Por Mario de Andrade
Contei
meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do
que já vivi até agora.
Tenho
muito mais passado do que futuro.
Sinto-me
como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As
primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o
caroço.
Já
não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não
quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me
com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares,
talentos e sorte.
Já
não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis
sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já
não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade
cronológica, são imaturos.
Detesto
fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de
secretário-geral do coral.
'As
pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa...
Sem
muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que
sabe rir de seus tropeços, não se encanta comtriunfos, não se considera eleita
antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar
perto de coisas e pessoas de verdade,
O
essencial faz a vida valer a pena.
E
para mim, basta o essencial!
***
Mário
de Andrade nasceu em São Paulo, no ano de 1893. Professor, crítico, poeta,
contista, romancista e músico, formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical
de São Paulo, passando a lecionar neste mesmo local posteriormente. Participou
da Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Durante
sua trajetória, Mário de Andrade fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore e
também passou por vários cargos públicos, entre estes, foi diretor do
Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.
Apesar
de ter sido uma pessoa com inúmeras ocupações, este artista modernista sempre
tinha tempo para ajudar os escritores que ainda não eram conhecidos.
Enquanto
viveu, ele lutou pela arte com seu estilo de escrita puro e verdadeiro. Certo
de que a inteligência brasileira necessitava de atualização, este escritor
modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a consciência artística e a
dignidade intelectual.
Foram
de sua autoria os versos de Paulicéia Desvairada, considerada o marco inicial
da poesia modernista no Brasil. Uma outra obra deste artista que se destacou
por sua contribuição ao movimento modernista foi o livro Macunaíma, romance
onde é mostrado um herói que tem as qualidades e defeitos de um brasileiro
comum.
Suas
obras estão agrupadas em dezenove volumes com o título de Obras Completas. As
principais são:
Poesia
Há
uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), Paulicéia Desvairada (1922), Losango
Cáqui (1926), Clã do Jabuti (1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941),
Lira Paulistana (1946), O Carro da Miséria (1946), Poesias Completas (1955).
Romance
Amar,
Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928).
Contos
Primeiro
Andar (1926), Belasarte (1934), Contos Novos (1947).
Crônicas
Os
filhos da Candinha (1943).
Ensaios
A
Escrava que não é Isaura (1925), O Aleijadinho de Álvares de Azevedo (1935), O
Movimento Modernista (1942), O Baile das Quatro Artes (1943), O Empalhador de
Passarinhos (1944), O Banquete (1978).
Reconhecido
por sua contribuição na criação de idéias inovadoras, Mário de Andrade morreu de
ataque cardíaco aos 51 anos em São Paulo no ano de 1945.
Texto retirado
de: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2136834
Biografia de: http://www.suapesquisa.com/biografias/mariodeandrade/
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