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domingo, 4 de abril de 2010

Renzo: Em Busca do Horizonte (Parte 3 de 7)

Capítulo 03

Tocaia

Uma semana depois o Delegado Guerra entra no escritório de sua casa cansado após um dia de trabalho e joga seu paletó sobre o sofá colocado rente a parede para acender a luz.
Ele veste uma calça de linho cinzenta, camisa branca de mangas compridas arregaçadas e porta um coldre de axila de couro, com uma pistola calibre 45 do lado esquerdo e dois pentes para a arma no outro lado.
- Merda! Hoje foi um dia de cão. Ainda tenho que ligar para aquele boçal do Eliseu na delegacia, para ver se ele conseguiu alguma pista do Renzo. O cara desapareceu. Será que saiu da cidade?
- Está me procurando, Guerra?
Renzo está recostado sob a luz mortiça que entra pela porta aberta pelo Delegado numa poltrona acolchoada com braços e espaldar alto, por trás da grande escrivaninha do escritório que tem as cortinas fechadas. Tem um cigarro na boca seguro pelo indicador e polegar da mão esquerda, enquanto o cotovelo direito apoiado no tampo da mesa sustenta uma pistola 9 mm com silenciador apontado na direção do teto.
Guerra acende a luz acionando sem olhar o interruptor quase atrás de si. Está surpreso com a presença de Renzo dentro de sua sala.
- O que está fazendo aqui?
- Vim cobrar a cerveja que você me prometeu, lembra? E nem tente ser esperto em puxar esse trambolho que tem ai embaixo do braço. Sabe que sou melhor nisso do que você.
Guerra ergue as mãos.
- Você veio me matar, não é?
- Quanta perspicácia, senhor Delegado. Finalmente vai ter a prova que tanto desejava. Um flagrante verdadeiro. Pena que não vai servir para nada no lugar para onde você vai.
- Não vai se sair bem dessa. Seja qual for o canalha que te pagou para me pegar vai...
Renzo apaga o cigarro num cinzeiro sobre a escrivaninha e levanta-se.
- Você é um hipócrita, Guerra! Um canalha sujo! É claro que você sabe quem mandou te matar! Seja honesto pelo menos na hora de morrer!
Guerra deixa-se cair pesadamente sobre o sofá, como se estivesse resignado com sua sorte.
- Tem razão... Eu tinha certeza que isso iria acontecer mais dia ou menos dia. Não é possível se envolver com um homem como Nicolletti sem se sujar na lama em que ele está metido...
Renzo está de pé, com o braço direito estendido e puxa para trás o cão da pistola com o polegar num ruído seco.
- É tarde demais para pensar nisso. Faça suas preces, por que sua hora chegou...
Guerra espera o tiro, mas ele não vem. Renzo continua de pé, com o braço direito estendido e a arma apontada para o Delegado.
- Sabe, Guerra...Eu vim aqui decidido a te mandar para o inferno. Mas mudei de idéia... Antes de fazer o serviço, em consideração a sua inconveniente perseguição a minha pessoa, acho que deveria saber por que me tornei o que sou.
Guerra fica de pé como se estivesse paralisado num misto de medo, surpresa e raiva.
- Acabe logo com isso. Acho que sua fama não é verdadeira afinal...
Renzo senta-se novamente por trás da escrivaninha. A sua mão direita está segurando a pistola e pousada calmamente sobre o tampo da mesa. A esquerda está sob o queixo.
- Não brinque com a sorte, Guerra, eu conheço muitas maneiras de matar um homem, e algumas são bastante lentas e dolorosas.
O Delegado tem um semblante resignado com um ar de certo enfado.
- Então, antes de me matar quer me fazer de seu confessor... O que eu posso fazer? Você é que tem a arma...
Renzo aponta para um cabideiro vertical à esquerda do Delegado com o cano da arma.
- Exatamente. E por falar nisso... Tire esse canhão que você leva com a mão esquerda bem devagar e pendure ali ao lado. Não vai mais precisar dele.
Guerra levanta-se e pendura o coldre de axila num dos braços do cabide.
- Você está facilitando muito. Minha mulher está pra chegar e...
- Não seja ridículo. Me poupe dos seus truques de segunda. Sua mulher a essa hora deve estar num dos brinquedos da Disney com o seu filho. Você está sozinho com seu carrasco.
- Bom... Pelo menos espero que me conte algo interessante... Detestaria morrer tendo como a última coisa que escutei, as lamúrias de um perdedor.
(Continua) 

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