Seguidores

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Valioso Tempo dos Maduros


Por Mario de Andrade 
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.

'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta comtriunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

***

Mário de Andrade nasceu em São Paulo, no ano de 1893. Professor, crítico, poeta, contista, romancista e músico, formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, passando a lecionar neste mesmo local posteriormente. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.

Durante sua trajetória, Mário de Andrade fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore e também passou por vários cargos públicos, entre estes, foi diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.

Apesar de ter sido uma pessoa com inúmeras ocupações, este artista modernista sempre tinha tempo para ajudar os escritores que ainda não eram conhecidos.

Enquanto viveu, ele lutou pela arte com seu estilo de escrita puro e verdadeiro. Certo de que a inteligência brasileira necessitava de atualização, este escritor modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a consciência artística e a dignidade intelectual.

Foram de sua autoria os versos de Paulicéia Desvairada, considerada o marco inicial da poesia modernista no Brasil. Uma outra obra deste artista que se destacou por sua contribuição ao movimento modernista foi o livro Macunaíma, romance onde é mostrado um herói que tem as qualidades e defeitos de um brasileiro comum.

Suas obras estão agrupadas em dezenove volumes com o título de Obras Completas. As principais são:

Poesia
Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), Paulicéia Desvairada (1922), Losango Cáqui (1926), Clã do Jabuti (1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941), Lira Paulistana (1946), O Carro da Miséria (1946), Poesias Completas (1955).
Romance
Amar, Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928).
Contos
Primeiro Andar (1926), Belasarte (1934), Contos Novos (1947).
Crônicas
Os filhos da Candinha (1943).
Ensaios
A Escrava que não é Isaura (1925), O Aleijadinho de Álvares de Azevedo (1935), O Movimento Modernista (1942), O Baile das Quatro Artes (1943), O Empalhador de Passarinhos (1944), O Banquete (1978).

Reconhecido por sua contribuição na criação de idéias inovadoras, Mário de Andrade morreu de ataque cardíaco aos 51 anos em São Paulo no ano de 1945.




0 comentários:

Postar um comentário