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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A "Singularidade" e a Historicidade da Ciência

Por LuisaoCS
 Há 130 anos, a lâmpada incandescente chegou ao mundo e este mudou para sempre. Ainda que Benjamin Franklin tenha literalmente aterrissado o fenômeno elétrico à realidade cotidiana com a famosa história que conta como soltava pipas durante uma chuva, a verdade é que a eletricidade não teve um uso doméstico até que o grande inventor ladravaz Thomas Edison patenteasse a lâmpada em 1880. Digo patentear e não inventar, porque Warren de la Rue já tinha feito uma lâmpada quarenta anos antes, em 1840.

Com a produção e difusão em massa da lâmpada deixamos, de uma hora para outra, de depender do Sol para trabalhar. Agora podíamos ser funcionais nos horários que quiséssemos, inclusive de forma continuada. Os refrigeradores massificaram-se, permitindo o transporte e armazenamento de alimentos em bom estado por maior tempo, mudando nossas práticas de colheita e alimentação. As máquinas que foram possíveis graças à eletricidade  permitiram liberar os humanos de realizar trabalhos perigosos ou muito cansativos, e, de passagem, aumentaram a velocidade com que muitos desses trabalhos eram realizados. Tudo isso começou há apenas 130 anos.

Se o humano moderno apareceu há 200 mil anos e os hábitos modernos iniciaram há mais ou menos uns 50 mil anos, é incrível pensar que a humanidade teve mais mudanças dramáticas nos últimos 150 anos do que em toda sua história anterior. Neste prazo vimos o nascimento do telefone, lâmpada, raio X, automóvel, painéis solares, cinema, avião, fotografia colorida, rádio, televisão, computadores, exploração espacial, internet, e-mail, telefonia celular, GPS e Wikipédia... só para nomear alguns. Isso sem contar os inumeráveis avanços médicos e curas de doenças, chegando até ao sequenciamento do genoma humano, nosso DNA, recém-completado há sete anos. Quer mais? Nos primeiros 10 anos do século XXI já presenciamos mais inovações que em toda a primeira metade do século XX. Uma curva de inventos e descobertas em constante aceleração exponencial, onde já quase nada parece impossível. O mundo mudou e segue mudando de forma vertiginosa.

Alguns batizaram o ápice desta crescente curva de inovação como a "singularidade", o momento da obtenção da inteligência supra-humana, um instante em que os limites da inteligência desaparecem e a capacidade com a qual resolvemos problemas ultrapassa qualquer coisa que possamos imaginar. Um momento em que esta curva de inovação explode a um ritmo ainda mais vertiginoso do que estamos vivendo, conseguindo coisas que parecem impossíveis, como a imortalidade, por exemplo. Ainda que a ideia de imortalidade causa mais terror que alegria, há vários futuristas que estão convencidos de que isto acontecerá mais cedo do que esperamos. Ray Kurzweil, um dos mais famosos expoentes da "singularidade", inclusive datou o fenômeno: 2045.

Isto traz imediatamente dilemas morais e éticos. Hugo de Garis, um famoso pesquisador de cérebros artificiais, acha que a obtenção de uma inteligência artificial superior à humana poderia significar o fim da humanidade. Ele acredita que a III Guerra Mundial não será entre nações nem religiões, senão entre aqueles que apoiam a obtenção de uma inteligência superior à humana e seus detratores. Mas não é minha intenção debater o dilema moral, isso é trabalho do leitor.

Voltemos à velocidade da inovação. Conta a história que em 1005 uma princesa bizantina se casou com um duque veneziano e trouxe consigo para a Itália um garfo de ouro, algo nunca antes visto, causando horror na corte de Veneza.

- "O alimento é um presente de Deus", escreveram os clérigos da época, "utilizar um instrumento artificial para levar à boca implica que não é digno de ser tocado". Assim classificaram imediatamente o garfo como uma ferramenta do demônio e postergaram sua massificação por ao menos meio milênio a mais, ainda assim é comum associar o diabo com seu reluzente tridente.

Mais tarde, em 1878, o presidente da Western Union, a maior companhia de telégrafos da época, eliminou a ideia do telefone, por ser "nada mais que um brinquedo", quando Bell, que havia roubado o invento de Meucci, quis vender sua invenção por apenas 100 mil dólares. Em 1946, o presidente da 20th Century Fox declarou que a televisão não faria nenhum sucesso porque as pessoas "ficariam aborrecidas de olhar uma pequena caixa todas as noites". A famosa frase (nem tão precisa), de Thomas Watson, presidente da IBM em 1943, quando supostamente declarou que "o mercado mundial de computadores terá espaço para no máximo cinco unidades", ainda que insistisse que em realidade se referia à quantidade de unidades que eles conseguiriam vender. Seu primeiro pedido foi de 18 computadores.

Vamos adiantar o relógio e chegar no passado próximo. Quantos recordam seus amigos dizendo que nunca teriam um celular? Em meu caso era a maioria. Algo que seguimos escutando quando os agoureiros declaram que blogs, Facebook ou Twitter são modinhas. Bem como aconteceu com o iPad, que ainda mantém o recorde de ser o produto eletrônico que mais rápido conseguiu vender um milhão de unidades.

Ainda que levamos milhares de anos declarando que alguma inovação é um simples brinquedo ou moda, e ainda que grupos tradicionalistas se ocupam de demonizar os inventos e taxá-los de supérfluos e passageiros, a história demonstrou o contrário uma e outra vez. Em realidade, esta curva de invenção e inovação não vai se deter, só segue acelerando. Tratar de minimizar estes progressos é como tampar o sol com o dedo. Devemos estar abertos a prová-los, pesquisá-los e ver se são de utilidade para nós, se ajudam a resolver nossos problemas diários, entretêm ou também melhoram nossa qualidade de vida.

Caso contrário, podemos abandoná-los, como aconteceu com o Chatroulette ou o Windows Vista que postergou a aposentadoria do XP, que ontem completou 10 anos. Não gosta da televisão? Muito simples, não veja, mas sem sua invenção não teríamos os computadores.

Kurzweil demonstra sua teoria da imortalidade indo à história: o ser humano até a era medieval tinha uma expectativa de vida de 30 anos, que aumentou para 50 anos a princípios do século XX e hoje está em uma média global de 70 anos. Segundo ele, os avanços em inteligência artificial, nanotecnologia e genética nos permitirão superar os 100 anos na primeira metade deste século, e depois, conseguir a imortalidade graças à "singularidade". Goste disso ou não, a evidência demonstra que é muito provável que isso aconteça. A não ser que queira começar a terceira guerra mundial.
  


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