Tratado
sobre a Tolerância - Cap. XXIII
Não é mais aos homens que me dirijo,
É
a Ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos
E
de todos os tempos.
Se
é permitido a frágeis criaturas
Perdidas
na imensidão e imperceptíveis ao resto do universo,
Ousar
Te pedir alguma coisa,
A
Ti que tudo criaste,
A
Ti cujos decretos são imutáveis e eternos,
Digna-Te
olhar com piedade os erros decorrentes
De
nossa natureza.
Que
esses erros não venham a ser as nossas calamidades.
Não
nos deste um coração para nos odiarmos,
Nem
mãos para nos matarmos.
Faz
com que nos ajudemos mutuamente
A
suportar o fardo de uma vida difícil e passageira.
Que
as pequenas diferenças entre as roupas
Que
cobrem nossos diminutos corpos,
Entre
nossas linguagens insuficientes,
Entre
nossos costumes ridículos,
Entre
nossas leis imperfeitas,
Entre
nossas opiniões insensatas,
Entre
nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos
E
tão iguais diante de Ti;
Que
todas essas pequenas nuances
Que
distinguem os átomos chamados homens,
Não
sejam sinais de ódio e perseguição.
Que
os que acendem velas em pleno meio-dia
Para
Te celebrar,
Suportem
os que se contentam com a luz de Teu sol.
Que
os que cobrem suas vestes com linho branco,
Para
dizer que devemos Te amar,
Não
detestem aqueles que dizem a mesma coisa
Sob
um manto de lã negra.
Que
seja igual Te adorar num idioma antigo,
Ou
num idioma novo.
Que
aqueles cuja roupa é tingida de vermelho ou de violeta,
Que
dominam sobre uma pequena porção
De
um montículo da lama deste mundo,
E
que possuem alguns fragmentos arredondados de certo metal,
Usufruam
sem orgulho o que chamam de ‘grandeza’ e ‘riqueza’,
E
que os outros não os invejem,
Pois
sabes que não há nessas vaidades nem o que invejar,
Nem
do que se orgulhar.
Possam
todos os homens lembrar-se de que são irmãos!
Que
abominem a tirania exercida sobre as almas,
Assim
como execram o banditismo
Que
toma pela força o fruto do trabalho
E
da indústria pacífica.
Se
os flagelos da guerra são inevitáveis,
Não
nos dilaceremos uns aos outros em tempo de paz
E
empreguemos o instante de nossa existência
Em
abençoar igualmente, em mil línguas,
Do
Sião à Califórnia,
A
Tua Bondade, que nos deu
Esse
instante.
Fonte:
Blog Luz e Calor
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