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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Esporte e a Semicultura

Por Diego de Sousa Mendes e Mauro Silveira Maule
Não é de hoje, os eventos esportivos estão sendo transformados em espetáculos, num comércio que tem um cobiçado valor pelo telemercado, pela mídia, que transforma o produto final deste espetáculo em um verdadeiro mercado virtual, desta forma, esta lógica tem implicações na vida cotidiana das pessoas, e é fruto da chamada “Industria Cultural”.

O conceito de “Industria Cultural”, foi elaborado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, em 1978, e se refere a racionalização das técnicas de distribuição de produtos culturais adaptados ao consumo das massas e que determina esse consumo.

Desta forma, a “Industria Cultural” também age neste sentido, uma vez que transforma a cultura numa mercadoria e os cidadãos em consumidores, mas também, e principalmente, no sentido de expropriar a cultura do povo. O fim é retirar dos homens o senso de pertencimento cultural, familiar e regional. E, deste modo, o sujeito cultural passa a ser um consumidor de cultura, da sua própria cultura.

Neste sentido, podemos facilmente estabelecer um paralelo com os espetáculos esportivos, isso por que, os torcedores que primariamente seriam os geradores da cultura desportiva, passam a consumi-la, como se esta fosse um bem “particular” e não um bem de “domínio” público, pois é produzido pela massa. Passam também a consumir um espetáculo onde eles próprios são os artistas.

Nem por um momento podemos imaginar um espetáculo esportivo ou qualquer espetáculo que seja, sem a presença do público, dos torcedores. Tomemos como exemplo, o caso da “Final do Campeonato Brasileiro da Série B” pois este foi o nosso instrumento de estudo.

Previamente já sabíamos que seria um espetáculo, mas não um espetáculo produzido pelos jogadores, mas sim pela torcida, independente do resultado. Se por um acaso, nenhum torcedor comparecesse ao jogo certamente não teríamos um espetáculo. Na verdade não teríamos mais do que uma simples “pelada” que são jogadas pelos milhares de “campinhos” que existem pelo interior do nosso país.

(...) Vivemos numa sociedade que pauta seus princípios no lucro, na eficiência e na utilidade, na qual os indivíduos têm passado por um processo de coisificação, perdendo, então, suas identidades para ceder espaço às funções que exercem na sociedade...

Por esta lógica, podemos facilmente tentar compreender o raciocínio utilizado pela industria cultural para o desenvolvimento de suas ações.

Pois na verdade o que a “Industria Cultural” faz, nada mais é, do oferecer como bem de consumo às massas, um produto produzido por elas mesmas, em outras palavras, as massas compram o que elas mesmas produziram. E o fazem sem ter a real consciência deste mecanismo utilizado pela “Industria Cultural”, pois este conhecimento, a “Industria Cultural” não faz questão de tornar conhecido.

Outro aspecto bastante relevante e que não pode ser esquecido, diz respeitos às consequências desta forma de relacionamento encontrado pela “Industria Cultural” com as massas. Uma vez que a “Industria Cultural” reduz a complexidade do fenômeno, para que este se torne mais facilmente assimilado pelas massas, ela cria um outro conceito, é o conceito de semicultura, que também é de autoria de Theodor Adorno. Foi criado no inicio da década de 60 e somente lançado no Brasil no ano de 1996.

A semicultura é fruto da “Indústria Cultural”, trata-se do consumo da cultura, e de como a “Indústria Cultural”, por meio da mídia “industrializou” os produtos culturais.

A semicultura pode ser definido da seguinte forma: é a integração enquanto ideologia, constituindo a tensão entre a concepção de realidade e a realidade mesma. Nessa dinâmica, a contínua reprodução das condições objetivas mantém a impotência da consciência crítica.

Os conteúdos da (semi)formação tornam-se objetivos, coisificados, com caráter de mercadoria, sem relações vivas com os sujeitos, já que se constituem a partir de noções ideológicas, que tiram as relações entre sujeito e realidade. Na verdade o que a Indústria Cultural faz, é reduzir a complexidade da realidade, facilitando desta forma, a compreensão e promovendo a adaptação do cidadão ao seu ritmo e linguagem, consequentemente favorecendo o consumo dos bens culturais que ela veicula.

Sendo assim, mantém de forma estratégica as massas alienadas em relação a este processo, isso é fundamental para a manutenção do mercado criando e mantido pelas massas. Estando alienadas a este processo, as massas não têm total compreensão da complexidade destes conhecimentos.

As capacidades críticas, comunicativas e a criatividade não são habilidades inatas; são construídas ou negadas, valorizadas ou reprimidas, tematizadas para servirem de ferramentas pedagógicas ou exploratórias como possibilidades da prática educativa.

Como não é de interesse da “Industria Cultural” que as massas sejam “educadas”, autônomas ou emancipadas, ela não mede esforços para que os componentes das massas se enxerguem enquanto agentes construtivos do processo, sendo assim, estão constantemente sendo manipulados pela “Industria Cultural”, e desta forma, contribuem para a manutenção deste processo.

Contada tal situação, decidimos pela realização de um estudo que pudesse mostrar a outra “face” deste “espetáculo”, onde os verdadeiros “atores” são os torcedores, as massas. Por esta ótica, os torcedores passaram à protagonistas do espetáculo, deixando na condição de meros coadjuvantes, os jogadores.


O texto acima é uma adaptação da introdução do trabalho: Criciúma X Fortaleza: Um Show Para Além do Discurso Midiático de Diego de Sousa Mendes (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC) e Mauro Silveira Maule (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC), retirado e adaptado de:

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