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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Por Que Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas Boas?

Baruch Spinoza disse: "As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas temos um conhecimento parcial, e somos completamente ignorantes quanto à ordem e à coerência da natureza como um todo."

Há alguns anos eu li um livro escrito por um rabino, Harold S. Kushner, com o singelo nome de “Quando Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas Boas”. Nesse livro o rabino expõe uma obra do autor Thornton Wilder, “O Oitavo Dia”:

“O livro conta a história de um homem bom e decente cuja vida é arruinada pela má sorte e pela hostilidade. Ele e sua família sofrem, embora sejam inocentes. Ao término do romance, quando o leitor espera um final feliz com os heróis premiados e os vilões punidos, nada disso acontece. O que Wilder nos oferece é a imagem de um lindo tapete. Olhado do lado direito é um trabalho de arte intrincada-mente tecido, reunindo fios de diferentes tamanhos e cores para formar um desenho inspirado. Mas, virando-se o tapete pelo avesso, vê-se uma confusão de fios, uns curtos outros compridos, alguns inteiros e outros cortados e amarrados, correndo em direções diferentes. Com essa imagem, Wilder pretende explicar o sofrimento das pessoas boas nesta vida.

Deus tem um objetivo dentro do qual se encaixam as nossas existências. Seu desígnio exige que s vidas sejam torcidas, amarradas ou cortadas te, enquanto outras se estendem por comprimentos impressionantes, não porque um fio seja melhor que o outro, mas simplesmente por exigência do projeto. Visto de baixo, de nosso ponto de vista, a alternância entre a recompensa e a punição de Deus parece arbitrária e sem lógica, como o avesso de um topete. Vistos, porém do alto, do ponto de vista de Deus, cada torção e cada nó devem ter seu lugar no grande propósito de criar uma obra-prima.

Existe muita coisa comovedora nessa sugestão, e imagino que muitas pessoas possam achá-la confortadora. Sofrimento sem sentido, sofrimento como punição para um pecado não especificado é difícil de se aceitar. Mas sofrimento como uma contribuição para uma grande obra de arte projetada por Deus hão é apenas um fardo intolerável, pode ser visto até como um privilégio. Assim, uma vítima medieval de infortúnios teria orado: ‘Não me digas por que devo sofrer. Assegura-me apenas que estou sofrendo por Tua causa’.

A um exame mais profundo, contudo, essa abordagem deixa a desejar. Apesar de toda a sua compaixão, também ela se baseia fundamentalmente naquilo que gostaríamos que fosse verdade. A doença paralisante de uma criança, a morte de um jovem marido e pai, a ruma de pessoas inocentes através de tramóias maliciosas — tudo isso é real. Essas coisas a gente vê com os próprios olhos. Mas ninguém viu o tapete de Wilder. Tudo o que ele nos pode dizer.é: ‘Imagine que pode existir tal tapete’. Acho difícil aceitarem-se soluções hipotéticas para problemas reais.”

O rabino não acredita no que eu passei a chamar de “Teoria do Tapete”, mas realmente é uma ideia confortante... Ao longo dos anos cheguei a conclusão de que a suprema sabedoria seria aceitar o destino, se é que ele existe, da forma como ele se apresentar. Aí estaria a “espontaneidade” taoista. Ao buscar o “Caminho das coisas” taoista o homem se mescla com ele e encontra a “Sicronicidade", um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado, e que alguns autores se referem apenas como “O Fluxo”.

Seguem então dois exemplos de como se poderia exercer essa permanência no fluxo. Um é taoista e o outro cristão, no espírito que me é tão caro demonstrado pelas palavras de Teilhard de Chardin: "Tudo o que Sobe, Converge.":

***

Há um conto Taoísta sobre um velho fazendeiro que trabalhou em seu campo por muitos anos. Um dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.
"Que má sorte!" eles disseram solidariamente.
"Talvez," o fazendeiro calmamente replicou. 
Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
"Que maravilhoso!" os vizinhos exclamaram.
"Talvez," replicou o velho homem. 
No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. 
Os vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má fortuna.
"Que pena," disseram.
"Talvez," respondeu o fazendeiro. 
No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço obrigatório no exército, que iria entrar em guerra. 
Vendo que o filho do velho homem estava com a perna quebrada, eles o dispensaram. 
Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se virado a seu favor.
O velho olhou-os, e com um leve sorriso disse suavemente:
"Talvez."

***

A BONDADE DE DEUS
Há muito tempo, num reino distante, havia um Rei que não acreditava na bondade de Deus.
Tinha, porém, um súdito que sempre o lembrava dessa verdade.
- Meu Rei, não desanime... Tudo que Deus faz é Perfeito. Ele Nunca erra!!!
Um dia, o Rei saiu para caçar juntamente com seu súdito, e uma fera da floresta atacou o Rei. O súdito conseguiu matar o animal, porém não evitou que sua majestade perdesse o dedo mínimo da mão direita.
O Rei, furioso pelo que havia acontecido, e sem mostrar agradecimento por ter sua vida salva pelos esforços de seu servo, perguntou a este:
- E agora, o que você me diz? Deus é bom? Se Deus fosse bom eu não teria sido atacado, e não teria perdido o meu dedo.
O Servo respondeu:
- Meu Rei, apesar de todas essas coisas, somente posso dizer- lhe que Deus é Bom, e que mesmo isso, perder um dedo, é para seu bem! Tudo que Deus faz é Perfeito. Ele Nunca Erra!!!
O Rei, indignado com a resposta do súdito, mandou que o mesmo fosse preso na cela mais escura e mais fétida do calabouço.
Após algum tempo, o Rei saiu novamente para caçar e aconteceu dele ser atacado, desta vez pôr uma tribo de índios que vivia na selva.
Estes índios eram temidos por todos, pois se sabia que faziam sacrifícios humanos para seus deuses. Mal prenderam o Rei, passaram a preparar, cheios de júbilo, o ritual do sacrifício. Quando já estava tudo pronto e o Rei já estava diante do altar, o Sacerdote indígena, ao examinar a vítima, observou furioso:
- Este homem não pode ser sacrificado, pois é defeituoso!! Falta-lhe um dedo!!
E o Rei foi libertado.
Ao voltar para o palácio, muito alegre e aliviado, mandou libertar seu súdito e pediu que o mesmo viesse em sua presença. Ao ver o servo, abraçou-o afetuosamente dizendo-lhe:
- Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Você já deve estar sabendo que escapei da morte justamente porque não tinha um dos dedos. Mas ainda tenho em meu coração uma grande dúvida: Se Deus é tão Bom, por que Ele permitiu que você fosse preso da maneira como foi? Logo você, que tanto o defendeu?
O servo sorriu e disse:
- Meu Rei, se eu estivesse junto contigo nessa caçada, certamente seria sacrificado em teu lugar, pois não me falta dedo algum! Tudo que Deus faz é Perfeito. Ele Nunca Erra!!! 

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