Por Inácio
"Bolacha” ou “biscoito” são sinónimos, pese a quem numas terras use um dos termos e noutras o outro para designar variedades diferentes. “Bolacha” vem de “bolo”, com o sufixo diminutivo “-acha”. “Biscoito” veio-nos da língua francesa, onde se diz “biscuit”, ou seja “cozido duas vezes”. Como tudo nasce para servir um propósito, a história é que os padeiros-confeiteiros serviam-se antigamente de uma pequena porção da massa dos bolos para experimentar o calor do forno. Depois coziam o resto dos bolos. Mas aquela primeira massa, que geralmente ficava um pouco húmida, era levada ao forno segunda vez, para secar. Cozida duas vezes – bis-cuit, em francês – ou, pelo mesmo motivo, “cookie” – de “cook” – cozer.
Em português, a palavra “biscoito” já existia desde o século XV, quando os navegantes o levavam como mantimento para as longas viagens. O termo “bolacha” só começou a ser usado no século XIX.
Em 1857, dois padeiros empreendedores, James Peek e George Hander Freans, de Dockhead, um arrabalde de Londres, começaram a fabricar “cookies” e a vende-los para outras áreas. Para isso adquiriram uma carruagem que circulava por todo o país, ostentando o nome “Peek Freans”.
Tornaram-se conhecidos e em breve mudaram para Clements Road, em Bermondsey, onde abriram uma fábrica, que dava trabalho a dezenas de operários.
Quem passava na localidade não podia ignorar o cheirinho a bolo que se espalhava no ar. Por isso lhe chamam ainda hoje “a terra das bolachas”.
Em 1870, quando da guerra entre a França e a Prússia, a fábrica dos dois sócios, agora já com a firma “Peek Freans & Co. Ltd”, recebeu das forças armadas uma encomenda de 10 milhões de “cookies”. Isso contribuiu definitivamente para o desenvolvimento do negócio como grande empresa internacional. Hoje existem subsidiárias e licenciadas da Peek Freans em muitos países do mundo, e as suas embalagens de lata são já há muitos anos objeto de coleção.
Ora, em 1874, o segundo filho da rainha Vitória, Alfredo, duque de Edimburgo, casou-se com uma grão-duquesa russa, Maria Alexandrovna.
Peek Freans, com o grande prestígio de que já gozavam, como fabricantes de “cookies”, entenderam homenagear a duquesa com um novo biscoito, redondo, com um friso decorativo, e, no centro, gravaram o nome da homenageada: “Maria”.
Como sucede ainda hoje com os casamentos reais britânicos, o casamento dos príncipes foi seguido com grande interesse em toda a Europa, . Toda a gente quis provar as bolachas com o nome da noiva.
Um pouco por toda a parte, industriais locais começaram a imitar o produto. Portugal e a Espanha foram dos primeiros, mas até no Japão se produzem hoje bolachas iguais, com o nome “Maria” gravado no centro, e o imprescindível “Made in Japan”.
Mas o país onde as “bolachas Maria” entraram francamente na cultura nacional foi a Espanha do século XX. Durante o período de fome que se seguiu à guerra civil espanhola, a falta de pão era tanta que o governo empreendeu uma campanha para a produção de trigo. O resultado foi uma fartura tal do cereal que, para lhe dar vazão, os padeiros começaram a fabricar grandes quantidades de bolacha. Tornou-se habitual nos cafés colocar em cima do balcão pratos com bolachas “Maria” (com o nome estampado), para os clientes se servirem, acompanhando o café. Era também um símbolo da recuperação da economia espanhola. E tornou-se um biscoito favorito.
Dizem as estatísticas que, 40% dos cartões com biscoitos que se vendem em Espanha são “galletas Maria”.
Podem começar, meus amigos, a olhar para a bolacha Maria com outro respeito…
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