Por Francisco Bosco
É preciso reconhecer que a religião, sobretudo em contextos de barbárie, tem um importante papel civilizador.
A religião retira do desespero os órfãos ontológicos (que somos todos, independentemente de classe social) e também os órfãos do Estado, da lei, e do vazio de outras instituições culturais que poderiam oferecer um sentimento de pertencimento e coesão.
Aos desesperados de toda a sorte, ela traz paz e sentido.
Não estou dizendo que só desesperados são religiosos, mas sim que o desespero, o sentimento geral de abandono tende a produzir violência, que entretanto a presença da religião impede.
É uma dimensão civilizatória (“alienante” e “contrarrevolucionária”, outros diriam).
Mas esse feito civilizador é alcançado à custa de uma coesão comunitária excludente, que parece necessitar do princípio da exclusão para forjar sua própria comunidade.
Nisso, os monoteísmos em nada diferem das ideologias totalitárias, como o nazismo.
E, assim, a mesma coesão comunitária que alivia o niilismo e seus efeitos sociais deletérios, numa volta dialética do parafuso exclui todos os sujeitos que não se enquadram nos seus princípios morais (de origem dogmática), voltando contra eles a violência abolida na origem.
E então a civilização retorna à barbárie.
O imaginário do sujeito monoteísta tende a rejeitar, como ameaça, qualquer outro que não corresponda ao conjunto de normas que perfazem o seu composto de identificação."
Retirado de: http://oglobo.globo.com/cultura/o-monossexualismo-7561931#ixzz2KnK4xA8o
0 comentários:
Postar um comentário