Por Rainer Sousa
No
começo da colonização do Brasil, a partir de 1530, a produção açucareira
apareceu como primeiro grande empreendimento de exploração. Afinal, os
portugueses já dominavam o processo de plantio e processamento da cana – já
realizado nas ilhas atlânticas – e ainda contavam com as condições climáticas
que favoreciam a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões
litorâneas no território.
Para
que todo esse trabalho fosse realizado, os portugueses acabaram optando pelo
uso da mão de obra escrava dos africanos. Entre outras razões, os colonizadores
notavam que os escravos africanos eram adaptados ao trabalho compulsório,
apresentavam maiores dificuldades para empreender fugas e geravam lucro à Coroa
por conta dos impostos cobrados sobre o tráfico negreiro.
No
processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a colheita da cana e,
após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos
até se transformarem em melado. Nesse processo de cozimento, era fabricado um
caldo mais grosso, chamado de cagaça, que era comumente servido junto com as
sobras da cana para os animais.
Tal
hábito fazia com que a cagaça fermentasse com a ação do tempo e do clima,
produzindo um liquido fermentado de alto teor alcoólico. Desse modo, podemos muito
bem acreditar que foram os animais de carga e pasto a experimentarem primeiro
da nossa cachaça. Certo dia, muito provavelmente, um escravo fez a descoberta
experimentando daquele líquido que se acumulava no coxo dos animais.
Outra
hipótese conta que, certa vez, os escravos misturaram um melaço velho e
fermentado com um melaço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram
fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse
gotículas no teto do engenho. Na medida em que o liquido pingava em suas
cabeças e iam até a direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que
teria o nome de “pinga”.
Nessa
mesma situação, a cachaça que pingava do teto atingia em cheio os ferimentos
que os escravos tinham nas costas, por conta das punições físicas que sofriam.
O ardor causado pelo contato dos ferimentos com a cachaça teria dado o nome de
“aguardente” para esse mesmo derivado da cana de açúcar. Essa seria a
explicação para o descobrimento dessa bebida tipicamente brasileira.
Inicialmente,
a pinga aparecia descrita em alguns relatos do século XVI como uma espécie de
“vinho de cana” somente consumida pelos escravos e nativos. Entretanto, na
medida em que a popularização da bebida se dava, os colonizadores começaram a
substituir as caras bebidas importadas da Europa pelo consumo da popular e
acessível cachaça. Atualmente, essa bebida destilada é exportada para vários
lugares do mundo.
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