Por Igor Teo
O conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema que possui “vida própria”. A consciência coletiva independe das condições particulares de cada indivíduo, pois estes passam e ela permanece. Segundo Durkheim, ela forma o tipo psíquico de uma sociedade, suas condições de existência e seu modo de desenvolvimento.
Um crime, por exemplo, é uma ofensa à consciência coletiva. O direito penal protege a consciência comum de enfraquecimentos, exigindo de cada um de nós um mínimo de semelhanças, sem as quais seriamos ameaça a constância do todo. Surge a necessidade da imposição do respeito aos símbolos comuns.
O castigo recebido pelo criminoso é destinado a atuar não sobre ele, mas sobre as pessoas tidas como “honestas”, demonstrando a elas que aquele que difere do comportamento “comum” será punido, acalmando os corações que temem o caos.
Kurt Lewin é um clássico na Psicologia Social defendendo que uma pessoa não age apenas como indivíduo singular, mas como membro de um grupo social. E um grupo, não se mantém unido apenas pelas forças coesivas entre seus membros, mas também pela fronteira erguida por outros grupos.
Dentro dinâmicas de grupo, é de interesse do grupo majoritário manter um minoritário desprivilegiado, até para servir como bode expiatório. Assim foi com as bruxas na Idade Média, com os judeus no Nazismo e os comunistas na Ditadura, servindo de distração para as massas.
A pessoa e seu ambiente psicológico não podem ser tratados como entidades separadas, mas constituem um só campo. No entanto, também não se deve considerar grupos como espaços homogêneos. Não é a semelhança que marca um grupo, mas sim a interação social entre seus indivíduos.
A contemporaneidade nos traz reflexões interessantes quanto a essas questões, evidenciando alguns conflitos que seriam impensáveis em outras épocas.
A sociedade exige que façamos escolhas que, às vezes, nos são inconcebíveis. Exemplo: João gosta de rock. No entanto, ele não se sente um rockeiro. Ele também adora música clássica, e não enxerga nenhum conflito nisso. Mas seus amigos, que gostam de rock, não o compreendem.
Não possuímos uma única identidade, mas uma rede subjetiva de idéias que se configuram de forma muito particular em cada um. Somos formados por um complexo sistema de vontades, que muitas vezes parecem contraditórias entre si.
Quando perguntam a Maria a sua cor favorita, ela pode responder que é azul, mas também gosta de vermelho. Por que teria que se identificar com uma cor apenas? Tem dias que ela prefere azul, outros vermelho. Alguns dias ela gosta tanto de azul quanto de vermelho. Outros dias não gosta de nenhuma das duas.
São dois exemplos bobos, que não querem significar exatamente o que está escrito.
O indivíduo é um ser capaz de fazer suas próprias escolhas, das quais estas resultarão o sentido de sua existência. A classificação reduz um sujeito a posturas homogêneas e simplificadas. Exigimos muitas vezes uma identidade para termos uma opinião simples e generalizada: se gostamos ou odiamos, se queremos bem ou mal.
Um grupo não existe somente pela união dos que possuem características em comum, mas na segregação dos diferentes. Todos os grupos, das turminhas de adolescentes aos sábios esclarecidos, se mantém unidos através da exclusão dos demais, dos que estão fora do grupo, dos “que não são como a gente”.
É comum que os indivíduos sintam-se inseguros quanto a pertencerem a determinado grupo. Quando um indivíduo age sempre como membro do mesmo grupo específico, há que se notar certo desequilíbrio.
Mas é nesse conflito contemporâneo que muitos indivíduos constroem sua personalidade, no conflito da consciência coletiva/consciência individual, do comum ao grupo/do único dentro de um grupo, da moda/do estilo próprio.
Saber conciliar esses conflitos é ideal quando se procura trabalhar com diferentes egrégoras. Cada corpo teórico possui sua coerência interna, mas quando tentarmos unir duas concepção diferentes de mundo, muitos conceitos irão se opor.
Como resolver esses dilemas? Cada teoria corresponde a uma visão de mundo, que partindo de princípios diferentes resultarão em paradigmas diferentes. Cada paradigma tem seu ponto focal, aplicabilidade específica e implicações particulares.
Não podemos afirmar que uma é a “certa” e outra a “errada”. Cada uma tem objetivos diferentes, que para alcançar, irão percorrer caminhos diferentes. Cabe ao sábio escolher a melhor ferramenta para atingir seu objetivo específico.
Referências:
Da divisão do trabalho social. Émile Durkheim
Problemas de Dinâmica de Grupos. Kurt Lewin
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