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domingo, 15 de abril de 2012

Tratado sobre a Tolerância de Voltaire Cap. XIII


Tratado sobre a Tolerância - Cap. XXIII

 Não é mais aos homens que me dirijo,
É a Ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos
E de todos os tempos.
Se é permitido a frágeis criaturas
Perdidas na imensidão e imperceptíveis ao resto do universo,
Ousar Te pedir alguma coisa,
A Ti que tudo criaste,
A Ti cujos decretos são imutáveis e eternos,
Digna-Te olhar com piedade os erros decorrentes
De nossa natureza.
Que esses erros não venham a ser as nossas calamidades.
Não nos deste um coração para nos odiarmos,
Nem mãos para nos matarmos.
Faz com que nos ajudemos mutuamente
A suportar o fardo de uma vida difícil e passageira.
Que as pequenas diferenças entre as roupas
Que cobrem nossos diminutos corpos,
Entre nossas linguagens insuficientes,
Entre nossos costumes ridículos,
Entre nossas leis imperfeitas,
Entre nossas opiniões insensatas,
Entre nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos
E tão iguais diante de Ti;
Que todas essas pequenas nuances
Que distinguem os átomos chamados homens,
Não sejam sinais de ódio e perseguição.
Que os que acendem velas em pleno meio-dia
Para Te celebrar,
Suportem os que se contentam com a luz de Teu sol.
Que os que cobrem suas vestes com linho branco,
Para dizer que devemos Te amar,
Não detestem aqueles que dizem a mesma coisa
Sob um manto de lã negra.
Que seja igual Te adorar num idioma antigo,
Ou num idioma novo.
Que aqueles cuja roupa é tingida de vermelho ou de violeta,
Que dominam sobre uma pequena porção
De um montículo da lama deste mundo,
E que possuem alguns fragmentos arredondados de certo metal,
Usufruam sem orgulho o que chamam de ‘grandeza’ e ‘riqueza’,
E que os outros não os invejem,
Pois sabes que não há nessas vaidades nem o que invejar,
Nem do que se orgulhar.
Possam todos os homens lembrar-se de que são irmãos!
Que abominem a tirania exercida sobre as almas,
Assim como execram o banditismo
Que toma pela força o fruto do trabalho
E da indústria pacífica.
Se os flagelos da guerra são inevitáveis,
Não nos dilaceremos uns aos outros em tempo de paz
E empreguemos o instante de nossa existência
Em abençoar igualmente, em mil línguas,
Do Sião à Califórnia,
A Tua Bondade, que nos deu
Esse instante.

Fonte: Blog Luz e Calor

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