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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Série Musical: Como Nossos Pais

Ao ver  a imagem abaixo no sedentário (o link segue no final do post), duas músicas  vieram a minha mente. A primeira foi "Pais e Filhos" do Legião Urbana  cujo trecho "Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser / quando você crescer?" poderia ter uma interpretação diferente, se em lugar da pergunta acrescentarmos um verbo e transformarmos a frase numa afirmativa: "É o que você vai ser quando você crescer". Isso aponta diretamente para a "formatação psico-social", a que alude a charge em questão, e que nos espreita cada vez mais de perto a medida em que vamos envelhecendo e chegando mais perto no final da vida. A segunda é a emblemática "Como nossos pais" do Belchior (cantado aqui por Elis Regina num vídeo retirado do YouTube) que também, no ensejo da imagem, me instigou a  fazer o inverso e transformar a afirmação contida numa das estrofes desse libelo dos anos setenta em favor de mudanças significativas na sociedade e perguntar: Apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais? As reflexões sobre isso, como sempre, ficam por sua conta e risco, caro leitor.











Como Nossos Pais
(Belchior)
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...





Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes). Ex-universitário, que abandonou o curso de medicina para se dedicar à música, Belchior estrearia no Rio em 1971, ganhando o IV Festival Universitário de Música Popular Brasileira com a composição “Na Hora do Almoço”. É um dos mais destacados integrantes de um grupo de artistas cearenses que, como foi dito, veio tentar a sorte no eixo Rio-São Paulo no início dos anos setenta.
Uma canção irônica e discursiva, “Como Nossos Pais” critica a acomodação dos jovens diante dos problemas da vida, que Belchior canta de forma agressiva com sua voz veemente: “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos / (...) / ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...” Esta canção passou incólume, mas o autor teve que modificar outras músicas do disco para obter a aprovação da censura (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).


E o vídeo como sempre é do YouTube.

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