempenhar a sua tarefa,
sem embargo da indispensável proteção dos seus Guias e Protetores espirituais,
em virtude de participarem de trabalhos mediúnicos que ferem profundamente a
ação dos espíritos das falanges negras, isto e’, do mal que os perseguem,
sempre procurando tirar uma desforra.
Por
isso a proteção dos filhos de Terreiro é constituída por verdadeiras tropas de
choque comandadas pelos experimentados Orixás, conhecedores das manhas e
astucias dos magos negros. Sua atuação é permanente na crosta da Terra e vigiam
atentamente os médiuns contra investidas adversas, certos de que ainda é muito
precária a defesa guarnecida pela evocação de pensamentos ou de conduta moral
superior, ainda bastante rara entre as melhores criaturas. Os Chefes de Legião,
Falanges, Sub-falanges, Grupamentos e Protetores, também assumem pesados
deveres e responsabilidade de segurança e proteção de seus médiuns. É um
compromisso de serviço de fidelidade mutua, porem, de maior responsabilidades
dos Chefes de Terreiro.
Dai
as descargas fluídicas que se processam nos Terreiros, após certos trabalhos,
com a colaboração das falanges do mar e da cachoeira, defumação dos médiuns e
do ambiente e dando de beber a todos água fluidificada. Espirito que encarna
com o compromisso de mediunidade de Umbanda, recebe no espaço, na preparação de
sua reencarnação, nos seus plexos nervosos ou chacras, um acréscimo de energia
vital eletromagnética necessária para que ele possa suportar a pesada tarefa
que irá desempenhar.
Na
corrente kardecista, isto não é necessário, em virtude de não ter de enfrentar
trabalhos de magia negra, como acontece na Umbanda, e mesmo permitir aos guias
atuarem-lhe mais fortemente nas regiões dos plexos, assumindo o domínio do
corpo físico e plastificando suas principais características. Enato vemos
caboclos e pretos-velhos revelarem-se nos Terreiros com linguagem deturpada
para melhor compreensão da massa humilde, assim como as crianças, encarnando
suas maneiras infantis para melhor aceitação das mesmas.
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