Luis Fernando Verissimo nascido em Porto Alegre, 26 de setembro de 1936 é um gênio. Ponto. É conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, é cartunista, tradutor, roteirista, autor de teatro e romancista.
Seus livros são sempre uma grande leitura, mas para além de suas capacidades literárias, há um texto em que ele também dá uma dica sobre autoconhecimento, auto-estima, auto-imagem e toda uma série de “autos” que estão na fronteira entre a psicologia e a filosofia e que pode ser usado por aqueles que desejam saber um pouco mais sobre si mesmos:
O Mendoncinha
- Tente relaxar...
- Desculpe. É que tem uma parte de mim que, entende? Fica de fora, distanciada, assistindo a tudo. Uma parte que não consegue se entregar...
- Eu entendo.
- É como se fosse uma terceira pessoa na cama.
- Certo. É o seu superego. O meu também está aqui.
- O seu também?
- Claro. Todo mundo tem um. O negócio é aprender a conviver com ele.
- Se ele ao menos fechasse os olhos!
- Calma. Eu sei como você se sente. Nestas ocasiões, sempre imagino que a minha mãe está presente.
- A sua mãe?
- É. Ela também está conosco nesta cama.
- Você se analisou?
- Estou me analisando. Pensando bem, ele também está aqui.
- Quem?
- O meu analista. Nesta cama. Meu Deus, ao lado da minha mãe!!
- Meu pai está aqui...
- Seu pai também?
- Meu superego e meu pai.
- O superego e o pai podem ser a mesma pessoa. Será que um não acumula?
- Não, não. São dois. E não param de me olhar.
- Mas sexo é uma coisa tão natural!
- Diz isso pra eles.
- Na verdade, não é mesmo? Nem nós somos só nós. Eu sou o que eu penso que sou, sou como você me vê...
- E a gente também é o que pensa que é para os outros.
- Quer dizer: cada um de nós é, na verdade, três.
- Quatro, contando com o que a gente é mesmo.
- Mas o que que a gente é mesmo?
- Sei lá. Eu...
- Espere um pouco. Vamos recapitular. Do seu lado tem você - aí já são no mínimo três pessoas - o seu superego, o seu pai...
- Do seu lado, vocês três, a mãe de vocês e o analista.
- E o meu superego.
- E o seu superego.
- Mais ninguém?
- O Mendoncinha.
- Quem?!
- Meu primeiro namorado. Foi com ele que...
- Espera um pouquinho. O Mendoncinha não.
- Mas...
- Bota o Mendoncinha para fora desta cama.
- Mas...
- Ou sai o Mendoncinha, ou saímos eu e a minha turma!
(Retirado de: Comédias da vida privada de Luiz Fernando Veríssimo).
***
Não gosto de moral ou de textos que explicam o que foi lido como se o leitor não pudesse tirar suas próprias conclusões... Mas desse texto apreendemos que na verdade não temos uma única personalidade, mas somos quatro: (1) como nós somos realmente, (2) como pensamos que somos, (3) como as pessoas nos veem e (4) como pensamos que as pessoas nos veem.
Assim, qualquer encontro amoroso entre quatro paredes pode ser comparado a sexo grupal. São quatro de cada lado. E se ainda levarmos conosco nossos pais e mães (representados pelos valores aprendidos ao longo dos anos de convivência), aí é que a coisa piora ainda mais...
Essa é uma ideia que pode nos instigar a buscar saber quem somos realmente (e talvez nunca saibamos). O que recebemos da sociedade e da cultura onde nascemos e crescemos? Não podemos ser definidos pela nossa profissão ou pelo nosso nome de batismo que é dado por nossos pais antes mesmo de nascermos e termos a chance de rebater se não gostarmos dele. Então: Quem é você?
AMO esse cara!!!
ResponderExcluir"Fica de fora, distanciada, assistindo a tudo..."
Putz... E não é não?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Amo vc!
Bjs