Por António Luiz Miranda
A irmã mais velha (ela não vai gostar dessa inconfidência...) é leitora voraz e apaixonada. Talvez tenha exercido sobre a caçula uma influência bastante positiva, ainda que inconsciente.
Alice cresceu íntima dos livros, também por conta do trabalho dos pais, ambos professores e leitores. A estante é um móvel sempre consultado, nem sempre tão arrumado quanto gostaríamos todos que, fosse, mas chega a ser inevitável um ar de bagunça feliz.
Desde muito novinha, recebeu livros de presente e foi se acostumando com eles, como quem se acostuma com as novidades mais recentes da tecnologia. Ainda outro dia, surpreendeu-me dominando o "mouse" com a perícia que tanta falta me faz.
Quase sempre dorme depois de ouvir histórias. Algumas já conhecidas, nem por isso sem magia. É quase um ritual, um desses momentos em que a vida vale muito a pena. E passa muito distante da obrigação mútua. Merecemos as histórias.
O cantinho dos livros na Escola é um dos lugares mais frequentados por ela. Gosta dos livros e gosta de tantas outras coisas, comuns ás crianças. Brinca bastante. Canta, dança, corre, não raro, cai.
Diverte-se brincando sozinha. Do baú de brinquedos retira o que é necessário para montar uma casa ou um cômodo, quase sempre a cozinha. A mondem da casa ou da cozinha é feita com inacreditável velocidade. Talvez seja a explicação para o "cansaço" que surge, quando é chegada a hora de guardar os brinquedos. Sem a ajuda da irmã (às vezes do pai, da mãe...) a tarefa não é concluída. Quando a ajuda não vem, por cansaço, preguiça ou outra desculpa esfarrapada, constata-se a repetição do fenômeno da bagunça feliz.
Na brincadeira de montagem da casa é comum ouvirmos Alice. Fala sozinha? Que nada, fala com seus sonhos, seus modelos, fala com seu coração. Pois cheguei mais cedo da Escola e ouvi a voz de Alice. Aproximei-me do quarto, tentando não me fazer notar - tarefa das mais complexas para um desastrado. Pela porta entreaberta, pude vê-la e ela estava lendo. Mais do isso, ela estava contando uma história para uma de suas bonecas preferidas. Uma história sobre princesas e príncipes. O livro tratava de outro tema não importa qual. Alice lia e lia com prazer e encantamento. Está ficando uma moça (ela também não vai gostar de mais essa inconfidência). Alice tem cinco anos.
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